Tábata despertou lentamente, os olhos piscando preguiçosos enquanto o calor familiar do corpo de Guilherme a envolvia por trás. O braço dele estava sobre sua cintura, aconchegando-a, a mão grande cobrindo seu ventre de uma forma que a fazia sentir-se protegida.
Sorriu, um sorriso cheio de uma felicidade serena e infinita. Deslizou os dedos delicadamente pela mão dele, sentindo a textura da pele, os calos que denunciavam sua dedicação ao treino de artes marciais e, ao mesmo tempo, tinham uma suavidade ao tocá-la.
Era difícil acreditar que fosse real. Que, depois de tantas reviravoltas, estavam juntos. Mesmo que em segredo.
Inspirou fundo, recordando que sua relação anterior, com o pai de sua bebê, quando passou do flerte para namoro, também foi segredo, porém, por decisão dele.
Havia se permitido sonhar naquela época, acreditando nas promessas vazias de casamento, de que ele precisava de tempo para apresenta-la aos pais, por morarem em outro es
Na consulta com a obstetra, Guilherme estava sentado ao lado de Tábata, segurando sua mão, enquanto ela olhava os quadros com imagens de bebês e mensagens sobre maternidade preenchendo as paredes brancas.— Está se sentindo bem? — ele perguntou apertando de leve a mão dela, sentindo o nervosismo dela desde que entraram na sala.— Sempre sinto um pouco de receio nas consultas — admitiu acariciando a barriga. — É como se estivesse prestes a fazer uma prova, mas o resultado é a saúde dela.Compreendendo o motivo da insegurança, visto que tinham passado por momentos delicados na primeira consulta a respeito da saúde da bebê, ele inclinou-se beijando a testa dela com carinho.— Estou aqui por vocês! — garantiu recebendo um beijo doce em retorno.A porta se abriu e a Dra. Mariana entrou com o costumeiro sorriso calmo, os olhos verdes
Os dias ao lado de Guilherme passaram a ter um ritmo gostoso para Tábata. Se entendiam com perfeição e ela não tinha dúvidas sobre os sentimentos dele, tão pouco sobre os próprios. A única razão para não aceitar expor que estavam juntos era o temor de como seria a aceitação dos parentes dele, principalmente quando soubessem do passado dela.Ele dizia para não se preocupar, mas Tábata não conseguia. Sabia que Guilherme valorizava a família e queria fazer parte dela junto com sua filha. No entanto, não era boba de achar que Simone desistiu de afastá-la de Guilherme, e era bem capaz de contar de um jeito deturbado seu passado para os parentes dele se soubesse que estavam juntos.Preferia ir com calma. Com essa intenção, além de aproveitar as visitas matinais de Paulina para firmar uma amizade com a prima dele, sempre ia com Gui
Onze dias depois, o silêncio da madrugada foi interrompido pelo gemido de dor escapando dos lábios de Tábata. Uma pontada intensa atravessou seu ventre, e ela levou a mão automaticamente à barriga arredondada, se sentando desajeitada na cama.— Ai...! — soltou arfante, iniciando a respiração aprendida nas aulas e tentando não entrar em pânico. Outra contração a atingiu e ansiosa bateu no ombro de Guilherme, deitado ao seu lado. — Gui... Guilherme...! Acorda...!Sonolento, ele abriu os olhos sem se mover muito e quase voltando a dormir, mais outro gemido de dor dela o despertou por completo, fazendo-o sentar assustado.— Taby? O que foi? — perguntou confuso, a voz rouca e ainda carregada de sono.— Acho que... ela... está chegando...! — A mistura de dor e ansiedade transparecia em cada palavra solta por Tábata entre
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q
O celular vibrou sobre a escrivaninha, obrigando Guilherme Perez a tirar os olhos do documento que redigia. Sorriu ao ver a foto de seu amigo de infância preencher a tela.— Oi Lee! Como anda a vida?— Comigo tudo bem, cara. Estou nos Estados Unidos, participando de alguns eventos. Farei meu nome brilhar esse ano! — informou empolgado como sempre. — Mas não te liguei pra falar disso. Preciso da sua ajuda.— Jurídica? — Se endireitou em sua poltrona de couro marrom, intrigado com o pedido. Lee não costumava se meter em encrenca, não conseguia imagina-lo em uma situação que precisasse de um advogado.— Talvez... — O que você fez?— Eu? Nada. O problema é com a minha prima Tábata. Lembra-se dela? — Lembro...E como não lembrar? Sorriu nostálgico ao recordar da menina determinada, com constantes coques duplos, lembrando o penteado da personagem Pucca. A garota que seguia Lee e ele nos treinos de boxe e kung fu, sendo tão boa na luta quanto os dois. A jovem que lhe pediu um beijo de pres
Ele assentiu devagar observando seu rosto com tanta atenção que parecia querer ler sua alma, desnudá-la e penetrar sem misericórdia. Sentiu o rosto quente com a direção que sua mente tomava, quando deveria trabalhar em formas de resolver a confusão em que sua vida transformara-se. Culpando os hormônios da gravidez, ergueu-se e marchou em direção ao enorme carro preto estacionado em frente à lanchonete.— Sua casa fica longe? — perguntou, tentando focar em outra coisa.— Dever ser alguns minutos daqui.Ele colocou a mão em suas costas fazendo Tábata arrepiar-se dos pés à cabeça, e apressar o passo para manter distância do toque masculino. Mas ao chegar ao carro de quatro portas e caçamba percebeu que precisaria de ajuda.— O piso é alto... — comentou nervosa, voltando-se e dando de cara com o peito forte de Guilherme.Pousando as mãos nos ombros dela, Guilherme notou a confusão no rosto da Mamoru quando ela o encarou com seus profundos olhos castanhos.— Vai ficar tudo bem — ele garant
A casa de Guilherme ficava em um bairro de classe média, arborizado, jardins na maioria bem cuidados e casas que lembravam as de bonecas. No caminho Tábata visualizou um parque familiar, com crianças correndo e brincando com os aparelhos colocados especialmente para elas: escorregadores, caixas de areia, entre outros. Era um bairro perfeito para criar uma família, o que estava longe de combinar com a visão que tinha de Guilherme.Ela nunca questionou o primo a respeito do Perez, mas sabia que continuava solteiro, por isso presumiu que vivesse em um apartamento frio e solitário como o dono. Mas o bairro e a pequena casa de fachada creme e telhado de lajotas estavam longe de corresponder às suas expectativas. Parecia à casa perfeita para um comercial de margarina, só faltava o casal e as crianças felizes no quintal.Ele estacionou dentro da garagem, construída do lado da casa e com acesso ao imóvel, fechando a porta com o controle enquanto descia e dava a volta para abrir o lado dela. D