Capítulo 4. A última refeição.

— Que intimidade é essa? — A porta da cela se abriu e, aos poucos, a pequena sala se encheu. O guarda que tinha se tornado meu amigo naqueles meses, e, devido aos seus cuidados, eu ainda conseguia me manter viva, se levantou devagar, me ajudando a apoiar as costas na parede. Por mais que eu estivesse sentada na cama, não tinha forças para ficar reta.

— Quando aplicamos a dose de Wolfsabe nela, a menina fica sem forças. O que o alfa viu foi só um cuidado paternal; ela lembra muito minha irmã. — Jonathan não deixou ele terminar e pediu para ele calar a boca. — Sim, Alfa. — Ele virou o rosto para mim e pediu desculpas, se afastando da cama.

— Acenda a luz dessa sala. E que fedor é esse? — Jonathan falou novamente.

— Desculpe, meu alfa, mas todos os prisioneiros só têm direito a um banho por semana. — Foi a vez do meu amigo guarda responder.

— Como vocês podem tratar minha irmã dessa forma? — A voz de Túlio me fez levantar a cabeça e olhar para ele. Meu irmão sorriu e piscou o olho esquerdo para mim.

— Por mais que você seja o beta e meu braço direito, não esqueça que sua irmã está presa por matar sua outra irmã.

— A minha Tamara não seria capaz de machucar nem mesmo uma formiga, quem dirá sua outra metade. — Eu estava de cabeça baixa, mas consegui reconhecer aquela voz como a de Eliot.

— Sua Tamara? — Jonathan perguntou, rosnando. — Pois acho bom você procurar formas para inocentar a sua Tamara, pois só os chamei aqui para informar que amanhã será o dia do julgamento dela e, sem provas, não terá piedade dela. — Levantei minha cabeça e olhei para ele, e o mesmo mantinha seus olhos em mim. — Você tem algo a falar? — Ele direcionou a palavra a mim. — Aproveite; talvez essa seja sua última chance.

— Eu ouvi dizer que no mundo humano eles têm direito a uma última refeição quando estão no corredor da morte, então eu posso ter direito a pelo menos um pedido antes do grande dia?

— Você quer comer algo antes de morrer? — Jonathan perguntou, cheio de ironia, mas eu neguei. — Então o que você irá pedir? Talvez eu possa pensar no seu caso.

— Eu quero uma tesoura. — Ele sorriu ao ouvir meu pedido. — Não irei tirar o prazer de você de me matar. — Parece que eu li seus pensamentos, pois ele parou de rir e me fuzilou com os olhos. — Eu só quero cortar minhas unhas. — Menti, pois eu tinha outros planos para a tesoura.

— Dê a tesoura a ela e fique de olho para ela não tentar nada. — O alfa ordenou ao guarda que se tornou meu amigo, e ele acenou que sim. — Ah! Faça ela banhar antes do julgamento, pois só esse tempo que eu passei aqui me deu ânsia.

— Alfa, eu posso ter um momento a sós com minha irmã? — Túlio perguntou.

— Vou conceder dez minutos para você se despedir dela. — Ele foi saindo da cela, mas deu uns passos atrás. — Está esperando o que para sair daqui, Eliot?

— Quero ter um tempo com ela também.

— E o que te dá esse direito? — Sua voz ficou mais fria do que o habitual.

— Eu a amo, isso está bom para o senhor, alfa? — Ele não me amava; Eliot e eu sempre fomos amigos. Sabia que o amor que ele sentia por mim era igual ao de Túlio, apenas de irmãos.

— Você a ama? — Eliot disse que sim. — Como você pode amar a companheira do seu alfa?

— Ela não é sua companheira, não mais. — Eliot foi agarrado pelo pescoço; nunca vi um lobo agir tão rápido, igual ao lobo de Jonathan. — Cai na real, Jonathan, você a rejeitou segundos após descobrir que ela era sua companheira e ainda quer manter a pose de dono dela. — A voz do meu amigo saiu engasgada.

— Seu merda! — O rosnado do alfa saiu alto, fazendo toda a sala tremer, mas antes que o pior acontecesse, Túlio entrou entre nós dois.

— Eliot, acho melhor você sair também. Vai verificar aquele assunto; temos menos de vinte e quatro horas e não podemos deixar nada de fora. — Eliot confirmou e, mesmo contrariado, ele saiu da minha cela, mas antes ele veio até mim e beijou minha testa.

— Que garotinha vulgar você é. Por esse e muitos motivos, eu escolheria Talita sem pensar duas vezes.

— E a única coisa que posso fazer é agradecer a Selene por ter me dado um companheiro tão leal quanto você. Ah! Verdade, você não é mais meu companheiro. — Ele rosnou e veio em minha direção, mas Túlio se meteu novamente à sua frente.

— Pacto de Amigos! — Jonathan parou e olhou para meu irmão.

— Você tem certeza de que vai usar sua parte do pacto de amigos por uma pessoa que não vale nada?

— Sim, agora te peço para sair e fechar a porta. Eu preciso ter esse tempo a sós com a minha caçula.

— Como você quiser. Aproveite esse momento, pois amanhã você não terá mais oportunidade.

— Até daqui a pouco, Jonathan. — Ele saiu da cela, mas foi o caminho até a porta olhando para mim. No segundo antes dele fechar a porta, ele lembrou meu irmão de que ele tinha apenas dez minutos. — Como você está, maninha? — Ele me abraçou.

— Infelizmente, ainda estou viva. — Minha voz saiu como um sussurro.

— Não diga isso, por favor. Vamos conseguir te libertar daqui. — Ele se ajoelhou no chão para ficar da minha altura. — Amanhã você terá sua vida de volta e quero que saiba que estarei sempre ao seu lado.

— Túlio?

— Oi! Maninha, pode falar o que você quiser; estarei aqui para te ouvir.

— Quantas doses de Wolfsabe são precisas para se matar um lobo?

— Você teria que tomar diariamente durante um mês todo, mas você não corre o risco, pois a ordem de Jonathan foi um dia sim e outro não. — Eu concordei com ele. — Amanhã seu julgamento será cedo e não se preocupe, eu estarei ao seu lado.

— E nossos pais? — Perguntei na esperança de vê-los antes da minha sentença.

— Sinto muito, maninha, mas eles não acreditam na sua inocência.

— Já esperava por isso. — Uma lágrima rolou em meu rosto. — Acho melhor você ir agora; não quero que se machuque por minha culpa.

— Eu amo você, tata. Fique bem. — Ele saiu da cela, me deixando sozinha com meus pensamentos e com as minhas culpas. Eu só esperava que o julgamento fosse rápido e que Jonathan colocasse um fim na minha vida de uma vez por todas.

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