Simone bateu a porta do carro se sentindo aborrecida. Estava investigando uma queixa sobre sumiço de gatos! Só a designaram para um caso tão bobo porque era mulher, e pior, recém-formada da academia de polícia. Ela ansiava por uma oportunidade de trabalhar em equipe numa grande operação, do tipo que se vê em filmes. Ao invés disso tinha que submeter-se — e agradecia a seu super-protetor primo Marcelo por isso — a verificar queixas de velhinhas solitárias que viviam rodeadas de felinos.
Francamente!
Quem pode sentir falta de um gato quando existem tantos desses por aí, deixando sua sujeira fedorenta em todos os canteiros de plantas da cidade?
Simone não conseguia compreender!
Mas a culpa de estar naquela missão sem graça e sem sentido era de Marcelo, quanto a isso não havia dúvidas.
Tudo bem que Marcelo trabalhava na delegacia há muito mais tempo que ela, e tinha conquistado uma posição privilegiada por lá, mas ele precisava mesmo juntar-se ao delegado para decidir sempre o que Simone estava apta ou não a poder fazer? Que coisa chata!
Bateu na porta da casa onde morava a senhora queixosa:
— Bom dia, dona Adelaide. Eu sou a policial Simone. A senhora prestou uma queixa sobre o sumiço de um gato.
— Ah, até que enfim alguém apareceu! Eu coloco ração todos os dias para os gatos aqui fora e eles sempre vem correndo comer tudo. Só que há mais ou menos uma semana, tem vindo cada vez menos gatos para se alimentar. Hoje só vieram dois. Sumiram vários deles!
— Os gatos não são seus?
— Ah, não, minha filha. Eles moram na rua.
— Os gatos da rua não têm vindo comer?
— Não. Eles estão sumindo.
Simone esforçava-se para não ser indelicada com aquela mulher idosa.
— A senhora não acha que esses bichos, já que moram na rua, podem simplesmente estar passeando em algum outro lugar?
— Com certeza que não estão! Os gatos se apegam a lugares, pode perguntar a qualquer pessoa que conheça bichanos. — A mulher aproximou-se da policial, e falou em tom de confidência: — Acho que tem a ver com o novo vizinho.
Para pontuar seu comentário, a senhora apontou com o queixo para a casa do outro lado da rua.
Simone olhou para a casa apontada pela senhora, logo ali bem em frente.
— Ele se mudou para cá faz menos de um mês. Um dia me viu alimentando os animais e pediu que eu não fizesse mais isso.
— Ele foi agressivo com a senhora?
— Oh, não, ele foi muito educado — continuou a idosa, em voz baixa. — É um tipo grandão, bem aparentado, desses que pode mesmo impressionar a gente. Mas é muito sério, e seu olhar... Bem, é tão severo que dá um pouco de medo. Bem, eu entendi que ele estava me dando uma ordem, na verdade, e não fazendo um pedido.
— A senhora entendeu?
─ Pelo tom da vez dele, sim.
─ Hum... E ele não gosta de gatos? — Simone tentou disfarçar seu tédio.
— Acho que não são exatamente os gatos que o incomodam. Ele disse que as fezes no seu quintal eram um horror, e que recebia muita gente em sua casa e precisava todo dia limpar a sujeira do lado de fora. Ora, o que tem demais limpar o quintal todo dia? Eu sempre limpo o meu.
Imagino que a senhora não tem muito mais do que isso para fazer — pensou Simone.
— Então ele acha que a sujeira dos bichos pode incomodar as visitas que recebe?
— Oh, acho que não são exatamente visitas. Acho que são clientes. Ele é um cigano, ou algo assim, seu nome é Dimitri.
Simone olhou para a outra casa novamente. Uma casa muito grande e bonita. Devia ser um cigano rico, então, o tal Dimitri.
Dona Adelaide continuou:
— É claro que não parei de alimentar os gatos, ora. Os clientes dele não me incomodam, por que meus gatos o incomodariam?
A policial teve ímpetos de perguntar se algum cliente do senhor Dimitri já havia feito cocô na porta de dona Adelaide, mas se conteve.
— Depois de algum tempo os gatinhos começaram a desaparecer — replicou a senhora. — Diga-me, não é preciso ter algum tipo de autorização para ler mãos ou fazer adivinhação?
— Ah, eu não sei nada sobre isso. Imagino que se não há uma plaquinha na porta vendendo serviços, então ele não precisa de nenhuma autorização. Mas isso não é comigo, dona Adelaide. A senhora viu algum gato morto na rua?
— Não, nenhum. E nem pedaços de carne envenenada, antes que pergunte. Mas, por favor, fale com ele. ─ A mulher apontou outra vez para a casa vizinha.
— Ah, está bem. Mas eu devo dizer-lhe, dona Adelaide, que limpar as fezes de um gato que não é seu, incomoda e muito. Seus vizinhos têm razão de reclamar. Sugiro que a senhora ligue para alguma associação protetora para que retirem esses animais daqui antes que a vizinhança dê queixa contra a senhora.
— Ora, que absurdo!
— Dona Adelaide, arrume um cachorrinho ou um gato que seja seu de fato. Será melhor companheiro e alimentá-lo sairá mais econômico que alimentar uma população de gatos vadios. ─ Simone deu o conselho, mesmo que não houvesse sido pedido. E para aplacar a irritação de dona Adelaide, retrucou: ─ De qualquer forma, só para tranquilizá-la, conversarei com seu vizinho.
— Obrigada — respondeu a idosa, secamente.
Simone atravessou a rua e tocou a campainha do senhor Dimitri. Quando olhou para o outro lado, em direção da casa de dona Adelaide, notou que ela já havia entrado. Aparentemente falar dos vizinhos pelas costas era mais fácil do que encará-los de frente. Ao irar o pescoço outra vez ela tomou um susto ao se ver diante de um homem na soleira da porta, a observá-la. Era dono de uma beleza fria, e também era surpreendentemente grande. Olhava para ela do alto dos degraus, o que lhe conferia ainda mais um ar de superioridade arrogante. — Pois não?— Bom dia. Sou a policial Simone. Presumo que seja o senhor Dimitri.Ele assentiu, os olhos negros intrigantes olhando-a firme, sem piscar.— Não quero incomodá-lo, senhor, mas é sobre os gatos...— Gatos? — Ele ergueu uma das sobrancelhas. ─ Eu não tenho gatos.— Certo. Recebemos uma queixa de que os gatos das redondezas estão desaparecendo.— Fala desses gatos de rua que a dona Adelaide insiste em alimentar?— Sim. Sua vizinha acredita que e
Simone abriu os olhos, sentindo a boca amarga e a garganta seca. Levantou-se de sua cama sentindo muitas dores no corpo. Pensou que talvez estivesse ficando doente, a cabeça latejando como se fosse explodir. Parecia estar despertando de uma terrível ressaca. Embora não tivesse bebido, porque não bebia quase nunca. Foi até o banheiro, esperando que uma ducha quente lhe aliviasse o mal-estar. Tentou lembrar-se como havia chegado até em casa, mas não conseguia recordar-se de nada.Pôs a mão na cabeça, confusa.Entrou no chuveiro e sentiu todo o corpo arder ao contato da água. Até em partes onde não deveria. Olhou mais minuciosamente para si mesma. As coxas tinham marcas arroxeadas, e os braços também. Marcas de dedos. O pescoço ardia intensamente, e mesmo sem se observar no espelho, sabia que estava arranhada. O roçar insistente de um rosto masculino, com a barba por fazer, produziria esse efeito. Descobriu um pequeno corte bem rente ao mamilo esquerdo. Sabia o que poderia ter causado aq
Marcelo entrou no apartamento e conferiu todos os cômodos. Quando Marina informou qual era o seu quarto, o investigador se deteve ali, observando cada detalhe:— Combina com você. E tem um cheiro gostoso. Deve ter retido o seu perfume. — Ele passou bem junto a ela, devagar, os corpos quase se tocando ao passarem de um cômodo ao outro. Lorena foi para a cozinha discretamente, enquanto a amiga voltava com o detetive para a sala.Marcelo observava tudo, e comentou:— Vocês são rápidas. Já mandaram até consertar a porta.— Ah, o síndico foi bem legal, trouxe ferramentas e consertou para nós.Houve um pequeno silêncio enquanto Marcelo a encarava, bem próximo. A tensão sexual entre eles era quase palpável. Marina tinha consciência de sua beleza, mas nunca imaginara que conseguiria atrair a atenção de um homem como aquele. Aliás, nunca ficara frente a frente com alguém tão bonito e com uma presença tão forte como a dele, que parecia dominar a sala. — Sei que pode parecer pouco profissio
Ela tomou fôlego antes de falar:— Bom... É que eu não vou transar depois das bebidas.Ele arqueou as sobrancelhas, sinceramente admirado com o comentário.— Uh, eu tinha pensado em conversar, mas se você já está falando sobre sexo comigo, penso que devo começar a comprar umas cuecas novas.Dessa vez foi ela quem deu uma boa risada. Ele parecia encantado ao vê-la rir, pois seu sorriso se abriu ainda mais. Ela continuou, sem rodeios:— Não, é sério mesmo. Eu não transo.— Você tem algum problema físico? — Ele a olhou com jeito travesso.Aquela forma de conversar foi a escolha de Marina, e já que ela havia iniciado um diálogo direto, prosseguiu:— Não. É que eu sou virgem.O queixo de Marcelo caiu, mas ele se recuperou logo:— Hum, uma raridade... É por alguma opção religiosa? Planeja se manter assim até o casamento?Ela deu uma risadinha, enquanto balançava uma mão, em negativa.— Não, nada disso. Na verdade, é que o tempo foi passando, passando, e simplesmente não aconteceu. Eu vivia
Lorena tinha os olhos arregalados ao ouvir Marina lhe contar sobre a conversa que tivera com Marcelo, e como ela havia terminado, em longos e sensuais beijos.Tamborilou os dedos sobre os lábios, antes de concluir:— Até que enfim você vai conseguir se dar bem, amiga.— Sossega, Lorena.— Não consigo! Depois que você contou sobre a forma como ele te pegou na sala, assim, logo no primeiro beijo... Você devia ir preparada. E coloca uma saia bem levinha e curta.— Não vou me preparar para nada, só vamos sair para conversar e comer alguma coisa. E de jeito nenhum vou colocar uma saia que possa provocá-lo. Ele já deu uma mostra de como é assanhadinho.— Eu vou gostar de acompanhar esse romance de vocês.— Não tem romance algum! Só vamos sair juntos. Nem sei o que vai dar isso.— Pois eu aposto que ele não quer sair só uma vez com você. E rapidinho ele ficará apaixonado. Você é maravilhosa!— Esse homem deve estar acostumado a ter todas as garotas aos pés dele, viu como é lindo? O que vai q
— Você colocou uma saia levinha e curta! — Lorena olhou por baixo da saia da amiga enquanto elas aguardavam Marcelo chegar: — E está usando uma calcinha branca rendada! Calcinha branca por baixo da saia? Que que é isso?Marina tentou se afastar de Lorena, mas sem cerimônia alguma a amiga ergueu a ponta da saia da outra e espiou de novo:— Ai, você até se depilou! Marinaaa! Não acredito! E ainda diz que ele é o assanhadinho?Marina bateu de leve na mão da amiga e conferiu sua imagem no espelho grande do quarto de Lorena. Usava blusa branca com decote discreto e uma saia florida de tecido leve.— Estou bonita?— Linda. O Marcelo vai cair de quatro por você.Os olhos castanhos da loira faiscavam, ansiosa pela chegada do namorado:— Estou um pouco nervosa.— Sabe o que eu acho, de verdade? Aquele monumento gostou mesmo de você, e você já gosta dele.— Acho que eu e você somos umas tontas românticas.— Não! Acho que você tirou a sorte grande mesmo.Marina deu uma risadinha nervosa.— É mes
Marcelo era pontual de fato, como Marina pôde atestar após 3 encontros, não que ela estivesse contando...Dessa vez escolheram um restaurante recém-inaugurado, pequeno e romântico, e decidiram sentar na área da penumbra.Depois de muita conversa, um jantar delicioso, e alguns copos de vinho, os comentários se tornaram mais provocantes, os beijos mais intensos e as carícias cada vez mais ousadas. Marina quase pulou ao perceber a mão de Marcelo embaixo de sua saia enquanto trocavam um beijo.— Ninguém vai notar, aqui é bem escuro — sussurrou ao ouvido dela.— Mas...— Só vou fazer carinho, não se preocupe. Meus dedos não vão tirar sua virgindade. Deixe, amor...É claro que ela sabia que carícias não iriam desvirginá-la, mas fazer algo tão íntimo em público... era tão transgressor! No entanto, viu-se desejando sentir Marcelo tocá-la. Sim, sabia que estavam indo rápido demais, mas não queria parar.Marcelo trouxe seus lábios junto aos dela, num beijo doce, sexy e longo.Ela entrecerrou os
Aquela semana Marcelo estava trabalhando de ótimo humor. A lembrança do rosto de Marina alcançando o clímax o deliciava. Aguardava ansioso o momento de reencontrá-la. No entanto, após a explosão de sensualidade entre eles, notara uma ligeira retração em Marina. Imaginou que deveria ir mais devagar, senão a assustaria. E estava com o pé no freio. Comportara-se bem todos os outros dias após aquele doce orgasmo, resumindo os encontros a beijos, conversas e carinhos inocentes. Contudo, já estava desesperado por um pouquinho mais de intimidade novamente. Talvez esta noite...Uma policial fardada aproximou-se dele no momento em que examinava alguns papéis. Anita estava na polícia havia mais tempo do que ele, era durona, respeitada e muito observadora. E não desperdiçava uma chance para opinar em qualquer assunto que julgasse pertinente, sempre de fora útil. Marcelo gostava dela, portanto quando ela parou diante dele, e baixou o tom de voz, ouviu-a com muita atenção:— Marcelo, eu estou preo