Já fazem meses que eu tento me aproximar de Valentina, completamente em vão. Ela continua me tratando mal, só me responde com grosseria, nega minhas caronas até quando seu pai não pode levá-la à escola, ela prefere ir andando.
Eu já desisti da aposta, mas tem uma coisa que me chama atenção naquela ruiva. Ela me desafia a todo momento, e isso faz com que eu me sinta cada vez mais intrigado por ela.Leonardo, ao contrário da filha, é um amor de pessoa. Acabamos nos tornando grandes amigos, o que faz com que eu vá constantemente na casa dele pra jogar videogame.Da última vez, ele teve que jogar um balde de água gelada em cima de mim e da ruiva, literalmente. Ele não aguentava mais as nossas brigas por coisas bobas. Seria cômico se não fosse trágico.— Terra chamando... Heitor? — Me desperto dos meus pensamentos quando sinto uma bola de papel me atingir em cheio.— O que é? — Respondo com raiva, encarando Bernardo.— Você tava em outro mundo, cara. Precisei intervir. —Ele ri da sua própria piada, e eu fecho a cara.— Esse mal humor é por causa da sua discussão de ontem com a Valentina?— Claro que não, idiota. — Respondo de imediato. — Eu vivo brigando com ela, já se tornou uma coisa normal.— É, mas brigar pela última fatia de pizza da cantina foi novidade.Rio um pouco ao lembrar dos gritos raivosos.— Pelo menos estamos sempre inovando nos motivos das discussões. Dava até pra sermos protagonistas de uma novela mexicana.— Eu vejo essa mesma novela todos os dias. — Ele concorda de imediato. — La chica de la casa ao lado.Tento reprimir, mas acabo rindo junto com ele. Segundos depois, vejo Valentina entrar na sala e dirigir seu olhar mortal pra mim. Desvio o olhar e respiro fundo.
A mesma novela de todos os dias.....— Então, eu posso te esperar amanhã à noite? — Kat pergunta em um tom malicioso.Estamos encostados no meu armário, é horário de saída e várias pessoas passam por nós, todas com pressa pra sair daqui.— Ah, claro. — Respondo interessado. — Mas eu não vejo motivos pra esperarmos até amanhã.Os olhos dela se iluminam.— Sabe, esse uniforme de animadora de torcida é tão difícil de tirar. Podemos ir até o vestiário e... — Ela ergue uma sobrancelha com segundas intenções. — você pode me ajudar.— Não precisa pedir duas vezes.Já está escuro quando saio da escola, Kat sabe bem como me fazer perder a noção do tempo. Caminho despreocupado pelo estacionamento, vendo apenas alguns poucos carros estacionados. Alguns alunos ficam até tarde estudando na biblioteca. Idiotas.De repente, ouço vozes alteradas quebrarem o silêncio. E uma das vozes eu conheço bem até demais.
Me aproximo devagar e vejo ela discutindo com um cara forte, que eu daria mais ou menos 25 anos. Valentina parece assustada, vejo isso em seus olhos.— Eu já mandei você me soltar... — Ela esbraveja com raiva.Só então percebo que o cara está segurando o braço dela com força.Meu sangue ferve de raiva e começo a caminhar mais rápido em direção aos dois, mas paro imediatamente quando Valentina se solta com facilidade e dá um soco certeiro no nariz dele, fazendo-o cambalear pra trás. Não sei quem fica mais chocado, eu ou o babaca assediador.Meu coração acelera quando vejo ele se recuperar e ir pra cima dela.— Valentina!Ela olha na minha direção por meio segundo antes de tirar um spray de pimenta não sei de onde e espirrar sem dó no babaca. Dessa vez, ele cai no chão, praguejando alto, sem conseguir enxergar nada.
Agindo sem pensar, pego a mão dela e a faço correr pra longe dali. Paramos ao chegar no outro lado do estacionamento, onde minha moto está. Respiramos fundo, recuperando o fôlego.— Você está bem? — Pergunto preocupado. — Ele te machucou?— Não. — Ela solta uma risadinha. — Eu que machuquei ele.— Por falar nisso, aquilo foi incrível. — Digo com sinceridade. — Você foi muito corajosa.— Nós mulheres temos que cuidar de nós mesmas. — Ela sorri afetado. — Mas... obrigada por me tirar de lá. Eu provavelmente teria paralisado.Sorrio em resposta.— Esses idiotas da faculdade aqui do lado costumam aparecer de vez em quando. Toma cuidado e... evita ficar na escola até muito tarde na escola.Ela me analisa por alguns segundos, depois sorri fraco.— Cuidado, Helinor. Vou começar a achar que você se importa com o meu bem estar.Não consigo evitar o sorriso. Ela adora me provocar e eu sempre caio. Mas dessa vez não.— Falando sério, você tá bem?— Eu tô bem. — Ela faz uma careta ao olhar pra mão. — Meus punhos nem tanto, mas foi por uma boa causa.— Deixa eu ver. — Pego a mão dela que de o soco e noto a vermelhidão em seus punhos. — Eu vou te levar em casa e vamos pôr gelo nisso aí. Vai ajudar.— Nós? — Ela pergunta incrédula. — E quando eu aceitei sua carona?Reviro os olhos.— Por que? Você está preocupada de ter que me abraçar? — Sorrio.— Minha única preocupação é em quais DST's eu vou pegar se subir aí.— Muito engraçado. — Ironizo, começando a me irritar. — Vamos. Eu quero garantir que você chegue bem em casa.Ela hesita um pouco, mas acaba cedendo. Quando chegamos, eu vou direto na geladeira pegar alguns cubos de gelo.— Eu posso cuidar disso sozinha. — Ela reclama quando me aproximo com o gelo.— Será que dá pra você baixar a guarda um pouquinho? Só estou tentando ser legal.Coloco o gelo sobre seus punhos. Ela dá um pequeno sobressalto e coloca sua mão por cima da minha em um ato impensado. Não entendo o porque, mas meu coração acelera ao encarar seus olhos tão azuis. Me sinto hipnotizado.— Você já pode soltar. Eu me viro daqui.Saio do meu transe e sorrio desconfortável, soltando a mão dela.— Bom, então... eu já vou. Pressione por mais meia hora e...— Meu pai é médico. — Ela me corta, segurando uma risadinha.— Certo. Então, você vai ficar bem. — Digo enquanto caminho até a porta. — Boa noite, Valentina.— Boa noite. E Helinor?Me viro pra encará-la.— Obrigada.Tento formular alguma piadinha pra irritá-la, mas ao encarar seu olhar doce, tudo o que consigo fazer é sorrir como um bobo.Eu definitivamente não entendo as mulheres. Como é possível elas mudarem de humor em uma fração de segundo? Me pergunto se isso não é só mais um traço da personalidade explosiva de Valentina. Desde o dia da carona, duas semanas atrás, nós nos aproximamos. De vez em quando ela me dá uma resposta afiada, então eu apenas respiro fundo e rio. Amigos, talvez seja o que nós somos. Não daqueles que se abraçam toda as vezes que se vêem, ou que passam horas conversando sobre assuntos variados. Não. Nós apenas estamos nos tratando melhor, o que já é um grande avanço. Mas hoje ela simplesmente surtou e mandou eu ir pro inferno quando eu disse bom dia. Não consigo parar de encará-la durante a aula de Economia, ela parece tão brava, prestes a explodir. Penso que é algo comigo, mas no fim do dia, quando estou matando tempo na frente da escola com Bernardo e Camila e ela passa como um furacão, percebo que, o que ela tem não é raiva; é tristeza...
Sinto meu braço dormente. Já faz um tempo que Valentina não soluça, acho que ela acabou dormindo em meus braços. Me mexo devagar, com cuidado pra não acordá-la. Sua respiração está normalizada, sem dúvidas ela está em um sono profundo. Com cuidado, me levanto e pego ela no colo. Valentina resmunga algo incompreensível, mas logo depois abraça o meu pescoço. Caminho até o seu quarto, e a coloco na cama. Ela abre os olhos assustada e me encara perplexa. — Calma, tá tudo bem... — Puxo ela pros meus braços, que novamente não resiste. — Você quer que eu faça um curativo no seu braço? — Pergunto depois de um tempo em silêncio. Eu sei que ela não voltou a dormir.Valentina assente e eu a encaro. Ela desvia o olhar, seu rosto está vermelho. — Eu vou pega
Era o começo de mais um dia e isso já não estava me agradando. Me levanto ainda meio sonolento, e me arrasto até o banheiro. A água do chuveiro está mais fria que de costume. Já vi que vou ter um péssimo dia. Como de costume, tomo café com a minha mãe, que ultimamente eu quase não vejo devido ao seu trabalho no Banco, que faz com que ela não pare em casa. Assim que termino, pego as chaves da moto, os capacetes e saio de casa. Posso ter acordado de mal humor, mas tenho certeza que no momento em que ver Valentina, vou ser o cara mais feliz do universo. E é exatamente isso que acontece no momento em que ela sai de casa. Ela usa uma calça preta rasgada, uma blusa de mangas longas, que eu tenho quase certeza que é pra esconder o braço enfaixado e uma jaqueta jeans por cima. Não consigo conter o sorriso que quer rasgar meu rosto. — Por que você tá sorrindo assim, aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta assim que se aproxima. — Eu vi você, e i
— Chegamos! — Valentina comemora assim que paramos em frente à uma bela casa, com música alta. — Eu pensei que era uma festa só pros amigos mais próximos. — Alex comenta receoso. — E você acreditou? — Miranda comentou rindo. — Vamos, ainda temos que encontrar o Simon no meio de toda essa gente. — Alex segurou a mão de Miranda e os dois foram à nossa frente. A casa é bonita, tirando os copos de bebida espalhados por todos os lados e o cheiro forte de cigarro. Comecei a me sentir meio deslocado e me arrependi de ter vindo. — Essa não foi uma boa ideia, acho melhor eu ir... eu nem conheço ninguém e... Tento dar meia volta, mas Valentina segura firme o meu braço, impedindo que eu ande. — Relaxa, Helinor, é só uma festa. Tirando os quatro, eu também não conheço ninguém aqui e o Simon é legal. Suspiro pesado. Talvez eu acabe me divertindo. Valentina segura minha mão e começa a me puxar pelo meio de todas as
— Valentina! — A garrafa de cerveja em minha mão caiu, e o líquido que tinha dentro molhou meus pés. Solto Valentina o mais rápido que posso, ainda a tempo de ver Miranda entrar pela porta. Respiro aliviado.— Amiga, funcionou... ele disse que quer falar comigo depois! — Miranda não esconde a felicidade. Seus olhos brilham. — Amiga, ele tá tão na sua! — Elas comemoram feito loucas e eu fico mais confuso ainda. — Eu vou lá, me deseja sorte! — Miranda volta pra dentro da casa, novamente me deixando sozinho com a ruiva.Que situação estranha. — Do que ela estava falando? — Me aproximo dela, mas não tanto. — Parece que ela acabou de conquistar o carinha que tava de olho. — Ela responde sem olhar pra mim. Sorrio levemente, tentando me sentir confort&a
— Acho melhor você dar meia volta e cair fora, ela não quer te ver nem pintado de ouro. — Me assusto com o quão direto Leonardo é. — Eu realmente preciso falar com ela. — A Valentina chegou em casa soltando fumaça, eu não sei o que aconteceu... Mas acho que foi sério, né? — É complicado. — Digo baixo. — Onde ela está agora? — Se trancou no quarto de caixas... ela já está lá há um bom tempo. Arregalo os olhos assustado. Não penso, apenas empurro Leonardo da minha frente e subo as escadas correndo, ignorando completamente os gritos de protesto dele. — VALENTINA! VALENTINA, ABRE ESSA PORTA! — Grito desesperado. Bato na porta incontáveis vezes, chamando o nome dela, mas não obtenho resposta nenhuma. — VALENTINA, EU SEI O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, ABRE ESSA PORTA, POR FAVOR! — Ei... o que está acontecendo, por que você tá gritando como um louco? — Leonardo se aproxima, preocupado. — Ela... eu não posso...
Abro meus olhos com dificuldade. Meu corpo dói pelo cansaço excessivo. Encaro a janela aberta e o vento fresco que entra no quarto, fazendo as cortinas se moverem. Já está quase amanhecendo e eu não dormi mais que duas horas. Passei a noite me remexendo na cama, sem conseguir esvaziar a mente. Meus pensamentos insistiam em ir pra uma única pessoa. Valentina. Me arrependo de ter sido tão duro com ela. Mas não vou pedir desculpas se ela também não se desculpar. Nós dois estamos magoados e, no momento, precisamos ficar o mais longe possível um do outro. A imagem dela me encarando com os olhos vidrados e a expressão magoada assombram minha mente toda vez que fecho os olhos. Não sei o que está acontecendo comigo.....Acordo de um pesadelo. Minhas mãos tremem descontroladas e meu corpo sua frio. Olho o re
— Esse foi o último. — Fecho o caderno e encaro a ruiva á minha frente.— Finalmente. Eu já estava com vontade de ir embora, achando que você tava só me enrolando. — Valentina se desencosta da porta e senta ao meu lado.— Você ficou aí me olhando enquanto eu fazia meus trabalhos atrasados por quase duas horas. — Arqueio a sobrancelha. — Fala logo o que você quer, ruivinha.Ela abre um sorriso travesso e seus olhos brilham de expectativa.— Eu sei que você ainda está meio deprimido... e não tiro sua razão, eu entendo. — Ela se explica rapidamente e eu assinto. — Mas é que vai ter uma festa na casa da Miranda hoje, é aniversário dela... e eu queria muito que você fosse comigo.— Você está me chamando pr