Ainda agarrada à minha irmã, eu concordei com a pergunta que Jonathan me fez. Voltei à minha forma humana, me agarrei ao corpo da minha irmã e balancei a cabeça, concordando. Eu fui a única culpada pela morte de Talita, minha irmã gêmea. O que seria de mim sem minha outra metade? Senti alguém me cobrindo e, pelo carinho e pela voz, percebi que era meu irmão.
— Vem, Tamara, deixem levar o corpo de Talita. Vou te levar para casa. — Ouvi meu irmão chorando, e meus pais também, o que rasgou ainda mais minha alma. — Ela não vai a nenhum lugar que não seja a cela da prisão. — O namorado de minha irmã falou. — Jonathan, minha irmã não é esse monstro que você está pensando. Elas se amavam, eram carne e unha. — Mas ele teve um motivo bem mais forte para matar a minha namorada. — Só então percebi que ele também chorava pela morte da minha irmã. — E qual motivo seria esse, meu filho? — Creio que a voz que ouvimos era do alfa Joel. Eu estava tão destruída que não conseguia olhar para ninguém, apenas para o corpo sem vida da minha irmã. — Descobri que ela era minha companheira e a rejeitei. Ela não suportou ser trocada por Talita e fez isso com ela. — Continuei em transe, olhando para o chão. — Diz que isso é mentira, Tamara, que você não foi capaz de matar sua própria irmã. — Ouvi a voz do meu pai, mas ainda assim não consegui responder. — Pai, pela deusa, você está mesmo desconfiando de Tamara? Ela nunca seria capaz de fazer isso. — Levantei minha cabeça e olhei para Túlio. — Eu a matei. — Pare com isso, Tamara, você não sabe o que está falando. — Eu MATEI ELA. — Túlio me abraçou enquanto eu repetia a mesma frase. Aquele lobo iria me matar, mas Talita se sacrificou no meu lugar, então eu era a única culpada pela sua morte. — Vocês ouviram ela. Guardas? — Meus braços foram apertados pelas mãos dos guardas do alfa. Eles me arrancaram dos braços do meu irmão e me colocaram cara a cara com Jonathan. — Você irá desejar diariamente que fosse o seu corpo deitado naquele chão sem vida. — Ele não imaginava que qualquer castigo que ele me desse seria pouco para o castigo psicológico que eu iria me dar a cada dia que eu respirasse o ar que deveria ser da minha irmã. — A partir de hoje, você será rebaixada e viverá pior que um ômega, pois, ao contrário deles, você não sentirá sua loba e não verá mais o sol. Fui arrastada pela floresta até a prisão da alcateia. Os guardas me jogaram no chão da cela, me deixando sozinha, mas não demorou muito para eles voltarem com uma seringa e aplicarem em minha veia. Eu gritei de dor ao sentir o líquido entrando na minha corrente sanguínea. Meu corpo parecia pegar fogo de dentro para fora; eu gritei sentindo meu corpo em chamas. — Essa foi só a primeira dose, criança. — Uma voz calma falou aos meus ouvidos. — Espero que você sobreviva a cada uma delas. Meus olhos foram ficando pesados, mas eu não me permiti dormir, pois, toda vez que eu fechava os olhos, eu via o corpo de Talita cheio de sangue estirado no chão. O pior de tudo aquilo era que eu nem mesmo tive tempo para conhecer minha loba, nem ao menos sabia o seu nome. A floresta estava tão escura que não vi que cor eram seus pelos. Eu iria morrer sem antes descobrir quem era o lobo que nos atacou e sem saber o motivo dele ter nos atacado. O que me restava era aguentar calada o meu castigo e a fúria do alfa. No dia seguinte, tudo se repetiu, mas o que foi novo foi a tortura. Um dos guardas acendia seus cigarros e apagava em mim. Ele pediu para eu gritar que aquilo dava prazer a ele, porém eu mordia a língua até sangrar, mas não dava o gosto a ele de me ouvir gritando. No dia seguinte, aqueles guardas eram mais tranquilos; eles me tratavam melhor do que o outro, não me feriam, apenas aplicavam a dose diária do veneno em minhas veias. E assim meus dias e minhas noites foram passando: um dia eu era torturada por um guarda babaca e, no outro dia, outras guardas cuidavam das feridas em meu corpo. Não sabia mais o que era dormir; eu apenas cochilava e acordava assustada. Um dia sonhava com Talita e, no outro, com aquele lobo matando minha irmã, de novo e de novo. O mesmo sonho assim que meus olhos se fechavam. Lembro que um dia eu perguntei a um guarda quanto tempo já tinha que eu estava presa naquela cela, e ele falou que já se faziam quatro meses. — Quatro meses para uma vida não é nada. — Falei chorando. — Crê na deusa, menina, um dia a verdade se revelará. Você não ficará aqui para sempre. — E o que eu farei após sair daqui? Eu não tenho mais minha loba; ela morreu naquela noite ao ver sua outra metade sem vida. — Há muitas formas de você refazer sua vida, menininha. — Ele sentou ao meu lado. — Você pode cortar os laços com a alcateia e ir para o mundo humano. — Ele segurou minha mão. — Eu te daria todas as minhas economias, caso você conseguisse sair daqui. — Por que você é tão bom para mim? — Porque você me lembra minha irmã. Ela se matou após ser rejeitada pelo seu companheiro, e eu desejo que você viva o que ela não viveu. Você ainda é nova e tem que crer que você sairá daqui para uma vida melhor. — Eu não mereço viver. — Merece sim. Muitos acreditam na sua inocência e são esses muitos que estão lutando dia a dia para provar e tirar você daqui. — Obrigada! — Agradeci a ele pelo seu cuidado. — Mas nada do que fizerem vai me fazer esquecer tudo que aconteceu com minha irmã. — Que intimidade é essa? — Ainda estávamos de mãos dadas quando a porta da cela se abriu e por ela passaram alguns guardas, meu irmão, Eliot e, logo em seguida, veio o alfa.— Que intimidade é essa? — A porta da cela se abriu e, aos poucos, a pequena sala se encheu. O guarda que tinha se tornado meu amigo naqueles meses, e, devido aos seus cuidados, eu ainda conseguia me manter viva, se levantou devagar, me ajudando a apoiar as costas na parede. Por mais que eu estivesse sentada na cama, não tinha forças para ficar reta. — Quando aplicamos a dose de Wolfsabe nela, a menina fica sem forças. O que o alfa viu foi só um cuidado paternal; ela lembra muito minha irmã. — Jonathan não deixou ele terminar e pediu para ele calar a boca. — Sim, Alfa. — Ele virou o rosto para mim e pediu desculpas, se afastando da cama. — Acenda a luz dessa sala. E que fedor é esse? — Jonathan falou novamente. — Desculpe, meu alfa, mas todos os prisioneiros só têm direito a um banho por semana. — Foi a vez do meu amigo guarda responder. — Como vocês podem tratar minha irmã dessa forma? — A voz de Túlio me fez levantar a cabeça e olhar para ele. Meu irmão sorriu e piscou o olho
No dia seguinte à visita do alfa e de seus aliados em minha cela, eu fui obrigada a tomar um banho em uma água muito gelada. Ainda estava fraca pela dose de Wolfsabe que aplicaram em minhas veias na noite anterior. Meus lábios tremiam violentamente devido ao choque do frio da água com meu corpo; não conhecia nenhum lobo que aguentaria banhar-se em uma água tão gelada, mas tinha certeza de que não era aquela água que iria me matar. Antes de entrar no banho, eu peguei a tesoura que um dos guardas me deu e a levei para o banheiro. Cortei minhas unhas como realmente havia falado que faria e, ao passar as mãos pelos meus cabelos, separei mechas por mechas e as cortei. Nunca tinha cortado o cabelo curto, mas o cabelo comprido me lembrava de Talita e me deixava igual a ela. Eu não tinha o direito de morrer parecida com ela, então mudei meu cabelo; pelo menos assim estaria um pouco diferente. Dois guardas agarraram meus braços, um de cada lado, e me levaram para o local onde aconteceria meu
— Você não pode estar falando sério? — Jonathan perguntou, e eu disse que estava falando muito sério. — Você sabe que se desligar da alcateia é ter que se desligar de todos nela? — Eu olhei para Eliot e Túlio, que pediam para eu reconsiderar, mas eu já tinha decidido. — Desculpe. — Falei, olhando para eles. Virei meu rosto para Jonathan e disse: — Eu, Talita Marinho, quebrou agora. — Filha, não faça isso. — Meu pai pediu, vindo em minha direção. — Foi tudo um mal-entendido, não me faça perder outra filha. — Eu não sou sua filha. Pode pensar que tuas duas filhas morreram pelas mãos daquele desgraçado naquela noite, na floresta. — Apontei para o homem no chão, levantei minha cabeça novamente e mirei meus olhos em Jonathan. — Tamara, pense bem. — Jonathan falou, vindo em minha direção. — Você não pode tomar uma decisão tão séria de cabeça quente. — Ele tentou colocar as mãos em meus ombros, mas eu me afastei. — Eu, Tamara Marinho, com o poder e a misericórdia da deusa Selene, qu
Eu me via como um homem feito de concreto; não havia suavidade em mim ou no meu jeito de ser. Gostava de ter tudo em ordem; se algo saísse fora do planejado, eu enlouquecia. É por esse motivo de gostar de ter tudo em ordem que não gostei de saber que minha companheira era outra e não minha namorada Talita. Eu conhecia todos da família Marinha, sabia que Talita era gêmea, mas nunca tinha visto Tamara de perto; ela sempre foi bem reservada, nunca gostou de sair de casa, o que era o oposto de Talita, que sempre amou estar em lugares cheios. Foi assim que fiquei encantado por ela e pedi-a em namoro. — Você me ama? — Ela perguntou no momento em que a pedi em namoro. — Não, eu nunca amei ninguém, mas, pelo que vejo, não há ninguém melhor do que você para governar a alcateia ao meu lado. — E se, após eu aceitar ser sua namorada, você encontrar sua companheira? — Se ela for alguém de quem eu não me agradar, eu a rejeito, pois você tem tudo para ser minha companheira e tenho certeza de
Aquele beijo me deixou desnorteado, meu lobo vibrava dentro de mim, meu corpo formigava, e eu ainda podia sentir a eletricidade que senti pelo seu beijo. Nosso beijo não deveria ter acontecido, meu coração não podia bater da forma que batia pela irmã da minha futura lua. Me arrependi de ter aceitado o pedido de Talita para conhecer seus pais. Não deveria ter pisado meus pés naquela casa. Como vou viver minha vida ao lado de uma mulher e desejando a sua irmã? Isso era coisa que apenas um moleque faria, mas eu passaria uma borracha em meus sentimentos, me casaria com a mulher que tinha o potencial alto para governar a alcateia ao meu lado, e o que estivesse crescendo em meu peito por Tamara seria trancado por sete chaves. Escutei alguém passar próximo à porta do escritório, e meu coração voltou a bater acelerado; parecia que naquele momento nada em mim funcionava, não consegui distinguir quem estava próximo à porta pelo cheiro. — John, sou eu. — Voltei a respirar após ouvir a voz do me
Meu casamento com Talita já estava marcado para uma semana após seu aniversário de dezoito anos. Meus sogros estavam radiantes por sua filha ser a companheira do alfa, mas, ao contrário deles, meus pais não aceitaram muito bem. Eles gostavam muito de Talita, só que a vontade deles era que eu esperasse minha companheira, pois, como mamãe falava, eu só seria feliz por completo quando encontrasse aquela que fosse destinada pela deusa Selene para mim. Mas eu tinha convicção de que não existiria uma única mulher no mundo que fosse melhor que Talita. Ela compreendia bem qual seria o seu objetivo ao meu lado. Ela tinha um espírito bom, e o desejo de Talita era poder ajudar as pessoas. Ao meu lado, ela teria todo o poder que desejasse, sem precisar pedir autorização para ninguém, pois apenas uma pessoa teria mais poder do que ela, e esse seria eu. Após o dia em que fui pedir a mão de Talita, evitei ao máximo repetir a visita. Estava sempre procurando me ocupar apenas para não ir à casa del
Eu pedi para meus pais que organizassem uma bela festa para as gêmeas, já que naquela noite seria o dia em que eu pediria a mão de Talita em casamento. Estava esperando sua bola despertar. Minha mãe organizou uma festa com tudo que tinha direito e tinha certeza de que Talita amaria cada detalhe escolhido por ela. Eu não tinha como saber do que Tamara gostava, pois nunca tive o prazer de me sentar ao seu lado, nem mesmo por um segundo. Tamara sempre fugia de mim, igual a um rato que foge quando vê um gato. No nosso último encontro no escritório do pai dela, ela mal olhou para mim e ficou conversando com Túlio, como se estivesse apenas os dois ali. Eu não podia reclamar, pois ela estava tão entregue à conversa e à brincadeira entre eles que sorria; ela estava tão solta, tão leve, o que aqueceu meu coração. Eu e Tamara tivemos nosso minuto a sós; ela disse que estava com sede, o que fez Túlio levantar e dizer que iria pegar algo para beber. — Você vem comigo, Jonathan? — ele perguntou
Talita se aproximou e me abraçou. Eu ainda estava com os olhos fixos em Tamara e não conseguia acreditar que a deusa havia feito aquela palhaçada comigo. Eu queria Talita como minha lua; não iria trocar uma que todos amavam por uma que quase ninguém lembrava da existência. Se bem que, parando para pensar, era estranho a forma como meu corpo reagia a Tamara; apenas com o seu perfume, ela deixava meu lobo louco. — O que está acontecendo aqui? — Ela olhou para nós dois. — Maninha, eu não te vi durante a festa. Onde você estava? — Vim ver se Eliot estava por aqui, mas não o encontrei. — Eu rosnei ao ouvir o nome de outro homem sair da sua boca. — O que você tem, Jonathan? — Perguntou Talita. — Infelizmente, é ela! — Essa frase fez meu coração sangrar, pois ele já amava Tamara. — O que tem minha irmã? — Vi em seus olhos o exato momento em que sua ficha caiu. — Sua companheira é a minha irmãzinha? E agora, o que vamos fazer? — Talita chorou e eu a abracei. — Eu quero você, meu am