Capítulo 03

KATH

— Sua m*****a! — ele gritou com os dentes cerrados e eu queria dizer que eu não tinha feito nada, mas obviamente, eu não podia.

— Argh… — ouvimos Karissa e então Joshua me soltou e correu para ela, ajudando-a a se sentar. Os olhos de Karissa recaíram sobre mim e eu a vi arregalá-los, enfiando o rosto no peito de Joshua. 

— Eu vou te levar pro médico — Joshua falou e a pegou no colo. Ela olhou novamente para mim e soltou um chorinho. — O que aconteceu? 

Karissa começou a chorar copiosamente. 

— E-eu não sei o porquê de você me odiar tanto, Kath! — ela fungou e eu compreendi. Ela tinha armado aquilo. Eu neguei com a cabeça e Joshua soltou um rosnado. 

— Foi ela? — abraçou Karissa ainda mais perto dele. — Foi ela, Kah? 

— Eu só não sei o motivo! E-eu estava aqui olhando as flores e… e aí ela me atacou. Disse com as mãos que eu era uma vadia e que eu tinha roubado o macho dela. Eu não entendo! 

O olhar de Joshua desfocou um instante porque ele estava usando o link mental. Não demorou e Kian estava ali. 

— Karissa! O que acontec…

— Leve Karissa para o médico. Eu vou cuidar dessa criminosa! 

Ele entregou Karissa a Kian, que finalmente me olhou e eu vi confusão e depois, raiva. 

— Eu não a machuquei! Eu juro! — tentei me defender, apenas para receber um tapa de Joshua, que me levou ao chão. Segurei minha bochecha e olhei para cima, meus olhos embaçando com as lágrimas.  — Por favor, eu não fiz nada! Os rangers me chamaram…

— Chega! — Joshua me pegou pelo pescoço e me levantou, meus pés deixaram de tocar no chão. — Você vai pagar por isso! 

Ele então começou a me arrastar, levando-me para dentro da packhouse e, depois, me vi entrando em algum lugar mais escuro, enquanto Joshua descia escadas. 

Não,  eu não queria ir para a masmorra! Claro, meus pedidos não podiam ser ouvidos, exceto por mim mesma. Ouvi o som de chaves e metal tilintando, antes de ser jogada ao chão. Minha pele ardeu onde ralou no piso irregular. 

Joshua passou por mim e eu ouvi as correntes. Meus olhos se arregalaram e, quando me virei, eu as vi. Correntes de prata. 

— Não, por favor, não! — eu implorei em vão. Ele puxou minha blusa pela gola e me levou para mais perto da parede e enfiou meus pulsos nas algemas de prata. Parecia que eu estava sendo queimada onde a corrente tocava!

— Katherine Hewitt, eu amaldiçoo o dia em que você nasceu! — ele disse com ódio e me encarou, segurando meu queixo. Minha sensibilidade estava ruim, mas eu percebi que ele usava luvas grossas. — Eu te odeio. Não sei onde eu errei para que a deusa me desse você como companheira, mas eu não te quero. A única coisa que eu quero de você é a sua morte! 

Eu queria poder pedir que ele parasse, que eu iria embora, que ele me soltasse e eu nunca mais apareceria na frente dele. Eu NÃO TINHA machucado Karissa! Por que ninguém nunca acreditava em mim? 

Ele deveria ser o meu predestinado, o que me amaria e me cuidaria, porém… 

Joshua se levantou e me olhou de cima como se eu fosse um inseto.

— Eu te mandei ir embora, mas em vez de obedecer, você resolveu fazer o contrário — o sorriso cruel dele me mandou calafrios pela espinha. — Danna vai sofrer por sua causa! 

Eu balancei a cabeça, chorando. Doía tanto! 

“ — Cinder, me ajuda!” — eu pedi, porém, por conta das correntes, Cinder não podia se comunicar comigo. A prata não permitia. 

Joshua se foi e eu fiquei ali, no chão. 

A noite foi difíciil, porque além da dor da prata envenenando o meu sistema, o frio que passava pela pequena janela no topo da parede estava congelando meus ossos. Todo o meu corpo doía. 

O dia amanheceu e ninguém foi até a minha cela. As horas se passavam e tudo era uma confusão na minha mente. Nem fome eu senti direito, mas sede era outra conversa. Minha garganta estava mais seca que o deserto. O peso na minha cabeça me fazia perder a consciência e voltar ao mundo real. 

A porta da cela se abriu e eu pude ver pela visão embaçada que era Joshua. Ele caminhou até onde eu estava e eu o vi se agachar, segurando algo em frente a ele. Era um copo? Sim, era um copo! 

Eu tentei me mover, implorando pelo que estava no recipiente. 

— Você quer? — ele perguntou e eu notei o tom venenoso dele, mas eu não podia me importar mais com isso do que com a sede que parecia aumentar ao saber que tinha líquido por perto. Joshua aproximou o copo do meu rosto e então, ele recuou a mão e bebeu o conteúdo cristalino. 

Choraminguei, porque era doloroso. Joshua então enfiou a mão nos meus cabelos e levantou meu rosto. Ele era bonito, disso não havia dúvidas. Era como se tivesse sido esculpido, os olhos tão escuros e os cabelos acompanhavam o mesmo tom, contrastando com a pele clara, levemente bronzeada pelo sol. 

O que aconteceu em seguida foi absolutamente fora do que eu esperava. Senti meus lábios sendo pressionados por algo macio e quente. Algo úmido parecia querer entrar e eu parti meus lábios. Água. Água! Avidamente, abri ainda mais a boca e a língua de Joshua acompanhou o líquido e eu tive alívio da dor das correntes, como se vida estivesse entrando em mim. 

As duas mãos de Joshua seguravam meu rosto e ele se aproximou mais do meu corpo, porém, minha mente finalmente despertou e eu me dei conta do que estava fazendo. Aquele macho tinha me rejeitado, ele tinha me machucado uma vida quase toda e me prendeu com correntes de prata! Uma das maiores huilhações para um lobisomem. E agora, ele me beijava? Comigo ainda acorrentada? 

Ainda que o meu corpo o desejasse, eu não queria sucumbir, porque aquilo só doeria ainda mais depois. Eu parei de corresponder e tentei virar o rosto, mas este estava bem preso nas mãos dele. 

— Qual o problema? — ele perguntou quase num sussurro, de uma forma que ele não falava comigo: gentil, carinhoso. Então, acredito que ele também caiu em si, afastando-se de mim imediatamente como se eu fosse a praga. — Merda! Maldito vínculo! Tenho que esperar a droga da próxima Lua Cheia para me ver livre de qualquer resquício! 

Já de pé, Joshua chutou a minha perna enquanto limpava a boca no dorso da mão, com nojo. Não foi forte como ele poderia chutar, afinal, ele além de saudável, era um Alfa, mas chutou. Onde estava machucado e doeu. 

— Vou te manter viva pra poder te fazer torturar e te ver morrer aos poucos! Você vai pagar pelos seus pecados!

Ele saiu e eu chorei silenciosamente. 

A noite caiu e eu estava morrendo de fome. A água havia me aliviado o mal-estar, mas não era o suficiente. A porta da cela se abriu e não era Joshua, mas Karissa. O sorriso dela me enviou um frio pela espinha. 

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