7 anos depois...
— EU VOU MATAR VOCÊ!
Me sento na cama em um súbito, assustado. Olho pra janela e vejo que já amanheceu. Ao meu lado, Valentina ainda dorme tranquilamente.
— Você ouviu isso? — Pergunto pra minha mulher, que não se dá ao trabalho de responder. — Valentina...
— É claro que eu ouvi, Helinor. — Ela responde ainda de olhos fechados. — Acho que o prédio todo ouviu.
Ia responder, mas a porta se abriu em um súbito, revelando meus dois filhos com cara emburrada e brigando, como sempre.
— Pai, eu vou matar o Jackson! — Alexis praticamente gritou. De novo.
— Mãe, a Alexis quer me matar! — Ele diz ao mesmo tempo que ela.
— Tão cedo e vocês já estão brigando? —Valentina resmunga.
— A culpa é do Jack. Ele mexeu nas minhas coisas e...
— Pai, a Alexis tem um namor
O relógio no meu pulso marcava 06h da manhã. Abri a porta cuidadosamente, fazendo o mínimo de barulho possível. Não queria acordar a fera chamada dona Wanda. Eu fugi de casa no meio da noite pra ir pra balada com o Bernardo e alguns amigos. Até aquela chata da Camila foi. Ela pode até ser bonita, gostosa... mas é muito grudenta, e espera até hoje que eu assuma um namoro com ela. Eu. Que menina doida. Meu nome é Heitor Aguiar, tenho 18 anos e sou o mais popular da escola. Modéstia à parte, beleza é o que não me falta. Meu melhor amigo é o Bernardo, ele é quem sempre está do meu lado e sempre me ajuda quando eu preciso. Podemos discordar em algumas coisas, mas sempre damos um jeito de nos resolver. Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 3 anos, então eu mal lembro dele. E nem faço questão. Desde aí, minha mãe trabalhou duro pra conseguir me proporcionar uma boa vida. Eu posso até aprontar de vez em quando, mas sempre fui um bom filho.
Dou um sobressalto com o barulho da porta sendo espancada pela minha mãe. — Vamos, Heitor, se levanta ou você vai se atrasar! — Ela berra furiosa. Eu tinha esquecido do inferno que é ter que acordar pra ir à escola. Tomo um banho demorado, coloco uma calça jeans escura, uma camisa branca e claro, minha jaqueta de couro. Pego as chaves da minha moto e sorrio. Olho pela janela, lembrando que eu preciso dar em cima da Valentina. Desço as escadas correndo, e tomo meu café em tempo recorde. — Desse jeito você vai se engasgar. — Minha mãe chama minha atenção. Sorrio em resposta. Termino meu café e me despeço dela. Assim que abro a porta, vejo Valentina parada em frente à sua casa mexendo no celular. Essa garota é um espetáculo! Atravesso a rua torcendo pra que ela aceite minha carona, percebo que ela está olhando fixamente pra mim. — Perdeu alguma coisa aqui? — Ela pergunta em um tom rude antes que eu diga qualquer coisa.
Já fazem meses que eu tento me aproximar de Valentina, completamente em vão. Ela continua me tratando mal, só me responde com grosseria, nega minhas caronas até quando seu pai não pode levá-la à escola, ela prefere ir andando. Eu já desisti da aposta, mas tem uma coisa que me chama atenção naquela ruiva. Ela me desafia a todo momento, e isso faz com que eu me sinta cada vez mais intrigado por ela. Leonardo, ao contrário da filha, é um amor de pessoa. Acabamos nos tornando grandes amigos, o que faz com que eu vá constantemente na casa dele pra jogar videogame. Da última vez, ele teve que jogar um balde de água gelada em cima de mim e da ruiva, literalmente. Ele não aguentava mais as nossas brigas por coisas bobas. Seria cômico se não fosse trágico. — Terra chamando... Heitor? — Me desperto dos meus pensamentos quando sinto uma bola de papel me atingir em cheio. — O que é? — Respondo com raiva, encarando Bernardo. — Você tava em outro mu
Eu definitivamente não entendo as mulheres. Como é possível elas mudarem de humor em uma fração de segundo? Me pergunto se isso não é só mais um traço da personalidade explosiva de Valentina. Desde o dia da carona, duas semanas atrás, nós nos aproximamos. De vez em quando ela me dá uma resposta afiada, então eu apenas respiro fundo e rio. Amigos, talvez seja o que nós somos. Não daqueles que se abraçam toda as vezes que se vêem, ou que passam horas conversando sobre assuntos variados. Não. Nós apenas estamos nos tratando melhor, o que já é um grande avanço. Mas hoje ela simplesmente surtou e mandou eu ir pro inferno quando eu disse bom dia. Não consigo parar de encará-la durante a aula de Economia, ela parece tão brava, prestes a explodir. Penso que é algo comigo, mas no fim do dia, quando estou matando tempo na frente da escola com Bernardo e Camila e ela passa como um furacão, percebo que, o que ela tem não é raiva; é tristeza...
Sinto meu braço dormente. Já faz um tempo que Valentina não soluça, acho que ela acabou dormindo em meus braços. Me mexo devagar, com cuidado pra não acordá-la. Sua respiração está normalizada, sem dúvidas ela está em um sono profundo. Com cuidado, me levanto e pego ela no colo. Valentina resmunga algo incompreensível, mas logo depois abraça o meu pescoço. Caminho até o seu quarto, e a coloco na cama. Ela abre os olhos assustada e me encara perplexa. — Calma, tá tudo bem... — Puxo ela pros meus braços, que novamente não resiste. — Você quer que eu faça um curativo no seu braço? — Pergunto depois de um tempo em silêncio. Eu sei que ela não voltou a dormir.Valentina assente e eu a encaro. Ela desvia o olhar, seu rosto está vermelho. — Eu vou pega
Era o começo de mais um dia e isso já não estava me agradando. Me levanto ainda meio sonolento, e me arrasto até o banheiro. A água do chuveiro está mais fria que de costume. Já vi que vou ter um péssimo dia. Como de costume, tomo café com a minha mãe, que ultimamente eu quase não vejo devido ao seu trabalho no Banco, que faz com que ela não pare em casa. Assim que termino, pego as chaves da moto, os capacetes e saio de casa. Posso ter acordado de mal humor, mas tenho certeza que no momento em que ver Valentina, vou ser o cara mais feliz do universo. E é exatamente isso que acontece no momento em que ela sai de casa. Ela usa uma calça preta rasgada, uma blusa de mangas longas, que eu tenho quase certeza que é pra esconder o braço enfaixado e uma jaqueta jeans por cima. Não consigo conter o sorriso que quer rasgar meu rosto. — Por que você tá sorrindo assim, aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta assim que se aproxima. — Eu vi você, e i
— Chegamos! — Valentina comemora assim que paramos em frente à uma bela casa, com música alta. — Eu pensei que era uma festa só pros amigos mais próximos. — Alex comenta receoso. — E você acreditou? — Miranda comentou rindo. — Vamos, ainda temos que encontrar o Simon no meio de toda essa gente. — Alex segurou a mão de Miranda e os dois foram à nossa frente. A casa é bonita, tirando os copos de bebida espalhados por todos os lados e o cheiro forte de cigarro. Comecei a me sentir meio deslocado e me arrependi de ter vindo. — Essa não foi uma boa ideia, acho melhor eu ir... eu nem conheço ninguém e... Tento dar meia volta, mas Valentina segura firme o meu braço, impedindo que eu ande. — Relaxa, Helinor, é só uma festa. Tirando os quatro, eu também não conheço ninguém aqui e o Simon é legal. Suspiro pesado. Talvez eu acabe me divertindo. Valentina segura minha mão e começa a me puxar pelo meio de todas as
— Valentina! — A garrafa de cerveja em minha mão caiu, e o líquido que tinha dentro molhou meus pés. Solto Valentina o mais rápido que posso, ainda a tempo de ver Miranda entrar pela porta. Respiro aliviado.— Amiga, funcionou... ele disse que quer falar comigo depois! — Miranda não esconde a felicidade. Seus olhos brilham. — Amiga, ele tá tão na sua! — Elas comemoram feito loucas e eu fico mais confuso ainda. — Eu vou lá, me deseja sorte! — Miranda volta pra dentro da casa, novamente me deixando sozinho com a ruiva.Que situação estranha. — Do que ela estava falando? — Me aproximo dela, mas não tanto. — Parece que ela acabou de conquistar o carinha que tava de olho. — Ela responde sem olhar pra mim. Sorrio levemente, tentando me sentir confort&a