Observo a paisagem correr pela janela do carro. As luzes da cidade piscam freneticamente, dando uma sensação de movimento, e eu me concentro nisso.
Há algumas horas atrás, eu estava em casa, encharcado, e discutindo com o advogado. Pedi que ele doasse todo o dinheiro pra quem realmente precisa. Pedi que ele fosse embora, e me deixasse em paz.
Mas o tal de Connor não desistiu. De tanto ele insistir, eu acabei cedendo e fui fazer as malas.
Minha mãe quis vir comigo, mas eu a convenci que era melhor não. Não quero que ela sofra por causa desse assunto. Já sou bem crescido, e posso resolver meus problemas sozinho. Me manti firme, embora por dentro eu estivesse desesperado.
E assim, vim parar aqui. Passeando por Seattle, pra saber o que tanto meu papai deixou pra mim.
— Já estamos chegando. — Connor comenta. — Você vai ficar em um dos apartamentos que eram de seu pai.
Estaciono o carro em frente ao prédio. O vento frio bate contra o meu rosto, fazendo-me estremecer. Eu preciso sair daqui o mais rápido possível, ou então enlouquecerei.Entro no prédio como um furacão. Aperto o botão do elevador inúmeras vezes, como se isso fosse fazer ele chegar mais rápido. Desisto e subo as escadas correndo, extravasando um pouco da raiva que só aumentava a cada passo que eu dava.Chego ao meu apartamento e pego minha mala em questão de segundos, saindo desse lugar o mais rápido possível. Eu não fico mais nenhum minuto aqui.ALGUMAS HORAS ANTES...Eu nunca havia estado em um tribunal antes. As cores marrom misturadas com um vermelho vinho, as cadeiras de madeira crua, tudo formal e intimidador demais, estavam me sufocando.&nb
Me pego pensando em como a vida dá voltas. Há alguns meses atrás, eu provavelmente estava em uma balada, ficando com várias garotas sem me prender a ninguém, partindo corações.Valentina mexeu comigo desde a primeira vez que nos vimos. Seu olhar desafiador, suas respostas afiadas, e suas provocações só fizeram com que eu me aproximasse ainda mais dela.— Tá pensando em quê? — Sua voz curiosa me desperta dos meus pensamentos.— Em nós. — Vejo ela corar e sorrio. Linda! — Pra onde estamos indo.— Como assim? — Ela põe uma garfada de panqueca na boca e me encara com aqueles olhos azuis grandes e brilhantes.— Vamos andar por aí de mãos dadas, ser fofos um com o outro...? — Pergunto confuso.&m
Uma semana.Uma semana desde o dia em que eu pedi a ruiva em namoro. Nos últimos dias, eu pude experimentar diferentes graus de felicidade. Estar com ela é a melhor parte do meu dia. Na verdade, passamos quase o dia inteiro juntos.Sem contar as vezes em que eu saio de fininho e vou pra casa dela no meio da noite. Sei que Valentina possui feridas que ainda não cicatrizaram completamente. Mas ela está feliz. Eu sei que está. E eu faria qualquer coisa pra manter essa felicidade.— Adivinha quem eu vou levar ao baile. — A voz do meu melhor amigo me desperta dos meus pensamentos.— Hã... a Nicole do grupo de dança? — Chuto. Um aceno de cabeça, negando. — A Sarah, líder de torcida? — Mais uma negação. — Ah! A Ellen nadadora!— Digo convicto, tendo certeza que acertei.
— Eu tava pra cavar um buraco no chão e me enterrar. — Valentina reclama enquanto subimos as escadas. — Que vergonha, meu Deus.— Não sei porque. A minha mãe já deixou bem claro que gosta de você. — Dou de ombros.— O problema não é ela gostar ou não de mim. É que foi muito constrangedor ela deixando você dormir aqui. — Ela se encosta na parede. — Parecia que ela tava dizendo: "Vão lá e acasalem".Rio e me aproximo. Enlaço minhas mãos em sua cintura, fazendo com que andemos em sincronia.— Você está muito tensa. — Afasto uma mecha de cabelo do seu pescoço, deixando a pele dela exposta. — Eu posso resolver isso.— Não é má ideia. — Ela suspira, enquanto abre a porta e entramos no seu quarto.Em um único movimento, eu puxo seu corpo pra perto.— Você fica linda toda corada assim.— Morta de vergonha? — Ela ironiza, revirando os olhos.
— Aqui está, meu bem. — Valentina me entrega dois convites, me dando um beijo na bochecha em seguida.Sorrio bobo com o gesto.— Do baile?— Aham. — Ela concorda. — Só falta um mês pra gente se formar. Passou tão rápido.Sorrio involuntariamente. Esse foi um ano de muitos acontecimentos. Meu pai morreu, eu fiquei milionário da noite pro dia, e também descobri meu verdadeiro amor.— Para de me olhar assim, você só falta babar com esse sorriso de garotinho. — Ela ama esse meu sorriso.— Esse? — Sorrio com charme, e ela suspira.— Ai, Helinor... você é tão fofo quando quer. — Os olhos dela brilham ao me chamar assim. Eu amo. Só ela pode me chamar assim... somente ela.
Foi um ano intenso. Cheio de surpresas. Algumas boas, outras, nem tanto. Mas, mesmo com todas as dificuldades, eu consegui concluir o ensino médio. E agora, saindo da escola pela última vez, sinto uma sensação de liberdade. Nossa festa de formatura será hoje à noite, e eu mal posso esperar.— Te vejo no baile. — Bernardo grita antes de entrar em seu carro. Apenas assinto.— Eu tô morrendo de fome. — Valentina reclama ao meu lado. — Tô com vontade de comer aquelas suas panquecas recheadas.Ela me olha com segundas intenções e eu apenas rio.— Não foi você quem disse que eu sou um péssimo cozinheiro? — Arqueio as sobrancelhas. Ela revira os olhos e faz bico.— Por favor... — Ela junta as mãos e faz cara de cachorro abandonado. Não consigo pensar em nada mais adorável.— Tá bom, mocinha, mas depois você vai direto pra sua casa. Temos uma festa muito importante hoje à noite.
O fim do ensino médio havia chegado. E com isso, eu precisava decidir o que queria pro meu futuro.A decisão não era nada fácil. Por um lado, eu precisava pensar em mim mesmo, e no que eu queria pra minha vida profissional. Mas por outro, eu pensava na minha ruivinha, e no quanto a minha decisão poderia afetar o nosso relacionamento.Adiei o máximo que pude a matrícula em uma das universidades em que fui aceito. Mas o tempo estava passando e eu não poderia mais fugir disso. Com esses pensamentos, confirmei minha matrícula em Stanford. Foi uma decisão difícil, mas eu sei que fiz a coisa certa. Marquei de fazer uma visita ao campus, e hoje era o dia.Acordei cedo naquele dia, e contei a novidade pra minha mãe. Ela ficou surpresa com minha decisão, mas mesmo assim, me apoiou.— Você precisa contar pra Valentina. — Ela me alerta. — Se ela acabar descobrindo sozinha, eu não quero nem imaginar.Ela e
Aquela noite demorou a passar. Eu ainda podia ouvir claramente as palavras dela "Eu nem mesmo gosto de você" ecoarem na minha cabeça, me atormentando.Eu não pude fazer com que ela me amasse. Todos esses meses foram uma grande ilusão da minha cabeça. Quanto mais cedo eu aceitasse isso, melhor.Quando vi que já estava amanhecendo, me levantei e fui até o quarto da minha mãe. Ela ainda dormia, mas o despertador iria tocar em alguns minutos. Me enfiei nos cobertores, procurando seu apoio materno. Ela abriu os olhos sonolenta e me encarou preocupada.— Você está bem?— Não. — Respondo com a voz embargada.Ela me abraça protetoramente, e eu desabo mais uma vez. Choro em seus braços como uma criança, sem conseguir impedir os soluços que escapam de mim.