Capítulo – 003

Depois dos pedidos feitos, onde o reverendo pediu um guisado, Stella preferiu pedir uma torta de carne, fazia tempos que não comia, cuidando do pai, não tinha muito tempo para preparar coisas além do básico na cozinha. Ela adorava cozinhar e mesmo desde muito pequena, ajudava a mãe no preparo das refeições. Todos que comiam sua comida ficavam maravilhados, o pai lhe disse que o homem que  se casasse com ela, seria um homem de muita sorte. Quando a torta chegou estava muito boa, mas na opinião de Stella um pouco salgada e faltava uma pitada de pimenta. 

Quando terminaram a refeição, enfim o reverendo parecia disposto a conversar com ela. 

– Stella, você tem um longo caminho pela frente, até chegar à propriedade do meu primo, ele se chama Evan Larson e herdou muitas terras do seu falecido pai, meu tio. Ele é um pouco diferente de mim, mas é um homem bom, tenho certeza que ele irá te receber muito bem. 

– Eu não sei reverendo, você não disse que ele ainda não enviou a resposta da sua solicitação? E se ele não me quiser lá? O que eu faço? 

– Como eu disse Stella, ele é um homem bom, está sempre precisando de novos empregados, você será apenas mais uma. Vai demorar, mais uns cinco dias de viagem para chegar lá, é bem distante, pelo menos, distante o suficiente para o Sr. Brice não te encontrar. — Só a menção do Sr. Brice, faz Stella querer colocar todo o jantar para fora. — Veja bem filha, eu poderia conseguir um trabalho pelas redondezas, mas não acredito que aquele homem vai te deixar em paz. Se por acaso o meu primo não lhe aceitar lá, por favor, retorne, eu sempre vou te ajudar. 

Stella faz um movimento afirmativo com a cabeça, no entanto, tinha uma certeza em seu coração, jamais retornaria para aquele lugar de novo, só iria até o primo do reverendo, por consideração, se o homem não quisesse seus serviços, seguiria seu caminho. 

Eles conversaram durante muito tempo, Stella falou da saudade que já sentia do pai, contou suas histórias para o reverendo. Ele lhe contou algumas coisas da infância com seu primo, eles foram criados juntos, haja vista que a mãe do Sr. Larson, sua tia, morreu muito jovem e o pai dele não tinha a menor noção de como criar uma criança. Então, a mãe do reverendo o criou como filho. Eles tinham apenas um ano de diferença e praticamente, fizeram tudo juntos, até que aos treze anos, o pai do Sr. Larson casou-se novamente e exigiu que o filho retornasse ao lar. O reverendo disse que a mulher não era uma boa pessoa, então o primo sofreu muito, tinha se tornado uma pessoa mais dura, fechada, completamente diferente de quando eram crianças e quando o reverendo decidiu seguir os caminhos do Senhor, eles ficaram ainda mais distantes. Mas a todo momento, não deixava de enfatizar que o primo era um bom homem. 

A repetição dessa informação, começou a me fazer pensar que há alguma coisa errada com o homem. Obviamente o reverendo não iria me dizer, mas não deveria ser nada grave, pois ele estava me mandando para o que ele disse ser um lugar melhor.

Depois da nossa conversa, seguimos cada um para o seu quarto, ele provavelmente vai dormir, mas não prego o olho durante toda a noite, pensando. Primeiro em meus pais, como eu perdi os dois tão cedo e na época pior da minha vida, da qual eu mais preciso deles. Minha mãe era uma mulher muito viva, alegre, não era possível ver o seu sorriso se apagar nem nos piores dias. Meu pai era assim também, até o dia em que perdeu o amor da sua vida, minha mãe, depois disso ele se tornou um homem muito sério, porém, não perdeu a sua bondade, ajudava a todos que encontrava pelo caminho, foi perdendo sua vitalidade pouco a pouco e quando a doença chegou, não teve forças para superar. 

De repente Stella se sentiu muito sufocada dentro do quarto, não era seguro sair, então ela abriu a janela e olhou para o céu, as estrelas estavam todas tão brilhantes nessa noite. Ela se surpreendeu muito ao ver uma estrela cadente cruzando o céu. Fez o mesmo pedido do dia da morte de seu pai: 

— Quero encontrar o amor verdadeiro. 

Disse aquelas palavras com tanta força, tanta fé, era o que ela queria naquele momento, encontrar o homem que faria seu coração bater mais forte e com o qual dividiria seus dias, formaria uma família e não seria mais sozinha. Ficou ali, naquela janela até bem tarde, quando se deitou o sol já mostrava seus primeiros raio, foi vencida pelo cansaço. 

Acordou com alguém batendo à porta, levou um grande susto, pois dormia pesado, a noite não havia sido fácil, se sentia tão insegura quanto ao futuro, só queria que desse tudo certo a partir de agora. Levantou-se, pôs um roupão por cima da camisola e seguiu em direção à porta, colocou apenas a cara para ver quem é. 

— Bom dia Stella. — Era o reverendo, ele parecia tão revigorado, percebe-se que ele dormiu o sono dos justos.

— Bom dia reverendo. 

— O dia está lindo lá fora e eu já organizei tudo o que era necessário para sua viagem, agora só falta você. 

— Me desculpe, estarei pronta em um minuto. — Ela fecha a porta e corre para se arrumar. Como pôde dormir tanto, já se podia ver o sol bem alto, julgava ser umas nove horas, que vergonha, parecia que estava abusando da boa vontade do reverendo.

Vestiu a roupa o mais rápido que pôde, no cabelo fez apenas um coque mal feito, juntou seus pertences e saiu, o reverendo ainda lhe esperava no corredor. Ele riu pois ela estava ofegante de tão rápido que fez tudo. 

— Calma, mocinha, vai salvar alguém da forca?

– Me desculpe mais uma vez reverendo, apenas não consegui dormir à noite, de tal modo que quando o sono veio, me pegou completamente. 

– Não precisa se explicar Stella, sei que toda essa situação não está sendo nada fácil para você, mas eu lhe garanto, sua vida vai ser muito melhor, você vai ter a vida que merece. – Ela sentiu que o reverendo estava querendo lhe dizer algo mais, porém não conseguiu decifrar o que era, até porque ela não esperava uma vida de rainha, iria ser contratada para empregada doméstica, então teria que trabalhar muito, independentemente de quão bom era seu patrão. Sua realidade não mudará muito.

Eles descerão e parecia que todos os hóspedes já haviam tomado café, pois o salão estava vazio e apenas uma mesa estava repleta de comida, era para ela que ficou um pouco sem graça com o que o reverendo havia preparado.

— Vamos Stella, coma. — Mas ela estava estacada em frente à mesa, mesmo que estivesse com muita fome, não conseguiu tocar em nada.

— Por que tudo isso reverendo?

— Você precisa de uma despedida à altura, você é uma moça incrível, cuidou do seu pai, sem se queixar, lutou por sua pureza, com aquele homem horrível, você é uma moça admirável Stella. Se eu não estivesse comprometido e não te enxergasse como minha irmã caçula, acredite em mim, eu te pediria em casamento. Mas, você merece alguém melhor, para o qual você vai ser o centro do mundo, depois de Deus, é claro. Esse café da manhã é para te desejar toda a sorte e felicidade do mundo.

Stella se emociona muito com as palavras do reverendo e começa a chorar. Ela não esperava essas palavras dele, lhe deu um abraço, o mais forte que pôde. Ela sabia o quanto havia lutado, mas não esperava que alguém tivesse notado.

— Muito obrigada reverendo, não sei nem como agradecer tudo o que você está fazendo por mim. 

— Mas, eu sei, cuide do meu primo, me prometa que não vai desistir, do emprego, na primeira dificuldade e que vai continuar sendo essa moça que eu tanto admiro. 

— Pode deixar, farei o meu melhor. 

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