O baque das pastas sendo chocado contra a madeira da mesa me despertou. O som estridente fez meu coração palpitar freneticamente e quando meus sentidos voltaram ao seu devido lugar fazendo minha visão se tornar mais clara, pois antes ela estava sendo distorcida pelos meus pensamentos, pude ver a mulher de óculos redondos me analisando cautelosamente.— Senhorita Guedes, parece que não dormiu o tempo que deveria essa noite. — Ela disse e isso me fez recordar do grande homem em minha cama pela manhã. Um calor subiu pelo meu corpo ao ver aquela imagem novamente e precisei pigarrear para trazer minha mente de volta ao trabalho. — Me desculpe, acho que passei muito tempo analisando os arquivos e só consegui pregar os olhos antes do despertador tocar. — Isso explica o atraso. Ela me passou a folha de pontos em que mostrava meu espelho e os horários que antes estavam sempre perfeitamente alinhados, agora tinham um pequeno ponto fora do lugar. — E a gradivez? — perguntou ela então. Com i
Horas mais tarde eu estava deitada em minha cama após Lee ter me levado de volta para casa. O quarto dele era o primeiro do corredor, no topo das escadas e o meu era o último. Eu sabia que ele estava lá dentro aguardando que eu desse algum sinal de vida, mas tudo o que eu conseguia fazer era observar o teto do quarto em busca de falhas na pintura mesmo que não tivesse encontrado nada depois de muito tempo. Alisei os dedos dos meus pés um no outro enquanto pensava em minha vida e nas grandes enrascadas que havia me metido nos últimos meses. Minha família ainda não sabia do bebe, aliás eles não sabiam que eu e Pedro tinha rompido o noivado e meu pai adorava seu ex-genro. Isso me fazia tremer de pavor por saber que eu jogaria muita informação em direção a ele e isso não poderia ser pelo telefone, mas tinha algo em mim que não queria simplesmente chegar em casa e dizer: Hey, mãe e pai, adivinhem só? Pedro saiu da jogada quatro meses atrás e eu engravidei de um desconhecido na balada qu
– Você quer mentir para o seu pai? – perguntou ele de maneira assustada. Parecia que eu estava te pedindo para matar um homem. – Tecnicamente, não é uma mentira. Nós moramos na mesma casa, estamos grávidos e embora eu não queira admitir, acabamos transando mais vezes do que eu esperava. O senhor Jun-suk era de uma família tradicional coreana, muitas coisas em meu cotidiano brasileiro eram uma completa loucura para os olhos dele, mas de longe aquilo que eu havia proposto parecia a maior de todas e eu tinha que ser realista, era mesmo uma doideira. No entanto, meu pai era um senhor nordestino de idade avançada que havia ganhado muito dinheiro com cabeças de gado e foi morar fora do país. Consequentemente acabou em um lugar onde as pessoas valorizavam seu pensamento antigo e isso o deixou ainda mais confiante para dizer o que pensava da geração atual. Então, além da família complicada do meu chefe, eu tinha também um pai bruto, furioso e cheio de julgamentos para me deixar completamen
O aeroporto de Congonhas estava lotado naquela tarde. Considerando que havíamos acabado de chegar nas festividades juninas do país, onde as pessoas tiram uns dias para visitar suas famílias e matar a saudade das tradições antigas das suas casas. Acreditei que por essa razão meu pai havia escolhido aquela data para me visitar, mesmo que fosse um momento terrível. A área de embarque e desembarque estava cheia de familiares no aguardo dos seus entes queridos, mas ninguém estava tão nervoso quanto o grande homem ao meu lado que batia um dos seus pés no chão agitadamente. Lee estava casual naquele momento. Havia escolhido uma polo branca para usar e achei uma ótima ideia devido ao grande calor que se fazia naquele instante. Suas calças de sarja eram pretas e ele usava um bonito sapatênis para deixar seu visual mais esportivo do que sério. Seu pouco cabelo tinha sido todo afogado em gel e penteado para trás e havia um perfume delicioso amadeirado vinha do seu corpo para mim. Ele estava tão
Nosso jantar foi um pouco tenso. Meu pai não havia falado muito durante o trajeto até a casa do meu chefe e ao descobrir que já estávamos morando juntos, senti que algo o incomodava profundamente. Mesmo eu sempre perguntando se ele estava bem e dizendo que ele poderia ser sincero, papai se limitava a balançar sua cabeça ou dizer: prefiro ver até onde tudo isso vai. Sempre que Lee ouvia aquela frase, ele engolia em seco e eu me arrepiava ainda mais, pois me lembrava de ouvir exatamente aquilo sempre que aprontava algo que me daria um destino terrível. O chinelo. Papai analisou todo o interior do apartamento e acreditei que ele estava procurando minhas coisas espalhadas por toda parte, pois sempre que vinha me ver havia algo meu jogado pelos cantos. No entanto, ali, não havia desorganização. Preferi pedir comida ao invés de fazer algo, não tinha pernas para me sustentar em frente a bancada da cozinha e acredito que nem mesmo Lee tinha. Como a cozinheira já havia ido embora, optei pel
Novamente Lee dormia ao meu lado. Até aquele momento não tínhamos tido algo tão profundo. Era claro que exploramos a intimidade um do outro, porém sempre respeitando os limites dos sentimentos até que finalmente entendemos o quanto aquilo também seria necessário para construir algo. Eu havia aceitado seu pedido de casamento e isso o fez querer se abrir sobre toda sua vida para mim. Então, ao decorrer da madrugada ficamos conversando sobre nossas decepções até que ele percebeu o meu cansaço e me envolveu em seus braços para que eu sentisse conforto ao ponto de relaxar. Acho que despertei enquanto o sol estava se espreguiçando em sua cama, pois a luz da manhã vinha fracamente me alertando que logo ele estaria brilhando fortemente no céu, mas mesmo com a luz fraca eu pude ver os olhos do grande homem fechados enquanto sua respiração forte e cansada preenchia o quarto. Deixei-o descansar e levantei-me para começar a me arrumar. Logo o dia estaria no alto do céu e eu tinha que trabalha
Havia uma tensão muito grande naquele ambiente. Júlia me olhava como se eu fosse um pedaço de carne largado no chão e ela uma leoa faminta. Lee ainda não havia chegado e eu não sabia como dizer a ele por mensagem que sua ex seria nossa nova sócia. Agitei os pés atrás do balcão enquanto tentava não olhar diretamente para a mulher aguardando na sala de espera. No entanto, meus olhos sempre me traíam e acabavam encontrando o olhar dela no mesmo instante. Júlia tinha um chamas no olhar. Estava sempre de cabeça erguida e emanando um ar de superioridade que me deixava cada segundo menos confiante em mim mesmo do que meu normal. Isso era assustador. Soltei um pigarro leve para limpar a garganta e encarei aquela criatura em minha frente para tentar seguir sem demonstrar medo de sabe-se o que eu estava sentindo. – Enquanto aguarda, a senhora deseja beber algo? Um café, chá ou água? Temos refrigerantes no bar também.– Oh, não querida. Eu já me alimentei o suficiente pela manhã e prefiro o c
— Lana, esse homem vai colapsar se você não der um sinal de vida. Seu celular não para de tocar, ele já me ligou dez vezes e umas mil para você. Avisei o seu pai que era para ele vir para cá e não falar nada ao senhor Jung-suk, mas o senhor Guedes insiste em ficar lá e diz que vocês precisam conversar. — Ana falava através da porta. Eu havia me trancado em meu antigo quarto na rua Lorena, em São Paulo. No apartamento que dividia com ela até resolver ir morar com um completo desconhecido. Durante um dia inteiro que fiquei dentro do quarto, eu tratei de pensar e sempre que me lembrava de estar grávida do meu ex- namorado só sentia vontade de chorar. Eu estaria presa aquele homem pelo resto da minha vida. Aquilo não parecia justo para mim, não parecia justo porque em minha cabeça, Pedro não merecia ter nenhum tipo de felicidade e mesmo que não aceitasse o bebê no início, aquilo se tornaria sua carta chave para continuar me perseguindo. — Amiga… — Vai embora, Ana. A campainha tocou e a