Novas batidas tiraram Joana de seus medos mais profundos. A voz de sua irmã do outro lado da porta, pedindo para conversar com ela jogou sal nas feridas reabertas pelo pavor que tinha de perder outro noivo para a irmã. Mesmo a contragosto, para não causar mais mal estar, Joana deixou a irmã entrar. — Se está aqui para me ofender e mentir é melhor economizar saliva — Joana disse automaticamente na defensiva após fechar a porta. Pálida, com os nervos a flor da pele e irada, a recém-casada tinha aguardado o marido se fechar com Maximiliano e Donato no escritório antes de correr para o quarto ocupado por Joana, para confrontar a irmã e fazê-la desistir de tomar o que considerava seu. — Joana, não pode se casar com alguém como Maximiliano — Dalila declarou tensa. Lamentava que nem em outro país Joana não a deixava em paz, não se tornava o centro das atenções. Agora incluso seu amante estava girando em volta da santa sem altar. A coincidência de estar no mesmo lugar que Maximiliano não
Seguindo para o escritório da mansão, Maximiliano sentou-se ao lado de Donato e de frente para Adriano, aguardando o que tanto queria falar com ele. — O convite que fiz ao Maximiliano, se estende a você, Donato! — Adriano disse ao advogado. — Agradeço o convite, mas tenho muito trabalho na cidade e não posso me afastar por muitas horas — Donato indicou incomodado. Depois de tudo que Maximiliano contou naquela manhã, considerava irresponsável a decisão do Gonzalez em permanecer na fazenda, do mesmo modo que não aprovava o compromisso – quase uma chantagem - dele com Joana. Donato olhou atentamente para o Gonzalez, querendo saber o que se passava naquela mente diabólica, mas, infelizmente, não conseguia sequer imaginar o que ele planejava. Maximiliano parecia satisfeito e calmo, mas Donato sabia que por baixo da fachada ocultava-se fúria e desejo de retaliação. Não tinha dúvida que por trás das atitudes do Gonzalez havia um motivo escuso, que em breve viria à tona, destruindo tudo e
Entrando no escritório anexo ao quarto da viúva, Tarcísio aguardava Kassandra, a testa suada e o pé batendo incessantemente no piso acarpetado, temendo que o patrão, Donato e Maximiliano saíssem pela fazenda antes do que foi anunciado. Com o Gonzalez na fazenda, andando por toda parte, mesmo que se salvasse naquele dia, não demoraria muito até ele descobrir o amigo que trabalhava ilegalmente em Recanto Dourado na parte mais distante do terreno. — O senhor Adriano convidou Maximiliano para passar a semana em Recanto Dourado — Tarcísio soltou assim que a viúva entrou no recinto. — Tenho medo que descubra sobre os presos ilegais. — Cale-se! — A viúva ordenou. Kassandra trancou a porta de seu quarto e puxou o capataz até um ponto afastado da saleta, que faria com que ninguém pudesse ouvi-los. — O que faremos? — Tarcísio perguntou ao notar a preocupação da viúva. — Infelizmente, não posso fazer muito. Adriano é teimoso e nunca ouve meus conselhos — lamentou. — Um Gonzalez em minhas te
Precisando relaxar e mudar o foco de seus pensamentos para bem longe dos problemas que visualizava a sua frente, Joana entrou no banheiro para tomar um banho antes do almoço. No entanto, por mais que tentasse desanuviar a mente, embaixo do jato de água, as palavras de sua irmã ecoavam, e a imagem vívida dos olhos do Gonzalez quando chegou naquele dia rodava em sua mente, produzindo uma estranha inquietude, percorrendo seu corpo dos pés a cabeça e arrepiando sua pele. Creditava a culpa na apreensão do que poderia acontecer nos próximos dias, mas algo, bem no fundo de seu ser, não acreditava que fosse só isso. A esperança de fazer o Gonzalez partir sem contar nada era forte, mas duvidava conseguir controlar a irmã e suas intenções. E tinha medo, muito medo, de Maximiliano, ao compará-las, acabasse preferindo seguir com Dalila. — Quer companhia? Em um sobressalto viu Maximiliano do outro lado do vidro do box, os olhos deslizando pela nudez dela, até fixar-se nos dela com um brilho in
Indignada com o noivado de Joana e ainda mais com a hospedagem de Maximiliano em sua casa, Kassandra foi à busca do filho. Mesmo com ele em reunião com Bruno Dutra, ansiosa em se livrar da presença do Gonzalez, entrou no escritório sem nem mesmo bater na porta. — Filho, preciso conversar seriamente com você a respeito do Gonzalez — exigiu sem a menor intenção de abandonar aquele cômodo sem uma definição que a agradasse. — Entendo seu anseio em atender ao pedido do seu falecido pai, mas creio que aceitar aquele bandido na família é castigo demais, não precisamos abrir as portas de nossa casa também. — Sente-se, mãe! Estou aqui com Bruno justamente para falar disso. Lançando um olhar curioso para o Dutra, Kassandra sentou-se como pedido e aguardou o que o filho tinha a dizer. — Sua preocupação é a mesma que a de Dalila e a minha. Apesar das boas lembranças, sei o quão é inadequado aceitar alguém, com o histórico dele, entre os nossos — Adriano comentou, acrescentando com claro desgo
Cumprido o combinado com Kassandra, Tarcísio levou o amigo de Maximiliano para longe da fazenda, o máximo que conseguia, trancando-o no porão do bar que tinha em sociedade com Queiroz e Orlando. Depois conversou com Orlando, esclarecendo os motivos de esconderem o prisioneiro ali e aumentarem a vigilância. — O deixaremos aqui por alguns dias, até que eu consiga outra fazenda para leva-lo. — Maldito! Quantos problemas mais esse bandido atrairá com sua chegada! Não entendo como seu patrão abrigou esse ladrão na fazenda. — Estalou os dedos e o pescoço tenso. — Não creio que dure muito tempo por lá. — Por que acha isso? — A senhora Kassandra quer que ele se vá. Está furiosa pela afilhada estar noiva do bandido. — Está certa! Aqui ele só nos atrapalha — Orlando reclamou ainda surpreso com a reviravolta do destino. Em um momento comemoravam o sumiço do Gonzalez, sua possível prisão, e no outro o bandido voltava como hóspede da mais rica fazenda da região. — Não deixe que esse desgraça
No almoço, como o combinado em seu escritório, Adriano iniciou o processo para mostrarem a Joana o erro que cometia. O primeiro passo foi fazer com que Bruno ocupasse a cadeira ao lado da jovem, de modo que pudesse ter acesso a Joana durante o almoço. A conversa seguia tensa, com a falta de seu sogro e o silêncio de sua sogra. Sentada a direita do filho, Kassandra falava apenas o necessário, o olhar se movendo para Maximiliano mais do que desejaria, sentado do outro lado de Joana. A presença dele a perturbava com recordações dolorosas. “Só de olhá-lo sinto raiva”, amargou vendo no jovem os traços do falecido pai dele. Como se ouvisse os pensamentos da eterna viúva, Maximiliano a encarou, forçando-a a desviar o olhar. — Que tal visitarmos a capital, mamãe? Ouvi que tem peças teatrais ótimas em cartaz, algumas que sei que gosta — Adriano sugeriu jovial, querendo manter o clima na mesa descontraído. — Agradeço. Quem sabe no futuro — respondeu com o olhar baixo. Aproveitando o tema,
Procurando tranquilizar sua mãe, que permanecia com medo de Maximiliano expor sua família, dentro do quarto ocupado pelos pais, Joana contou tudo que conversou com o noivo nas últimas horas, garantindo ao fim: — Ele ainda carrega muito rancor pelas traições que sofreu, mas tem bom coração e, se não contou nada até agora, creio que não contará mais — afirmou. Sabendo que a garantia de Joana era o compromisso que tinha com Maximiliano, Carmem lamentou desconsolada: — Se fosse bom, não estaria fazendo isso conosco — duvidou Carmem sentando-se perto da filha. — Teria perdoado sua irmã e não te obrigaria a casar com ele. — Não estou sendo obrigada a nada — Joana afirmou na defensiva. — Acredite ou não, o amo, ao ponto que meu medo não é a exposição se contar a verdade, mas que desista de casar comigo. A declaração exaltada de Joana fez Carmem observá-la atentamente. Concluiu que a filha ainda sofria pelo rompimento do noivado, de forma que se apiedava do Gonzalez e desprezava o perigo