— Esse foi o último. — Fecho o caderno e encaro a ruiva á minha frente.
— Finalmente. Eu já estava com vontade de ir embora, achando que você tava só me enrolando. — Valentina se desencosta da porta e senta ao meu lado.
— Você ficou aí me olhando enquanto eu fazia meus trabalhos atrasados por quase duas horas. — Arqueio a sobrancelha. — Fala logo o que você quer, ruivinha.
Ela abre um sorriso travesso e seus olhos brilham de expectativa.
— Eu sei que você ainda está meio deprimido... e não tiro sua razão, eu entendo. — Ela se explica rapidamente e eu assinto. — Mas é que vai ter uma festa na casa da Miranda hoje, é aniversário dela... e eu queria muito que você fosse comigo.
— Você está me chamando pr
Não sei bem como me dei conta disso, eu apenas soube. Senti.Ela é tão doce. Tão gentil.E ao mesmo tempo tão irritante.Ela me enloquece como ninguém e me faz feliz com um simples sorriso.Quero estar perto dela o tempo todo, quero ser o seu porto seguro. Quero ser o melhor amigo dela, mas mais do que isso.Me sinto tonto com todos esses pensamentos de uma vez. E quando ela sorri pra mim no meio da música, eu entro em combustão.Solto a ruiva e começo a empurrar algumas pessoas á minha frente, saindo dali praticamente correndo.Respiro fundo quando chego ao que deduzo ser a parte de trás da casa. Não havia ninguém aqui, então eu me sentei na grama verdinha e bem aparada, tentando assimilar tudo o que aconteceu nos últimos minutos.— Achei você! — Ouço a voz dela atrás de mim. — O que aconteceu, você está bem? —
Encaro o computador á minha frente. O cursor pisca sem parar, esperando que eu comece a digitar. Mas nada sai.Suspiro, me dando por vencido. Não sei fazer um trabalho tão bom quanto a ruiva. Valentina se ofereceu pra fazer o trabalho, mas eu com o meu super ego, garanti que dava conta de fazer tudo sozinho. Agora estou aqui, numa tarde de Domingo, sem conseguir digitar uma palavra, quase desistindo.E é o que eu faço.Levanto da cadeira giratória e vou até a casa ao lado. Toco a campainha, nervoso pela ansiedade de ver a ruivinha.Não demora muito e a porta se abre, revelando uma Valentina de vestido de alcinhas florido. Ela sempre deixa uma mecha de cabelo fora do coque pra ficar enrolando o dedo, é uma mania que acredito que ela nem sabe que tem.— Ah... oi, Heitor. — Ela diz num tom seco, como se estivesse incomodada com a minha presença.— Oi... é que eu..
Não durmo bem naquela noite. Não consigo limpar a mente, meus pensamentos insistem em voltar pra ruiva. Por mais que me esforce, não consigo entender porque ela ficou tão indiferente em relação a mim de uma hora pra outra.Talvez ela só esteja com medo. Nossa conversa na outra noite pode ter deixado implícito o que eu sinto por ela. E há uma mínima chance dela sentir o mesmo. Valentina está fugindo dos seus sentimentos. Por isso ela estava tão tensa. Quando ela fica com medo, esconde suas reais emoções e age com indiferença.E eu preciso descobrir se é isso o que está acontecendo. Vou voltar a ser o playboyzinho pegador que a ruiva tanto critica.Valentina vai provar do próprio veneno.....Caminho calmamen
Os últimos raios de sol começam a desaparecer, dando lugar ao céu laranja quase rosa. Era uma bela paisagem. Toco a campainha, sentindo minhas mãos suarem.— Heitor, quanto tempo! — Leonardo me recebe com um grande sorriso. — Entra.Agradeço e entro.— Como vai, Léo? — Pergunto educadamente.— Salvando vidas. — Ele dá de ombros e eu rio. — Não sei se a Valentina te disse, mas eu vou viajar amanhã.— Sério? — Pergunto surpreso.— Vou passar um mês fora. É um programa do hospital. Vou pra esses campos de refugiados, eles precisam de ajuda médica.Leonardo é uma boa pessoa. Ele está sempre disposto a ajudar os outros, não importa quem seja. Val
Não precisei que os gritos raivosos de dona Wanda me acordassem na Segunda-feira. Levantei da cama já desperto, e muito adiantado.Tive tempo de me arrumar com calma e tomar café da manhã com minha mãe, que estava radiante. Me despedi dela e saí de casa, já sabendo que tinha uma certa ruiva me esperando no outro lado da rua.Valentina olha fixamente pro celular, ela parece distraída. Me aproximo devagar e puxo o celular de suas mãos, fazendo ela soltar um gritinho de susto.— Desse jeito, você vai ser assaltada, ruivinha. — Rio do olhar mortal que ela me lança.— Você não tem medo de morrer não, né, Helinor? — Ela abre um sorriso irônico. Seus olhos estão mais brilhantes hoje.Apenas sorrio.— Acho melhor nós irmos. — Entrego seu celular e ela revira os olhos, me seguindo até a moto.....<
— Vai, Helinor, acorda! — Ouço uma voz distante. Ignoro e continuo de olhos fechados, sentindo o sono me dominar.Minha mãe deve estar me chamando pra acordar e ir me arrumar. Mas, essa voz é muito calma pra ser a dela, e do jeito que dona Wanda é, ela já teria me jogado da cama.E eu só conheço uma pessoa que me chama de Helinor.Abro os olhos assustado e dou de cara com Valentina sentada na beira da minha cama. Ela abre um sorriso meigo ao me ver acordado.— Olha só, a Bela adormecida finalmente acordou! — Reviro os olhos e coço a cabeça, confuso.— O que você faz aqui tão cedo? E como entrou na minha casa? — Levanto da cama, procurando meu celular.— Vim te buscar, vou te levar num lugar.Encontro meu ce
Observo a paisagem correr pela janela do carro. As luzes da cidade piscam freneticamente, dando uma sensação de movimento, e eu me concentro nisso.Há algumas horas atrás, eu estava em casa, encharcado, e discutindo com o advogado. Pedi que ele doasse todo o dinheiro pra quem realmente precisa. Pedi que ele fosse embora, e me deixasse em paz.Mas o tal de Connor não desistiu. De tanto ele insistir, eu acabei cedendo e fui fazer as malas.Minha mãe quis vir comigo, mas eu a convenci que era melhor não. Não quero que ela sofra por causa desse assunto. Já sou bem crescido, e posso resolver meus problemas sozinho. Me manti firme, embora por dentro eu estivesse desesperado.E assim, vim parar aqui. Passeando por Seattle, pra saber o que tanto meu papai deixou pra mim.— Já estamos chegando. — Connor comenta. — Você vai ficar em um dos apartamentos que eram de seu pai.
Estaciono o carro em frente ao prédio. O vento frio bate contra o meu rosto, fazendo-me estremecer. Eu preciso sair daqui o mais rápido possível, ou então enlouquecerei.Entro no prédio como um furacão. Aperto o botão do elevador inúmeras vezes, como se isso fosse fazer ele chegar mais rápido. Desisto e subo as escadas correndo, extravasando um pouco da raiva que só aumentava a cada passo que eu dava.Chego ao meu apartamento e pego minha mala em questão de segundos, saindo desse lugar o mais rápido possível. Eu não fico mais nenhum minuto aqui.ALGUMAS HORAS ANTES...Eu nunca havia estado em um tribunal antes. As cores marrom misturadas com um vermelho vinho, as cadeiras de madeira crua, tudo formal e intimidador demais, estavam me sufocando.&nb