Ele era um Alfa, mas ainda podia sentir dor. Joshua apertou os dentes e me soltou, sofrendo ele mesmo com a dor da rejeição.
— Dê o fora do meu bando — ele segurou o meu cabelo pelo escalpo e falou baixo e ameaçadoramente. — Eu não quero te ver por aqui. Lembre-se: se me desobedecer, eu acabo com você e com aquela sua amiguinha! Vou fazer você testemunhar a morte dela! — eu dei dois passos para trás, ainda me sentindo fraca. — Se você contar pra alguém, eu juro que vai se arrepender! Fora!
Me arrastei para longe dos jardins, meu coração despedaçado. Cinder não aceitava que eu tinha concordado com a rejeição sem lutar.
“— Ele não nos quer, Cinder. E ele é malvado. Você ouviu ele ameaçando a vida de Danna!”
Cinder choramingou mais um pouco, porém, não insistiu, apenas se retirou para lamber as próprias feridas.
Como o esperado, não tinha ninguém em casa. No meu aniversário, era sempre assim: todos tinham algo para fazer. Meu pai, o antigo Beta do bando, fingia que eu não existia, exceto quando queria despejar as frustrações em mim. Meu irmão, Kian, pra esse sim eu era invisível. Ele não falava comigo. Nem mesmo olhava na minha direção, e agora que ele era o Beta, ele mal ficava em casa. Karissa, bom, vocês já sabem. Ela me odiava.
Eu não entendia o motivo de todos me odiarem. Por eu ser muda? Eu fui a que mais fui prejudicada, mas eles agiam como se eu tivesse cometido algum crime ao quase me afogar anos atrás e acabar assim por conta do trauma — foi o que o médico do bando disse.
Subi as escadas e preparei a minha mochila. Eu não tinha muitas coisas, então, não demorei muito. Queria poder falar com Danna, porém, o Alfa com certeza não permitiria. E eu não arriscaria a vida dela por isso.
Com uma última olhada, deixei aquela casa para trás. Eu me desprenderia do bando assim que estivesse perto da borda. Apesar de não saber muito sobre o mundo humano, eu preferia ir pra lá do que viver pelas florestas, caçada como uma bandida por ser uma rogue.
“— Eu vou nos transformar, querida. Isso vai doer… mas eu prometo que cuidarei de você” — Cinder disse e eu confiei nela.
Andamos até a floresta e, quando estávamos dentro o suficiente, eu tirei a minha roupa, guardando-a, e me preparei.
A dor foi horrível. Meus ossos pareciam se quebrar e eu só queria que aquilo acabasse. O meu grito silencioso queimou em minha garganta enquanto eu agonizava. E então, parou. Eu me vi levantando do chão e olhei para baixo. Minhas patas eram largas e cobertas por pêlo branco, que cintilava prateado sob os feixes de luz da lua que passava pelas copas das árvores.
Cinder pegou a nossa mochila com a boca e começou a correr.
O chão debaixo das minhas patas, junto com o vento no meu rosto me mostrava uma liberdade que eu nunca pensei que existisse. Todo o meu corpo estava desperto e, aí eu senti: eu não estava sozinha.
“— Estamos sendo seguidas!” — Cinder falou e correu mais rápido, porém, éramos um lobo novo e, claro, não fomos páreo para os nossos perseguidores, que logo nos cercaram.
Reconheci dois dos rangers.
“— Você vem conosco!” — um deles falou pela ligação mental. Eles podiam se comunicar com os membros do bando por permissão do Alfa.
“— Estamos indo embora. Ordens do Alfa!” — Cinder disse e eles riram. O maior deles, um lobo marrom escuro, mostrou os dentes e deu dois passos para frente.
“— A não ser que queira lutar aqui, é melhor obedecer!”
Eu não podia! Tinha algo errado, ali, porque Joshua me mandou embora. Será que ele tinha se arrependido? Meu coração começou a bater mais rápido. Depois da rejeição, podíamos reverter a situação até a próxima lua cheia, ou o vínculo seria quebrado de vez. Outra forma de quebrar antes disso o nosso vínculo era se um de nós encontrasse a segunda chance. E que eu soubesse, quem rejeitava nunca encontrava o seu segundo companheiro, como castigo.
Assim que voltei, fui levada aos jardins e, lá, encontrei Karissa no chão, machucada. Meus olhos se arregalaram e eu olhei em volta. os rangers tinham sumido. Um frio passou pela minha coluna, mas eu o ignorei e resolvi ir atrás de ajuda. Então, senti o cheiro dele.
Joshua apareceu e ao ver Karissa no chão, ele olhou para mim e para as minhas mãos, sujas de sangue. O Alfa rosnou e em um segundo, estava com a mão na minha garganta!
KATH— Sua maldita! — ele gritou com os dentes cerrados e eu queria dizer que eu não tinha feito nada, mas obviamente, eu não podia. — Argh… — ouvimos Karissa e então Joshua me soltou e correu para ela, ajudando-a a se sentar. Os olhos de Karissa recaíram sobre mim e eu a vi arregalá-los, enfiando o rosto no peito de Joshua. — Eu vou te levar pro médico — Joshua falou e a pegou no colo. Ela olhou novamente para mim e soltou um chorinho. — O que aconteceu? Karissa começou a chorar copiosamente. — E-eu não sei o porquê de você me odiar tanto, Kath! — ela fungou e eu compreendi. Ela tinha armado aquilo. Eu neguei com a cabeça e Joshua soltou um rosnado. — Foi ela? — abraçou Karissa ainda mais perto dele. — Foi ela, Kah? — Eu só não sei o motivo! E-eu estava aqui olhando as flores e… e aí ela me atacou. Disse com as mãos que eu era uma vadia e que eu tinha roubado o macho dela. Eu não entendo! O olhar de Joshua desfocou um instante porque ele estava usando o link mental. Não demoro
KATHEla era linda, com belos cabelos dourados que iam até a cintura e um corpo de dar inveja. Além de bonita, Karissa era uma excelente guerreira, o que garantia a ela admiração e respeito dos membros do bando. Ela caminha calmamente até mim, sem desviar os olhos. Aqueles olhos azuis que, para mim, não eram como o céu límpido, mas uma poça de água que me afogaria. — Olá, irmãzinha — ela disse com um ar de deboche. — Gostando das suas novas… instalações? Karissa jogou a cabeça para trás e riu. Desde que éramos pequenas, ela era assim. Na frente dos outros, uma irmã exemplar, mas por trás, Karissa buscava me machucar. Depois que perdi a voz, não fui a única a mudar: Joshua, que costumava ser meu amigo, passou a me ignorar e a ficar grudado em Karissa como um cão. Ele inclusive permitia que ela me machucasse, só porque “ela queria”. Ele mentia por ela. — Ah, você não consegue falar, não é? — Karissa me cutucou com a ponta do sapato alto. — Nem mexer essas suas mãos nojentas. Você é
KATHEle segurou as minhas duas mãos e as beijou, enviando ondas pelo meu corpo. — Tudo bem — ele falou e eu soltei o ar. Então, se virou para Karissa, que parecia chocada com a reação do príncipe. — Irmã? Não foi você a causadora do castigo que a minha fêmea recebeu? Karissa apertou os lábios e olhou para baixo. — Sim, Alteza. É que… mesmo que Kath me odeie, eu não consigo deixar de amá-la, afinal, ela é a minha irmã querida. Que cobra mentirosa! Olhei para o príncipe, mas ele não estava com uma expressão que eu pudesse ler. — Saia da frente — foi o que ele disse e eu abri a boca. — Por favor.O tom do príncipe era suave, mas era evidente o deboche dele. Karissa abriu a boca, uma, duas vezes, antes de dar um passo para o lado e nos deixar passar de cabeça baixa. Entramos no carro e eu senti que o veículo não era grande o suficiente para o príncipe. — Pode ir, Mark — ele falou e o lobo atrás do volante, de cabelos loiros muito claros e olhos azuis assentiu. Ele não era um lobis
JOSHUAMinha garganta se fechou quando as garras do lycan esmagavam minhas cordas vocais. O rosto dele estava a centímetros do meu. — Jamais fale assim da que sentará no trono, Alfa Hamilton, ou eu juro que eu o tiarei do seu cargo e farei de você um rogue, preso em uma maldita masmorra! Ele me soltou e eu cambaleei, quase caindo no chão. Por mais que eu fosse um alfa, minha força não chegava perto da de um Lycan. Calma aí… sentará no trono? Levantei minha cabeça para ele, minha mão ainda na minha garganta. — Alteza, o que quer dizer com isso? — eu perguntei, nervosamente e engoli com dificuldade a saliva. — Katherine é muda. — Ela é a minha companheira predestinada — o sorriso nos lábios dele não combinava em nada com o olhar assassino do príncipe. — Agora que isso está esclarecido, Alfa Hamilton, peça que Danna Cohen seja trazida. Por favor. A forma como ele falou as últimas duas palavras me fez trincar o maxilar. Eu queria rosnar, mas eu sabia que isso seria como pedir que el
KATHEu vi quando Reagan segurou Joshua pelo pescoço e o ergueu do chão. Ainda que eu tivesse o meu companheiro, não era como se eu tivesse ficado completamente fria. No entanto, aquela sensação de desespero sempre que eu pensava que ele talvez precisasse de mim e que eu tinha que ajudar, não estavam mais ali.Depois de um tempo, Danna apareceu e eu quis sair, no entanto, a porta não abriu e eu tentei de novo. Aquela divisória que Reagan colocou entre nós e o motorista abaixou um pouco. — Senhorita, o príncipe pediu que ficasse aqui até que ele resolvesse tudo — o lobisomem que se chamava Mark disse e eu não podia responder, afinal, como ele veria as minhas mãos se movendo, se ainda havia uma barreira física entre nós? — Confie nele. Eu apenas assenti, e então me lembrei, de novo, de que o motorista também não veria isso. Reagan caminhou até o carro, eu ouvi as portas destravando e, logo, ele estava sentando-se ao meu lado. A presença de Reagan era incrível. Ele era imenso, sim, m
KATHA viagem até as Terras Reais foi cansativa. Reagan me deixou dormir no colo dele, mas ainda assim, foi desconfortável. Paramos algumas vezes e Danna foi quem desceu para comprar comida, junto com o motorista. — Por que você não veio com mais pessoas? — perguntei e Reagan sorriu. — Porque não vejo necessidade de andar com mais gente. Isso chamaria mais atenção, não é mesmo? — ele sorriu e caramba, aquele macho era mesmo lindo. Ele colocou meu cabelo atrás da minha orelha. — Mas a partir de agora, as coisas serão diferentes. Franzi a testa e levantei os ombros, questionando a afirmação dele. — Você é a minha companheira, Kath. Então, eu preciso ter mais segurança quando você estiver comigo. Eu entendia que ser a companheira do herdeiro do Reino era algo grandioso, mas não tinha pensado muito sobre. Por favor, eu nem mesmo tive tempo pra isso! Danna voltou ao carro e eu a vi toda sorrisos para Mark. Ele não parecia interessado. Não é que ele não sorrise, mas a forma era… acho
KATHA fêmea de cabelos loiros e olhos amarelados — outra mestiça — colocou a mão na cintura e me encarou com desprezo. — Ela nem mesmo tem sangue Lycan. Nem ela e nem essa outra — ela passou os olhos por Danna, antes de se voltar para mim. — Tirem-na daqui! Não pedi por nenhuma criada! — Se-senhorita Cynthia, esta é a companheira do príncipe — uma das omegas disse. Ela estava nervosa, era evidente. — O que disse? — a tal Cynthia perguntou e, após olhar para mim de novo, ela soltou uma gargalhada. — Companheira? Essa coisinha?— Coisinha? Quem diabos você pensa que é pra falar assim da predestinada do príncipe? — Danna, como o esperado, não se aguentou. Tínhamos combinado que ela tentaria controlar o temperamento, porém, eu não poderia culpá-la, não é mesmo? Danna sempre me protegia. — Pre… destinada? — Cynthia torceu o nariz. — Eu duvido. Ela é apenas uma puta tentando… Ah! O tapa que Danna deu nela ressou pelo corredor inteiro. Cynthia levantou a mão para atingir a minha amiga,
REAGAN— Então, você achou a sua predestinada? — meu pai perguntou, sentando-se na cadeira dele com uma bebida em mãos. — Já era hora. Eu inspirei fundo. Nos últimos dois anos, meu pai não parava de me infernizar para que eu me casasse. E não precisava ser com a minha predestinada, afinal, no momento em que eu marcasse outra fêmea, meu vínculo com a escolhida pela deusa seria rompido. Eu fui contra e por isso mesmo eu aceitei passar por todos aqueles bandos, na esperança de encontrar a minha fêmea. E, graças à Sellene, eu a encontrei. — Sim, pai. Pedi que a levassem para a câmara destinada à minha companheira — eu me sentei junto a ele, mas decidi não beber. — E espero que a organização da cerimônia de acasalamente esteja finalizada em dois dias. — Dois dias… creio ser possível. Você a mordeu? — Ainda não — respondi e vi a expressão de desagrado no rosto do meu pai. — Farei isso na cerimônia. Ele estalou a língua. — E há algum motivo específico para que você não tenha nos aprese