Como de habitual, acordou cedo, fez sua higiene matinal, penteou o longo cabelo liso e escolheu uma das poucas roupas que deixava no guarda-roupa do dormitório que separavam para ela desde que iniciou o relacionamento com Adriano. Essa era a vantagem dos anos de compromisso, possuir um quarto dentro da mansão, para quando visitava os Orleans em Recanto Dourado. Dessa forma não necessitou ficar com a mesma roupa enquanto aguardava Maximiliano busca-la. Ao entrar na sala de jantar para o café da manhã, encontrou na mesa, além dos três Orleans e seus pais, Bruno Dutra, amigo de Adriano. O homem abriu o mesmo largo e lascivo sorriso, idêntico a todos os outros com que a recepcionava sempre que o encontrava. — Bom dia, filha! — Carmem a saudou com o semblante tenso ao pedir: — Sente-se ao meu lado. Joana mordeu o lábio ao reparar a cadeira vazia entre Carmem e Bruno. A intuição gritou se tratar de uma armadilha. Antes de partir da cidade, diversas vezes Bruno a encheu de pedidos de namo
Joana estava preparada para cada reação, incluindo a surpresa de Kassandra, mas o que viu na face de sua madrinha foi ódio. Nunca imaginou ser alvo de tanta raiva e desprezo como foi ao anunciar seu compromisso com Maximiliano. — Contei aos meus pais ontem que Maximiliano me pediu em casamento e aceitei. — Uma meia verdade, pois nunca houve pedido, apenas uma aceitação carregada de medo a proposta do Gonzalez de substituição de noivas. — Como pode aceitar essa aberração, Iago? — Furiosa Kassandra questionou o marido de sua prima. Encurralado, Iago esfregou a mão pelo rosto, as palavras presas na garganta. Se opôr a viúva podia lhe custar muito dinheiro, mas se ela e Adriano descobrissem sobre Dalila as consequências podiam ser piores. — Joana é de maior, não posso impedi-la — pronunciou tirando a culpa de suas costas. — Como não? É o pai, a autoridade... — Mãe, Iago está certo. Joana é dona da própria vida. Kassandra bateu o punho na mesa, fazendo-a tremer e o copo de café ao la
Por insistência de Donato, mesmo contrariado, por consideração Maximiliano o levou junto para Recanto Dourado. Depois de uma rápida parada para fazer uma compra, dirigiu pelas estradas mal asfaltadas que levavam a maior e mais lucrativa fazenda das redondezas de Sanmarino. Os empregados de início barraram sua passagem, a frente deles o capataz e administrador Tarcísio. Mas Donato, com sua lábia e conhecida amizade com Adriano, o fez concordar em acompanha-los para dentro da mansão. Ao pisar os pés na sala da mansão, Maximiliano ouviu a voz exaltada da viúva, seu conteúdo o alertando que era o foco das queixas que ecoava. Sem aguardar permissão, marchou para a direção da acalorada discussão, sendo seguido por Donato e Tarcísio. Ao atravessar a divisão dos cômodos, foi atingido pela declaração carregada de firmeza de Joana: — Não me rebaixo em nada, amo Maximiliano. Com vocês aprovando ou não, me casarei com ele. Por um louco instante, preso na doçura daquela frase, Maximiliano foi
Desvencilhando-se de sua mãe, Joana levou Maximiliano para o quarto que ocupariam, necessitando falar com ele e convencê-lo que o melhor, o mais seguro era irem embora. Foi exatamente isso que disse assim que fechou a porta. — Max, é melhor voltarmos para a cidade. Longe de atender seu pedido, o olhar dele tornou-se sombrio quando se inclinou sobre ela e pronunciou: — Porque devemos fugir? Só casará comigo se partir daqui? — Maximiliano questionou com os braços fortes cruzados e o olhar sério. — Por prudência — indicou aflita. — Meu pai e Dalila estão arrependidos do que fizeram... Maximiliano soltou um riso rápido e desprovido de humor. — Ou você é muito ingênua ou uma grande mentirosa — disse mordaz. — Aqueles dois só lamentam que você esteja disposta a cumprir a palavra que eles deram. — E vou cumprir... Mas, por favor, vamos embora daqui — Joana insistiu persistente. Embora concordasse com o ódio que a traição e mentiras de seu pai e Dalila desencadearam, não permitiria que
Novas batidas tiraram Joana de seus medos mais profundos. A voz de sua irmã do outro lado da porta, pedindo para conversar com ela jogou sal nas feridas reabertas pelo pavor que tinha de perder outro noivo para a irmã. Mesmo a contragosto, para não causar mais mal estar, Joana deixou a irmã entrar. — Se está aqui para me ofender e mentir é melhor economizar saliva — Joana disse automaticamente na defensiva após fechar a porta. Pálida, com os nervos a flor da pele e irada, a recém-casada tinha aguardado o marido se fechar com Maximiliano e Donato no escritório antes de correr para o quarto ocupado por Joana, para confrontar a irmã e fazê-la desistir de tomar o que considerava seu. — Joana, não pode se casar com alguém como Maximiliano — Dalila declarou tensa. Lamentava que nem em outro país Joana não a deixava em paz, não se tornava o centro das atenções. Agora incluso seu amante estava girando em volta da santa sem altar. A coincidência de estar no mesmo lugar que Maximiliano não
Seguindo para o escritório da mansão, Maximiliano sentou-se ao lado de Donato e de frente para Adriano, aguardando o que tanto queria falar com ele. — O convite que fiz ao Maximiliano, se estende a você, Donato! — Adriano disse ao advogado. — Agradeço o convite, mas tenho muito trabalho na cidade e não posso me afastar por muitas horas — Donato indicou incomodado. Depois de tudo que Maximiliano contou naquela manhã, considerava irresponsável a decisão do Gonzalez em permanecer na fazenda, do mesmo modo que não aprovava o compromisso – quase uma chantagem - dele com Joana. Donato olhou atentamente para o Gonzalez, querendo saber o que se passava naquela mente diabólica, mas, infelizmente, não conseguia sequer imaginar o que ele planejava. Maximiliano parecia satisfeito e calmo, mas Donato sabia que por baixo da fachada ocultava-se fúria e desejo de retaliação. Não tinha dúvida que por trás das atitudes do Gonzalez havia um motivo escuso, que em breve viria à tona, destruindo tudo e
Entrando no escritório anexo ao quarto da viúva, Tarcísio aguardava Kassandra, a testa suada e o pé batendo incessantemente no piso acarpetado, temendo que o patrão, Donato e Maximiliano saíssem pela fazenda antes do que foi anunciado. Com o Gonzalez na fazenda, andando por toda parte, mesmo que se salvasse naquele dia, não demoraria muito até ele descobrir o amigo que trabalhava ilegalmente em Recanto Dourado na parte mais distante do terreno. — O senhor Adriano convidou Maximiliano para passar a semana em Recanto Dourado — Tarcísio soltou assim que a viúva entrou no recinto. — Tenho medo que descubra sobre os presos ilegais. — Cale-se! — A viúva ordenou. Kassandra trancou a porta de seu quarto e puxou o capataz até um ponto afastado da saleta, que faria com que ninguém pudesse ouvi-los. — O que faremos? — Tarcísio perguntou ao notar a preocupação da viúva. — Infelizmente, não posso fazer muito. Adriano é teimoso e nunca ouve meus conselhos — lamentou. — Um Gonzalez em minhas te
Precisando relaxar e mudar o foco de seus pensamentos para bem longe dos problemas que visualizava a sua frente, Joana entrou no banheiro para tomar um banho antes do almoço. No entanto, por mais que tentasse desanuviar a mente, embaixo do jato de água, as palavras de sua irmã ecoavam, e a imagem vívida dos olhos do Gonzalez quando chegou naquele dia rodava em sua mente, produzindo uma estranha inquietude, percorrendo seu corpo dos pés a cabeça e arrepiando sua pele. Creditava a culpa na apreensão do que poderia acontecer nos próximos dias, mas algo, bem no fundo de seu ser, não acreditava que fosse só isso. A esperança de fazer o Gonzalez partir sem contar nada era forte, mas duvidava conseguir controlar a irmã e suas intenções. E tinha medo, muito medo, de Maximiliano, ao compará-las, acabasse preferindo seguir com Dalila. — Quer companhia? Em um sobressalto viu Maximiliano do outro lado do vidro do box, os olhos deslizando pela nudez dela, até fixar-se nos dela com um brilho in