KATH
Ela era linda, com belos cabelos dourados que iam até a cintura e um corpo de dar inveja. Além de bonita, Karissa era uma excelente guerreira, o que garantia a ela admiração e respeito dos membros do bando.
Ela caminha calmamente até mim, sem desviar os olhos. Aqueles olhos azuis que, para mim, não eram como o céu límpido, mas uma poça de água que me afogaria.
— Olá, irmãzinha — ela disse com um ar de deboche. — Gostando das suas novas… instalações?
Karissa jogou a cabeça para trás e riu. Desde que éramos pequenas, ela era assim. Na frente dos outros, uma irmã exemplar, mas por trás, Karissa buscava me machucar. Depois que perdi a voz, não fui a única a mudar: Joshua, que costumava ser meu amigo, passou a me ignorar e a ficar grudado em Karissa como um cão. Ele inclusive permitia que ela me machucasse, só porque “ela queria”. Ele mentia por ela.
— Ah, você não consegue falar, não é? — Karissa me cutucou com a ponta do sapato alto. — Nem mexer essas suas mãos nojentas. Você é ridícula… Mesmo assim, ainda está seduzindo o meu macho!
O sapato dela pressionou contra o meu tornozelo ferido. Como eu estava acorrentada por prata, Cinder não podia me curar. A dor foi horrorosa e eu senti as lágrimas descendo pelo meu rosto. Então, sem mais, Karissa caiu ao chão, choramingando e olhando para mim como se eu tivesse feito algo horrível contra ela.
— Karissa! — ouvi Joshua, a voz carregada de preocupação, antes que ele corresse em super velocidade até a minha irmã. — O que houve? E… o que faz aqui?
— Joshua… e-eu… eu fiquei sabendo que a minha irnmã foi trazida pra cá e… — Karissa cobriu o rosto com as mãos, mais uma vez fingindo que era uma moça delicada emocionalmente.
Joshua soltou um longo suspiro.
— Karissa, como eu não a trancaria, depois de ela ter te machucado? — ele disse, passando as mãos nos cabelos dela. Apesar de não estarmos mais ligados, ainda doía ver o meu companheiro predestinado agindo assim com outra fêmea, quando eu estava presa por correntes de prata!
Joshua foi ajudar Karissa a se levantar, mas ela começou a chorar, dizendo que tinha torcido o tornozelo. Ele, claro, ficou preocupado.
— Não culpe a Kath… é normal que ela esteja chateada. Ela está presa por minha culpa! — Karissa falou e Joshua me lançou um olhar maligno.
— Rissa, vou pedir que te levem pra casa. Eu preciso ter uma conversinha com a sua irmã — a forma como o maxilar dele trincou me fez estremecer.
— Josh…
Um dos guardas entrou e educadamente auxiliou Karissa a sair da cela. Antes de sumir pela porta, ela me olhou e sorriu.
Um tapa fez minha bochecha arder, enviando a minha cabeça com força para o lado, e ela foi de encontro à parede. Vi estrelas.
Joshua olhou pra mim com raiva e eu podia esperar para levar uma surra. Fechei os meus olhos quando ele começou a se aproximar de mim. Daí, eu senti.
Meus sentidos não estavam muito bons, porém, um cheiro me atingiu forte. Madeira com folhas maceradas e algo que eu não saberia descrever. E tinha algo a mais: poder. Muito poder.
— O que é isso? — eu ouvi uma voz de trovão, rouca, intensa, retumbando pelas paredes da masmorra. Joshua tinha a mão levantada, pronta para me acertar, mas ele olhou para a porta e eu fiz o mesmo.
Se eu achava Joshua bonito, é porque nunca tinha visto algo como aquele macho à porta. Os cabelos eram prateados brilhavam, mas não mais do que os olhos. Olhos vermelhos como sangue vivo. E eles estavam pregados em mim.
Joshua abaixou a mão e fez uma reverência.
— Príncipe Reagan.
O olhar do Príncipe varreu a cela. Ele era um Lycan. Apenas Lycans possuíam olhos daquela cor. Eu tinha lido sobre eles. Não aprendi na escola porque meu pai decidiu que eu não era boa o suficiente para continuar assistindo aulas e insistiu com o Alfa Cedric que eu seria ensinada em casa.
— Eu perguntei o que é isso — a voz do Lycan era bonita e ao mesmo que era produnda, parecia deslizar facilmente para dentro do meu cérebro. Eu não conseguia parar de olhar pra ele!
— Estou apenas educando uma loba desobediente, Majestade — Joshua respondeu educadamente. — Posso ajudar em algo? Ninguém me avisou que o senhor estava vindo para as masmorras…
— E por que fariam isso? Eu por acaso não posso fazer uma vistoria sozinho?
— Não foi isso que…
O Lycan passou por Joshua e parou bem ao meu lado. Eu levantei meu pescoço com dificuldade, mas não pude manter, porque me sentia prestes a desmaiar, já vendo pontos pretos na minha frente.
— Majestade! — ouvi Josh introjetar, antes que a escuridão finalmente me tomasse.
Não sei se foram as correntes, o tapa, a fome e a sede, mas eu senti tudo girar e perdi a consciência.
Quando acordei, estava livre das correntes, mas ainda presa em um quarto. Pelo menos ele era limpo. Minhas roupas foram trocadas, porque eu já não estava em um estado deplorável de terra da floresta com a sujeira do chão da cela. Quem poderia ter me lavado?
Fui tirada de meus pensamentos quando senti algo diferente, como se eu estivesse sendo atraída para a porta. Um cheiro bom, de bolo recém-feito com hortelã e folhas maceradas encheu minhas narinas. Era delicioso e reconfortante!
A maçaneta girou e eu vi aqueles olhos vermelhos de antes, só que agora, eu não sentia medo, e sim… dei um passo em direção ao lycan.
— Ande logo, Hewitt! — Joshua falou com aspereza, mas eu não podia realmente ouvir, porque a minha atenção estava no macho à minha frente. — Não está me ouvindo? Sua inútil…!
No segundo seguinte, Joshua estava preso contra a parede.
— Nunca mais levante a voz quando falar com a minha fêmea! — ouvi o lycan dizer e, mais uma vez em minutos, me senti acolhida. Calma, “minha fêmea”?
“— Companheiro!” — Cinder cantou na minha cabeça. “ — Kath, temos uma segunda chance!”
Segunda chance? O Lycan? Eu não… Minha mente estava uma bagunça.
O príncipe largou Joshua e se virou para mim. Ele pegou um lenço, limpou a mão e a estendeu para mim.
Eu não conseguia acreditar, mas também não podia evitar o toque dele. Coloquei minha mão na do lycan e ele me levou para fora daquela sala. Sinceramente, não consegui pensar em mais nada e nem ouvir, porque todo o meu mundo pertencia àquele macho.
— Irmã! — Karissa se colocou na minha frente, bloqueando o meu caminho. Ela olhou do príncipe para mim e, por um segundo, eu pude ver a frustração dela, antes que fizesse um beicinho. — Para onde está indo?
Olhei em volta e estávamos perto dos veículos.
Soltei minha mão da do príncipe e ele relutantemente permitiu.
— Vou para onde o príncipe me levar — respondi sinceramente, afinal, eu apenas o segui. Eu sentia que não importava o lugar, desde que ele estivesse perto de mim. E era tão estranho, porque apesar disso, eu ainda sentia, lá no fundo, aquele vazio pela rejeição de Joshua. Talvez pelo sentimento que eu tinha por ele e que se instalou antes de qualquer vínculo de companheiro se manifestar.
O lycan franziu a testa quando olhei para ele.
— Por que… você é muda?
Meu sangue congelou em minhas veias. Ele… ele ia me rejeitar, como Joshua tinha feito? Eu não sabia se poderia aguentar aquilo de novo!
KATHEle segurou as minhas duas mãos e as beijou, enviando ondas pelo meu corpo. — Tudo bem — ele falou e eu soltei o ar. Então, se virou para Karissa, que parecia chocada com a reação do príncipe. — Irmã? Não foi você a causadora do castigo que a minha fêmea recebeu? Karissa apertou os lábios e olhou para baixo. — Sim, Alteza. É que… mesmo que Kath me odeie, eu não consigo deixar de amá-la, afinal, ela é a minha irmã querida. Que cobra mentirosa! Olhei para o príncipe, mas ele não estava com uma expressão que eu pudesse ler. — Saia da frente — foi o que ele disse e eu abri a boca. — Por favor.O tom do príncipe era suave, mas era evidente o deboche dele. Karissa abriu a boca, uma, duas vezes, antes de dar um passo para o lado e nos deixar passar de cabeça baixa. Entramos no carro e eu senti que o veículo não era grande o suficiente para o príncipe. — Pode ir, Mark — ele falou e o lobo atrás do volante, de cabelos loiros muito claros e olhos azuis assentiu. Ele não era um lobis
JOSHUAMinha garganta se fechou quando as garras do lycan esmagavam minhas cordas vocais. O rosto dele estava a centímetros do meu. — Jamais fale assim da que sentará no trono, Alfa Hamilton, ou eu juro que eu o tiarei do seu cargo e farei de você um rogue, preso em uma maldita masmorra! Ele me soltou e eu cambaleei, quase caindo no chão. Por mais que eu fosse um alfa, minha força não chegava perto da de um Lycan. Calma aí… sentará no trono? Levantei minha cabeça para ele, minha mão ainda na minha garganta. — Alteza, o que quer dizer com isso? — eu perguntei, nervosamente e engoli com dificuldade a saliva. — Katherine é muda. — Ela é a minha companheira predestinada — o sorriso nos lábios dele não combinava em nada com o olhar assassino do príncipe. — Agora que isso está esclarecido, Alfa Hamilton, peça que Danna Cohen seja trazida. Por favor. A forma como ele falou as últimas duas palavras me fez trincar o maxilar. Eu queria rosnar, mas eu sabia que isso seria como pedir que el
KATH— Eu, Joshua Hamilton, do Shadowcrest Pack, rejeito você, Katherine Hewitt, como minha companheira e Luna deste bando! Você não é digna! Aquelas palavras foram como estacas sendo enfiadas no meu peito e a dor me fez arquear meu corpo para frente. Por que a deusa da Lua teve que ser tão cruel e me dar como companheiro Joshua Hamilton, o novo Alfa do bando Shadowcrest. Ele era bonito, forte, o mais novo Alfa, filho do nosso antigo Alfa que se aposentou, Cedric. Porém, tão orgulhoso e arrogante. O dia amanheceu mais feliz porque eu conheci a minha loba, Cinder. Eu não podia vê-la, claro, mas podia ouví-la dentro de mim. Ela era maravilhosa e eu não podia ser mais grata por ter recebido um lobo tão incrível! Eu tinha certeza de que ela e Lexa, a loba de Danna, minha melhor amiga, se dariam bem!Quando a noite caiu, eu senti um nervosismo grande. Aquela era a noite dos meus dezoito anos, a noite que eu poderia encontrar o meu companheiro predestinado. Depois que fiquei muda devido
Ele era um Alfa, mas ainda podia sentir dor. Joshua apertou os dentes e me soltou, sofrendo ele mesmo com a dor da rejeição.— Dê o fora do meu bando — ele segurou o meu cabelo pelo escalpo e falou baixo e ameaçadoramente. — Eu não quero te ver por aqui. Lembre-se: se me desobedecer, eu acabo com você e com aquela sua amiguinha! Vou fazer você testemunhar a morte dela! — eu dei dois passos para trás, ainda me sentindo fraca. — Se você contar pra alguém, eu juro que vai se arrepender! Fora!Me arrastei para longe dos jardins, meu coração despedaçado. Cinder não aceitava que eu tinha concordado com a rejeição sem lutar. “— Ele não nos quer, Cinder. E ele é malvado. Você ouviu ele ameaçando a vida de Danna!”Cinder choramingou mais um pouco, porém, não insistiu, apenas se retirou para lamber as próprias feridas.Como o esperado, não tinha ninguém em casa. No meu aniversário, era sempre assim: todos tinham algo para fazer. Meu pai, o antigo Beta do bando, fingia que eu não existia, excet
KATH— Sua maldita! — ele gritou com os dentes cerrados e eu queria dizer que eu não tinha feito nada, mas obviamente, eu não podia. — Argh… — ouvimos Karissa e então Joshua me soltou e correu para ela, ajudando-a a se sentar. Os olhos de Karissa recaíram sobre mim e eu a vi arregalá-los, enfiando o rosto no peito de Joshua. — Eu vou te levar pro médico — Joshua falou e a pegou no colo. Ela olhou novamente para mim e soltou um chorinho. — O que aconteceu? Karissa começou a chorar copiosamente. — E-eu não sei o porquê de você me odiar tanto, Kath! — ela fungou e eu compreendi. Ela tinha armado aquilo. Eu neguei com a cabeça e Joshua soltou um rosnado. — Foi ela? — abraçou Karissa ainda mais perto dele. — Foi ela, Kah? — Eu só não sei o motivo! E-eu estava aqui olhando as flores e… e aí ela me atacou. Disse com as mãos que eu era uma vadia e que eu tinha roubado o macho dela. Eu não entendo! O olhar de Joshua desfocou um instante porque ele estava usando o link mental. Não demoro