Capítulo – 005

Evan é um senhor de terras, muito abastado, para onde a vista alcança é tudo seu. Todos os dias admira sua propriedade, ali de cima do cavalo. Porém, não consegue se sentir orgulhoso de tudo o que possui.

Embora tenha tudo o que lhe classifica como o homem mais rico de toda a região, sente um imenso vazio dentro de seu coração. Os amigos eram todos conhecidos de seus pais, que se tornaram seus conhecidos desde a morte de ambos, não conhecia de verdade a ninguém.

Os funcionários de sua casa, eram poucos, apenas três permaneciam, estes também estão há muito tempo na casa, embora idosos, eles preferiam continuar trabalhando, o que é bom para ele, pois não é muito adepto a mudanças, todas as vezes que sua vida mudou nunca foi para melhor.

A quantidade de empregados, não era por ser pão duro, apenas não queria ver ninguém, se pudesse ele mesmo colocar tudo em ordem, não os manteria na casa, ficaria sozinho. Mas, esta era muito grande e ele tinha outras responsabilidades, das quais não podia se abster.

Houve um tempo em que ele não era assim, durante toda a infância foi feliz, mesmo depois da morte da mãe quando passou a ser criado por sua tia, irmã de sua mãe. Ela lhe deu carinho, proteção e cuidado exatamente como sua mãe faria. Ele e o primo, Rui, eram mais irmãos do que primos, os dois eram inseparáveis, naquela época eles eram tão cheios de sonhos, inconsequentes e muito, muito felizes, como todos os rapazinhos devem ser. 

Mas, tudo mudou quando o pai se casou novamente, ele o tirou de sua bolha de felicidade. Quando voltou à casa paterna seu inferno começou, o pai era um homem bastante severo e seu único objetivo era agradar sua esposa, muito mais jovem que ele. A mulher era da pior espécie, manipuladora, fria e uma criminosa, escondida sob a fachada de esposa devota ao marido. Evan odiava aquela mulher, com todas as suas forças, felizmente conseguiu despachá-la para bem longe depois da morte do pai. 

Ele conseguiu multiplicar e muito a riqueza do pai, a escassez também não era um problema para ele e todos os que viviam em suas terras. Ele ajudava como e quanto podia a todos e esse era o segredo de seu sucesso, quanto mais ele doava, mais o universo lhe devolvia.

Não acreditava mais em Deus, não depois de tudo o que lhe ocorrera. Tentou lhe convencer a se reconciliar com o Todo poderoso, o primo que se tornaria reverendo, até pensou em contar ao primo, tudo o que acontecera e ele apenas disse que de alguma forma tudo o que ele passou fazia parte dos planos do criador. Larsson não recebeu muito bem essa resposta e eles brigaram e estavam sem se falar até os dias atuais, isso fazia com que fosse cerca de cinco anos. 

O primo mandava diversas cartas, ele abria, lia, não respondeu nenhuma delas, sentia muita saudade de seu companheiro de infância e juventude, pois eles se reencontraram na faculdade e participaram de muitas farras juntos, até que, no meio do curso o primo mudou e decidiu se tornar um reverendo. Não havia nada que indicasse que Rui mudaria seu pensamento tão abruptamente, se ele tivesse previsto tentaria  o convencer do contrário. Ontem mesmo chegou uma carta, ele ainda não havia aberto, abriria agora, quando retornasse para casa, depois da lida. Apeou o cavalo e foi para casa, estava nostálgico demais, hoje não iria procurar sua amante, não tinha ânimo nem para isso. 

Quando chegou em casa, a Sra. Romina já havia preparado o banho, ele apenas subiu para quarto, testou a água com a mão e entrou em seu banho quente, do jeito que ele gostava. Nunca teve mesmo muito tempo, mas hoje, queria ficar em casa então satisfaria suas necessidades de homem, com sua mão. 

Desceu para o jantar, que já estava servido, os empregados faziam de tudo para serem invisíveis, pois sabiam que era assim que ele gostava do serviço. Havia um assado com batatas, ele se fartou, não gostava dessas besteiras da sociedade em ter vários tipos de comida na mesa, um prato, bem consistente para saciar a sua fome era mais que suficiente. Olhou para a mesa, tão grande, mas vazia, a comida farta, mas apenas um iria se fartar dela. Comeu o quanto pôde, mas nada parecia preencher o vazio que tinha por dentro. 

O silêncio da casa hoje lhe estava sufocando, pensou se quem sabe tivesse uma mulher, filhos, aquilo ali pareceria menos vazio, assim como estava a casa, estava seu interior. 

Decidiu por abrir a carta de Rui, esperava que ele não tivesse mais uma vez escrito as mesmas palavras de conversão de sempre, já havia ficado bastante repetitivo depois de tanto tempo. Pegou um copo de uísque e se sentou em frente à lareira, para ler a carta do primo. Estava com o envelope na mão, mas se demorava em abrir, não sabia o motivo, no entanto algo lhe dizia que aquela carta iria mudar sua realidade.

A carta dizia assim:

" Olá Evan, 

Escrevo esta carta com firme esperança de que esteja bem, haja vista que não me responde. Será que não me consideras mais teu amigo? 

Rogo-te, que se não respondes a mim, responda pelo menos a tua tia, tua segunda mãe, a mulher que te criou, ela está a perecer sem notícias tuas.

Na esperança de que estás a ler minhas cartas, tenho uma solicitação a fazer-te. Há uma de minhas paroquianas que se encontra em grande dificuldade financeira, ela não possui ninguém neste mundo. Será que podes acolhê-la como empregada em tua casa?

Posso te garantir que ela é uma pessoa de muita confiança e que é muito trabalhadora. Se podes ajudar-me nessa solicitação, por favor, envie-me uma resposta o mais rápido possível, a situação dela não é nada boa por aqui.

Sinto muito sua falta querido primo, se me respondes posso ir visitar-te, se te sentes à vontade, pode vir conhecer onde vivo e sirvo ao Senhor. 

P.S.: Você é minha única esperança para ajudar essa pessoa que sofre.

Rui..." 

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