Capítulo 4

Simone abriu os olhos, sentindo a boca amarga e a garganta seca. Levantou-se de sua cama sentindo muitas dores no corpo. Pensou que talvez estivesse ficando doente, a cabeça latejando como se fosse explodir. Parecia estar despertando de uma terrível ressaca. Embora não tivesse bebido, porque não bebia quase nunca. Foi até o banheiro, esperando que uma ducha quente lhe aliviasse o mal-estar. Tentou lembrar-se como havia chegado até em casa, mas não conseguia recordar-se de nada.

Pôs a mão na cabeça, confusa.

Entrou no chuveiro e sentiu todo o corpo arder ao contato da água. Até em partes onde não deveria. Olhou mais minuciosamente para si mesma. As coxas tinham marcas arroxeadas, e os braços também. Marcas de dedos. O pescoço ardia intensamente, e mesmo sem se observar no espelho, sabia que estava arranhada. O roçar insistente de um rosto masculino, com a barba por fazer, produziria esse efeito. Descobriu um pequeno corte bem rente ao mamilo esquerdo. Sabia o que poderia ter causado aquilo. Dentes. Suavemente tocou suas partes íntimas, e teve a confirmação dolorosa do que havia lhe acontecido. Não teve coragem de conferir as nádegas, tão bonitas e arredondadas e que chamavam tanta atenção dos rapazes, pois já sabia que lá também haveria marcas. Havia visto outras mulheres apresentarem esses mesmos sinais, numa proporção que aumentara de forma alarmante nos últimos meses, os mesmos sinais que agora estavam nela. Os boletins de ocorrência eram frequentes, e estavam assustando a todos.

Havia um predador à solta na cidade, usava algum tipo de droga para abusar das mulheres, e elas não sabiam contar o que lhes havia acontecido, apenas que tinham sofrido violência, sem conseguir precisar onde ou como.

Simone se tornara vítima, como as outras. E também não se recordava de nada.

A policial sentiu o corpo todo tremer, de forma involuntária. Curvou-se no Box. Vomitou.    

***

Quando Marina e Lorena chegaram a seu apartamento após mais uma bem-sucedida apresentação teatral, tiveram o desprazer de descobrir que haviam sido assaltadas. Era o segundo arrombamento no prédio aquele mês e o síndico garantiu que, dessa vez, interfones seriam instalados, e um porteiro seria contratado.

Mesmo assim, para receber o valor do seguro pelos aparelhos eletrônicos que haviam sido furtados, as amigas compareceram à delegacia mais próxima a fim de prestar queixa e registrar ocorrência. Apenas com o B.O. poderiam dar entrada na seguradora.

Aguardavam serem chamadas quando Marina sentiu um cutucão de Lorena:

— Olha quem desceu do Olimpo para falar com a gente.

Marina ergueu os olhos para observar o homem que surgira em uma das portas e aproximava-se lentamente delas, usando camisa social com os primeiros botões abertos e gravata frouxa de uma forma surpreendentemente sexy. Era alto, de cabelos escuros e curtos. Seus olhos muito azuis, não aquele tom pálido e nem o parecido com verde, mas um azul intenso e reluzente, como o azul do mar. As sobrancelhas eram negras, retas e espessas, e seus lábios carnudos, ligeiramente rosados, estavam entreabertos, mostrando dentes bonitos e bem branquinhos.

Sem dúvida um rosto absolutamente perfeito.

E olhava fixamente para Marina.

Aproximou-se das duas moças sem desgrudar os olhos da loira. Ela sentia uma descarga elétrica subindo por suas pernas, fazendo-a levantar da cadeira com dificuldade.

— Eu sou o investigador Marcelo. — Estendeu a mão para a jovem. — Marcelo Soares.

— Marina.

Reteve a mão dela na sua por algum tempo, o olhar preso um no outro.

— E eu sou a Lorena.

O detetive piscou e só então soltou a mão de Marina e desviou o olhar. Apertou rapidamente a mão de Lorena.

— Por favor, venham até minha sala.

Lorena fez o desenho de um coração juntando as mãos na direção de Marina, e em seguida um significativo movimento indecente com a boca. A outra abafou uma risadinha, seguindo logo atrás do policial.

Todos se sentaram, Marcelo atrás de sua mesa.

— Então seu apartamento foi arrombado esta noite? O que levaram?

— A televisão, um notebook, um tablet, uma câmera fotográfica do tipo profissional, um leitor digital...

— O meu vibrador! — Interrompeu Lorena.

O detetive deu uma gostosa risada. Conseguiu ficar ainda mais bonito.

— Ah, desculpe, mas eu precisava ver isso, isto é, como você ficava quando ria — disse Lorena, com simplicidade. — Um espetáculo. Tem certeza que você é policial mesmo? Parece que saiu das telas de cinema! Acho que devem ter câmeras a nossa volta e estamos em alguma pegadinha.

Ele riu novamente.

— Posso garantir que sou um policial de verdade. Nunca me disseram que eu pareço um ator.

Lorena bufou suavemente.

— Ah, mentira! Claro que já falaram. Mas é muito gentil da sua parte ser modesto. Agora vou ficar calada e a minha amiga aqui, a Marina, vai dar para você tudo, tudo o que você quiser que ela lhe dê, ela vai dar.

Marina lhe deu chute na canela.

— Ai! Ela vai dar todas as informações que você pedir, quero dizer.   

— Sua amiga é divertida — disse Marcelo, voltando sua atenção novamente para Marina.

— Ah, é. Tão engraçada...

Marina respondia às perguntas que ele fazia, procurando não encarar a amiga, mas percebia pelos cantos dos olhos que Lorena mandava beijinhos e mordia os lábios sacudindo a cabeça em direção ao detetive, que fingia não notar nada.

Depois de anotar a ocorrência, Marcelo se levantou:

— Bem, agora eu precisaria dar uma olhada no seu apartamento.

As amigas entreolharam-se e se levantaram ao mesmo tempo. O policial tornou a falar:

— Vocês me dão um minuto? Preciso avisar ao meu chefe que vou me ausentar.

Assim que ele se afastou, Lorena apertou o braço da amiga:

— Acho que ele nem precisava ver o apartamento. Acho que só vai para ver onde você mora! Ai, Marina, ele é muito gato! E gostou de você! Esse merece você sabe o quê e eu mereço saber todos os detalhes depois. Principalmente os mais sórdidos.

Marina balançou a cabeça:

— Contenha-se, ele está voltando.

Partiram juntos para o apartamento das moças.

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