Depois de uma rápida passagem pelo antigo emprego de Paulina, para buscar as coisas dela, seguiram para o endereço do encontro, uma casa de tijolinhos aparentes. Um homem os recepcionou e levou até Paulina.Ao notar o novo corte de cabelo de Paulina, os olhos de Tábata se arregalaram por um instante. Os longos fios, agora não passavam do queixo, repicados em um penteado moderno, bem diferente do anterior. Olhou para Guilherme, que também parecia surpreso, mas ambos mantiveram o silêncio, poupando Paulina de comentários que poderiam magoá-la ainda mais. A amiga passava por um momento difícil, e a última coisa que queria era aumentar sua angústia por causa de um corte de cabelo.Depois que Paulina apresentou os amigos, pediu para Guilherme acompanha-la até o quarto que ocupava, para deixar a mala com suas roupas. Quando retornaram para a sala, decidiu abordar o assunto inevitável.— Simon queria saber em que lugar você estava — contou.Notou o desconforto estampado no rosto da amiga.—
De volta a casa, Tábata sentou-se no sofá, verificando a filha no carrinho de bebê, enquanto Guilherme seguia para a cozinha pegar chá para os dois. Observou Lean, que dormia tranquilamente, e suspirou, sentindo o peso dos últimos acontecimentos em seus ombros.— Gui, acho que não deveríamos ir à festa do Alessandro. Não depois de tudo o que aconteceu com Paulina e Simon.Guilherme se aproximou, segurando duas xícaras nas mãos.— Por que não? — perguntou, colocando as xícaras na mesa e sentando-se ao lado dela. — A amizade que tenho com Alessandro não tem nada a ver com o que acontece entre Paulina e Simon. Não faz sentido cancelar por isso.Ansiosa, acrescentou para que ele entendesse sua preocupação:— A Paulina terminou com Simon, e agora vamos aparecer na casa do irmão dele como se nada tivesse acontecido? — Sinceramente, não acho que ele vá cancelar a festa por causa do irmão. — Seu tom era firme, mas não duro. Apenas lógico. — Conhecendo-o como conheço, até vai soltar alguma p
O sol de fim de tarde tingia o céu de tons arroxeados, quando Guilherme estacionou em frente ao imóvel que seu pai residia junto de outros funcionários da mansão Salvatore. Tábata desceu e foi para a parte traseira tirar Lean, usando um delicado vestidinho vermelho, da cadeirinha.Pedro já estava na frente da propriedade, seus olhos âmbar, tão parecidos com os do filho, brilhavam de felicidade com a chegada deles.— Finalmente chegaram! — exclamou com um sorriso largo, estendendo os braços para recebê-los.Antes de se aproximar do pai, que abraçava Tábata e Lean, Guilherme montou o carrinho com moisés e pegou a bolsa com os itens de uso da bebê. Saudou o pai, que já esticava as mãos para receber a bebê, se derretendo em sorrisos e elogios a pequena.— Está crescendo rápido demais! Parece que foi ontem que ela nasceu — Pedro comentou balançando suavemente a bebê.— Ela está cheia de energia hoje. Acho que vai dar trabalho — Tábata comentou, ajustando o chapéu de sol da bebê.— Trabalho
O carro deslizou suavemente pela longa estrada de paralelepípedos até a entrada principal da mansão de Alessandro Salvatore. Tábata arregalou os olhos assim que a construção monumental surgiu diante deles. Ao contrário do estilo colonial da residência de Mirela, que parecia sair de um livro de história, esta exibia um design moderno, com enormes janelas de vidro e iluminação que realçava a geometria curva acompanhada de plantas exóticas.— Uau... — murmurou ao sair do carro, virando-se para Guilherme, ainda absorvendo a grandiosidade do local.— Impressionante, não é? — Ele sorriu, caminhando até a grande porta, em que o mordomo aguardava com uma equipe para receber os convidados. — O projeto foi desenhado pela esposa do Alessandro — contou após cumprimentar o homem uniformizado, que indicou um empregado que os acompanharia até o salão de festas.Seguiram pelo hall principal de quartzitos, a cada passo Tábata se impressionava com a sofisticação do ambiente. Obras de arte adornavam as
Tábata sentiu um nó se formar no estômago, prevendo que a loira estava afiando a língua. A elegância e a confiança de Simone eram palpáveis e combinavam com o ambiente, fazendo o incomodo crescer em torno de Tábata.O perfume adocicado antecedeu sua chegada, estrategicamente parando ao lado de Guilherme. Com sorriso calculado, seu olhar azul varreu parcialmente a mesa, passeando brevemente em Alessandro e Iolanda, antes de encontrar o alvo que lhe interessava.— Guilherme, estava a sua espera! — A voz melosa deslizou pelo ar como um veneno disfarçado de mel. Inclinou-se ligeiramente, como se fosse beijá-lo no rosto, mas recuou, deixando apenas o aroma de sua presença pairando entre eles, e a vista do decote azul céu cravejado de cristais. — Sem sua presença essa festa não teria sentido, querido.Simone ignorou por completo a presença de Tábata. O desprezo não era acidental, era meticulosamente planejado, assim como se oferecer para Guilherme. O constrangimento se infiltrou gélido na e
Necessitando de uma pausa no lavabo, Tábata deixou Guilherme conversando com um grupo de colegas e seguiu as instruções da dona da casa, se afastando do salão de festas. Minutos depois, ao sair do lavabo, no lugar de encontrar o corredor deserto como na ida, teve a desagradável visão de Simone bem em frente à porta, encostada na parede.— Pensei que fosse ficar ai dentro a noite toda — a loira comentou, descruzando os braços.Buscando não causar confusão na casa dos Salvatore, durante uma festa com os colegas de Guilherme, ignorou a mulher de vestido azul cravejado de cristais e, sem alimentar qualquer embate, encaminhou-se em direção à música e risos do salão de festas.Infelizmente, Simone não colaborou e bloqueou sua passagem.— Ouvi dizer que o pai da sua filha quer a guarda da bebê — disse Simone, com falsa doçura e feliz provocação. — Coisa séria, não é?O estômago de Tábata revirou, os dedos se apertaram nas pregas dourados do vestido e a respiração tornou-se pesada, sentindo a
Guilherme observou o salão, os dedos inquietos batendo levemente na mesa. Tábata havia saído para o lavabo e demorava a voltar. Sua ausência começava a incomodá-lo, principalmente ao notar que não era a única fora do salão: Simone também não estava em parte alguma.Uma sensação ruim se espalhou por seu corpo e ele decidiu agir.— Preciso dar uma olhada em algo — falou para os colegas, que continuavam a conversar animadamente, sem notar sua preocupação.Se afastou, desviando de cumprimentos, seguindo determinado para o corredor de acesso ao lavabo. Antes de fazer a curva, ouviu vozes. Uma suave e irritadiça, que reconheceu como sendo de Tábata. A outra, afiada e sarcástica, era de Simone. Seus passos congelaram ao entender o teor da conversa.— Acha que algum dia ele vai te levar a sério? — A voz de Simone ressoou, carregada de veneno. — Você? Uma criatura sem estudo, sem futuro, sem nada a oferecer além de uma gravidez indesejada? Ele merece mais do que isso. E você... bem, você dever
Desnorteada, Tábata correu. Seus pés mal tocavam o chão, o vestido dourado flamejando como um raio de sol em fuga. O salão de festas, com suas luzes brilhantes e risadas ecoantes, passou como um borrão. Pessoas uniformizadas tentaram interceptá-la, vozes se levantaram em questionamentos e alertas, mas ela não ouviu. Não podia ouvir. As palavras de Simone ecoavam em sua mente, cortantes como facas, dilacerando tudo o que sabia sobre si mesma.“Não tem uma gota do sangue da mulher que chama de mãe.”O ar fugiu de seus pulmões, um frio cortante atravessou sua espinha e sua mente se recusava a aceitar, mas algo dentro dela — um pressentimento profundo e obscuro de longa data — sussurrava que Simone dizia a verdade.Não sabia para onde ir, só sabia que precisava fugir. Fugir daquela revelação, daquela dor, da tempestade que se formava dentro dela. Atravessou portas, corredores, até que o ar fresco da noite a atingiu em cheio, junto das luzes noturnas e das lâmpadas distribuídas pelo local