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Capítulo 3. Morrendo aos poucos.

Ainda agarrada à minha irmã, eu concordei com a pergunta que Jonathan me fez. Voltei à minha forma humana, me agarrei ao corpo da minha irmã e balancei a cabeça, concordando. Eu fui a única culpada pela morte de Talita, minha irmã gêmea. O que seria de mim sem minha outra metade? Senti alguém me cobrindo e, pelo carinho e pela voz, percebi que era meu irmão.

— Vem, Tamara, deixem levar o corpo de Talita. Vou te levar para casa. — Ouvi meu irmão chorando, e meus pais também, o que rasgou ainda mais minha alma.

— Ela não vai a nenhum lugar que não seja a cela da prisão. — O namorado de minha irmã falou.

— Jonathan, minha irmã não é esse monstro que você está pensando. Elas se amavam, eram carne e unha.

— Mas ele teve um motivo bem mais forte para matar a minha namorada. — Só então percebi que ele também chorava pela morte da minha irmã.

— E qual motivo seria esse, meu filho? — Creio que a voz que ouvimos era do alfa Joel. Eu estava tão destruída que não conseguia olhar para ninguém, apenas para o corpo sem vida da minha irmã.

— Descobri que ela era minha companheira e a rejeitei. Ela não suportou ser trocada por Talita e fez isso com ela. — Continuei em transe, olhando para o chão.

— Diz que isso é mentira, Tamara, que você não foi capaz de matar sua própria irmã. — Ouvi a voz do meu pai, mas ainda assim não consegui responder.

— Pai, pela deusa, você está mesmo desconfiando de Tamara? Ela nunca seria capaz de fazer isso. — Levantei minha cabeça e olhei para Túlio.

— Eu a matei.

— Pare com isso, Tamara, você não sabe o que está falando.

— Eu MATEI ELA. — Túlio me abraçou enquanto eu repetia a mesma frase. Aquele lobo iria me matar, mas Talita se sacrificou no meu lugar, então eu era a única culpada pela sua morte.

— Vocês ouviram ela. Guardas? — Meus braços foram apertados pelas mãos dos guardas do alfa. Eles me arrancaram dos braços do meu irmão e me colocaram cara a cara com Jonathan. — Você irá desejar diariamente que fosse o seu corpo deitado naquele chão sem vida. — Ele não imaginava que qualquer castigo que ele me desse seria pouco para o castigo psicológico que eu iria me dar a cada dia que eu respirasse o ar que deveria ser da minha irmã. — A partir de hoje, você será rebaixada e viverá pior que um ômega, pois, ao contrário deles, você não sentirá sua loba e não verá mais o sol.

Fui arrastada pela floresta até a prisão da alcateia. Os guardas me jogaram no chão da cela, me deixando sozinha, mas não demorou muito para eles voltarem com uma seringa e aplicarem em minha veia. Eu gritei de dor ao sentir o líquido entrando na minha corrente sanguínea. Meu corpo parecia pegar fogo de dentro para fora; eu gritei sentindo meu corpo em chamas.

— Essa foi só a primeira dose, criança. — Uma voz calma falou aos meus ouvidos. — Espero que você sobreviva a cada uma delas.

Meus olhos foram ficando pesados, mas eu não me permiti dormir, pois, toda vez que eu fechava os olhos, eu via o corpo de Talita cheio de sangue estirado no chão. O pior de tudo aquilo era que eu nem mesmo tive tempo para conhecer minha loba, nem ao menos sabia o seu nome. A floresta estava tão escura que não vi que cor eram seus pelos. Eu iria morrer sem antes descobrir quem era o lobo que nos atacou e sem saber o motivo dele ter nos atacado. O que me restava era aguentar calada o meu castigo e a fúria do alfa.

No dia seguinte, tudo se repetiu, mas o que foi novo foi a tortura. Um dos guardas acendia seus cigarros e apagava em mim. Ele pediu para eu gritar que aquilo dava prazer a ele, porém eu mordia a língua até sangrar, mas não dava o gosto a ele de me ouvir gritando. No dia seguinte, aqueles guardas eram mais tranquilos; eles me tratavam melhor do que o outro, não me feriam, apenas aplicavam a dose diária do veneno em minhas veias. E assim meus dias e minhas noites foram passando: um dia eu era torturada por um guarda babaca e, no outro dia, outras guardas cuidavam das feridas em meu corpo.

Não sabia mais o que era dormir; eu apenas cochilava e acordava assustada. Um dia sonhava com Talita e, no outro, com aquele lobo matando minha irmã, de novo e de novo. O mesmo sonho assim que meus olhos se fechavam. Lembro que um dia eu perguntei a um guarda quanto tempo já tinha que eu estava presa naquela cela, e ele falou que já se faziam quatro meses.

— Quatro meses para uma vida não é nada. — Falei chorando.

— Crê na deusa, menina, um dia a verdade se revelará. Você não ficará aqui para sempre.

— E o que eu farei após sair daqui? Eu não tenho mais minha loba; ela morreu naquela noite ao ver sua outra metade sem vida.

— Há muitas formas de você refazer sua vida, menininha. — Ele sentou ao meu lado. — Você pode cortar os laços com a alcateia e ir para o mundo humano. — Ele segurou minha mão. — Eu te daria todas as minhas economias, caso você conseguisse sair daqui.

— Por que você é tão bom para mim?

— Porque você me lembra minha irmã. Ela se matou após ser rejeitada pelo seu companheiro, e eu desejo que você viva o que ela não viveu. Você ainda é nova e tem que crer que você sairá daqui para uma vida melhor.

— Eu não mereço viver.

— Merece sim. Muitos acreditam na sua inocência e são esses muitos que estão lutando dia a dia para provar e tirar você daqui.

— Obrigada! — Agradeci a ele pelo seu cuidado. — Mas nada do que fizerem vai me fazer esquecer tudo que aconteceu com minha irmã.

— Que intimidade é essa? — Ainda estávamos de mãos dadas quando a porta da cela se abriu e por ela passaram alguns guardas, meu irmão, Eliot e, logo em seguida, veio o alfa.

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