Recanto Dourado seguia agitada com a preparação do casamento, por toda a fazenda havia movimentação incessante para que a cerimônia naquela tarde fosse perfeita e sem falhas como exigia Kassandra. Foi fácil para Maximiliano e Joana passarem despercebidos entre os convidados ao chegarem poucos minutos antes da hora marcada. De certa maneira Joana agradecia não ser envolvida no rebuliço dos preparativos, embora logo estaria em um maior. Vencida a melancolia da rejeição agora nascia uma nova, por Dalila estar certa pela primeira vez. Tinha inveja da irmã, pois ela conquistou o coração de dois homens maravilhosos, enquanto ela, Joana, só tinha um acordo pensou observando a aliança que recebeu antes de descer do barco naquela manhã. Uma aliança que foi comprada para sua irmã. Ao seu lado, com o braço prendendo-a pela cintura, Maximiliano disfarçava o incomodo pela tensão que sentia no corpo de Joana. Quase pensou em desistir de participar daquele circo quando ela questionou sobre não ire
Inquieto, Maximiliano começou a andar pelos convidados, observando a rica decoração, a profusão de comes e bebes desfilando de um lado para o outro, carregados em finas bandejas de pratas por funcionários elegantes, trajando uniforme com o brasão da casa Orleans. A fazenda de escravos em festa, pisoteando o sangue de seus trabalhadores em nome do pão e circo, Maximiliano concluiu com amargura. Nos meses que passou naquela casa participou somente de uma festa, porém, foi tratado como parte da criadagem da casa. Não tinha se incomodado. Sempre gostou de estar no meio da bagunça, dos processos, de entrar em ação em vez de ser um mero espectador. O que não gostou foi de Kassandra humilhando-o frente aos seus ricos convidados, mencionando a morte dos seus pais quando o marido estava longe e rindo. Por isso, entornou uma taça de vinho tinto no belíssimo vestido branco que ela usava na ocasião. Indo para uma área menos agitada da festa, teve vontade de estar com a taça na mão naquele momen
Sem conseguir desviar os olhos dos intimidadores orbes negros fixos em um ponto atrás dela, que sabia se tratar de seu cunhado, Joana engoliu em seco, assustada e desesperada com o que aconteceria. — Maximiliano, que surpresa te ver aqui! — Ouviu o Orleans dizer empolgado. — Quando estava tirando fotos te notei, mas então minha esposa passou mal e tive que cuidar dela. — Ela melhorou? — Maximiliano questionou o tom cáustico não passando despercebido por Joana. — Sim. Minha mãe e os pais da Dalila estão cuidando dela. Como soube do meu casamento? Donato te disse? Ele veio com você? — O fazendeiro questionou amigável olhando ao redor em busca do advogado. Em silêncio, Joana fitou Maximiliano com súplica no olhar, um pedido de piedade gritando em sua mente. O Gonzalez a encarou feroz por um instante, então, para alívio de Joana, no lugar de acusações, disse para o Orleans: — Não vim com Donato, mas ele me disse que estaria aqui — declarou com azedume. Algo que somente Joana notou.
Ainda em choque pela chegada de Maximiliano ao seu casamento com Adriano, Dalila permanecia sentada na cama de seu novo quarto, extremamente pálida e trêmula. Kassandra, Carmem e Iago, que permaneciam ao seu lado, comentavam o ocorrido, buscando aliviar seu mal-estar. Sua mãe lhe deu mais um copo de água, conduzida pela sua declaração que a bebida ou algo que comeu não caiu bem em seu estômago. A pobre já havia lhe dado um remédio para suavizar a indisposição, achando que isso a deixaria bem. O que Dalila sabia que de nada adiantaria. Quase desmaiou de puro medo ao ver os olhos negros e ferozes de seu amante. Obviamente, jamais diria isso. Ouvindo a sugestão de chamarem um médico, Dalila ocultou o que sabia, voltando a associar sua situação às festividades. — Não é necessário, apenas estou muito cansada. — Deve ter sido pela emoção do casamento — Carmem concordou: — Após tantos meses correndo para prepara-lo, principalmente, nos últimos dias. — Talvez... — Kassandra disse observ
No piso inferior, dentro do escritório principal da mansão de Recanto Dourado, Maximiliano se entediava com a narrativa repetitiva de Adriano. Ao longo dos últimos oito anos, desde que o Orleans teve o controle dos negócios da família, sempre que estava na cidade, Adriano o perseguia com propostas de emprego, que sempre recusava. Ser empregado, ainda mais de um Orleans, não o agradava e, ouvindo os planos de Adriano para o futuro, entrelaçados a justificativa de realizar os desejos do falecido pai, Maximiliano lembrou-se de quando acreditou nas promessas bem intencionadas daquela família. ~ Quando chegou a Recanto Dourado, Maximiliano foi recebido com frieza por Kassandra e alegria por Adriano. Esse segundo, assim que teve permissão levou o Gonzalez para o quarto em que ficaria. Sem notar a apatia do amigo, Adriano dizia que não gostava de ser filho único, que era muito solitário, e considerava Maximiliano como um irmão, por isso não conseguia conter a o entusiasmo por poderem fica
Ajeitando-se em sua poltrona, tenso, o fazendeiro encarou Maximiliano a sua frente. Ainda sem acreditar no que acabará de ouvir, porém, a expressão determinada de Maximiliano, suas palavras e o modo que tratou Joana antes de iniciarem aquela conversa eram provas de não ser um engano. Pensando na ex, que sempre foi puritana e avessa a grandes demonstrações de afeto, algo que incomodaria qualquer homem, principalmente um com a fama de Maximiliano, questionou desconfiado: — Quando conheceu Joana? Suponho que antes de encontrá-la em Portugal, já que ela aceitou subir em seu barco e passar dias sem comunicar-se. — Não creio que isso te importe! — Maximiliano revidou aborrecido com a pergunta estúpida e com a acusação que pressentia nela. — Claro que me importa! Quero saber se a conheceu quando ela e eu estávamos comprometidos — insistiu. — Mas a deixou por sua irmã, não é? — Maximiliano relembrou sarcástico, causando o desconforto de Adriano. — Não se preocupe, se não pode me ajudar, n
Aborrecido pela insistência da filha em abrigar um criminoso em sua família, apertando os punhos, Iago segurou-se para não dar uma surra na pequena malcriada. E só não o fazia por receio de chamar a atenção de algum funcionário ou convidado da festa que aparecesse. Nunca planejou aceitar o Gonzalez como genro, nem mesmo aprovou o relacionamento dele com Dalila, só não pode se opor por capricho da filha. Tinha os apresentado só para a filha flertar e arrancar algum dinheiro dele, como fazia com outros ao longo dos últimos dois anos, em que ela descobriu seu vício em jogos e mulheres e usou isso contra ele. Dalila o manipulou para fazer o que quem bem entendesse e, vendo vantagens, usou a ganância dela para ter o perdão de algumas dívidas de jogo, incluindo a que tinha com o Gonzalez. O problema foi ambos não terem percebido que Maximiliano desejava mais que um flerte inconsequente de poucos dias e tivesse ideias de entrar no meio social deles. Tinha contado com a desenvoltura de Dal
À volta a sua cabana não trouxe a satisfação de dever cumprido de outrora. Jogando-se em sua poltrona, Maximiliano fitou a lareira apagada sem vontade de levantar, a mente fixa em Joana, sua noiva. Ainda se arrependia de ter deixado ela em recanto Dourado. Enxergou no rosto de Adriano que, embora tentasse ser amigável, não aprovava o relacionamento da prima e ex-noiva com Maximiliano. Temia que os Orleans tentassem algo para Joana voltar atrás na palavra. Precisava de Joana. E admitia não era só por ser sua passagem para se infiltrar no território inimigo para destruí-lo quando menos esperasse. Necessitava de Joana ao seu lado, seu cheiro, sua suavidade, seus sorrisos e olhos gentis. E mesmo assim... Tinha receio de cometer um erro casando com ela. Joana possuía um bom coração, era gentil e quando amava se tornava zelosa, protetora e capaz de fazer tudo pelo ser amado. Era nesse ponto que residia o problema. Ela estaria disposta a carregar sua aliança, seu sobrenome e se deitar com