Eu me via como um homem feito de concreto; não havia suavidade em mim ou no meu jeito de ser. Gostava de ter tudo em ordem; se algo saísse fora do planejado, eu enlouquecia. É por esse motivo de gostar de ter tudo em ordem que não gostei de saber que minha companheira era outra e não minha namorada Talita. Eu conhecia todos da família Marinha, sabia que Talita era gêmea, mas nunca tinha visto Tamara de perto; ela sempre foi bem reservada, nunca gostou de sair de casa, o que era o oposto de Talita, que sempre amou estar em lugares cheios. Foi assim que fiquei encantado por ela e pedi-a em namoro.
— Você me ama? — Ela perguntou no momento em que a pedi em namoro. — Não, eu nunca amei ninguém, mas, pelo que vejo, não há ninguém melhor do que você para governar a alcateia ao meu lado. — E se, após eu aceitar ser sua namorada, você encontrar sua companheira? — Se ela for alguém de quem eu não me agradar, eu a rejeito, pois você tem tudo para ser minha companheira e tenho certeza de que Selene não rejeitará um pedido nosso. — Eu aceito, pois você também sempre chamou minha atenção, mas, se você encontrar sua companheira e desejar ter uma vida ao seu lado, eu irei aceitar sem nem questionar. Naquele momento, tivemos nosso primeiro beijo. Pensei que sentiria pelo menos meu estômago revirar, mas nada aconteceu. Por um lado, achei bom não sentir nada com o beijo de Talita, pois só assim eu ainda teria controle da minha vida, sem nenhum sentimento me governando. Marcamos um jantar para ela me apresentar à sua família. Eu já tinha certeza de que eles gostariam de saber que eu estava namorando sua filha, pois eu era o seu alfa, e todas as famílias da minha alcateia que tinham uma filha me desejavam como genro. Meu melhor amigo Túlio não gostou muito de saber. Ele disse que é contra os lobos se envolverem com alguém sem ter a certeza de que é a sua predestinada, mas eu o convenci a acreditar que Talita era a minha companheira, pois ela tinha todas as qualidades de uma Luna, e não existia outra naquela alcateia que tivesse a beleza e as qualidades que ela tinha. E foi nesse momento que ele me lembrou que existia, sim, na alcateia, uma garota que tinha a mesma beleza de Talita. — Por um momento, eu até esqueci que Talita era gêmea. — Nós dois estávamos em meu carro a caminho da casa dela. — Você tem certeza de que essa outra garota existe? — Você acha que minha irmã não existe? — Ele virou o rosto para me encarar. — Por que eu mentiria? Tamara existe e é a melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha existência. Apesar de ela e Talita serem idênticas, elas são bem diferentes. — Os olhos do meu beta brilhavam. — Espero que minha garotinha encontre um ótimo companheiro, seja ele lobo, humano ou até mesmo a raça ruim de vampiro. — Você entregaria sua irmã a um vampiro? — Questionei, sem acreditar. — Se existisse amor entre eles e ele me prometesse que cuidaria bem dela, eu a entregaria com todo prazer. Tamara sempre foi a esquecida por todos, inclusive pelos meus pais, que só olham para mim e Talita. Então, se um dia ela encontrar alguém que a ame e a priorize, eu farei questão de que ela largue tudo por essa pessoa. Fiquei tão abismado com o que ele falou que minhas palavras se silenciaram. Por um momento, fiquei curioso sobre essa irmã que fazia os olhos do meu beta brilharem. Ele foi o caminho todo falando de sua família, mas seus olhos só brilhavam quando tocava no nome da gêmea da minha namorada. Chegamos à frente da casa dele; na mesma hora, meu celular tocou e, como era uma ligação importante, pedi para ir ao escritório do pai de Túlio, e ele me indicou a direção. Atendi a ligação e pedi para a pessoa do outro lado da linha me ligar dali a uns dois minutos. Entrei no escritório do meu sogro e, ao abrir a porta, vi uma escada em frente à estante de livros. Abri a porta devagar para não fazer barulho e a vi no topo da escada; ela admirava os livros, como se estivesse procurando o melhor entre eles. Vi um sorriso se formando no momento em que ela encontrou aquele que queria. Ela desceu da escada sem nem perceber que havia alguém com ela ali dentro. Seus cabelos, que viviam sempre amarrados, estavam soltos. Ver ela sorrindo, olhando para a capa do livro, fez meu coração acelerar. Quando dei por mim, já estava em sua frente. Algo nela estava diferente naquele momento, mas não consegui resistir; levantei seu rosto e, antes mesmo de Talita saber quem estava à sua frente, eu a beijei. Foi um beijo rápido, porém o que aquele beijo fez em meu corpo foi algo que eu nunca tinha sentido. Sentir frio na barriga, meu coração acelerou; eu abracei sua cintura e vi que ela se encaixava perfeitamente em meus braços, mas ela se afastou de mim. — Você está louco? — Então minha ficha caiu; eu não tinha beijado Talita, mas sim sua irmã gêmea. Eu realmente deveria estar louco. Ao perceber meu erro, fiquei sem chão, pois tinha quase certeza de que me apaixonei pela irmã da mulher que eu escolhi para governar minha alcateia ao meu lado. — Eu sou seu alfa e, nesse momento, eu ordeno que você esqueça tudo que aconteceu aqui. Você irá sair dessa sala e nem lembrará que entrou nela hoje. — Usei meu poder nela. Nunca tinha usado o dom que recebi como presente da deusa Selene; na minha família, todos nasciam com algum dom, mas nem todos da alcateia sabiam, apenas os mais próximos. A deusa à minha frente balançou a cabeça e caminhou para fora do escritório. Fiquei tentando entender tudo que tinha acontecido ali; eu não acreditava ter beijado minha cunhada, aquela que eu nem mesmo lembrava da existência.Aquele beijo me deixou desnorteado, meu lobo vibrava dentro de mim, meu corpo formigava, e eu ainda podia sentir a eletricidade que senti pelo seu beijo. Nosso beijo não deveria ter acontecido, meu coração não podia bater da forma que batia pela irmã da minha futura lua. Me arrependi de ter aceitado o pedido de Talita para conhecer seus pais. Não deveria ter pisado meus pés naquela casa. Como vou viver minha vida ao lado de uma mulher e desejando a sua irmã? Isso era coisa que apenas um moleque faria, mas eu passaria uma borracha em meus sentimentos, me casaria com a mulher que tinha o potencial alto para governar a alcateia ao meu lado, e o que estivesse crescendo em meu peito por Tamara seria trancado por sete chaves. Escutei alguém passar próximo à porta do escritório, e meu coração voltou a bater acelerado; parecia que naquele momento nada em mim funcionava, não consegui distinguir quem estava próximo à porta pelo cheiro. — John, sou eu. — Voltei a respirar após ouvir a voz do me
Meu casamento com Talita já estava marcado para uma semana após seu aniversário de dezoito anos. Meus sogros estavam radiantes por sua filha ser a companheira do alfa, mas, ao contrário deles, meus pais não aceitaram muito bem. Eles gostavam muito de Talita, só que a vontade deles era que eu esperasse minha companheira, pois, como mamãe falava, eu só seria feliz por completo quando encontrasse aquela que fosse destinada pela deusa Selene para mim. Mas eu tinha convicção de que não existiria uma única mulher no mundo que fosse melhor que Talita. Ela compreendia bem qual seria o seu objetivo ao meu lado. Ela tinha um espírito bom, e o desejo de Talita era poder ajudar as pessoas. Ao meu lado, ela teria todo o poder que desejasse, sem precisar pedir autorização para ninguém, pois apenas uma pessoa teria mais poder do que ela, e esse seria eu. Após o dia em que fui pedir a mão de Talita, evitei ao máximo repetir a visita. Estava sempre procurando me ocupar apenas para não ir à casa del
Eu pedi para meus pais que organizassem uma bela festa para as gêmeas, já que naquela noite seria o dia em que eu pediria a mão de Talita em casamento. Estava esperando sua bola despertar. Minha mãe organizou uma festa com tudo que tinha direito e tinha certeza de que Talita amaria cada detalhe escolhido por ela. Eu não tinha como saber do que Tamara gostava, pois nunca tive o prazer de me sentar ao seu lado, nem mesmo por um segundo. Tamara sempre fugia de mim, igual a um rato que foge quando vê um gato. No nosso último encontro no escritório do pai dela, ela mal olhou para mim e ficou conversando com Túlio, como se estivesse apenas os dois ali. Eu não podia reclamar, pois ela estava tão entregue à conversa e à brincadeira entre eles que sorria; ela estava tão solta, tão leve, o que aqueceu meu coração. Eu e Tamara tivemos nosso minuto a sós; ela disse que estava com sede, o que fez Túlio levantar e dizer que iria pegar algo para beber. — Você vem comigo, Jonathan? — ele perguntou
Talita se aproximou e me abraçou. Eu ainda estava com os olhos fixos em Tamara e não conseguia acreditar que a deusa havia feito aquela palhaçada comigo. Eu queria Talita como minha lua; não iria trocar uma que todos amavam por uma que quase ninguém lembrava da existência. Se bem que, parando para pensar, era estranho a forma como meu corpo reagia a Tamara; apenas com o seu perfume, ela deixava meu lobo louco. — O que está acontecendo aqui? — Ela olhou para nós dois. — Maninha, eu não te vi durante a festa. Onde você estava? — Vim ver se Eliot estava por aqui, mas não o encontrei. — Eu rosnei ao ouvir o nome de outro homem sair da sua boca. — O que você tem, Jonathan? — Perguntou Talita. — Infelizmente, é ela! — Essa frase fez meu coração sangrar, pois ele já amava Tamara. — O que tem minha irmã? — Vi em seus olhos o exato momento em que sua ficha caiu. — Sua companheira é a minha irmãzinha? E agora, o que vamos fazer? — Talita chorou e eu a abracei. — Eu quero você, meu am
Era muito difícil viver longe de tudo que era meu. Nunca pensei que sentiria falta da alcateia, mas me enganei, pois eu sentia muita falta. Nos seis meses posteriores à minha saída da alcateia, ainda me encontrava bastante machucada. Minhas noites ainda eram assombradas pela imagem de Talita deitada no chão daquela floresta coberta de sangue; evitava dormir ao máximo só para não ter aqueles pesadelos. Sentia falta do meu irmão Túlio a cada segundo do dia. Queria ter tido a oportunidade de ter trazido comigo pelo menos meus livros no dia em que saí da alcateia, mas, pelo que eu conhecia do meu pai, sabia que ele descontou a raiva e a desilusão por perder sua filha preferida nos meus livros. Ele tentaria me fazer sentir pelo menos um pouco da dor que ele sentiu. Só que não haveria dor pior do que ver sua irmã ser morta à sua frente e você não poder salvá-la. Um ano e meio depois, eu já morava em um pequeno apartamento. Ele era bem pequeno, mas aconchegante. Tinha poucos móveis, mas era
Minha ficha demorou a cair, e mesmo eu correndo atrás de Tamara, ainda não consegui impedir que ela fosse embora para longe da nossa alcateia. Ainda vi o exato momento em que ela se despediu do guarda que estava de mãos dadas com ela no dia em que a vi na cela. Em um momento de desespero por estar perdendo sua companheira, meu lobo sentiu o cheiro de Tamara nele e o agarrou pelo pescoço. — Você é um guardinha de merda atrevido, hein? — Minha voz saiu misturada com a do meu lobo. Naquele momento, eu já nem sabia quem estava no controle do meu corpo, se era eu ou ele. — Vou cortar sua mão fora; você jamais deveria ter encostado na minha companheira. — O que diabos você acha que está fazendo? — Ouvi a voz de Túlio ao meu lado. Virei meu rosto para ele, mas não larguei o pescoço do rapaz que abraçou a minha Lua. — Ele não tem culpa da ida dela; muito pelo contrário, o único culpado aqui é você. Ela foi embora para longe de você, longe da nossa família. Eu odeio você, odeio minha famíli
Estávamos de portas fechadas no escritório de Rosana e aproveitamos a hora do almoço para ver o resultado da prova da faculdade e descobrir se eu fui aprovada ou reprovada. Nunca tinha ficado tão nervosa, ansiando por algo igual àquele momento. Fiquei atônita quando abri o site da mesma faculdade que Rosana fez e vi meu nome entre muitos nomes na lista de aprovados. Rosana, que estava ao meu lado, gritou de alegria enquanto eu ficava no mesmo lugar, sem esboçar nenhuma reação. Fiquei me perguntando se tudo aquilo era real e fui despertada com um belisco em meu braço direito. Não doeu, mas serviu para me trazer de volta à terra. Ela estava de braços abertos, esperando que eu reagisse e a abraçasse. Levantei-me e corri até o seu abraço. — Nunca duvidei da sua capacidade! — Ela gritava emocionada. — Obrigada! Isso só foi possível por sua causa. — Não fale isso, Tamara, você é a única que merece cada mérito por suas conquistas. — Ela foi interrompida com a porta do seu escritório sen
O restaurante para o qual Ian me levou era sofisticado, mas nada muito chique, o que me agradou bastante. O caminho até o restaurante foi divertido; por um momento, pensei que, após o quase beijo entre nós dois, o clima ficaria pesado, porém me enganei. Ian soube deixar o clima bem leve. Achei que seria impossível eu ficar tão confortável ao lado de outra pessoa que não fosse Rosana, meu irmão e Eliot; entretanto, com Ian foi diferente. Ele conseguiu me fazer querer viver algo novo ainda mais. — Espero que este local esteja ao seu agrado, dama bonita! — Ian puxou a cadeira para eu sentar. — A primeira vez que vim a este restaurante, me lembrei de você. — De mim? — Ele se sentou à minha frente. — Por que de mim? — Porque, desde o dia em que te conheci, não consigo parar de pensar em você. — Minha alma gelou. — Então, todo o meu dia é pensando em você. — Você consegue ser bem direto quando quer. — Desculpe! — Ele me encarava. — Te desculpar? Por quê? — Fiquei sem entender o m