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Capítulo 2. Nossa rejeição.

Enquanto minha irmã se aproximava do seu namorado, que também se revelou ser meu companheiro, percebi que, por mais que fôssemos tão idênticas, algo nos tornava tão diferentes. Talita caminhava cheia de graça; até a forma como ela sorria diferia da minha. Minha irmã chegou perto de Jonathan e o abraçou. Senti uma vibração dentro de mim, mas foi o oposto do que senti ao ouvi-lo me chamando de companheira.

— O que está acontecendo aqui? — Ela olhou para nós dois. — Maninha, eu não te vi durante a festa. Onde você estava?

— Vim ver se o Eliot estava por aqui, mas não o encontrei. — Jonathan rosnou novamente.

— O que você tem, Jonathan? — Talita olhou para ele, o questionando.

— Infelizmente, é ela! — Ele me olhou com ódio nos olhos.

— O que tem minha irmã? — Talita questionou, mas ao ver como ele estava me olhando, teve logo sua resposta. — Sua companheira é a minha irmãzinha? — Nunca gostei de ouvir ela me chamando daquela forma. — E agora, o que vamos fazer? — Seu choro aumentou, e a cena foi ficando cada vez pior.

— Eu quero você, meu amor, somente você. — Senti algo dentro de mim se rasgando novamente.

— Mas não podemos fazer isso, não podemos ir contra a vontade da deusa Selene; ela nunca erra em nada. — Minha paciência já estava pouca para tanto drama. — E sem contar que Tamara é minha irmãzinha. — Ele a abraçou e, mais uma vez, me olhou com ódio.

— Ah! Por tudo que é mais sagrado. — Falei sem paciência. — Vamos, Alfa Jonathan, me rejeite logo, para eu poder ir para casa dormir; não sou obrigada a ficar aqui vendo esse drama todo.

— Tamara, por favor, sei que você é uma Beta, mas nem todos conseguem aguentar a rejeição de uma alfa. Não faça nada que depois você se arrependa.

— Pouco me importa se ele é alfa; eu só quero ir para minha casa e tirar esse vestido que está me sufocando. — Ele me olhava como se não acreditasse nas minhas palavras. — Vamos logo, acabe com isso de uma vez por todas.

— Não faça isso, Jonathan, ou eu nunca irei te perdoar. — A voz de Talita saiu trêmula.

— Faço isso por nós dois, amor. — Ele segurou a mão dela, mas ela a afastou no mesmo instante. — Eu, Alfa Jonathan Alencar da alcateia Lua Vermelha, rejeito você, Tamara Marinho, como minha companheira e Lua da minha alcateia. — Ainda não tinha me comunicado com minha loba, mas ali, naquele momento, eu ouvi seu grito de dor. Respirei fundo; eu sabia bem como disfarçar a dor.

— Tamara, não aceite a rejeição dele; não faça isso com você mesma. Você sabe que na nossa alcateia não existe segunda chance. Você terá que casar com alguém que nunca chegará a amar. — Fingir não ouvir a súplica da minha irmã.

— Não vejo problema nisso; posso muito bem casar com alguém que eu não amo. — Escutei outro rosnado. — A deusa Selene me fez ser companheiro de alguém que eu não amo e, o que é pior, ele ama minha irmã. — Virei meu rosto para ele. — Eu, Tamara Marinho, aceito sua rejeição, Jonathan Alencar, alfa da alcateia da Lua Vermelha. — Vi uma lágrima rolar por sua bochecha, mas ele logo tratou de enxugá-la. — Agora vocês estão livres para viver o tão sonhado “amor”. — Em vez de entrar na casa novamente para ir embora, meus pés me guiaram rumo à floresta.

Meu peito doía, minha alma estava em pedaços e minha loba gritava igual a um cachorro louco. Eu tentava abafar seus gritos, mas nada do que eu fazia tinha sucesso. Quando voltei à minha razão, percebi que estava em um lugar bem distante da casa do alfa. Olhei para trás e não vi ninguém, mas sentia que estava sendo observada, sentia algo vindo em minha direção, mas não sabia de onde. Fechei meus olhos, esperando ser atingida, mas tudo mudou de repente: vi um corpo se jogando na minha frente e, pelo cheiro, percebi que se tratava da minha irmã.

Um lobo vermelho pulou no pescoço de Talita; ele a mordia ferozmente. Eu gritava pedindo socorro e, em simultâneo, batia no lobo. Pedi socorro à minha loba, que, mesmo sem força e nunca tendo passado pela transformação, decidiu me ajudar. Muitos diziam que a dor da transformação era horrível, mas, naquele momento, eu só queria salvar minha irmã; então, a dor foi de menos. Talita estava lutando bem, mas não era páreo para o lobo à nossa frente. Após minha transformação, pulei no pescoço do lobo vermelho e forcei minhas presas. Ao sentir a dor, ele gritou, sem ter noção da minha força. Segurei-o pelo pescoço e o joguei longe. Achei que ele fosse insistir na luta; porém, ele levantou do chão e correu floresta adentro.

Virei para minha irmã, que já estava em sua forma humana; ela gritava de dor. Aproximando-me dela ainda na minha forma de loba, preparei-me para colocá-la em minhas costas e levá-la o mais rápido possível para a casa do alfa. O pai de Eliot estava lá; ele era médico e saberia curar minha irmã.

— Não, Tamara, não tenho como sobreviver. Aquele lobo injetou alguma toxina em mim. — Procurei por algum objeto que pudesse conter a toxina, mas não encontrei nada. — E sem falar que ele praticamente fincou suas garras em meu peito, perfurando meu coração. — Minha loba chorou e uivou o mais alto que pôde. — Tamara, me escute: lute pelo seu companheiro e, por favor, não se culpe por nada que aconteceu aqui hoje; aquele velho era louco. — Ela falou sobre o velho da profecia, que uma de nós mataria a outra, mas, pelo visto, o velho louco ficou são.

Abracei minha irmã e chorei ouvindo seu último suspiro. Ela me chamou pela última vez de Tata e disse que me amava.

— Também te amo, Tati. — Minha loba deixou que eu me comunicasse com Talita; aquela era a forma carinhosa com que sempre nos tratamos. Talita sorriu e seus olhos se fecharam para sempre. Sentindo minha dor, minha loba uivou.

— Você fez isso? — Ouvi a voz de Jonathan e, ao levantar minha cabeça, vi que ele estava acompanhado de todos os parentes e convidados da festa.

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