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Capítulo 6. Quebrando os laços.

— Você não pode estar falando sério? — Jonathan perguntou, e eu disse que estava falando muito sério. — Você sabe que se desligar da alcateia é ter que se desligar de todos nela? — Eu olhei para Eliot e Túlio, que pediam para eu reconsiderar, mas eu já tinha decidido.

— Desculpe. — Falei, olhando para eles. Virei meu rosto para Jonathan e disse: — Eu, Talita Marinho, quebrou agora.

— Filha, não faça isso. — Meu pai pediu, vindo em minha direção. — Foi tudo um mal-entendido, não me faça perder outra filha.

— Eu não sou sua filha. Pode pensar que tuas duas filhas morreram pelas mãos daquele desgraçado naquela noite, na floresta. — Apontei para o homem no chão, levantei minha cabeça novamente e mirei meus olhos em Jonathan.

— Tamara, pense bem. — Jonathan falou, vindo em minha direção. — Você não pode tomar uma decisão tão séria de cabeça quente. — Ele tentou colocar as mãos em meus ombros, mas eu me afastei.

— Eu, Tamara Marinho, com o poder e a misericórdia da deusa Selene, quero agora meu vínculo com essa alcateia e todas as pessoas que fazem parte dela. — Ergui minha mão, pedindo uma faca ao guarda que cuidou de mim. Naqueles quatro meses presa, ele me entregou uma faca, e com ela eu cortei a palma da minha mão e deixei meu sangue cair no chão.

No momento em que as gotas de sangue chegaram ao chão, ouvi meu irmão, meu pai e Jonathan gritando. Acho que, por não ter mais loba, a dor que eu senti foi apenas um beliscão no peito.

— Eu posso reconsiderar essa sua loucura se você me disser que quer outra chance, agora mesmo. — Jonathan falou, em meio à dor. Não entendia o motivo dele estar sentindo dor, pois nós dois quebramos o nosso vínculo há muito tempo. Virei minha costa para ele e caminhei até meu irmão, que estava de joelhos, chorando.

— Por que você fez isso, Tamara? — Ele soluçava.

— Me desculpe, mas eu preciso viver, e aqui eu não conseguiria mais. Se eu continuar aqui, irei definhar até a morte. — Abracei-o. — Me desculpe, irmão.

— Como vou viver sem você aqui?

— Você vai conseguir, logo você vai encontrar sua companheira e nem lembrará que um dia eu existi.

— Deixa eu ir contigo, eu abro mão de tudo que tenho nessa alcateia, só quero ficar ao seu lado e te proteger.

— Não. — Ele soluçou. — Essa alcateia é a sua família, e ela precisa de você. — Beijei sua bochecha, como eu fazia sempre que ele ficava bravo comigo. — Agora eu vou embora. Vou te amar para sempre. — Meus olhos ardiam de tanto que eu chorei.

— Eu não permitirei a sua saída da alcateia, Tamara. — Jonathan falou, mas logo foi interrompido por seu pai.

— Jonathan, você prometeu que daria o que ela quisesse, e foi isso que ela te pediu, então você tem a obrigação, como alfa, de liberar sua saída da alcateia.

— Mas pai, ela é minha companheira.

— Não sou e nunca serei. — Usei suas palavras contra ele mesmo. Nos olhos de Jonathan havia sinais de desespero e dor.

— Você pode ir, minha filha, e se um dia você decidir voltar para o berço de sua família, a minha alcateia estará de portas abertas para você.

— Eu não tenho mais família, Alfa Joel. — Túlio e meu pai choraram ainda mais. — Mas agradeço pelo convite e obrigada por esse tempo que passei na sua alcateia.

Saí daquele tribunal chorando minhas últimas lágrimas, queria ter minha irmã ao meu lado naquele momento, ou então minha loba, mas aquele era um sonho impossível. Caminhei em direção à saída da alcateia, escutei alguém chamando meu nome e, ao virar, vi meu guarda amigo.

— Você irá para onde?

— Ainda não sei, só pretendo sair daqui o mais rápido possível.

— Pegue! — Ele colocou um envelope em minhas mãos. — Aí tem um pouco de dinheiro e um endereço de uma pessoa que irá te receber de braços abertos. Viva sua vida, menina, e lembre-se de que você não é culpada de nada e merece viver o melhor. — Eu abracei-o e o agradeci por tudo que ele fez por mim. Ele disse que um dia iria me visitar. Ele tirou uma mochila das costas e falou que eu poderia usar tudo que tinha dentro dela, e que era melhor eu ir logo antes que o alfa viesse atrás de mim.

— Desculpe, esses dias eu estava tão grogue que esqueci de perguntar seu nome.

— Me chamo Luís.

— Obrigada, Luís. Meu nome é Tamara.

— Prazer, Tamara. Agora está na hora de você ir. No nosso próximo encontro, podemos nos conhecer melhor. — Abracei-o forte e, com lágrimas nos olhos, me afastei. Entrei no táxi que ele chamou para me levar embora.

Vi a porta do tribunal se abrindo e dela saindo um lobo feroz. Ele caminhou até o lado de Luís, farejou seu cheiro e começou a rosnar para meu amigo. Não consegui ver mais nada, pois o táxi já tinha se afastado o suficiente. Pedi para o taxista me levar até a cidade mais próxima, não queria correr o risco de ser pega na rodoviária da alcateia. Passamos pela placa que indicava a saída da nossa cidade, respirei fundo, tentando esquecer o que eu deixei para trás. Após aquele momento, eu teria que viver minha vida, apenas por mim mesma. Entrei no ônibus rumo ao endereço que Luís me entregou. A viagem foi de um dia e meio, e como eu ainda estava sob efeito de Wolfsabe, eu dormi a viagem toda, não comi quase nada, só saí do ônibus uma vez quando foi para me banhar. Cheguei à casa da pessoa que estava no endereço que Luís me deu, bati à porta e, no momento em que ela abriu, saiu uma mulher que era muito parecida com Luís.

— Você é a Tamara? — Ela perguntou, sorrindo.

— Sim, sou eu.

— Prazer, eu sou Rosana, amiga de Luís. Entre. — Ela abriu espaço para mim, e eu entrei em sua casa. — Ele me pediu para deixar você ficar escondida por um tempo aqui na minha casa, e que não é para você se preocupar, que está tudo bem com ele. — Respirei aliviada, pois estava muito preocupada com o que o lobo de Jonathan poderia fazer com Luís. — A porta à direita é a do seu quarto. Vou ter que deixar você a sós, pois, infelizmente, apareceu uma emergência no hospital e eu tenho que ir.

— Você é médica?

— Cardiologista.

— Uau, isso é muito legal. — Falei, admirada.

— Nem sempre, às vezes se torna chato quando você não consegue salvar todos. Bom, fique à vontade, a casa é sua. — Ela saiu, fui até meu quarto e fiquei maravilhada com o toque simples, mas, ao mesmo tempo, tão lindo.

— Aqui tentarei viver, eu prometo. — Falei para mim mesma, lembrando da minha irmã e de minha loba.

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