A sala ficou silenciosa por um instante, exceto pelo tique-taque discreto do relógio de parede, ao ponto que Guilherme conseguia ouvir as batidas de seu coração.
— É difícil nominar o que sinto quando o assunto é casamento. ... — Guilherme hesitou, os olhos fixos na mesa. — Depois de tudo o que aconteceu com minha mãe... — calou antes de mencionar o que passou com Simone. Era algo compartilhado apenas com Tábata e preferia que continuasse assim. — É difícil confiar...
— Não confia na Tábata?
Guilherme olhou para o amigo, os olhos âmbar revelando uma vulnerabilidade rara.
— Não confio em mim — Guilherme respondeu, passando uma mão pelo cabelo. — É só... você sabe como foi o casamento dos meus pais. — ele fez uma pausa, procurando as palavras certas. — Não tive um bom exemplo e tenho medo de cometer os erros deles... Acabar magoando ela, como minha mãe magoou meu pai.
Alessandro sorriu, um sorriso que transmitia compreensão e apoio.
— Vo
Na sexta, perto do fim do expediente, George Lione entrou na sala de Guilherme após duas batidas, em sua mão segurava uma pasta que pousou na escrivaninha do colega. Seus olhos verdes, sempre atentos, encontraram os de Guilherme, que pegou o envelope imediatamente ao reconhecer o logotipo da clínica em que fizeram o exame de paternidade.— Foi rápido — comentou, a voz um pouco mais grave do que o normal, denunciando a preocupação com o que o simples resultado teria no futuro.— Chegou no começo da tarde — respondeu George, se sentando a espera que o colega verificasse o documento. — A outra parte recebeu praticamente ao mesmo tempo, pois recebi um telefonema que me ocupou por algumas horas.Nunca houve para Guilherme dúvidas sobre o resultado, mas, no fundo de seu coração apreensivo por Tábata, gostaria que seus olhos percorressem as linhas do exame e encontrasse uma resposta diferente da esperada. Não era o caso.— Então é isso — murmurou Guilherme, fechando a pasta e erguendo o olha
Guilherme olhou para a tela do celular e imediatamente seu rosto se transformou. Os lábios se apertaram, os olhos estreitaram e uma expressão de desprezo surgiu nas feições másculas. Atendeu a ligação com um movimento brusco, levantando e afastando em direção ao balcão de divisão entre os cômodos.— Simon — disse o nome como se fosse uma maldição —, o que você quer? — sua voz era cortante.Tão surpresa quando ele com o telefonema, Tábata observou Guilherme, os olhos amendoados seguindo cada movimento dele. Ela não conseguia ouvir o que era dito do outro lado da linha, mas a tensão no corpo de Guilherme era palpável. Algo estava muito errado. Ele parou de repente, os ombros tensionados, e então soltou irritado.— Paulina? — Tábata reparou que a voz, antes carregada de desprezo, agora tinha toques de nervosismo. — Por que diabos está perguntando se Paulina está conosco?— Gui, o que foi? — perguntou preocupada, a voz um pouco mais alta, tentando chamar a atenção.Ele nem olhou para ela.
O estridente som da campainha cortou o silêncio da manhã de sábado. Guilherme, ainda com os olhos pesados de sono, sentou-se na cama sobressaltado. Ao lado, Tábata também despertou alarmada, os olhos amendoados se abrindo confusos, turvos pelo sono— Quem será a essa hora? — ela murmurou, levando uma mão ao rosto para espantar o resquício de sono.— Não sei, mas vou ver — respondeu Guilherme, já em pé, vestindo rapidamente uma camiseta e calça jeans.Tábata assentiu rapidamente, os olhos ainda meio cerrados pelo sono. Deslizou para fora da cama, seguindo o primeiro impulso após a visita inesperada perder o dedo na campainha: Foi verificar a filha.Abriu a porta com cuidado para não fazer barulho, caminhando descalça até o berço, aliviando-se ao ver que a menina continuava dormindo serenamente, a respiração leve e ritmada. Suspirou, agradecida pelo barulho não ter acordado a bebê, e ajeitou a mantinha em volta do corpinho da filha antes de sair do quarto.Movida pela curiosidade inquie
Depois de uma rápida passagem pelo antigo emprego de Paulina, para buscar as coisas dela, seguiram para o endereço do encontro, uma casa de tijolinhos aparentes. Um homem os recepcionou e levou até Paulina.Ao notar o novo corte de cabelo de Paulina, os olhos de Tábata se arregalaram por um instante. Os longos fios, agora não passavam do queixo, repicados em um penteado moderno, bem diferente do anterior. Olhou para Guilherme, que também parecia surpreso, mas ambos mantiveram o silêncio, poupando Paulina de comentários que poderiam magoá-la ainda mais. A amiga passava por um momento difícil, e a última coisa que queria era aumentar sua angústia por causa de um corte de cabelo.Depois que Paulina apresentou os amigos, pediu para Guilherme acompanha-la até o quarto que ocupava, para deixar a mala com suas roupas. Quando retornaram para a sala, decidiu abordar o assunto inevitável.— Simon queria saber em que lugar você estava — contou.Notou o desconforto estampado no rosto da amiga.—
De volta a casa, Tábata sentou-se no sofá, verificando a filha no carrinho de bebê, enquanto Guilherme seguia para a cozinha pegar chá para os dois. Observou Lean, que dormia tranquilamente, e suspirou, sentindo o peso dos últimos acontecimentos em seus ombros.— Gui, acho que não deveríamos ir à festa do Alessandro. Não depois de tudo o que aconteceu com Paulina e Simon.Guilherme se aproximou, segurando duas xícaras nas mãos.— Por que não? — perguntou, colocando as xícaras na mesa e sentando-se ao lado dela. — A amizade que tenho com Alessandro não tem nada a ver com o que acontece entre Paulina e Simon. Não faz sentido cancelar por isso.Ansiosa, acrescentou para que ele entendesse sua preocupação:— A Paulina terminou com Simon, e agora vamos aparecer na casa do irmão dele como se nada tivesse acontecido? — Sinceramente, não acho que ele vá cancelar a festa por causa do irmão. — Seu tom era firme, mas não duro. Apenas lógico. — Conhecendo-o como conheço, até vai soltar alguma p
O sol de fim de tarde tingia o céu de tons arroxeados, quando Guilherme estacionou em frente ao imóvel que seu pai residia junto de outros funcionários da mansão Salvatore. Tábata desceu e foi para a parte traseira tirar Lean, usando um delicado vestidinho vermelho, da cadeirinha.Pedro já estava na frente da propriedade, seus olhos âmbar, tão parecidos com os do filho, brilhavam de felicidade com a chegada deles.— Finalmente chegaram! — exclamou com um sorriso largo, estendendo os braços para recebê-los.Antes de se aproximar do pai, que abraçava Tábata e Lean, Guilherme montou o carrinho com moisés e pegou a bolsa com os itens de uso da bebê. Saudou o pai, que já esticava as mãos para receber a bebê, se derretendo em sorrisos e elogios a pequena.— Está crescendo rápido demais! Parece que foi ontem que ela nasceu — Pedro comentou balançando suavemente a bebê.— Ela está cheia de energia hoje. Acho que vai dar trabalho — Tábata comentou, ajustando o chapéu de sol da bebê.— Trabalho
O carro deslizou suavemente pela longa estrada de paralelepípedos até a entrada principal da mansão de Alessandro Salvatore. Tábata arregalou os olhos assim que a construção monumental surgiu diante deles. Ao contrário do estilo colonial da residência de Mirela, que parecia sair de um livro de história, esta exibia um design moderno, com enormes janelas de vidro e iluminação que realçava a geometria curva acompanhada de plantas exóticas.— Uau... — murmurou ao sair do carro, virando-se para Guilherme, ainda absorvendo a grandiosidade do local.— Impressionante, não é? — Ele sorriu, caminhando até a grande porta, em que o mordomo aguardava com uma equipe para receber os convidados. — O projeto foi desenhado pela esposa do Alessandro — contou após cumprimentar o homem uniformizado, que indicou um empregado que os acompanharia até o salão de festas.Seguiram pelo hall principal de quartzitos, a cada passo Tábata se impressionava com a sofisticação do ambiente. Obras de arte adornavam as
Tábata sentiu um nó se formar no estômago, prevendo que a loira estava afiando a língua. A elegância e a confiança de Simone eram palpáveis e combinavam com o ambiente, fazendo o incomodo crescer em torno de Tábata.O perfume adocicado antecedeu sua chegada, estrategicamente parando ao lado de Guilherme. Com sorriso calculado, seu olhar azul varreu parcialmente a mesa, passeando brevemente em Alessandro e Iolanda, antes de encontrar o alvo que lhe interessava.— Guilherme, estava a sua espera! — A voz melosa deslizou pelo ar como um veneno disfarçado de mel. Inclinou-se ligeiramente, como se fosse beijá-lo no rosto, mas recuou, deixando apenas o aroma de sua presença pairando entre eles, e a vista do decote azul céu cravejado de cristais. — Sem sua presença essa festa não teria sentido, querido.Simone ignorou por completo a presença de Tábata. O desprezo não era acidental, era meticulosamente planejado, assim como se oferecer para Guilherme. O constrangimento se infiltrou gélido na e