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A gêmea errada do Alfa.
A gêmea errada do Alfa.
Por: Criselen
Capítulo 1. Um pouco de Tamara.

Na minha alcateia e em muitas outras das quais já ouvimos falar, os lobos eram reconhecidos por sua classe. Existem aquelas mais respeitadas, que são os alfas e seus braços direitos; e há as que ninguém se importa, os ômegas. Eu nasci em uma família que se considerava o braço direito dos alfas. Cada membro da minha família era considerado importante na alcateia. Eu também era um dos membros importantes, até o fatídico dia em que perdi a minha irmã e fui culpada pela sua morte. Desde então, lembrar daquele dia não é fácil, não quando sua irmã também era sua melhor amiga e a mulher que o futuro alfa da alcateia mais amava.

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Eu me chamo Tamara Marinho, faço parte de uma família de betas e, além de mim, meus pais tiveram mais dois filhos. Talita nasceu no mesmo dia e hora que eu; a diferença é de apenas uns 10 minutos. Éramos as únicas gêmeas da alcateia. Túlio, meu irmão mais velho, dizia para nós que, assim que nascemos, muitos dos velhos da alcateia se espantaram, dizendo que o nascimento de gêmeos na nossa raça de lobisomens não era normal. Meu irmão contou que os loucos pediram para que meu pai matasse uma de nós, pois uma sempre traria maldição para a outra. Agora, eu tinha certeza de que meu pai deveria ter ouvido aquele homem e ter acabado com a minha vida no dia do nascimento, pois talvez assim minha irmã ainda estaria viva e casada com o amor da sua vida.

No dia do meu aniversário de dezoito anos (e o de Talita), fomos convidadas para uma festa na casa do Alfa Joel. Talita estava linda! Eu tinha certeza de que fui chamada para essa festa apenas porque era o mesmo dia dela; por mim, eu ficaria em casa. Todavia, meus pais nunca deixariam isso acontecer; afinal, eles sempre procuravam um motivo para me colocarem de castigo. Diariamente, eles reclamavam de qualquer coisa que eu fazia. Os únicos que me tratavam bem eram Talita e Túlio. Na verdade, meus pais não tinham um filho favorito, mas eu era a única que não via futuro em nada. Túlio era beta da alcateia e Talita namorava o novo alfa. E eu? Eu era apenas mais uma beta em nossa família. Então, eu me tornei a menos favorita dos meus pais, por assim dizer.

Minha mãe comprou um vestido lindo para Talita, e para mim ela comprou um... digamos... “normal”. A desculpa que ela deu foi que aquela noite seria importante para minha irmã, pois ela conheceria sua loba e seu companheiro. E eu? Como eu ficava naquela equação? Tinha que fazer o que eles mandavam, mesmo que isso me machucasse, pois ver minha irmã tão feliz com o garoto de quem eu era apaixonada desde muito novinha me rasgava por dentro. Jonathan, o novo alfa da alcateia e namorado da minha irmã, foi o meu primeiro amor. O que me doía era ver que ele sempre me tratou de forma diferente da que tratava minha irmã. Mas eu engolia toda a tristeza, fingia que não enxergava a felicidade deles e da minha família por eles estarem juntos.

Jonathan e Talita já estavam fazendo planos, resolvendo se casar logo depois que fossem revelados como companheiros um do outro. Porém, nem tudo está sob nosso controle, não é mesmo? Às vezes, a Deusa Selene tira nossas vidas do eixo para nos mostrar quem é que manda.

Ao chegarmos à casa do Alfa Joel, fomos recebidos com todos cantando parabéns para mim e minha irmã; porém, os olhos de muitos estavam voltados para Talita. Eu já não me importava mais com nada daquilo. Estava começando a imaginar que não fazia parte daquele mundo, daquela família e muito menos daquela alcateia.

— Tente sorrir um pouco, maninha. — Túlio me abraçou. — Sei que está um porre para você, mas tente aproveitar; essa festa também é para você.

— Me sinto uma intrusa no meio de vocês. — Minha irmã se afastou de mim quando Jonathan segurou sua mão.

— Sei que é difícil ver os dois juntos, mas pense pelo lado positivo: talvez à meia-noite você possa encontrar teu companheiro e não vai nem lembrar de alguém. — Túlio era o único que tinha conhecimento sobre meus sentimentos pelo seu melhor amigo.

— Meu maior sonho seria que Deus me revelasse, através da minha loba, que esse lugar não é para nós. — Meu irmão me abraçou, pedindo para eu nunca mais repetir aquelas falas, pois ele não saberia viver sem mim.

Meus pais chamaram Túlio para conversar com o alfa Joel, me deixando mais uma vez sozinha. Procurei entre as pessoas por Eliot, o gama da alcateia, mas ele deveria estar em alguma missão. Lembro que um dia ele me disse que, se eu não o visse em alguma festa, era porque naquele dia ele estava estraçalhando algum traidor. Como não encontrei ninguém para conversar, resolvi ir até o quintal da casa do alfa, que ficava perto da floresta, e só me dei conta de que tinha caminhado muito quando me vi entre muitas árvores; eu adentrei a floresta sem nem perceber. A escuridão me assustou, então voltei o mais rápido possível para o jardim do alfa. Sentei-me em um banco e fiquei de costas para o lugar da festa. Comecei a sentir um cheiro amadeirado, com um toque cítrico. Senti uma mão em meu ombro e ouvi uma voz que transmitiu ondas elétricas a todo o meu corpo.

— Companheira. — Gelei, pois eu conhecia aquela voz; meu corpo também sentiu nossa ligação, mas o que ele falou a seguir me despedaçou. — Eu sabia que era você, meu amor; sabia que você era minha companheira. Vem, Talita, vamos contar a todos. — Engoli em seco o que estava se formando em minha garganta e, por fim, falei.

— Cabelo igual, rosto igual e até o corpo tem a mesma medida. — Ainda sentada, eu virei o rosto para ele e disse: — Mas errou o vestido. — Ele rosnou, se afastou de mim, limpando a mão em suas roupas como se meu corpo estivesse cheio de lepra. Vi a minha irmã se aproximando de nós dois, e ali, naquele momento, eu percebi que realmente o vestido dela era muito mais bonito que o meu.

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