Eu definitivamente não entendo as mulheres. Como é possível elas mudarem de humor em uma fração de segundo? Me pergunto se isso não é só mais um traço da personalidade explosiva de Valentina.
Desde o dia da carona, duas semanas atrás, nós nos aproximamos. De vez em quando ela me dá uma resposta afiada, então eu apenas respiro fundo e rio.Amigos, talvez seja o que nós somos.Não daqueles que se abraçam toda as vezes que se vêem, ou que passam horas conversando sobre assuntos variados. Não. Nós apenas estamos nos tratando melhor, o que já é um grande avanço.Mas hoje ela simplesmente surtou e mandou eu ir pro inferno quando eu disse bom dia. Não consigo parar de encará-la durante a aula de Economia, ela parece tão brava, prestes a explodir.Penso que é algo comigo, mas no fim do dia, quando estou matando tempo na frente da escola com Bernardo e Camila e ela passa como um furacão, percebo que, o que ela tem não é raiva; é tristeza....Toco a campainha e espero alguém abrir. Não sei porque, mas minhas mãos estão suando descontroladas. Tão perdido nos meus pensamentos, nem percebi quando Leonardo abriu a porta.— Fala, Heitor. — Ele sorriu.— Oi, Léo. — Me senti um pouco constrangido por não ter notado a presença dele antes.— Você parece perdido. — Ele comenta.— N-não... — Tento sorrir. — A Valentina tá aí? Nós temos um trabalho da escola... pra fazer.Ele sorri e concorda.— Eu estou indo pro hospital, tenho um plantão pra cumprir. — Ele me dá passagem e eu entro. — Ela está no quarto, pode ir lá.Apenas concordo.— Eu sei que o máximo que pode acontecer é vocês se matarem, então... cuidado. A Valentina não está de bom humor. — Ele faz uma careta e eu me assusto.— Não se preocupa, eu já tô acostumado com o mal humor dela. — Sorrio nervoso.Ele solta uma longa respiração.— Tenta não provocar ela. A Valentina... está passando por um momento difícil. Acho que ela só precisa de alguém da idade dela pra desabafar, sabe?Sou pego de surpresa pelas palavras dele. Assinto em silêncio e ele vai embora. Respiro fundo e subo as escadas que levam ao quarto da ruiva.— Valentina? — Bato na porta, mas não obtenho resposta. Está tudo muito silencioso.Abro a porta do quarto, que estava destrancada e varro o local com o olhar. Ela não está aqui.Decido procurá-la no escritório de seu pai. Não haviam muitos lugares pra ela estar. Fecho a porta do quarto dela e começo a atravessar o corredor. Tudo estava muito silencioso. Um barulho no quarto ao lado chama a minha atenção. Vejo a claridade por baixo daquela porta e fico curioso.Aquele quarto estava desocupado, só haviam algumas caixas lá, eu já tinha visto. O barulho forte, como se algo tivesse caído no chão, acaba me assustando. A luz estava acesa, então com certeza Valentina estava ali.Ando na direção da porta e toco na maçaneta. Está destrancada. Empurro a porta, com receio do que encontraria.Analiso o quarto pouco iluminado. Tudo parecia igual a última vez que estive aqui.Exceto pela presença de Valentina. Ela está sentada no chão, encostada na cama, segurando uma lâmina. Seu pulso está cheio de cortes, sangrando. Ela encara o chão. Não parece ter notado minha presença ainda.Sinto meu mundo desabar, mas me seguro. Olho ao redor dela e vejo várias caixas abertas e objetos espalhados pelo chão. Seus olhos estão muito vermelhos. Ela com certeza chorou. Estou completamente sem ação, não consigo me mover.Valentina ergue seu olhar pra mim. Seus olhos vermelhos agora me encaram. Ela está paralisada. Abro minha boca pra dizer algo, mas nada sai.O que posso dizer em um momento desses?— O que você está fazendo aqui? — Ela pergunta depois de longos segundos. Sua voz carregada de mágoa e sofrimento.Não consigo dizer nada, apenas entro completamente no quarto e me abaixo, tocando seu rosto molhado. Ela franze o cenho, mas não me afasta. Abaixo o olhar pra suas mãos e lentamente pego a lâmina, jogando-a pra longe. Volto a encará-la, notando pela primeira vez o quanto os olhos dela estão com o brilho apagado. O quanto ela parece machucada.— Você não está sozinha. — Minha voz sai carregada pela emoção.Me sento ao lado dela e a puxo pros meus braços. Ela está tão abalada que não tem reação nenhuma, apenas se aconchega melhor e chora em silêncio. Meu coração se aperta. Não faço ideia do motivo dela estar assim e nem me importo.Pela primeira vez em minha vida, tudo o que quero fazer é ajudá-la; sem segundas intenções, sem razões ocultas.
E isso me apavora.Sinto meu braço dormente. Já faz um tempo que Valentina não soluça, acho que ela acabou dormindo em meus braços. Me mexo devagar, com cuidado pra não acordá-la. Sua respiração está normalizada, sem dúvidas ela está em um sono profundo. Com cuidado, me levanto e pego ela no colo. Valentina resmunga algo incompreensível, mas logo depois abraça o meu pescoço. Caminho até o seu quarto, e a coloco na cama. Ela abre os olhos assustada e me encara perplexa. — Calma, tá tudo bem... — Puxo ela pros meus braços, que novamente não resiste. — Você quer que eu faça um curativo no seu braço? — Pergunto depois de um tempo em silêncio. Eu sei que ela não voltou a dormir.Valentina assente e eu a encaro. Ela desvia o olhar, seu rosto está vermelho. — Eu vou pega
Era o começo de mais um dia e isso já não estava me agradando. Me levanto ainda meio sonolento, e me arrasto até o banheiro. A água do chuveiro está mais fria que de costume. Já vi que vou ter um péssimo dia. Como de costume, tomo café com a minha mãe, que ultimamente eu quase não vejo devido ao seu trabalho no Banco, que faz com que ela não pare em casa. Assim que termino, pego as chaves da moto, os capacetes e saio de casa. Posso ter acordado de mal humor, mas tenho certeza que no momento em que ver Valentina, vou ser o cara mais feliz do universo. E é exatamente isso que acontece no momento em que ela sai de casa. Ela usa uma calça preta rasgada, uma blusa de mangas longas, que eu tenho quase certeza que é pra esconder o braço enfaixado e uma jaqueta jeans por cima. Não consigo conter o sorriso que quer rasgar meu rosto. — Por que você tá sorrindo assim, aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta assim que se aproxima. — Eu vi você, e i
— Chegamos! — Valentina comemora assim que paramos em frente à uma bela casa, com música alta. — Eu pensei que era uma festa só pros amigos mais próximos. — Alex comenta receoso. — E você acreditou? — Miranda comentou rindo. — Vamos, ainda temos que encontrar o Simon no meio de toda essa gente. — Alex segurou a mão de Miranda e os dois foram à nossa frente. A casa é bonita, tirando os copos de bebida espalhados por todos os lados e o cheiro forte de cigarro. Comecei a me sentir meio deslocado e me arrependi de ter vindo. — Essa não foi uma boa ideia, acho melhor eu ir... eu nem conheço ninguém e... Tento dar meia volta, mas Valentina segura firme o meu braço, impedindo que eu ande. — Relaxa, Helinor, é só uma festa. Tirando os quatro, eu também não conheço ninguém aqui e o Simon é legal. Suspiro pesado. Talvez eu acabe me divertindo. Valentina segura minha mão e começa a me puxar pelo meio de todas as
— Valentina! — A garrafa de cerveja em minha mão caiu, e o líquido que tinha dentro molhou meus pés. Solto Valentina o mais rápido que posso, ainda a tempo de ver Miranda entrar pela porta. Respiro aliviado.— Amiga, funcionou... ele disse que quer falar comigo depois! — Miranda não esconde a felicidade. Seus olhos brilham. — Amiga, ele tá tão na sua! — Elas comemoram feito loucas e eu fico mais confuso ainda. — Eu vou lá, me deseja sorte! — Miranda volta pra dentro da casa, novamente me deixando sozinho com a ruiva.Que situação estranha. — Do que ela estava falando? — Me aproximo dela, mas não tanto. — Parece que ela acabou de conquistar o carinha que tava de olho. — Ela responde sem olhar pra mim. Sorrio levemente, tentando me sentir confort&a
— Acho melhor você dar meia volta e cair fora, ela não quer te ver nem pintado de ouro. — Me assusto com o quão direto Leonardo é. — Eu realmente preciso falar com ela. — A Valentina chegou em casa soltando fumaça, eu não sei o que aconteceu... Mas acho que foi sério, né? — É complicado. — Digo baixo. — Onde ela está agora? — Se trancou no quarto de caixas... ela já está lá há um bom tempo. Arregalo os olhos assustado. Não penso, apenas empurro Leonardo da minha frente e subo as escadas correndo, ignorando completamente os gritos de protesto dele. — VALENTINA! VALENTINA, ABRE ESSA PORTA! — Grito desesperado. Bato na porta incontáveis vezes, chamando o nome dela, mas não obtenho resposta nenhuma. — VALENTINA, EU SEI O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, ABRE ESSA PORTA, POR FAVOR! — Ei... o que está acontecendo, por que você tá gritando como um louco? — Leonardo se aproxima, preocupado. — Ela... eu não posso...
Abro meus olhos com dificuldade. Meu corpo dói pelo cansaço excessivo. Encaro a janela aberta e o vento fresco que entra no quarto, fazendo as cortinas se moverem. Já está quase amanhecendo e eu não dormi mais que duas horas. Passei a noite me remexendo na cama, sem conseguir esvaziar a mente. Meus pensamentos insistiam em ir pra uma única pessoa. Valentina. Me arrependo de ter sido tão duro com ela. Mas não vou pedir desculpas se ela também não se desculpar. Nós dois estamos magoados e, no momento, precisamos ficar o mais longe possível um do outro. A imagem dela me encarando com os olhos vidrados e a expressão magoada assombram minha mente toda vez que fecho os olhos. Não sei o que está acontecendo comigo.....Acordo de um pesadelo. Minhas mãos tremem descontroladas e meu corpo sua frio. Olho o re
— Esse foi o último. — Fecho o caderno e encaro a ruiva á minha frente.— Finalmente. Eu já estava com vontade de ir embora, achando que você tava só me enrolando. — Valentina se desencosta da porta e senta ao meu lado.— Você ficou aí me olhando enquanto eu fazia meus trabalhos atrasados por quase duas horas. — Arqueio a sobrancelha. — Fala logo o que você quer, ruivinha.Ela abre um sorriso travesso e seus olhos brilham de expectativa.— Eu sei que você ainda está meio deprimido... e não tiro sua razão, eu entendo. — Ela se explica rapidamente e eu assinto. — Mas é que vai ter uma festa na casa da Miranda hoje, é aniversário dela... e eu queria muito que você fosse comigo.— Você está me chamando pr
Não sei bem como me dei conta disso, eu apenas soube. Senti.Ela é tão doce. Tão gentil.E ao mesmo tempo tão irritante.Ela me enloquece como ninguém e me faz feliz com um simples sorriso.Quero estar perto dela o tempo todo, quero ser o seu porto seguro. Quero ser o melhor amigo dela, mas mais do que isso.Me sinto tonto com todos esses pensamentos de uma vez. E quando ela sorri pra mim no meio da música, eu entro em combustão.Solto a ruiva e começo a empurrar algumas pessoas á minha frente, saindo dali praticamente correndo.Respiro fundo quando chego ao que deduzo ser a parte de trás da casa. Não havia ninguém aqui, então eu me sentei na grama verdinha e bem aparada, tentando assimilar tudo o que aconteceu nos últimos minutos.— Achei você! — Ouço a voz dela atrás de mim. — O que aconteceu, você está bem? —