— Não consigo te tirar da cabeça, Elena — disse ele, a voz grave e trêmula, as palavras saindo como se doesse arrancá-las. — Ontem à noite... você me puxou pra um lugar que eu não sei como sair. Eu quase te beijei, quase te mostrei tudo, e não sei como parar isso. Você tá em todo lugar – aqui, na minha casa, nos meus pensamentos. O que você tá fazendo comigo?Ela ficou parada por um instante, o coração disparado enquanto as palavras dele batiam contra ela como uma onda, o tom cru e vulnerável cortando-a mais fundo do que esperava. Deu um passo mais perto, o espaço entre eles reduzido a quase nada, o calor do corpo dele invadindo o dela enquanto levantava o queixo, os olhos verdes fixos nos dele com uma determinação que queimava.— Eu não tô fazendo nada que você não queira, Victor — disse ela, a voz subindo um tom, carregada de uma frustração que transbordava. — Você tá aqui, me olhando desse jeito, dizendo essas coisas, mas sempre recua. Ontem você disse que me beijar ia me mostrar q
As luzes dos prédios piscando como estrelas presas em um céu artificial. Elena Carter estava em casa, o apartamento envolto em um silêncio que parecia vivo, o eco do sonho com Livia – "Ele vai te contar" – pulsando em sua mente como uma chama que não apagava. O dia no trabalho fora um campo de batalha silencioso – olhares que cortavam como facas, a vulnerabilidade de Victor exposta em cada hesitação, as palavras dele no escritório, "Eu não posso arriscar te perder", girando em sua cabeça como um grito preso. Estava largada no sofá, a manta embolada aos pés, os olhos fixos no teto rachado, quando o celular vibrou na mesa bamba, o som rasgando o ar como um trovão.Ela pegou o aparelho com mãos trêmulas, o coração disparando ao ver o nome dele: Victor Blackwood. A mensagem era curta, mas carregada de uma urgência que a fez pular do sofá: "Preciso de você no escritório. Agora. Não dá pra esperar." Elena respirou fundo, o peito apertado enquanto jogava a manta de lado e calçava as botas, o
Ela deu um passo à frente, o espaço entre eles encolhendo novamente, o calor dele invadindo o dela enquanto levantava o queixo, os olhos verdes brilhando com uma determinação que queimava o choque inicial. — Então você passou séculos achando que tava condenado a matar quem te ama? — perguntou ela, a voz suavizando, mas carregada de uma emoção crua. — E mesmo assim me beijou, Victor? Você correu esse risco comigo? Por quê? O que eu sou pra você que te fez jogar tudo isso fora? Ele ficou quieto, os olhos cinza arregalados enquanto as palavras dela cortavam o ar, o peso da pergunta colidindo com a confusão que o consumia. Deu um passo mais perto, as mãos subindo para o rosto dela novamente, os dedos tremendo enquanto roçavam a pele quente dela. — Porque não aguento mais isso sem você — disse ele, a voz grave e rouca, quase um rosnado que ecoava no peito dela. — Você me puxou pra fora de um buraco que cavei por séculos, Elena. Eu olho pra você e vejo ela, a força, os olhos, o jeito q
O escritório de Victor Blackwood ainda vibrava com o calor dos corpos que haviam se entregado ali, o ar denso com o cheiro de suor e madeira polida, quando as batidas na porta rasgaram o silêncio como um trovão inesperado. Elena Carter, sentada na borda da mesa de mogno, os cabelos castanhos caindo em cachos desordenados sobre os ombros, sentiu o coração saltar, o resquício da paixão colidindo com uma nova onda de alerta. Victor, a camisa preta entreaberta expondo o peito pálido, os olhos cinza brilhando com uma mistura de êxtase e tensão, afastou-se dela num movimento brusco, as botas ecoando no chão enquanto pegava o jeans dela jogado num canto. As roupas espalhadas, a blusa dela amassada perto da cadeira, a camisa dele pendurada como um trapo, marcavam o caos que os consumira, mas a voz de Damien do outro lado da porta trouxe a realidade de volta com força bruta. — Abre essa porta agora, por favor! — gritou ele, o tom cortante, carregado de uma ansiedade que atravessava a madeira
Ele ficou quieto, os olhos cinza brilhando com uma mistura de alívio e tormento enquanto a encarava, o medalhão pulsando mais uma vez antes de falar, a voz grave saindo num tom carregado de peso: — Teve vultos, silêncios que pareciam pesados, mas nunca dei nome a isso. Achava que era só o tempo, a culpa me enganando. Mas agora, com você aqui, com o medalhão assim, sinto que é algi mais, alguém que quer me segurar no que Livia deixou. Não sei quem. Damien soltou um suspiro alto, o sorriso torto voltando com um toque de sarcasmo enquanto cruzava os braços, o tom leve mas carregado de uma seriedade que não escondia: — Tá vendo? O amor de vocês mexeu num vespeiro. Se o capuz tá lá fora, pode ser um sinal ou uma armadilha. Melhor decidir logo o próximo passo antes que ele suba até aqui. Elena virou-se para ele, os olhos verdes faiscando com um leve divertimento, o coração ainda acelerado enquanto processava tudo. Deu um passo em direção a Damien, a voz saindo firme mas com um toque de
Elena Carter nunca acreditou em primeiras impressões. Para ela, eram uma mistura de chute preguiçoso e otimismo ingênuo – alguém olhava para um terno amarrotado ou um sorriso forçado e achava que podia decifrar uma pessoa inteira. Na melhor das hipóteses, uma aposta; na pior, uma cilada para quem lia capas de revista como se fossem evangelho. Mas ali, enquanto o elevador subia lentamente rumo ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises, ela sentiu que estava formando uma opinião antes mesmo de pisar no carpete caro. O ar dentro do cubículo metálico cheirava a limpeza obsessiva – álcool, desinfetante e um toque de arrogância corporativa. O silêncio era denso, quebrado apenas pelo zumbido do motor e pelo tamborilar dos dedos dela contra a alça da bolsa, um hábito nervoso que ela nunca conseguira largar. O elevador era uma caixa de aço reluzente, com botões alinhados em uma fileira precisa e um painel digital que piscava os números dos andares com uma lentidão quase provocadora. Elena a
O resto da manhã passou num borrão de tarefas básicas que pareciam desenhadas para testar sua paciência. Configurar o e-mail corporativo foi um exercício de frustração – a senha temporária que Margaret lhe dera ("Blackwood123", criativo demais) exigiu três tentativas até funcionar, e o sistema travou duas vezes antes de carregar. Organizar a agenda de Victor significou decifrar uma série de anotações enviadas por e-mail, algumas com instruções tão vagas que pareciam charadas – "Reunião com R&D, confirmar horário" ou "Ligar para J. Klein, urgente". Responder mensagens foi ainda pior; Margaret jogara uma pilha de papéis e um pendrive em sua mesa com um grunhido que dizia "não me pergunte nada", e Elena passou uma hora separando solicitações banais (como "preciso de mais grampeadores no terceiro andar") de e-mails crípticos que mencionavam Victor com uma reverência quase assustadora – "O Sr. Blackwood saberá o que fazer" ou "Ele já viu isso antes".Por volta das onze, ela já estava com os
Elena acordou na manhã seguinte com o som insistente do despertador, um barulho que parecia mais um grito de guerra do que um convite gentil para começar o dia. A luz cinzenta de março se infiltrava pelas cortinas finas do seu apartamento, projetando sombras tortas nas paredes descascadas. Ela rolou na cama, esticando a mão para silenciar o aparelho, e ficou deitada por um momento, encarando o teto manchado de infiltração. O primeiro dia na Blackwood Enterprises ainda pesava em sua mente como uma névoa densa – Victor Blackwood com seus olhos de aço, Damien Leclerc com seu sorriso provocador, e aquele murmúrio quase inaudível que ela jurava ter ouvido: "Não outra vez." Era ridículo, claro. Provavelmente só cansaço e imaginação demais. Mas, enquanto se levantava e arrastava os pés até o banheiro minúsculo, não conseguia sacudir a sensação de que algo estava fora de lugar. O apartamento era um reflexo da vida dela – pequeno, funcional, mas à beira do caos. A pia da cozinha estava cheia d