KATH
— Eu, Joshua Hamilton, do Shadowcrest Pack, rejeito você, Katherine Hewitt, como minha companheira e Luna deste bando! Você não é digna!
Aquelas palavras foram como estacas sendo enfiadas no meu peito e a dor me fez arquear meu corpo para frente.
Por que a deusa da Lua teve que ser tão cruel e me dar como companheiro Joshua Hamilton, o novo Alfa do bando Shadowcrest. Ele era bonito, forte, o mais novo Alfa, filho do nosso antigo Alfa que se aposentou, Cedric. Porém, tão orgulhoso e arrogante.
O dia amanheceu mais feliz porque eu conheci a minha loba, Cinder. Eu não podia vê-la, claro, mas podia ouví-la dentro de mim. Ela era maravilhosa e eu não podia ser mais grata por ter recebido um lobo tão incrível! Eu tinha certeza de que ela e Lexa, a loba de Danna, minha melhor amiga, se dariam bem!
Quando a noite caiu, eu senti um nervosismo grande. Aquela era a noite dos meus dezoito anos, a noite que eu poderia encontrar o meu companheiro predestinado. Depois que fiquei muda devido a um trauma quando criança, passei a ser rejeitada por todos, incluindo a minha família. Assim que a Lua apareceu no céu, eu resolvi dar um passeio sozinha pelos jardins próximos à packhouse. Lá era muito bonito. Além de ser cheio de flores, algo que a minha mãe amava e eu me sentia conectada a elas. Quando ela morreu, pensei que detestaria flores, por ter visto tantas no enterro, mas não. Elas eram um pedaço dela.
Eu nem bem dei dois passos para dentro daquele verde quando senti um cheiro maravilhoso de pinheiro com terra molhada, algo que eu amava. Segui o cheiro delicioso e, então, esbarrei em algo duro na minha frente assim que virei na primeira esquina, em direção ao labirinto.
Levantei a cabeça e olhos olhos escuros penetravam os meus. Os cabelos de Joshua balançavam contra o vento enquanto ele me encarava.
“ — Companheiro!” — Cinder soou na minha cabeça e eu compreendi. Joshua era o meu companheiro predestinado. Meu peito se inflou de felicidade, uma que não durou nada, porque no momento seguinte, a expressão de Joshua mudou para uma de fúria e ele agarrou meus ombros.
— Não! Você, não! — ele trincou o maxilar e inspirou fundo, levantando o queixo. — Eu, Joshua Hamilton, do Shadowcrest Pack, rejeito você, Katherine Hewitt, como minha companheira e Luna deste bando!
— Aceite a droga da rejeição! — ele gritou e me ergueu pelos ombros, seus olhos pareciam puro fogo. — Katherine, se você não o fizer, haverá consequências! Eu não quero uma… m*****a muda como companheira! Eu quero Karissa!
E-eu não podia aceitar aquilo… eu esperei tanto por um companheiro! Desde o acidente no qual eu perdi a voz, no qual eu salvei Joshua, todos no bando me viraram as costas, inclusive o meu pai e o meu irmão, Kian, Beta do bando. Minha irmã Karissa não contava, porque ela nunca pareceu gostar muito de mim. Depois que eu salvei Joshua do afogamento, por algum motivo, ele e Karissa ficaram mais unidos. Joshua tinha uma devoção quase doentia por ela, desde que éramos crianças. E vez atrás de vez, ele testemunhava quando ela me machucava, mas o filho do Alfa não fazia absolutamente nada. E se ela mentisse, dizendo que eu fiz algo errado, ele não hesitava em me castigar. E, por eu não falar, ela tinha a vantagem do meu silêncio.
Pensei que ao encontrar o meu companheiro, eu seria feliz. Desde pequena Joshua tinha um lugar especial no meu coração, e sim, eu rezei várias vezes para a Deusa da Lua que ele fosse o meu predestinado. Isso é, até que ele engatou em um namoro com Karissa.
Pensei que eu tinha me conformado, mesmo que doesse todas as vezes que os via juntos. Minhas preces passaram a ser: deixe-me encontrar o meu companheiro e ter meu coração salvo. Agora, eu me sentia ridícula. Joshua era o meu companheiro e ele não me queria.
— Joshua, por favor — pedi, usando as minhas mãos para poder me comunicar, afinal, nenhum som saía da minha garganta. Eu não queria aceitar, afinal, esperei por anos para ter o meu companheiro.
— Por favor, uma ova! — ele me sacudiu ainda mais e eu nem conseguia mais pensar direito. — Eu não quero você! Você é uma deficiente, uma fraca! Como se atreve a querer ser a Luna? e não é Joshua, é ALFA Joshua!
Ele me soltou e eu fui ao chão, sentindo o meu coração se partir ainda mais. Joshua apontou o dedo para mim.
— Ou você aceita a m*****a rejeição, Katherine, ou eu vou fazer uma visitinha à sua amiguinha. Danna, não é? — o sorriso cruel crispou os lábios de Joshua. — Não acho que ela saia viva dessa.
Depois de ficar muda, eu fui proibida de ir para a escola. Meu pai prometeu ao antigo Alfa que cuidaria de mim e não me queria sendo ridicularizada, mas a verdade é que ele tinha vergonha da minha deficiência. Fui impedida de praticar as aulas físicas, então, eu era uma lobisomem fraca, o que me tornava um alvo fácil para o restante do bando que cometia bullying contra mim. Exceto Danna. Ela era uma ômega, mas sempre me defendeu como podia, apanhando até. Ela era a minha melhor e única amiga.
Com o coração doendo e com Cinder chorando dentro de mim, eu levantei as minhas mãos trêmulas.
— Eu, Katherine Hewitt, aceito a rejeição de Joshua Hamilton!
Ele era um Alfa, mas ainda podia sentir dor. Joshua apertou os dentes e me soltou, sofrendo ele mesmo com a dor da rejeição.— Dê o fora do meu bando — ele segurou o meu cabelo pelo escalpo e falou baixo e ameaçadoramente. — Eu não quero te ver por aqui. Lembre-se: se me desobedecer, eu acabo com você e com aquela sua amiguinha! Vou fazer você testemunhar a morte dela! — eu dei dois passos para trás, ainda me sentindo fraca. — Se você contar pra alguém, eu juro que vai se arrepender! Fora!Me arrastei para longe dos jardins, meu coração despedaçado. Cinder não aceitava que eu tinha concordado com a rejeição sem lutar. “— Ele não nos quer, Cinder. E ele é malvado. Você ouviu ele ameaçando a vida de Danna!”Cinder choramingou mais um pouco, porém, não insistiu, apenas se retirou para lamber as próprias feridas.Como o esperado, não tinha ninguém em casa. No meu aniversário, era sempre assim: todos tinham algo para fazer. Meu pai, o antigo Beta do bando, fingia que eu não existia, excet
KATH— Sua maldita! — ele gritou com os dentes cerrados e eu queria dizer que eu não tinha feito nada, mas obviamente, eu não podia. — Argh… — ouvimos Karissa e então Joshua me soltou e correu para ela, ajudando-a a se sentar. Os olhos de Karissa recaíram sobre mim e eu a vi arregalá-los, enfiando o rosto no peito de Joshua. — Eu vou te levar pro médico — Joshua falou e a pegou no colo. Ela olhou novamente para mim e soltou um chorinho. — O que aconteceu? Karissa começou a chorar copiosamente. — E-eu não sei o porquê de você me odiar tanto, Kath! — ela fungou e eu compreendi. Ela tinha armado aquilo. Eu neguei com a cabeça e Joshua soltou um rosnado. — Foi ela? — abraçou Karissa ainda mais perto dele. — Foi ela, Kah? — Eu só não sei o motivo! E-eu estava aqui olhando as flores e… e aí ela me atacou. Disse com as mãos que eu era uma vadia e que eu tinha roubado o macho dela. Eu não entendo! O olhar de Joshua desfocou um instante porque ele estava usando o link mental. Não demoro
KATHEla era linda, com belos cabelos dourados que iam até a cintura e um corpo de dar inveja. Além de bonita, Karissa era uma excelente guerreira, o que garantia a ela admiração e respeito dos membros do bando. Ela caminha calmamente até mim, sem desviar os olhos. Aqueles olhos azuis que, para mim, não eram como o céu límpido, mas uma poça de água que me afogaria. — Olá, irmãzinha — ela disse com um ar de deboche. — Gostando das suas novas… instalações? Karissa jogou a cabeça para trás e riu. Desde que éramos pequenas, ela era assim. Na frente dos outros, uma irmã exemplar, mas por trás, Karissa buscava me machucar. Depois que perdi a voz, não fui a única a mudar: Joshua, que costumava ser meu amigo, passou a me ignorar e a ficar grudado em Karissa como um cão. Ele inclusive permitia que ela me machucasse, só porque “ela queria”. Ele mentia por ela. — Ah, você não consegue falar, não é? — Karissa me cutucou com a ponta do sapato alto. — Nem mexer essas suas mãos nojentas. Você é
KATHEle segurou as minhas duas mãos e as beijou, enviando ondas pelo meu corpo. — Tudo bem — ele falou e eu soltei o ar. Então, se virou para Karissa, que parecia chocada com a reação do príncipe. — Irmã? Não foi você a causadora do castigo que a minha fêmea recebeu? Karissa apertou os lábios e olhou para baixo. — Sim, Alteza. É que… mesmo que Kath me odeie, eu não consigo deixar de amá-la, afinal, ela é a minha irmã querida. Que cobra mentirosa! Olhei para o príncipe, mas ele não estava com uma expressão que eu pudesse ler. — Saia da frente — foi o que ele disse e eu abri a boca. — Por favor.O tom do príncipe era suave, mas era evidente o deboche dele. Karissa abriu a boca, uma, duas vezes, antes de dar um passo para o lado e nos deixar passar de cabeça baixa. Entramos no carro e eu senti que o veículo não era grande o suficiente para o príncipe. — Pode ir, Mark — ele falou e o lobo atrás do volante, de cabelos loiros muito claros e olhos azuis assentiu. Ele não era um lobis
JOSHUAMinha garganta se fechou quando as garras do lycan esmagavam minhas cordas vocais. O rosto dele estava a centímetros do meu. — Jamais fale assim da que sentará no trono, Alfa Hamilton, ou eu juro que eu o tiarei do seu cargo e farei de você um rogue, preso em uma maldita masmorra! Ele me soltou e eu cambaleei, quase caindo no chão. Por mais que eu fosse um alfa, minha força não chegava perto da de um Lycan. Calma aí… sentará no trono? Levantei minha cabeça para ele, minha mão ainda na minha garganta. — Alteza, o que quer dizer com isso? — eu perguntei, nervosamente e engoli com dificuldade a saliva. — Katherine é muda. — Ela é a minha companheira predestinada — o sorriso nos lábios dele não combinava em nada com o olhar assassino do príncipe. — Agora que isso está esclarecido, Alfa Hamilton, peça que Danna Cohen seja trazida. Por favor. A forma como ele falou as últimas duas palavras me fez trincar o maxilar. Eu queria rosnar, mas eu sabia que isso seria como pedir que el
KATHEu vi quando Reagan segurou Joshua pelo pescoço e o ergueu do chão. Ainda que eu tivesse o meu companheiro, não era como se eu tivesse ficado completamente fria. No entanto, aquela sensação de desespero sempre que eu pensava que ele talvez precisasse de mim e que eu tinha que ajudar, não estavam mais ali.Depois de um tempo, Danna apareceu e eu quis sair, no entanto, a porta não abriu e eu tentei de novo. Aquela divisória que Reagan colocou entre nós e o motorista abaixou um pouco. — Senhorita, o príncipe pediu que ficasse aqui até que ele resolvesse tudo — o lobisomem que se chamava Mark disse e eu não podia responder, afinal, como ele veria as minhas mãos se movendo, se ainda havia uma barreira física entre nós? — Confie nele. Eu apenas assenti, e então me lembrei, de novo, de que o motorista também não veria isso. Reagan caminhou até o carro, eu ouvi as portas destravando e, logo, ele estava sentando-se ao meu lado. A presença de Reagan era incrível. Ele era imenso, sim, m
KATHA viagem até as Terras Reais foi cansativa. Reagan me deixou dormir no colo dele, mas ainda assim, foi desconfortável. Paramos algumas vezes e Danna foi quem desceu para comprar comida, junto com o motorista. — Por que você não veio com mais pessoas? — perguntei e Reagan sorriu. — Porque não vejo necessidade de andar com mais gente. Isso chamaria mais atenção, não é mesmo? — ele sorriu e caramba, aquele macho era mesmo lindo. Ele colocou meu cabelo atrás da minha orelha. — Mas a partir de agora, as coisas serão diferentes. Franzi a testa e levantei os ombros, questionando a afirmação dele. — Você é a minha companheira, Kath. Então, eu preciso ter mais segurança quando você estiver comigo. Eu entendia que ser a companheira do herdeiro do Reino era algo grandioso, mas não tinha pensado muito sobre. Por favor, eu nem mesmo tive tempo pra isso! Danna voltou ao carro e eu a vi toda sorrisos para Mark. Ele não parecia interessado. Não é que ele não sorrise, mas a forma era… acho
KATHA fêmea de cabelos loiros e olhos amarelados — outra mestiça — colocou a mão na cintura e me encarou com desprezo. — Ela nem mesmo tem sangue Lycan. Nem ela e nem essa outra — ela passou os olhos por Danna, antes de se voltar para mim. — Tirem-na daqui! Não pedi por nenhuma criada! — Se-senhorita Cynthia, esta é a companheira do príncipe — uma das omegas disse. Ela estava nervosa, era evidente. — O que disse? — a tal Cynthia perguntou e, após olhar para mim de novo, ela soltou uma gargalhada. — Companheira? Essa coisinha?— Coisinha? Quem diabos você pensa que é pra falar assim da predestinada do príncipe? — Danna, como o esperado, não se aguentou. Tínhamos combinado que ela tentaria controlar o temperamento, porém, eu não poderia culpá-la, não é mesmo? Danna sempre me protegia. — Pre… destinada? — Cynthia torceu o nariz. — Eu duvido. Ela é apenas uma puta tentando… Ah! O tapa que Danna deu nela ressou pelo corredor inteiro. Cynthia levantou a mão para atingir a minha amiga,