— Você não pode estar falando sério? — Jonathan perguntou, e eu disse que estava falando muito sério. — Você sabe que se desligar da alcateia é ter que se desligar de todos nela? — Eu olhei para Eliot e Túlio, que pediam para eu reconsiderar, mas eu já tinha decidido.
— Desculpe. — Falei, olhando para eles. Virei meu rosto para Jonathan e disse: — Eu, Talita Marinho, quebrou agora. — Filha, não faça isso. — Meu pai pediu, vindo em minha direção. — Foi tudo um mal-entendido, não me faça perder outra filha. — Eu não sou sua filha. Pode pensar que tuas duas filhas morreram pelas mãos daquele desgraçado naquela noite, na floresta. — Apontei para o homem no chão, levantei minha cabeça novamente e mirei meus olhos em Jonathan. — Tamara, pense bem. — Jonathan falou, vindo em minha direção. — Você não pode tomar uma decisão tão séria de cabeça quente. — Ele tentou colocar as mãos em meus ombros, mas eu me afastei. — Eu, Tamara Marinho, com o poder e a misericórdia da deusa Selene, quero agora meu vínculo com essa alcateia e todas as pessoas que fazem parte dela. — Ergui minha mão, pedindo uma faca ao guarda que cuidou de mim. Naqueles quatro meses presa, ele me entregou uma faca, e com ela eu cortei a palma da minha mão e deixei meu sangue cair no chão. No momento em que as gotas de sangue chegaram ao chão, ouvi meu irmão, meu pai e Jonathan gritando. Acho que, por não ter mais loba, a dor que eu senti foi apenas um beliscão no peito. — Eu posso reconsiderar essa sua loucura se você me disser que quer outra chance, agora mesmo. — Jonathan falou, em meio à dor. Não entendia o motivo dele estar sentindo dor, pois nós dois quebramos o nosso vínculo há muito tempo. Virei minha costa para ele e caminhei até meu irmão, que estava de joelhos, chorando. — Por que você fez isso, Tamara? — Ele soluçava. — Me desculpe, mas eu preciso viver, e aqui eu não conseguiria mais. Se eu continuar aqui, irei definhar até a morte. — Abracei-o. — Me desculpe, irmão. — Como vou viver sem você aqui? — Você vai conseguir, logo você vai encontrar sua companheira e nem lembrará que um dia eu existi. — Deixa eu ir contigo, eu abro mão de tudo que tenho nessa alcateia, só quero ficar ao seu lado e te proteger. — Não. — Ele soluçou. — Essa alcateia é a sua família, e ela precisa de você. — Beijei sua bochecha, como eu fazia sempre que ele ficava bravo comigo. — Agora eu vou embora. Vou te amar para sempre. — Meus olhos ardiam de tanto que eu chorei. — Eu não permitirei a sua saída da alcateia, Tamara. — Jonathan falou, mas logo foi interrompido por seu pai. — Jonathan, você prometeu que daria o que ela quisesse, e foi isso que ela te pediu, então você tem a obrigação, como alfa, de liberar sua saída da alcateia. — Mas pai, ela é minha companheira. — Não sou e nunca serei. — Usei suas palavras contra ele mesmo. Nos olhos de Jonathan havia sinais de desespero e dor. — Você pode ir, minha filha, e se um dia você decidir voltar para o berço de sua família, a minha alcateia estará de portas abertas para você. — Eu não tenho mais família, Alfa Joel. — Túlio e meu pai choraram ainda mais. — Mas agradeço pelo convite e obrigada por esse tempo que passei na sua alcateia. Saí daquele tribunal chorando minhas últimas lágrimas, queria ter minha irmã ao meu lado naquele momento, ou então minha loba, mas aquele era um sonho impossível. Caminhei em direção à saída da alcateia, escutei alguém chamando meu nome e, ao virar, vi meu guarda amigo. — Você irá para onde? — Ainda não sei, só pretendo sair daqui o mais rápido possível. — Pegue! — Ele colocou um envelope em minhas mãos. — Aí tem um pouco de dinheiro e um endereço de uma pessoa que irá te receber de braços abertos. Viva sua vida, menina, e lembre-se de que você não é culpada de nada e merece viver o melhor. — Eu abracei-o e o agradeci por tudo que ele fez por mim. Ele disse que um dia iria me visitar. Ele tirou uma mochila das costas e falou que eu poderia usar tudo que tinha dentro dela, e que era melhor eu ir logo antes que o alfa viesse atrás de mim. — Desculpe, esses dias eu estava tão grogue que esqueci de perguntar seu nome. — Me chamo Luís. — Obrigada, Luís. Meu nome é Tamara. — Prazer, Tamara. Agora está na hora de você ir. No nosso próximo encontro, podemos nos conhecer melhor. — Abracei-o forte e, com lágrimas nos olhos, me afastei. Entrei no táxi que ele chamou para me levar embora. Vi a porta do tribunal se abrindo e dela saindo um lobo feroz. Ele caminhou até o lado de Luís, farejou seu cheiro e começou a rosnar para meu amigo. Não consegui ver mais nada, pois o táxi já tinha se afastado o suficiente. Pedi para o taxista me levar até a cidade mais próxima, não queria correr o risco de ser pega na rodoviária da alcateia. Passamos pela placa que indicava a saída da nossa cidade, respirei fundo, tentando esquecer o que eu deixei para trás. Após aquele momento, eu teria que viver minha vida, apenas por mim mesma. Entrei no ônibus rumo ao endereço que Luís me entregou. A viagem foi de um dia e meio, e como eu ainda estava sob efeito de Wolfsabe, eu dormi a viagem toda, não comi quase nada, só saí do ônibus uma vez quando foi para me banhar. Cheguei à casa da pessoa que estava no endereço que Luís me deu, bati à porta e, no momento em que ela abriu, saiu uma mulher que era muito parecida com Luís. — Você é a Tamara? — Ela perguntou, sorrindo. — Sim, sou eu. — Prazer, eu sou Rosana, amiga de Luís. Entre. — Ela abriu espaço para mim, e eu entrei em sua casa. — Ele me pediu para deixar você ficar escondida por um tempo aqui na minha casa, e que não é para você se preocupar, que está tudo bem com ele. — Respirei aliviada, pois estava muito preocupada com o que o lobo de Jonathan poderia fazer com Luís. — A porta à direita é a do seu quarto. Vou ter que deixar você a sós, pois, infelizmente, apareceu uma emergência no hospital e eu tenho que ir. — Você é médica? — Cardiologista. — Uau, isso é muito legal. — Falei, admirada. — Nem sempre, às vezes se torna chato quando você não consegue salvar todos. Bom, fique à vontade, a casa é sua. — Ela saiu, fui até meu quarto e fiquei maravilhada com o toque simples, mas, ao mesmo tempo, tão lindo. — Aqui tentarei viver, eu prometo. — Falei para mim mesma, lembrando da minha irmã e de minha loba.Eu me via como um homem feito de concreto; não havia suavidade em mim ou no meu jeito de ser. Gostava de ter tudo em ordem; se algo saísse fora do planejado, eu enlouquecia. É por esse motivo de gostar de ter tudo em ordem que não gostei de saber que minha companheira era outra e não minha namorada Talita. Eu conhecia todos da família Marinha, sabia que Talita era gêmea, mas nunca tinha visto Tamara de perto; ela sempre foi bem reservada, nunca gostou de sair de casa, o que era o oposto de Talita, que sempre amou estar em lugares cheios. Foi assim que fiquei encantado por ela e pedi-a em namoro. — Você me ama? — Ela perguntou no momento em que a pedi em namoro. — Não, eu nunca amei ninguém, mas, pelo que vejo, não há ninguém melhor do que você para governar a alcateia ao meu lado. — E se, após eu aceitar ser sua namorada, você encontrar sua companheira? — Se ela for alguém de quem eu não me agradar, eu a rejeito, pois você tem tudo para ser minha companheira e tenho certeza de
Aquele beijo me deixou desnorteado, meu lobo vibrava dentro de mim, meu corpo formigava, e eu ainda podia sentir a eletricidade que senti pelo seu beijo. Nosso beijo não deveria ter acontecido, meu coração não podia bater da forma que batia pela irmã da minha futura lua. Me arrependi de ter aceitado o pedido de Talita para conhecer seus pais. Não deveria ter pisado meus pés naquela casa. Como vou viver minha vida ao lado de uma mulher e desejando a sua irmã? Isso era coisa que apenas um moleque faria, mas eu passaria uma borracha em meus sentimentos, me casaria com a mulher que tinha o potencial alto para governar a alcateia ao meu lado, e o que estivesse crescendo em meu peito por Tamara seria trancado por sete chaves. Escutei alguém passar próximo à porta do escritório, e meu coração voltou a bater acelerado; parecia que naquele momento nada em mim funcionava, não consegui distinguir quem estava próximo à porta pelo cheiro. — John, sou eu. — Voltei a respirar após ouvir a voz do me
Meu casamento com Talita já estava marcado para uma semana após seu aniversário de dezoito anos. Meus sogros estavam radiantes por sua filha ser a companheira do alfa, mas, ao contrário deles, meus pais não aceitaram muito bem. Eles gostavam muito de Talita, só que a vontade deles era que eu esperasse minha companheira, pois, como mamãe falava, eu só seria feliz por completo quando encontrasse aquela que fosse destinada pela deusa Selene para mim. Mas eu tinha convicção de que não existiria uma única mulher no mundo que fosse melhor que Talita. Ela compreendia bem qual seria o seu objetivo ao meu lado. Ela tinha um espírito bom, e o desejo de Talita era poder ajudar as pessoas. Ao meu lado, ela teria todo o poder que desejasse, sem precisar pedir autorização para ninguém, pois apenas uma pessoa teria mais poder do que ela, e esse seria eu. Após o dia em que fui pedir a mão de Talita, evitei ao máximo repetir a visita. Estava sempre procurando me ocupar apenas para não ir à casa del
Eu pedi para meus pais que organizassem uma bela festa para as gêmeas, já que naquela noite seria o dia em que eu pediria a mão de Talita em casamento. Estava esperando sua bola despertar. Minha mãe organizou uma festa com tudo que tinha direito e tinha certeza de que Talita amaria cada detalhe escolhido por ela. Eu não tinha como saber do que Tamara gostava, pois nunca tive o prazer de me sentar ao seu lado, nem mesmo por um segundo. Tamara sempre fugia de mim, igual a um rato que foge quando vê um gato. No nosso último encontro no escritório do pai dela, ela mal olhou para mim e ficou conversando com Túlio, como se estivesse apenas os dois ali. Eu não podia reclamar, pois ela estava tão entregue à conversa e à brincadeira entre eles que sorria; ela estava tão solta, tão leve, o que aqueceu meu coração. Eu e Tamara tivemos nosso minuto a sós; ela disse que estava com sede, o que fez Túlio levantar e dizer que iria pegar algo para beber. — Você vem comigo, Jonathan? — ele perguntou
Talita se aproximou e me abraçou. Eu ainda estava com os olhos fixos em Tamara e não conseguia acreditar que a deusa havia feito aquela palhaçada comigo. Eu queria Talita como minha lua; não iria trocar uma que todos amavam por uma que quase ninguém lembrava da existência. Se bem que, parando para pensar, era estranho a forma como meu corpo reagia a Tamara; apenas com o seu perfume, ela deixava meu lobo louco. — O que está acontecendo aqui? — Ela olhou para nós dois. — Maninha, eu não te vi durante a festa. Onde você estava? — Vim ver se Eliot estava por aqui, mas não o encontrei. — Eu rosnei ao ouvir o nome de outro homem sair da sua boca. — O que você tem, Jonathan? — Perguntou Talita. — Infelizmente, é ela! — Essa frase fez meu coração sangrar, pois ele já amava Tamara. — O que tem minha irmã? — Vi em seus olhos o exato momento em que sua ficha caiu. — Sua companheira é a minha irmãzinha? E agora, o que vamos fazer? — Talita chorou e eu a abracei. — Eu quero você, meu am
Era muito difícil viver longe de tudo que era meu. Nunca pensei que sentiria falta da alcateia, mas me enganei, pois eu sentia muita falta. Nos seis meses posteriores à minha saída da alcateia, ainda me encontrava bastante machucada. Minhas noites ainda eram assombradas pela imagem de Talita deitada no chão daquela floresta coberta de sangue; evitava dormir ao máximo só para não ter aqueles pesadelos. Sentia falta do meu irmão Túlio a cada segundo do dia. Queria ter tido a oportunidade de ter trazido comigo pelo menos meus livros no dia em que saí da alcateia, mas, pelo que eu conhecia do meu pai, sabia que ele descontou a raiva e a desilusão por perder sua filha preferida nos meus livros. Ele tentaria me fazer sentir pelo menos um pouco da dor que ele sentiu. Só que não haveria dor pior do que ver sua irmã ser morta à sua frente e você não poder salvá-la. Um ano e meio depois, eu já morava em um pequeno apartamento. Ele era bem pequeno, mas aconchegante. Tinha poucos móveis, mas era
Minha ficha demorou a cair, e mesmo eu correndo atrás de Tamara, ainda não consegui impedir que ela fosse embora para longe da nossa alcateia. Ainda vi o exato momento em que ela se despediu do guarda que estava de mãos dadas com ela no dia em que a vi na cela. Em um momento de desespero por estar perdendo sua companheira, meu lobo sentiu o cheiro de Tamara nele e o agarrou pelo pescoço. — Você é um guardinha de merda atrevido, hein? — Minha voz saiu misturada com a do meu lobo. Naquele momento, eu já nem sabia quem estava no controle do meu corpo, se era eu ou ele. — Vou cortar sua mão fora; você jamais deveria ter encostado na minha companheira. — O que diabos você acha que está fazendo? — Ouvi a voz de Túlio ao meu lado. Virei meu rosto para ele, mas não larguei o pescoço do rapaz que abraçou a minha Lua. — Ele não tem culpa da ida dela; muito pelo contrário, o único culpado aqui é você. Ela foi embora para longe de você, longe da nossa família. Eu odeio você, odeio minha famíli
Estávamos de portas fechadas no escritório de Rosana e aproveitamos a hora do almoço para ver o resultado da prova da faculdade e descobrir se eu fui aprovada ou reprovada. Nunca tinha ficado tão nervosa, ansiando por algo igual àquele momento. Fiquei atônita quando abri o site da mesma faculdade que Rosana fez e vi meu nome entre muitos nomes na lista de aprovados. Rosana, que estava ao meu lado, gritou de alegria enquanto eu ficava no mesmo lugar, sem esboçar nenhuma reação. Fiquei me perguntando se tudo aquilo era real e fui despertada com um belisco em meu braço direito. Não doeu, mas serviu para me trazer de volta à terra. Ela estava de braços abertos, esperando que eu reagisse e a abraçasse. Levantei-me e corri até o seu abraço. — Nunca duvidei da sua capacidade! — Ela gritava emocionada. — Obrigada! Isso só foi possível por sua causa. — Não fale isso, Tamara, você é a única que merece cada mérito por suas conquistas. — Ela foi interrompida com a porta do seu escritório sen