Era como um pequeno pedaço do céu, Tábata concluiu abraçando cuidadosa o embrulho com a sua filha para oferecer o peito. Lean abocanhou com gosto, dando sugadas vigorosas, levando um sorriso doce aos lábios de sua mãe.Guilherme escolheu esse momento para entrar no quarto. Parou no vão da porta por um segundo, os olhos claros observando-as.Tábata sentiu as bochechas esquentarem, por estar com o seio à mostra, porém logo a vergonha sumiu, pois, além daquele momento ser especial entre ela e sua bebê, Guilherme as olhava com nada além de admiração e encantamento.Ele se aproximou carregando uma caixa de bombons e um ursinho. Depois de colocar os objetos na cômoda perto do berço, limpou a garganta e apontou para o doce e a pelúcia com laço amarelo no pescoço.— Comprei para vocês.— Lean vai amar.
Depois de tomar um banho e se preparar mentalmente, Tábata foi para a sala com Lean, deixando a bebê dormindo tranquilamente no moisés ao lado do sofá. O som de panelas na cozinha ecoava enquanto Guilherme preparava o jantar, de tempos em tempos lançando olhares zelosos na direção de Tábata. Sentada no sofá, com o celular nas mãos, seus dedos pairavam hesitantes sobre a tela antes de enviar a mensagem ao irmão. "Não posso ir. Lean ainda é muito pequena, mas vocês podem me visitar ou ligar quando quiserem.”Pronto! Respirou fundo, pressionou enviar e pousou o celular sobre a almofada ao lado. Mal teve tempo de relaxar antes de o aparelho começar a vibrar. O nome "Mãe" piscava na tela.— Ai, não, não... — murmurou fechando os olhos por um instante antes de atender com relutância. — Alô? Do outro lado da linha, a voz de Agnes soou afiada como uma faca. — Que história é essa, Tábata? Seu pai está doente, estamos falindo e você se recusa a nos ver? — Lean tem só dois meses e precisa d
Tendo deixado a filha dormindo no quarto, Tábata se juntou a Guilherme para tomarem o café da manhã. No entanto, segurando a xícara de café entre as mãos, os olhos fixos no líquido escuro, acompanhava distraída o vapor subir em espirais, estava alheia ao cheiro e calor que emanava, sem beber ou tocar no que tinha a sua disposição.— Você tá quieta hoje — Guilherme comentou, sentando do outro lado da mesa sem tirar os olhos da faca que deslizava pela manteiga. Tábata suspirou, apertando a xícara entre as mãos. — Conversei com meu irmão ontem à noite. Tom disse que o clima lá em casa está péssimo. Mas, sinceramente, não sei o motivo. — A amargura tingiu seu tom ao comentar: — Desde que sai de casa não recebi nenhuma mensagem, telefonema, nada vindo dos meus pais e dos meus irmãos mais velhos. Então não entendo o motivo deles, em especial minha mãe, reclamarem de não visitá-los.— Se estão tendo problemas em administrar o antiquário faz sentido ela te procurar — ele disse passando a m
Tábata se remexeu incomodada, tendo a velha sensação de ser uma peça que só tinha valor quando servia a um propósito definido por sua mãe. — E por que agora? — perguntou, tentando esconder o tremor na voz. — Tábata, não fiz um pedido complicado. — A voz de Agnes era cortante, mas ainda mantinha uma aparência de civilidade. — Sua família precisa de você. Seu pai está doente, e o antiquário... Não posso confiar nos seus irmãos para gerenciar aquilo. Só sabem gastar e se aproveitar do que têm. A atmosfera na sala pareceu esfriar a cada palavra que Agnes proferia. Não queriam sua presença por amor, mas por conveniência, por, como Guilherme tinha apontado, não precisarem lhe dar nada em troca, nem mesmo carinho e consideração.— Mãe, entendo sua preocupação com o bem estar da família — iniciou apertando as mãos sobre o colo. —, mas minha prioridade agora é a Lean. Ela é minha responsabilidade, e aqui tenho o suporte que preciso para cuidar dela — finalizou o mais delicada que conseguia.
A sala da pediatra era aconchegante, com paredes decoradas por adesivos de bichinhos coloridos e uma leve música ambiente para acalmar as crianças. Tábata embalava Lean em seus braços, sussurrando palavras doces enquanto a bebê soluçava baixinho após a vacina. — Você foi tão corajosa, minha abelhinha... — Tábata dizia, acariciando as costas da filha e sorrindo de leve, embora ainda estivesse um pouco tensa pela reação da pequena. — Ela é forte, como a mãe. — Guilherme comentou, passando a mão nos fios ralos da cabeça de Lean, querendo tranquilizá-la. Saíram do consultório pouco depois, e Guilherme sugeriu uma pausa na praça de alimentação do shopping próximo. O clima estava leve, diferente dos dias anteriores, marcados pelo efeito do embate entre Tábata e sua mãe. Sentados à mesa, enquanto Lean descansava no carrinho, Tábata olhava ao redor com um brilho nos olhos que Guilherme não via há tempos. Ela gesticulava enquanto falava, contando sobre como Lean havia segurado seu dedo com
A casa dos Braga, em uma rua tranquila de uma cidadezinha do interior, era simples, mas bem cuidada. As paredes externas exibiam uma pintura amarela desbotada, e vasos de flores enfeitavam a varanda. Simone parou o carro luxuoso em frente ao portão baixo e metálico, observando a simplicidade ao seu redor com desdém.— Vai ser rápido, espero. — Ajustou os óculos escuros no rosto e saiu do veículo, equilibrando-se sobre seus saltos altos, deslocados naquele cenário modesto. Apertou a campainha e esperou, os dedos tamborilando impacientes contra a alça da bolsa de couro. Após alguns segundos, a porta se abriu, revelando uma mulher simples. — Boa tarde. Em que posso ajudá-la? — perguntou inclinando-se levemente para frente, como se tentasse decifrar a presença daquela mulher tão elegante em sua porta. — Boa tarde. — Simone forçou um sorriso, estendendo a mão de forma educada, mas contida. — Sou Simone Muller. Preciso falar com Mateus Braga. Ele está? A mulher apertou a mão de Simone c
O cheiro do café fresco preenchia a cozinha, Tábata estava sentada à mesa, uma caneca entre as mãos, observando Guilherme brincar com Lean. A bebê soltava pequenos sons de contentamento, esticando as mãozinhas como se quisesse alcançar o mundo. — Parece que alguém acordou com energia hoje, não é? — Guilherme sorriu, balançando-a suavemente nos braços. Tábata riu baixo, mordendo um pedaço de pão com manteiga. — Talvez ela esteja tentando imitar você. Sempre tão ativo logo cedo.— Minha abelhinha lindinha está cada dia mais animada — comentou Guilherme, sorrindo enquanto fingia morder os dedinhos da bebê, que soltava risadinhas curtas. O momento foi interrompido pelo som insistente do celular de Tábata, que vibrava sobre a mesa. Ela franziu o cenho ao olhar para a tela, o sorriso desaparecendo aos poucos.Guilherme percebeu a mudança no rosto dela e ergueu uma sobrancelha.— Não vai atender? — Não! — Tábata respondeu rápido, sem encará-lo.O celular vibrou mais uma vez. — É a sua
A penumbra do quarto era aconchegante, Guilherme e Tábata estavam deitados, abraçados, o calor dos corpos misturava-se ao som das respirações compassadas. Tábata suspirou, ainda pensando no telefonema recebido de manhã. Guilherme percebeu a inquietação e afagou seus cabelos com a ponta dos dedos.— O que foi, amor? — perguntou ele, a voz baixa e suave.Ela hesitou por um instante antes de responder, sua mão acariciando distraidamente o braço dele.— Estive pensando no que você disse sobre algo que você disse quando nos reencontramos... Sobre os deveres que o pai de Lean tem de cumprir — murmurou. — Não pensava em procura-lo, ter ele por perto. Não depois de tudo que fez. Mas, ao mesmo tempo, penso que talvez, quando a Lean for maiorzinha, ela vai querer esse contato.Guilherme estreitou o abraço, como se quisesse protegê-la dos próprios pensamentos.— É uma decisão difícil, Taby — começou, cuidadosamente. — Mas, se ele quiser mesmo fazer parte da vida dela, a lei dá esse direito. A me