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Capítulo 5. O julgamento.

No dia seguinte à visita do alfa e de seus aliados em minha cela, eu fui obrigada a tomar um banho em uma água muito gelada. Ainda estava fraca pela dose de Wolfsabe que aplicaram em minhas veias na noite anterior. Meus lábios tremiam violentamente devido ao choque do frio da água com meu corpo; não conhecia nenhum lobo que aguentaria banhar-se em uma água tão gelada, mas tinha certeza de que não era aquela água que iria me matar. Antes de entrar no banho, eu peguei a tesoura que um dos guardas me deu e a levei para o banheiro. Cortei minhas unhas como realmente havia falado que faria e, ao passar as mãos pelos meus cabelos, separei mechas por mechas e as cortei. Nunca tinha cortado o cabelo curto, mas o cabelo comprido me lembrava de Talita e me deixava igual a ela. Eu não tinha o direito de morrer parecida com ela, então mudei meu cabelo; pelo menos assim estaria um pouco diferente.

Dois guardas agarraram meus braços, um de cada lado, e me levaram para o local onde aconteceria meu julgamento. Não sabia quais eram os planos da deusa para mim, mas eu esperava que, se um dia eu reencarnasse, ela não me desse mais uma irmã gêmea e muito menos que ela nos fizesse amar o mesmo homem. Todos já estavam em seus devidos lugares, dos anciãos até a plateia que sempre deseja ver o pior acontecendo. Meu pai fazia parte do coro de anciãos e ele não poderia faltar, mesmo que fosse sua filha a ser julgada e condenada. Jonathan entrou e se sentou na cadeira destinada ao alfa; ele levantou a cabeça e, ao me ver, seus olhos ficaram espantados.

— O que diabos você fez com seu cabelo? — Ele ficou tão furioso que não conseguiu se conter; afinal, eu era o retrato vivo do amor da sua vida.

— Já peço perdão pelas palavras, mas o que você tem a ver com o meu cabelo? Ou eu tinha que pedir permissão ao senhor alfa para cortá-lo?

— Marcelo, sua filha foi sempre tão desaforada assim? — Ele olhou para meu pai. — Você não conseguia ensinar a ela os mesmos ensinamentos que deu a Talita e Túlio?

— Sinto muito, meu alfa, mas eu não tenho filha assassina; minha única filha morreu no dia do seu aniversário de dezoito anos. — Não sabia que uma alma podia ser rasgada muitas vezes, mas se eu ainda tinha alguma alma, meu pai terminou de matá-la com suas doces palavras.

— Você tem mais a falar? — Jonathan se virou novamente para mim.

— Só peço que você acabe logo de uma vez por todas com essa palhaçada. Você já decretou a minha morte naquela floresta, então dê logo a ordem aos seus guardas para arrancarem minha cabeça ou até que arranquem meu coração do meu peito. A não ser que o próprio alfa queira fazer isso por si mesmo.

— Você não vai se defender de nenhuma das acusações? — Ele perguntou, mordendo os dentes; ele deveria estar furioso.

— Ela não precisa se defender, pois ela não fez nada de errado. — Túlio entrou no tribunal; ao seu lado estava Eliot, que carregava um homem pelo pescoço. — Esse foi o desgraçado que matou Talita. — Enquanto Túlio falava, Eliot jogou o tal homem no chão aos pés do alfa. — Conte tudo que você me falou. — Meu irmão avançou no homem jogado ao chão e chutou seu abdômen.

— Eu matei aquela moça; vi ela naquela floresta sozinha e chorando, achei-a um alvo fácil, mas no momento em que eu me transformei e pulei para atacá-la, de repente ela se multiplicou. Aquilo me assustou; eu agarrei o clone à minha frente pelo pescoço, mas no momento em que eu iria quebrar o pescoço daquele maldito clone, a outra se transformou e me jogou para longe do seu clone.

— PARE DE CHAMAR ELA DE CLONE, SEU MALDITO. — Perdi a razão e comecei a gritar feito louca. — ELA ERA MINHA IRMÃ, minha irmã, a única que me compreendia; ela me acordava todos os dias com um beijo na testa. Eu a amava. Então não a chame de clone, seu desgraçado, pois ela era a pessoa mais autêntica que eu já conheci neste mundo. — Meu peito sangrava por dentro. — Por favor, coloque logo um fim na minha dor e me mate; talvez a deusa possa sentir um pouco de compaixão e permitir que eu veja a minha irmã após a morte.

— Não fale assim, Tata; eu não conseguiria viver sem você. — Meu irmão me agarrou, mantendo-me em seus braços, e eu senti um refúgio que há dias não sentia.

— Como você viu, alfa, Tamara não foi culpada de nada; o único culpado foi esse desgraçado que está à sua frente. — Não consegui mais abrir meus olhos; eu só conseguia chorar e gritar para que o alfa desse logo a minha sentença de morte.

— Não posso te julgar por algo que você não teve culpa, Tamara. — Senti um leve remorso na voz de Jonathan. — Te peço desculpas por te culpar por algo que você foi tão vítima quanto Talita. Me peça o que você quiser que eu lhe darei; só não posso lhe dar a morte.

— Quero minha loba de volta; você poderá trazê-la de volta? — Falei entre soluços.

— O que você quer dizer com trazer sua loba de volta?

— Por sua ordem, seu guarda me aplicou uma dose diária de Wolfsabe durante um mês e meio. — Chorei lembrando da presença da minha loba, que eu senti apenas uma vez. — Eu não tenho mais loba, então você poderá trazê-la de volta?

— Quem foi o guarda que aplicou Wolfsabe em você diariamente?

— E isso importa? Tenho certeza de que você não conseguirá me dar o que pedi, então tenho outro pedido.

— O que você deseja? Mas quero que saiba que descobrirei quem fez isso contigo e eles serão punidos. Então, qual é o teu desejo?

— Quero me desligar da alcateia e de todos que vivem nela; como não tenho mais uma loba, então não tenho motivo para viver no meio de lobos. Quero ir para o mundo humano.

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