Enquanto minha irmã se aproximava do seu namorado, que também se revelou ser meu companheiro, percebi que, por mais que fôssemos tão idênticas, algo nos tornava tão diferentes. Talita caminhava cheia de graça; até a forma como ela sorria diferia da minha. Minha irmã chegou perto de Jonathan e o abraçou. Senti uma vibração dentro de mim, mas foi o oposto do que senti ao ouvi-lo me chamando de companheira.
— O que está acontecendo aqui? — Ela olhou para nós dois. — Maninha, eu não te vi durante a festa. Onde você estava? — Vim ver se o Eliot estava por aqui, mas não o encontrei. — Jonathan rosnou novamente. — O que você tem, Jonathan? — Talita olhou para ele, o questionando. — Infelizmente, é ela! — Ele me olhou com ódio nos olhos. — O que tem minha irmã? — Talita questionou, mas ao ver como ele estava me olhando, teve logo sua resposta. — Sua companheira é a minha irmãzinha? — Nunca gostei de ouvir ela me chamando daquela forma. — E agora, o que vamos fazer? — Seu choro aumentou, e a cena foi ficando cada vez pior. — Eu quero você, meu amor, somente você. — Senti algo dentro de mim se rasgando novamente. — Mas não podemos fazer isso, não podemos ir contra a vontade da deusa Selene; ela nunca erra em nada. — Minha paciência já estava pouca para tanto drama. — E sem contar que Tamara é minha irmãzinha. — Ele a abraçou e, mais uma vez, me olhou com ódio. — Ah! Por tudo que é mais sagrado. — Falei sem paciência. — Vamos, Alfa Jonathan, me rejeite logo, para eu poder ir para casa dormir; não sou obrigada a ficar aqui vendo esse drama todo. — Tamara, por favor, sei que você é uma Beta, mas nem todos conseguem aguentar a rejeição de uma alfa. Não faça nada que depois você se arrependa. — Pouco me importa se ele é alfa; eu só quero ir para minha casa e tirar esse vestido que está me sufocando. — Ele me olhava como se não acreditasse nas minhas palavras. — Vamos logo, acabe com isso de uma vez por todas. — Não faça isso, Jonathan, ou eu nunca irei te perdoar. — A voz de Talita saiu trêmula. — Faço isso por nós dois, amor. — Ele segurou a mão dela, mas ela a afastou no mesmo instante. — Eu, Alfa Jonathan Alencar da alcateia Lua Vermelha, rejeito você, Tamara Marinho, como minha companheira e Lua da minha alcateia. — Ainda não tinha me comunicado com minha loba, mas ali, naquele momento, eu ouvi seu grito de dor. Respirei fundo; eu sabia bem como disfarçar a dor. — Tamara, não aceite a rejeição dele; não faça isso com você mesma. Você sabe que na nossa alcateia não existe segunda chance. Você terá que casar com alguém que nunca chegará a amar. — Fingir não ouvir a súplica da minha irmã. — Não vejo problema nisso; posso muito bem casar com alguém que eu não amo. — Escutei outro rosnado. — A deusa Selene me fez ser companheiro de alguém que eu não amo e, o que é pior, ele ama minha irmã. — Virei meu rosto para ele. — Eu, Tamara Marinho, aceito sua rejeição, Jonathan Alencar, alfa da alcateia da Lua Vermelha. — Vi uma lágrima rolar por sua bochecha, mas ele logo tratou de enxugá-la. — Agora vocês estão livres para viver o tão sonhado “amor”. — Em vez de entrar na casa novamente para ir embora, meus pés me guiaram rumo à floresta. Meu peito doía, minha alma estava em pedaços e minha loba gritava igual a um cachorro louco. Eu tentava abafar seus gritos, mas nada do que eu fazia tinha sucesso. Quando voltei à minha razão, percebi que estava em um lugar bem distante da casa do alfa. Olhei para trás e não vi ninguém, mas sentia que estava sendo observada, sentia algo vindo em minha direção, mas não sabia de onde. Fechei meus olhos, esperando ser atingida, mas tudo mudou de repente: vi um corpo se jogando na minha frente e, pelo cheiro, percebi que se tratava da minha irmã. Um lobo vermelho pulou no pescoço de Talita; ele a mordia ferozmente. Eu gritava pedindo socorro e, em simultâneo, batia no lobo. Pedi socorro à minha loba, que, mesmo sem força e nunca tendo passado pela transformação, decidiu me ajudar. Muitos diziam que a dor da transformação era horrível, mas, naquele momento, eu só queria salvar minha irmã; então, a dor foi de menos. Talita estava lutando bem, mas não era páreo para o lobo à nossa frente. Após minha transformação, pulei no pescoço do lobo vermelho e forcei minhas presas. Ao sentir a dor, ele gritou, sem ter noção da minha força. Segurei-o pelo pescoço e o joguei longe. Achei que ele fosse insistir na luta; porém, ele levantou do chão e correu floresta adentro. Virei para minha irmã, que já estava em sua forma humana; ela gritava de dor. Aproximando-me dela ainda na minha forma de loba, preparei-me para colocá-la em minhas costas e levá-la o mais rápido possível para a casa do alfa. O pai de Eliot estava lá; ele era médico e saberia curar minha irmã. — Não, Tamara, não tenho como sobreviver. Aquele lobo injetou alguma toxina em mim. — Procurei por algum objeto que pudesse conter a toxina, mas não encontrei nada. — E sem falar que ele praticamente fincou suas garras em meu peito, perfurando meu coração. — Minha loba chorou e uivou o mais alto que pôde. — Tamara, me escute: lute pelo seu companheiro e, por favor, não se culpe por nada que aconteceu aqui hoje; aquele velho era louco. — Ela falou sobre o velho da profecia, que uma de nós mataria a outra, mas, pelo visto, o velho louco ficou são. Abracei minha irmã e chorei ouvindo seu último suspiro. Ela me chamou pela última vez de Tata e disse que me amava. — Também te amo, Tati. — Minha loba deixou que eu me comunicasse com Talita; aquela era a forma carinhosa com que sempre nos tratamos. Talita sorriu e seus olhos se fecharam para sempre. Sentindo minha dor, minha loba uivou. — Você fez isso? — Ouvi a voz de Jonathan e, ao levantar minha cabeça, vi que ele estava acompanhado de todos os parentes e convidados da festa.Ainda agarrada à minha irmã, eu concordei com a pergunta que Jonathan me fez. Voltei à minha forma humana, me agarrei ao corpo da minha irmã e balancei a cabeça, concordando. Eu fui a única culpada pela morte de Talita, minha irmã gêmea. O que seria de mim sem minha outra metade? Senti alguém me cobrindo e, pelo carinho e pela voz, percebi que era meu irmão. — Vem, Tamara, deixem levar o corpo de Talita. Vou te levar para casa. — Ouvi meu irmão chorando, e meus pais também, o que rasgou ainda mais minha alma. — Ela não vai a nenhum lugar que não seja a cela da prisão. — O namorado de minha irmã falou. — Jonathan, minha irmã não é esse monstro que você está pensando. Elas se amavam, eram carne e unha. — Mas ele teve um motivo bem mais forte para matar a minha namorada. — Só então percebi que ele também chorava pela morte da minha irmã. — E qual motivo seria esse, meu filho? — Creio que a voz que ouvimos era do alfa Joel. Eu estava tão destruída que não conseguia olhar para nin
— Que intimidade é essa? — A porta da cela se abriu e, aos poucos, a pequena sala se encheu. O guarda que tinha se tornado meu amigo naqueles meses, e, devido aos seus cuidados, eu ainda conseguia me manter viva, se levantou devagar, me ajudando a apoiar as costas na parede. Por mais que eu estivesse sentada na cama, não tinha forças para ficar reta. — Quando aplicamos a dose de Wolfsabe nela, a menina fica sem forças. O que o alfa viu foi só um cuidado paternal; ela lembra muito minha irmã. — Jonathan não deixou ele terminar e pediu para ele calar a boca. — Sim, Alfa. — Ele virou o rosto para mim e pediu desculpas, se afastando da cama. — Acenda a luz dessa sala. E que fedor é esse? — Jonathan falou novamente. — Desculpe, meu alfa, mas todos os prisioneiros só têm direito a um banho por semana. — Foi a vez do meu amigo guarda responder. — Como vocês podem tratar minha irmã dessa forma? — A voz de Túlio me fez levantar a cabeça e olhar para ele. Meu irmão sorriu e piscou o olho
No dia seguinte à visita do alfa e de seus aliados em minha cela, eu fui obrigada a tomar um banho em uma água muito gelada. Ainda estava fraca pela dose de Wolfsabe que aplicaram em minhas veias na noite anterior. Meus lábios tremiam violentamente devido ao choque do frio da água com meu corpo; não conhecia nenhum lobo que aguentaria banhar-se em uma água tão gelada, mas tinha certeza de que não era aquela água que iria me matar. Antes de entrar no banho, eu peguei a tesoura que um dos guardas me deu e a levei para o banheiro. Cortei minhas unhas como realmente havia falado que faria e, ao passar as mãos pelos meus cabelos, separei mechas por mechas e as cortei. Nunca tinha cortado o cabelo curto, mas o cabelo comprido me lembrava de Talita e me deixava igual a ela. Eu não tinha o direito de morrer parecida com ela, então mudei meu cabelo; pelo menos assim estaria um pouco diferente. Dois guardas agarraram meus braços, um de cada lado, e me levaram para o local onde aconteceria meu
— Você não pode estar falando sério? — Jonathan perguntou, e eu disse que estava falando muito sério. — Você sabe que se desligar da alcateia é ter que se desligar de todos nela? — Eu olhei para Eliot e Túlio, que pediam para eu reconsiderar, mas eu já tinha decidido. — Desculpe. — Falei, olhando para eles. Virei meu rosto para Jonathan e disse: — Eu, Talita Marinho, quebrou agora. — Filha, não faça isso. — Meu pai pediu, vindo em minha direção. — Foi tudo um mal-entendido, não me faça perder outra filha. — Eu não sou sua filha. Pode pensar que tuas duas filhas morreram pelas mãos daquele desgraçado naquela noite, na floresta. — Apontei para o homem no chão, levantei minha cabeça novamente e mirei meus olhos em Jonathan. — Tamara, pense bem. — Jonathan falou, vindo em minha direção. — Você não pode tomar uma decisão tão séria de cabeça quente. — Ele tentou colocar as mãos em meus ombros, mas eu me afastei. — Eu, Tamara Marinho, com o poder e a misericórdia da deusa Selene, qu
Eu me via como um homem feito de concreto; não havia suavidade em mim ou no meu jeito de ser. Gostava de ter tudo em ordem; se algo saísse fora do planejado, eu enlouquecia. É por esse motivo de gostar de ter tudo em ordem que não gostei de saber que minha companheira era outra e não minha namorada Talita. Eu conhecia todos da família Marinha, sabia que Talita era gêmea, mas nunca tinha visto Tamara de perto; ela sempre foi bem reservada, nunca gostou de sair de casa, o que era o oposto de Talita, que sempre amou estar em lugares cheios. Foi assim que fiquei encantado por ela e pedi-a em namoro. — Você me ama? — Ela perguntou no momento em que a pedi em namoro. — Não, eu nunca amei ninguém, mas, pelo que vejo, não há ninguém melhor do que você para governar a alcateia ao meu lado. — E se, após eu aceitar ser sua namorada, você encontrar sua companheira? — Se ela for alguém de quem eu não me agradar, eu a rejeito, pois você tem tudo para ser minha companheira e tenho certeza de
Aquele beijo me deixou desnorteado, meu lobo vibrava dentro de mim, meu corpo formigava, e eu ainda podia sentir a eletricidade que senti pelo seu beijo. Nosso beijo não deveria ter acontecido, meu coração não podia bater da forma que batia pela irmã da minha futura lua. Me arrependi de ter aceitado o pedido de Talita para conhecer seus pais. Não deveria ter pisado meus pés naquela casa. Como vou viver minha vida ao lado de uma mulher e desejando a sua irmã? Isso era coisa que apenas um moleque faria, mas eu passaria uma borracha em meus sentimentos, me casaria com a mulher que tinha o potencial alto para governar a alcateia ao meu lado, e o que estivesse crescendo em meu peito por Tamara seria trancado por sete chaves. Escutei alguém passar próximo à porta do escritório, e meu coração voltou a bater acelerado; parecia que naquele momento nada em mim funcionava, não consegui distinguir quem estava próximo à porta pelo cheiro. — John, sou eu. — Voltei a respirar após ouvir a voz do me
Meu casamento com Talita já estava marcado para uma semana após seu aniversário de dezoito anos. Meus sogros estavam radiantes por sua filha ser a companheira do alfa, mas, ao contrário deles, meus pais não aceitaram muito bem. Eles gostavam muito de Talita, só que a vontade deles era que eu esperasse minha companheira, pois, como mamãe falava, eu só seria feliz por completo quando encontrasse aquela que fosse destinada pela deusa Selene para mim. Mas eu tinha convicção de que não existiria uma única mulher no mundo que fosse melhor que Talita. Ela compreendia bem qual seria o seu objetivo ao meu lado. Ela tinha um espírito bom, e o desejo de Talita era poder ajudar as pessoas. Ao meu lado, ela teria todo o poder que desejasse, sem precisar pedir autorização para ninguém, pois apenas uma pessoa teria mais poder do que ela, e esse seria eu. Após o dia em que fui pedir a mão de Talita, evitei ao máximo repetir a visita. Estava sempre procurando me ocupar apenas para não ir à casa del
Eu pedi para meus pais que organizassem uma bela festa para as gêmeas, já que naquela noite seria o dia em que eu pediria a mão de Talita em casamento. Estava esperando sua bola despertar. Minha mãe organizou uma festa com tudo que tinha direito e tinha certeza de que Talita amaria cada detalhe escolhido por ela. Eu não tinha como saber do que Tamara gostava, pois nunca tive o prazer de me sentar ao seu lado, nem mesmo por um segundo. Tamara sempre fugia de mim, igual a um rato que foge quando vê um gato. No nosso último encontro no escritório do pai dela, ela mal olhou para mim e ficou conversando com Túlio, como se estivesse apenas os dois ali. Eu não podia reclamar, pois ela estava tão entregue à conversa e à brincadeira entre eles que sorria; ela estava tão solta, tão leve, o que aqueceu meu coração. Eu e Tamara tivemos nosso minuto a sós; ela disse que estava com sede, o que fez Túlio levantar e dizer que iria pegar algo para beber. — Você vem comigo, Jonathan? — ele perguntou