Algumas semanas se passaram desde que eu pedi Valentina em casamento. Decidimos ficar em Nova Iorque, permanentemente. Temos o meu apartamento, que é grande o suficiente pra nossa família.
Nos mudamos rapidamente, levamos apenas as coisas mais necessárias. Alexis está radiante com a ideia de morarmos aqui. Estamos procurando uma escola pra nossa menina. Ela está bem animada com a ideia.
E novamente, estávamos ansiosos encarando a tela do monitor. Eu olhava pra aquela tela, e já conseguia ver algo. Alguém.
Quer dizer, não passava de um pequeno (grande) ponto no meio da tela, mas meu coração de pai sabia que era meu filho.
— Será que hoje conseguimos ver se é um menino ou menina? — Alexis pergunta com sua voz curiosa.
— Tenho certeza que sim. — Ashley, a nossa nova obstetra, sorri pra ela.
A tarde do dia 12 de Janeiro de 2021 não poderia estar mais linda. Era um belo dia pro meu casamento.De longe, observo o local. No meio do gramado, haviam construído um altar, cercado de flores, e enfeitado com alguns lustres de cristal. Muito encantador. As cadeiras estavam enfileiradas perfeitamente, também enfeitadas com algumas flores ao seu redor. Atrás de tudo, o céu ainda estava azul e limpo. Faltavam poucos minutos e meu nervosismo só aumentava.— Seu casamento vai ser lindo. — Bernardo para ao meu lado, observando tudo. — Estou muito feliz que vocês tenham se acertado.Me viro pra ele com um grande sorriso.— Eu também estou feliz. Muito.— Você tá muito calmo. No dia do meu casamento, eu faltei me jogar do prédio...— Eu tava lá, Bê. — Acabo rindo. — Fui eu quem te manti distraído.— Bem, isso é verdade. — Ele ri. — Mas, que bom que v
Nossa vida passa em um piscar de olhos. De uma hora pra outra, tudo pode mudar. Nossas vitórias, nossas derrotas, nossas conquistas, nossas frustações... tudo isso faz parte. Todos estamos fadados a nos magoar, magoar pessoas que amamos... ter momentos felizes, momentos ruins... e no final, tudo isso acontece por uma razão.Porque a vida é assim. Imprevisível. Quando menos esperamos, algo muito bom, ou muito ruim pode acontecer, nos deixando sem chão. Eu digo isso por experiência própria. Nos últimos 8 anos, minha vida mudou drasticamente diversas vezes. Tive decepções, angústias, alegrias, vivi momentos de tensão, e até hoje a vida ainda consegue me surpreender.Desde o dia em que me casei com o amor da minha vida, as coisas pareceram entrar em seu devido lugar. Tudo parecia estar perfeito. Tão perfeito que eu não consegui perceber que toda essa felicidade desmoronava lentamente a cada dia.
Eu ainda lembro de quando ela me contou sobre a gravidez. De como eu estava nervoso, de como eu quase tive um infarto quando fiquei sabendo. Ainda lembro que naquele momento, me senti o cara mais feliz do mundo.Nunca imaginei que quando a hora do nosso filho nascer finamente chegasse, eu não estaria lá com ela, segurando suas mãos, e dando meu apoio á ela.Não era pra isso estar acontecendo, não assim.O tempo parecia ter parado. Não sei há quanto tempo eu estava aqui, se eram há minutos, ou há horas. Mas isso perdeu a importância no momento em que eu avistei Ashley caminhando em minha direção, apressada.— Como ela está? — Pergunto antes que ela possa dizer algo.— Ela está em trabalho de parto.— Ainda não... — Digo
7 anos depois...— EU VOU MATAR VOCÊ!Me sento na cama em um súbito, assustado. Olho pra janela e vejo que já amanheceu. Ao meu lado, Valentina ainda dorme tranquilamente.— Você ouviu isso? — Pergunto pra minha mulher, que não se dá ao trabalho de responder. — Valentina...— É claro que eu ouvi, Helinor. — Ela responde ainda de olhos fechados. — Acho que o prédio todo ouviu.Ia responder, mas a porta se abriu em um súbito, revelando meus dois filhos com cara emburrada e brigando, como sempre.— Pai, eu vou matar o Jackson! — Alexis praticamente gritou. De novo.— Mãe, a Alexis quer me matar! — Ele diz ao mesmo tempo que ela.— Tão cedo e vocês já estão brigando?—Valentina resmunga.— A culpa é do Jack. Ele mexeu nas minhas coisas e...— Pai, a Alexis tem um namor
O relógio no meu pulso marcava 06h da manhã. Abri a porta cuidadosamente, fazendo o mínimo de barulho possível. Não queria acordar a fera chamada dona Wanda. Eu fugi de casa no meio da noite pra ir pra balada com o Bernardo e alguns amigos. Até aquela chata da Camila foi. Ela pode até ser bonita, gostosa... mas é muito grudenta, e espera até hoje que eu assuma um namoro com ela. Eu. Que menina doida. Meu nome é Heitor Aguiar, tenho 18 anos e sou o mais popular da escola. Modéstia à parte, beleza é o que não me falta. Meu melhor amigo é o Bernardo, ele é quem sempre está do meu lado e sempre me ajuda quando eu preciso. Podemos discordar em algumas coisas, mas sempre damos um jeito de nos resolver. Meu pai foi embora de casa quando eu tinha 3 anos, então eu mal lembro dele. E nem faço questão. Desde aí, minha mãe trabalhou duro pra conseguir me proporcionar uma boa vida. Eu posso até aprontar de vez em quando, mas sempre fui um bom filho.
Dou um sobressalto com o barulho da porta sendo espancada pela minha mãe. — Vamos, Heitor, se levanta ou você vai se atrasar! — Ela berra furiosa. Eu tinha esquecido do inferno que é ter que acordar pra ir à escola. Tomo um banho demorado, coloco uma calça jeans escura, uma camisa branca e claro, minha jaqueta de couro. Pego as chaves da minha moto e sorrio. Olho pela janela, lembrando que eu preciso dar em cima da Valentina. Desço as escadas correndo, e tomo meu café em tempo recorde. — Desse jeito você vai se engasgar. — Minha mãe chama minha atenção. Sorrio em resposta. Termino meu café e me despeço dela. Assim que abro a porta, vejo Valentina parada em frente à sua casa mexendo no celular. Essa garota é um espetáculo! Atravesso a rua torcendo pra que ela aceite minha carona, percebo que ela está olhando fixamente pra mim. — Perdeu alguma coisa aqui? — Ela pergunta em um tom rude antes que eu diga qualquer coisa.
Já fazem meses que eu tento me aproximar de Valentina, completamente em vão. Ela continua me tratando mal, só me responde com grosseria, nega minhas caronas até quando seu pai não pode levá-la à escola, ela prefere ir andando. Eu já desisti da aposta, mas tem uma coisa que me chama atenção naquela ruiva. Ela me desafia a todo momento, e isso faz com que eu me sinta cada vez mais intrigado por ela. Leonardo, ao contrário da filha, é um amor de pessoa. Acabamos nos tornando grandes amigos, o que faz com que eu vá constantemente na casa dele pra jogar videogame. Da última vez, ele teve que jogar um balde de água gelada em cima de mim e da ruiva, literalmente. Ele não aguentava mais as nossas brigas por coisas bobas. Seria cômico se não fosse trágico. — Terra chamando... Heitor? — Me desperto dos meus pensamentos quando sinto uma bola de papel me atingir em cheio. — O que é? — Respondo com raiva, encarando Bernardo. — Você tava em outro mu
Eu definitivamente não entendo as mulheres. Como é possível elas mudarem de humor em uma fração de segundo? Me pergunto se isso não é só mais um traço da personalidade explosiva de Valentina. Desde o dia da carona, duas semanas atrás, nós nos aproximamos. De vez em quando ela me dá uma resposta afiada, então eu apenas respiro fundo e rio. Amigos, talvez seja o que nós somos. Não daqueles que se abraçam toda as vezes que se vêem, ou que passam horas conversando sobre assuntos variados. Não. Nós apenas estamos nos tratando melhor, o que já é um grande avanço. Mas hoje ela simplesmente surtou e mandou eu ir pro inferno quando eu disse bom dia. Não consigo parar de encará-la durante a aula de Economia, ela parece tão brava, prestes a explodir. Penso que é algo comigo, mas no fim do dia, quando estou matando tempo na frente da escola com Bernardo e Camila e ela passa como um furacão, percebo que, o que ela tem não é raiva; é tristeza...