Simone abriu os olhos, sentindo a boca amarga e a garganta seca. Levantou-se de sua cama sentindo muitas dores no corpo. Pensou que talvez estivesse ficando doente, a cabeça latejando como se fosse explodir. Parecia estar despertando de uma terrível ressaca. Embora não tivesse bebido, porque não bebia quase nunca. Foi até o banheiro, esperando que uma ducha quente lhe aliviasse o mal-estar. Tentou lembrar-se como havia chegado até em casa, mas não conseguia recordar-se de nada.
Pôs a mão na cabeça, confusa.
Entrou no chuveiro e sentiu todo o corpo arder ao contato da água. Até em partes onde não deveria. Olhou mais minuciosamente para si mesma. As coxas tinham marcas arroxeadas, e os braços também. Marcas de dedos. O pescoço ardia intensamente, e mesmo sem se observar no espelho, sabia que estava arranhada. O roçar insistente de um rosto masculino, com a barba por fazer, produziria esse efeito. Descobriu um pequeno corte bem rente ao mamilo esquerdo. Sabia o que poderia ter causado aquilo. Dentes. Suavemente tocou suas partes íntimas, e teve a confirmação dolorosa do que havia lhe acontecido. Não teve coragem de conferir as nádegas, tão bonitas e arredondadas e que chamavam tanta atenção dos rapazes, pois já sabia que lá também haveria marcas. Havia visto outras mulheres apresentarem esses mesmos sinais, numa proporção que aumentara de forma alarmante nos últimos meses, os mesmos sinais que agora estavam nela. Os boletins de ocorrência eram frequentes, e estavam assustando a todos.
Havia um predador à solta na cidade, usava algum tipo de droga para abusar das mulheres, e elas não sabiam contar o que lhes havia acontecido, apenas que tinham sofrido violência, sem conseguir precisar onde ou como.
Simone se tornara vítima, como as outras. E também não se recordava de nada.
A policial sentiu o corpo todo tremer, de forma involuntária. Curvou-se no Box. Vomitou.
***
Quando Marina e Lorena chegaram a seu apartamento após mais uma bem-sucedida apresentação teatral, tiveram o desprazer de descobrir que haviam sido assaltadas. Era o segundo arrombamento no prédio aquele mês e o síndico garantiu que, dessa vez, interfones seriam instalados, e um porteiro seria contratado.
Mesmo assim, para receber o valor do seguro pelos aparelhos eletrônicos que haviam sido furtados, as amigas compareceram à delegacia mais próxima a fim de prestar queixa e registrar ocorrência. Apenas com o B.O. poderiam dar entrada na seguradora.
Aguardavam serem chamadas quando Marina sentiu um cutucão de Lorena:
— Olha quem desceu do Olimpo para falar com a gente.
Marina ergueu os olhos para observar o homem que surgira em uma das portas e aproximava-se lentamente delas, usando camisa social com os primeiros botões abertos e gravata frouxa de uma forma surpreendentemente sexy. Era alto, de cabelos escuros e curtos. Seus olhos muito azuis, não aquele tom pálido e nem o parecido com verde, mas um azul intenso e reluzente, como o azul do mar. As sobrancelhas eram negras, retas e espessas, e seus lábios carnudos, ligeiramente rosados, estavam entreabertos, mostrando dentes bonitos e bem branquinhos.
Sem dúvida um rosto absolutamente perfeito.
E olhava fixamente para Marina.
Aproximou-se das duas moças sem desgrudar os olhos da loira. Ela sentia uma descarga elétrica subindo por suas pernas, fazendo-a levantar da cadeira com dificuldade.
— Eu sou o investigador Marcelo. — Estendeu a mão para a jovem. — Marcelo Soares.
— Marina.
Reteve a mão dela na sua por algum tempo, o olhar preso um no outro.
— E eu sou a Lorena.
O detetive piscou e só então soltou a mão de Marina e desviou o olhar. Apertou rapidamente a mão de Lorena.
— Por favor, venham até minha sala.
Lorena fez o desenho de um coração juntando as mãos na direção de Marina, e em seguida um significativo movimento indecente com a boca. A outra abafou uma risadinha, seguindo logo atrás do policial.
Todos se sentaram, Marcelo atrás de sua mesa.
— Então seu apartamento foi arrombado esta noite? O que levaram?
— A televisão, um notebook, um tablet, uma câmera fotográfica do tipo profissional, um leitor digital...
— O meu vibrador! — Interrompeu Lorena.
O detetive deu uma gostosa risada. Conseguiu ficar ainda mais bonito.
— Ah, desculpe, mas eu precisava ver isso, isto é, como você ficava quando ria — disse Lorena, com simplicidade. — Um espetáculo. Tem certeza que você é policial mesmo? Parece que saiu das telas de cinema! Acho que devem ter câmeras a nossa volta e estamos em alguma pegadinha.
Ele riu novamente.
— Posso garantir que sou um policial de verdade. Nunca me disseram que eu pareço um ator.
Lorena bufou suavemente.
— Ah, mentira! Claro que já falaram. Mas é muito gentil da sua parte ser modesto. Agora vou ficar calada e a minha amiga aqui, a Marina, vai dar para você tudo, tudo o que você quiser que ela lhe dê, ela vai dar.
Marina lhe deu chute na canela.
— Ai! Ela vai dar todas as informações que você pedir, quero dizer.
— Sua amiga é divertida — disse Marcelo, voltando sua atenção novamente para Marina.
— Ah, é. Tão engraçada...
Marina respondia às perguntas que ele fazia, procurando não encarar a amiga, mas percebia pelos cantos dos olhos que Lorena mandava beijinhos e mordia os lábios sacudindo a cabeça em direção ao detetive, que fingia não notar nada.
Depois de anotar a ocorrência, Marcelo se levantou:
— Bem, agora eu precisaria dar uma olhada no seu apartamento.
As amigas entreolharam-se e se levantaram ao mesmo tempo. O policial tornou a falar:
— Vocês me dão um minuto? Preciso avisar ao meu chefe que vou me ausentar.
Assim que ele se afastou, Lorena apertou o braço da amiga:
— Acho que ele nem precisava ver o apartamento. Acho que só vai para ver onde você mora! Ai, Marina, ele é muito gato! E gostou de você! Esse merece você sabe o quê e eu mereço saber todos os detalhes depois. Principalmente os mais sórdidos.
Marina balançou a cabeça:
— Contenha-se, ele está voltando.
Partiram juntos para o apartamento das moças.
Marcelo entrou no apartamento e conferiu todos os cômodos. Quando Marina informou qual era o seu quarto, o investigador se deteve ali, observando cada detalhe:— Combina com você. E tem um cheiro gostoso. Deve ter retido o seu perfume. — Ele passou bem junto a ela, devagar, os corpos quase se tocando ao passarem de um cômodo ao outro. Lorena foi para a cozinha discretamente, enquanto a amiga voltava com o detetive para a sala.Marcelo observava tudo, e comentou:— Vocês são rápidas. Já mandaram até consertar a porta.— Ah, o síndico foi bem legal, trouxe ferramentas e consertou para nós.Houve um pequeno silêncio enquanto Marcelo a encarava, bem próximo. A tensão sexual entre eles era quase palpável. Marina tinha consciência de sua beleza, mas nunca imaginara que conseguiria atrair a atenção de um homem como aquele. Aliás, nunca ficara frente a frente com alguém tão bonito e com uma presença tão forte como a dele, que parecia dominar a sala. — Sei que pode parecer pouco profissio
Ela tomou fôlego antes de falar:— Bom... É que eu não vou transar depois das bebidas.Ele arqueou as sobrancelhas, sinceramente admirado com o comentário.— Uh, eu tinha pensado em conversar, mas se você já está falando sobre sexo comigo, penso que devo começar a comprar umas cuecas novas.Dessa vez foi ela quem deu uma boa risada. Ele parecia encantado ao vê-la rir, pois seu sorriso se abriu ainda mais. Ela continuou, sem rodeios:— Não, é sério mesmo. Eu não transo.— Você tem algum problema físico? — Ele a olhou com jeito travesso.Aquela forma de conversar foi a escolha de Marina, e já que ela havia iniciado um diálogo direto, prosseguiu:— Não. É que eu sou virgem.O queixo de Marcelo caiu, mas ele se recuperou logo:— Hum, uma raridade... É por alguma opção religiosa? Planeja se manter assim até o casamento?Ela deu uma risadinha, enquanto balançava uma mão, em negativa.— Não, nada disso. Na verdade, é que o tempo foi passando, passando, e simplesmente não aconteceu. Eu vivia
Lorena tinha os olhos arregalados ao ouvir Marina lhe contar sobre a conversa que tivera com Marcelo, e como ela havia terminado, em longos e sensuais beijos.Tamborilou os dedos sobre os lábios, antes de concluir:— Até que enfim você vai conseguir se dar bem, amiga.— Sossega, Lorena.— Não consigo! Depois que você contou sobre a forma como ele te pegou na sala, assim, logo no primeiro beijo... Você devia ir preparada. E coloca uma saia bem levinha e curta.— Não vou me preparar para nada, só vamos sair para conversar e comer alguma coisa. E de jeito nenhum vou colocar uma saia que possa provocá-lo. Ele já deu uma mostra de como é assanhadinho.— Eu vou gostar de acompanhar esse romance de vocês.— Não tem romance algum! Só vamos sair juntos. Nem sei o que vai dar isso.— Pois eu aposto que ele não quer sair só uma vez com você. E rapidinho ele ficará apaixonado. Você é maravilhosa!— Esse homem deve estar acostumado a ter todas as garotas aos pés dele, viu como é lindo? O que vai q
— Você colocou uma saia levinha e curta! — Lorena olhou por baixo da saia da amiga enquanto elas aguardavam Marcelo chegar: — E está usando uma calcinha branca rendada! Calcinha branca por baixo da saia? Que que é isso?Marina tentou se afastar de Lorena, mas sem cerimônia alguma a amiga ergueu a ponta da saia da outra e espiou de novo:— Ai, você até se depilou! Marinaaa! Não acredito! E ainda diz que ele é o assanhadinho?Marina bateu de leve na mão da amiga e conferiu sua imagem no espelho grande do quarto de Lorena. Usava blusa branca com decote discreto e uma saia florida de tecido leve.— Estou bonita?— Linda. O Marcelo vai cair de quatro por você.Os olhos castanhos da loira faiscavam, ansiosa pela chegada do namorado:— Estou um pouco nervosa.— Sabe o que eu acho, de verdade? Aquele monumento gostou mesmo de você, e você já gosta dele.— Acho que eu e você somos umas tontas românticas.— Não! Acho que você tirou a sorte grande mesmo.Marina deu uma risadinha nervosa.— É mes
Marcelo era pontual de fato, como Marina pôde atestar após 3 encontros, não que ela estivesse contando...Dessa vez escolheram um restaurante recém-inaugurado, pequeno e romântico, e decidiram sentar na área da penumbra.Depois de muita conversa, um jantar delicioso, e alguns copos de vinho, os comentários se tornaram mais provocantes, os beijos mais intensos e as carícias cada vez mais ousadas. Marina quase pulou ao perceber a mão de Marcelo embaixo de sua saia enquanto trocavam um beijo.— Ninguém vai notar, aqui é bem escuro — sussurrou ao ouvido dela.— Mas...— Só vou fazer carinho, não se preocupe. Meus dedos não vão tirar sua virgindade. Deixe, amor...É claro que ela sabia que carícias não iriam desvirginá-la, mas fazer algo tão íntimo em público... era tão transgressor! No entanto, viu-se desejando sentir Marcelo tocá-la. Sim, sabia que estavam indo rápido demais, mas não queria parar.Marcelo trouxe seus lábios junto aos dela, num beijo doce, sexy e longo.Ela entrecerrou os
Aquela semana Marcelo estava trabalhando de ótimo humor. A lembrança do rosto de Marina alcançando o clímax o deliciava. Aguardava ansioso o momento de reencontrá-la. No entanto, após a explosão de sensualidade entre eles, notara uma ligeira retração em Marina. Imaginou que deveria ir mais devagar, senão a assustaria. E estava com o pé no freio. Comportara-se bem todos os outros dias após aquele doce orgasmo, resumindo os encontros a beijos, conversas e carinhos inocentes. Contudo, já estava desesperado por um pouquinho mais de intimidade novamente. Talvez esta noite...Uma policial fardada aproximou-se dele no momento em que examinava alguns papéis. Anita estava na polícia havia mais tempo do que ele, era durona, respeitada e muito observadora. E não desperdiçava uma chance para opinar em qualquer assunto que julgasse pertinente, sempre de fora útil. Marcelo gostava dela, portanto quando ela parou diante dele, e baixou o tom de voz, ouviu-a com muita atenção:— Marcelo, eu estou preo
Quando Marina, Lorena e o restante do elenco saíram do teatro, após mais uma noite de ensaios, Marcelo já estava esperando, encostado em seu carro. Ele cumprimentou a amiga da namorada:— Lorena, quer que a gente te deixe em casa?— Não, obrigada, Marcelo. Dessa vez vou com o Tiago e o pessoal comer alguma coisa, depois eles me deixam em casa. Bom passeio para vocês! Aproveitem! ─ Ela deu um tchauzinho para ele antes de se afastar com os outros atores.— Pode apostar que vamos. — Deu um beijo em Marina. — Está com fome?— Um pouquinho.— Pensei em comprarmos um lanche para viagem. Quero te levar a um lugar bem bonito que eu conheço.— Por mim, tudo bem.Compraram os lanches e Marcelo dirigiu até um local íngreme, aonde não havia construções próximas. Depois que a ladeira findava havia uma área aberta, onde estacionaram o carro. Do plano mais alto era possível ver uma grande parte da cidade embaixo, com suas milhares de luzinhas brilhando. Acima deles descortinava-se um magnífico céu
Marcelo sacudiu a cabeça, meio descrente do que havia acontecido com ele. Olhando para baixo, passou a mão na parte da frente das calças.— Não consegui me segurar e gozei. Na cueca. Que merda...Marina deu uma sonora gargalhada e ele acabou rindo também.— A culpa é sua, mulher.Ela riu ainda mais.Marcelo esperou que ela ajeitasse a blusa, arrumou o banco e deu a partida no carro.Quando a deixou na porta de casa, o detetive avisou:— Amanhã coloque uma blusa menos complicada, amor. Essa de hoje estava muito difícil de tirar. E nem pensar em usar calça comprida.Marina ficou boquiaberta:— Você tem muita coragem e muita cara de pau para falar isso!Marcelo ignorou o protesto, e, com um sorrisinho provocativo a enlaçou pela cintura, unindo seus corpos num abraço caloroso. Inclinou a cabeça para que seus rostos ficassem ainda mais próximos e beijou-a suavemente. Marina esqueceu completamente a indignação que estava sentindo.— Amanhã venho por volta das sete horas. Que tal comermos alg