Ela deu um passo à frente, o espaço entre eles encolhendo novamente, o calor dele invadindo o dela enquanto levantava o queixo, os olhos verdes brilhando com uma determinação que queimava o choque inicial. — Então você passou séculos achando que tava condenado a matar quem te ama? — perguntou ela, a voz suavizando, mas carregada de uma emoção crua. — E mesmo assim me beijou, Victor? Você correu esse risco comigo? Por quê? O que eu sou pra você que te fez jogar tudo isso fora? Ele ficou quieto, os olhos cinza arregalados enquanto as palavras dela cortavam o ar, o peso da pergunta colidindo com a confusão que o consumia. Deu um passo mais perto, as mãos subindo para o rosto dela novamente, os dedos tremendo enquanto roçavam a pele quente dela. — Porque não aguento mais isso sem você — disse ele, a voz grave e rouca, quase um rosnado que ecoava no peito dela. — Você me puxou pra fora de um buraco que cavei por séculos, Elena. Eu olho pra você e vejo ela, a força, os olhos, o jeito q
O escritório de Victor Blackwood ainda vibrava com o calor dos corpos que haviam se entregado ali, o ar denso com o cheiro de suor e madeira polida, quando as batidas na porta rasgaram o silêncio como um trovão inesperado. Elena Carter, sentada na borda da mesa de mogno, os cabelos castanhos caindo em cachos desordenados sobre os ombros, sentiu o coração saltar, o resquício da paixão colidindo com uma nova onda de alerta. Victor, a camisa preta entreaberta expondo o peito pálido, os olhos cinza brilhando com uma mistura de êxtase e tensão, afastou-se dela num movimento brusco, as botas ecoando no chão enquanto pegava o jeans dela jogado num canto. As roupas espalhadas, a blusa dela amassada perto da cadeira, a camisa dele pendurada como um trapo, marcavam o caos que os consumira, mas a voz de Damien do outro lado da porta trouxe a realidade de volta com força bruta. — Abre essa porta agora, por favor! — gritou ele, o tom cortante, carregado de uma ansiedade que atravessava a madeira
Ele ficou quieto, os olhos cinza brilhando com uma mistura de alívio e tormento enquanto a encarava, o medalhão pulsando mais uma vez antes de falar, a voz grave saindo num tom carregado de peso: — Teve vultos, silêncios que pareciam pesados, mas nunca dei nome a isso. Achava que era só o tempo, a culpa me enganando. Mas agora, com você aqui, com o medalhão assim, sinto que é algi mais, alguém que quer me segurar no que Livia deixou. Não sei quem. Damien soltou um suspiro alto, o sorriso torto voltando com um toque de sarcasmo enquanto cruzava os braços, o tom leve mas carregado de uma seriedade que não escondia: — Tá vendo? O amor de vocês mexeu num vespeiro. Se o capuz tá lá fora, pode ser um sinal ou uma armadilha. Melhor decidir logo o próximo passo antes que ele suba até aqui. Elena virou-se para ele, os olhos verdes faiscando com um leve divertimento, o coração ainda acelerado enquanto processava tudo. Deu um passo em direção a Damien, a voz saindo firme mas com um toque de
Elena Carter nunca acreditou em primeiras impressões. Para ela, eram uma mistura de chute preguiçoso e otimismo ingênuo – alguém olhava para um terno amarrotado ou um sorriso forçado e achava que podia decifrar uma pessoa inteira. Na melhor das hipóteses, uma aposta; na pior, uma cilada para quem lia capas de revista como se fossem evangelho. Mas ali, enquanto o elevador subia lentamente rumo ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises, ela sentiu que estava formando uma opinião antes mesmo de pisar no carpete caro. O ar dentro do cubículo metálico cheirava a limpeza obsessiva – álcool, desinfetante e um toque de arrogância corporativa. O silêncio era denso, quebrado apenas pelo zumbido do motor e pelo tamborilar dos dedos dela contra a alça da bolsa, um hábito nervoso que ela nunca conseguira largar. O elevador era uma caixa de aço reluzente, com botões alinhados em uma fileira precisa e um painel digital que piscava os números dos andares com uma lentidão quase provocadora. Elena a
O resto da manhã passou num borrão de tarefas básicas que pareciam desenhadas para testar sua paciência. Configurar o e-mail corporativo foi um exercício de frustração – a senha temporária que Margaret lhe dera ("Blackwood123", criativo demais) exigiu três tentativas até funcionar, e o sistema travou duas vezes antes de carregar. Organizar a agenda de Victor significou decifrar uma série de anotações enviadas por e-mail, algumas com instruções tão vagas que pareciam charadas – "Reunião com R&D, confirmar horário" ou "Ligar para J. Klein, urgente". Responder mensagens foi ainda pior; Margaret jogara uma pilha de papéis e um pendrive em sua mesa com um grunhido que dizia "não me pergunte nada", e Elena passou uma hora separando solicitações banais (como "preciso de mais grampeadores no terceiro andar") de e-mails crípticos que mencionavam Victor com uma reverência quase assustadora – "O Sr. Blackwood saberá o que fazer" ou "Ele já viu isso antes".Por volta das onze, ela já estava com os
Elena acordou na manhã seguinte com o som insistente do despertador, um barulho que parecia mais um grito de guerra do que um convite gentil para começar o dia. A luz cinzenta de março se infiltrava pelas cortinas finas do seu apartamento, projetando sombras tortas nas paredes descascadas. Ela rolou na cama, esticando a mão para silenciar o aparelho, e ficou deitada por um momento, encarando o teto manchado de infiltração. O primeiro dia na Blackwood Enterprises ainda pesava em sua mente como uma névoa densa – Victor Blackwood com seus olhos de aço, Damien Leclerc com seu sorriso provocador, e aquele murmúrio quase inaudível que ela jurava ter ouvido: "Não outra vez." Era ridículo, claro. Provavelmente só cansaço e imaginação demais. Mas, enquanto se levantava e arrastava os pés até o banheiro minúsculo, não conseguia sacudir a sensação de que algo estava fora de lugar. O apartamento era um reflexo da vida dela – pequeno, funcional, mas à beira do caos. A pia da cozinha estava cheia d
— Isso é coincidência ou ele tem um radar pra nos encontrar? — perguntou Elena, forçando um tom leve, mas o coração batendo mais rápido. — Com o Victor, nunca é só coincidência — respondeu Damien, terminando o café com um gole rápido. — Vamos, a reunião é em cinco minutos. Não queremos o chefe eterno bravo com a gente. --- A reunião com a NovaTech foi um teste de resistência. A sala de conferências era uma caixa de vidro e aço no vigésimo andar, com uma mesa longa cercada por cadeiras de couro e uma tela que exibia gráficos coloridos que Elena mal entendia. Victor presidia a mesa, os olhos cinza fixos nos representantes da NovaTech – dois homens de ternos caros e uma mulher de tailleur azul que falava rápido demais sobre "sinergias" e "metas de crescimento". Elena entregou o café preto a Victor, sentindo os dedos dele roçarem os dela por um instante – frios, quase gelados –, e sentou-se ao lado dele, o caderno aberto para anotar tudo. Damien estava do outro lado da mesa, liderando
Elena acordou com o eco do sonho ainda reverberando em sua mente, os olhos cinza da figura sombria fixos nela como se pudessem atravessar o véu entre o sono e a vigília. O quarto estava escuro, o relógio marcando 5h43, e a chuva da noite anterior reduzira-se a um gotejar intermitente contra a janela. Ela ficou deitada por alguns minutos, encarando o teto manchado, tentando convencer-se de que era só um pesadelo – o resultado de um dia longo, fotos antigas e a imaginação que sempre fora seu pior inimigo. Mas o peso no peito não cedia, e o sussurro do seu nome naquela voz grave continuava a ecoar, como se tivesse deixado uma marca invisível. Arrastou-se da cama, os pés tocando o chão frio com um estremecimento, e caminhou até o banheiro, o espelho refletindo uma versão dela que parecia mais pálida do que o normal. Os cabelos castanhos estavam emaranhados, os olhos verdes opacos com o cansaço, e as olheiras mais pronunciadas do que no dia anterior. "Você está ótima, campeã," murmurou par