Simone atravessou a rua e tocou a campainha do senhor Dimitri. Quando olhou para o outro lado, em direção da casa de dona Adelaide, notou que ela já havia entrado. Aparentemente falar dos vizinhos pelas costas era mais fácil do que encará-los de frente. Ao irar o pescoço outra vez ela tomou um susto ao se ver diante de um homem na soleira da porta, a observá-la. Era dono de uma beleza fria, e também era surpreendentemente grande. Olhava para ela do alto dos degraus, o que lhe conferia ainda mais um ar de superioridade arrogante.
— Pois não?
— Bom dia. Sou a policial Simone. Presumo que seja o senhor Dimitri.
Ele assentiu, os olhos negros intrigantes olhando-a firme, sem piscar.
— Não quero incomodá-lo, senhor, mas é sobre os gatos...
— Gatos? — Ele ergueu uma das sobrancelhas. ─ Eu não tenho gatos.
— Certo. Recebemos uma queixa de que os gatos das redondezas estão desaparecendo.
— Fala desses gatos de rua que a dona Adelaide insiste em alimentar?
— Sim. Sua vizinha acredita que eles estão deixando de vir comer a ração que ela coloca para eles por que estão sendo envenenados e morrendo por aí.
O homem deu uma fungada, com pouco caso:
— Quem pode sentir falta de um gato quando existem tantos desses por aí, deixando sua sujeira fedorenta em todos os canteiros de plantas da cidade?
Simone piscou, aturdida. Ele havia falado exatamente a mesma coisa que ela havia pensado alguns minutos atrás?
O senhor Dimitri deu um sorriso, mas era um sorriso frio:
— Não gosto desses gatos sujando a minha casa, mas não os envenenei, se é isso que minha distinta vizinha está pensando. — Ele se inclinou ligeiramente na direção de Simone: — Gatos de rua agora são assunto de polícia?
Ela não se afastou, e sua voz tomou uma entonação cortante:
— Maus tratos aos animais incidem em crime ambiental, senhor.
Novamente o sorriso frio brincou em seu rosto.
— Eu não envenenei gato algum, lhe dou minha palavra quanto a essa questão.
— Bem, então acho que é só isso. Obrigada por sua atenção. — Simone respondeu, encerrando a conversa.
— Estarei à sua disposição, se precisar, policial Simone. Tenha um bom dia. — Dimitri girou nos calcanhares e entrou na casa.
Ela achou ótimo que Dimitri se despedisse. Estava ansiosa para se afastar daqueles olhos gélidos, não era de se admirar que a dona Adelaide tenha se sentido constrangida pelo vizinho, ele dava mesmo calafrios.
No entanto, ainda não estava bem certa de que o trabalho ali estivesse encerrado.
Simone ficou parada do lado de fora por mais alguns minutos, esperando que algum gato vira-lata aparecesse, ou que tivesse uma boa ideia sobre o que fazer a respeito do caso que tinha em mãos. Parecia uma coisa boba, a princípio, mas e se alguém estivesse mesmo matando animais por aí? Simone não gostava de covardia e injustiça, e não permitiria que atos de crueldade continuassem sendo praticados impunemente.
Mas o que deveria fazer? Talvez perguntar na clínica veterinária mais próxima se ultimamente andaram atendendo clientes que traziam animais envenenados?
Quando já estava pensando em ir embora, pareceu ouvir um ruído estranho vindo da casa de Dimitri, um tipo de som que para ela soou suspeito.
Aguçou os ouvidos.
Ouviu um miado?
Procurando se manter o mais silenciosa possível, Simone empurrou com cuidado o portão da garagem que dava para a lateral da casa. Entrou sorrateiramente, seguindo os sons abafados que vinham dos fundos.
Chegou à parte de trás da casa e estacou, surpresa com o que via por detrás de vidraças que cercavam a área de serviço. Dimitri estava parado diante de uma mesa onde havia um grande gato preto, e dizia palavras incompreensíveis, repetindo-as como um mantra, de uma forma que eriçou até os cabelos de sua nuca. O homem estava de costas para a policial, e fazia agora vários gestos com a mão, como se estivesse chamando o animal até ele. Por um segundo ela acreditou ter visto o gato se elevar da base, como se estivesse levitando. Então Simone piscou, e voltando a fixar a vista, percebeu o animal ainda rígido, tal qual uma estátua.
O cigano soltou uma imprecação. Movendo-se para o lado juntou as duas mãos em volta do pescoço do gato.
— Pare, agora mesmo! — Simone bradou.
O gato saiu do transe em que se encontrava, e com um miado alto escapuliu das mãos de seu algoz e fugiu em disparada.
Dimitri voltou-se para Simone, e seus movimentos pareciam estar sendo feitos em câmera lenta. Sem um segundo olhar para o animal que fugira, caminhou até onde estava a policial.
─ Você me atrapalhou.
Simone descobriu, aterrorizada, que não conseguia se mexer.
— Precisava mesmo investigar, policial? — Ele pôs as mãos pesadamente sobre seus ombros. — Tão bonita...
Dimitri fixou os olhos nos de Simone:
─ Você vai esquecer o que viu aqui, minha querida. Mas, antes disso — as mãos dele deslizaram e pousaram sobre os seios dela —, vamos nos divertir um pouco. Não se preocupe, você irá esquecer isso também... — e acrescentou, com um sorriso malévolo: — Ou pode ser até que você goste e nem queira se esquecer de tudo que eu fizer.
Simone, então, gritou. Ou pensou que estava gritando.
Simone abriu os olhos, sentindo a boca amarga e a garganta seca. Levantou-se de sua cama sentindo muitas dores no corpo. Pensou que talvez estivesse ficando doente, a cabeça latejando como se fosse explodir. Parecia estar despertando de uma terrível ressaca. Embora não tivesse bebido, porque não bebia quase nunca. Foi até o banheiro, esperando que uma ducha quente lhe aliviasse o mal-estar. Tentou lembrar-se como havia chegado até em casa, mas não conseguia recordar-se de nada.Pôs a mão na cabeça, confusa.Entrou no chuveiro e sentiu todo o corpo arder ao contato da água. Até em partes onde não deveria. Olhou mais minuciosamente para si mesma. As coxas tinham marcas arroxeadas, e os braços também. Marcas de dedos. O pescoço ardia intensamente, e mesmo sem se observar no espelho, sabia que estava arranhada. O roçar insistente de um rosto masculino, com a barba por fazer, produziria esse efeito. Descobriu um pequeno corte bem rente ao mamilo esquerdo. Sabia o que poderia ter causado aq
Marcelo entrou no apartamento e conferiu todos os cômodos. Quando Marina informou qual era o seu quarto, o investigador se deteve ali, observando cada detalhe:— Combina com você. E tem um cheiro gostoso. Deve ter retido o seu perfume. — Ele passou bem junto a ela, devagar, os corpos quase se tocando ao passarem de um cômodo ao outro. Lorena foi para a cozinha discretamente, enquanto a amiga voltava com o detetive para a sala.Marcelo observava tudo, e comentou:— Vocês são rápidas. Já mandaram até consertar a porta.— Ah, o síndico foi bem legal, trouxe ferramentas e consertou para nós.Houve um pequeno silêncio enquanto Marcelo a encarava, bem próximo. A tensão sexual entre eles era quase palpável. Marina tinha consciência de sua beleza, mas nunca imaginara que conseguiria atrair a atenção de um homem como aquele. Aliás, nunca ficara frente a frente com alguém tão bonito e com uma presença tão forte como a dele, que parecia dominar a sala. — Sei que pode parecer pouco profissio
Ela tomou fôlego antes de falar:— Bom... É que eu não vou transar depois das bebidas.Ele arqueou as sobrancelhas, sinceramente admirado com o comentário.— Uh, eu tinha pensado em conversar, mas se você já está falando sobre sexo comigo, penso que devo começar a comprar umas cuecas novas.Dessa vez foi ela quem deu uma boa risada. Ele parecia encantado ao vê-la rir, pois seu sorriso se abriu ainda mais. Ela continuou, sem rodeios:— Não, é sério mesmo. Eu não transo.— Você tem algum problema físico? — Ele a olhou com jeito travesso.Aquela forma de conversar foi a escolha de Marina, e já que ela havia iniciado um diálogo direto, prosseguiu:— Não. É que eu sou virgem.O queixo de Marcelo caiu, mas ele se recuperou logo:— Hum, uma raridade... É por alguma opção religiosa? Planeja se manter assim até o casamento?Ela deu uma risadinha, enquanto balançava uma mão, em negativa.— Não, nada disso. Na verdade, é que o tempo foi passando, passando, e simplesmente não aconteceu. Eu vivia
Lorena tinha os olhos arregalados ao ouvir Marina lhe contar sobre a conversa que tivera com Marcelo, e como ela havia terminado, em longos e sensuais beijos.Tamborilou os dedos sobre os lábios, antes de concluir:— Até que enfim você vai conseguir se dar bem, amiga.— Sossega, Lorena.— Não consigo! Depois que você contou sobre a forma como ele te pegou na sala, assim, logo no primeiro beijo... Você devia ir preparada. E coloca uma saia bem levinha e curta.— Não vou me preparar para nada, só vamos sair para conversar e comer alguma coisa. E de jeito nenhum vou colocar uma saia que possa provocá-lo. Ele já deu uma mostra de como é assanhadinho.— Eu vou gostar de acompanhar esse romance de vocês.— Não tem romance algum! Só vamos sair juntos. Nem sei o que vai dar isso.— Pois eu aposto que ele não quer sair só uma vez com você. E rapidinho ele ficará apaixonado. Você é maravilhosa!— Esse homem deve estar acostumado a ter todas as garotas aos pés dele, viu como é lindo? O que vai q
— Você colocou uma saia levinha e curta! — Lorena olhou por baixo da saia da amiga enquanto elas aguardavam Marcelo chegar: — E está usando uma calcinha branca rendada! Calcinha branca por baixo da saia? Que que é isso?Marina tentou se afastar de Lorena, mas sem cerimônia alguma a amiga ergueu a ponta da saia da outra e espiou de novo:— Ai, você até se depilou! Marinaaa! Não acredito! E ainda diz que ele é o assanhadinho?Marina bateu de leve na mão da amiga e conferiu sua imagem no espelho grande do quarto de Lorena. Usava blusa branca com decote discreto e uma saia florida de tecido leve.— Estou bonita?— Linda. O Marcelo vai cair de quatro por você.Os olhos castanhos da loira faiscavam, ansiosa pela chegada do namorado:— Estou um pouco nervosa.— Sabe o que eu acho, de verdade? Aquele monumento gostou mesmo de você, e você já gosta dele.— Acho que eu e você somos umas tontas românticas.— Não! Acho que você tirou a sorte grande mesmo.Marina deu uma risadinha nervosa.— É mes
Marcelo era pontual de fato, como Marina pôde atestar após 3 encontros, não que ela estivesse contando...Dessa vez escolheram um restaurante recém-inaugurado, pequeno e romântico, e decidiram sentar na área da penumbra.Depois de muita conversa, um jantar delicioso, e alguns copos de vinho, os comentários se tornaram mais provocantes, os beijos mais intensos e as carícias cada vez mais ousadas. Marina quase pulou ao perceber a mão de Marcelo embaixo de sua saia enquanto trocavam um beijo.— Ninguém vai notar, aqui é bem escuro — sussurrou ao ouvido dela.— Mas...— Só vou fazer carinho, não se preocupe. Meus dedos não vão tirar sua virgindade. Deixe, amor...É claro que ela sabia que carícias não iriam desvirginá-la, mas fazer algo tão íntimo em público... era tão transgressor! No entanto, viu-se desejando sentir Marcelo tocá-la. Sim, sabia que estavam indo rápido demais, mas não queria parar.Marcelo trouxe seus lábios junto aos dela, num beijo doce, sexy e longo.Ela entrecerrou os
Aquela semana Marcelo estava trabalhando de ótimo humor. A lembrança do rosto de Marina alcançando o clímax o deliciava. Aguardava ansioso o momento de reencontrá-la. No entanto, após a explosão de sensualidade entre eles, notara uma ligeira retração em Marina. Imaginou que deveria ir mais devagar, senão a assustaria. E estava com o pé no freio. Comportara-se bem todos os outros dias após aquele doce orgasmo, resumindo os encontros a beijos, conversas e carinhos inocentes. Contudo, já estava desesperado por um pouquinho mais de intimidade novamente. Talvez esta noite...Uma policial fardada aproximou-se dele no momento em que examinava alguns papéis. Anita estava na polícia havia mais tempo do que ele, era durona, respeitada e muito observadora. E não desperdiçava uma chance para opinar em qualquer assunto que julgasse pertinente, sempre de fora útil. Marcelo gostava dela, portanto quando ela parou diante dele, e baixou o tom de voz, ouviu-a com muita atenção:— Marcelo, eu estou preo
Quando Marina, Lorena e o restante do elenco saíram do teatro, após mais uma noite de ensaios, Marcelo já estava esperando, encostado em seu carro. Ele cumprimentou a amiga da namorada:— Lorena, quer que a gente te deixe em casa?— Não, obrigada, Marcelo. Dessa vez vou com o Tiago e o pessoal comer alguma coisa, depois eles me deixam em casa. Bom passeio para vocês! Aproveitem! ─ Ela deu um tchauzinho para ele antes de se afastar com os outros atores.— Pode apostar que vamos. — Deu um beijo em Marina. — Está com fome?— Um pouquinho.— Pensei em comprarmos um lanche para viagem. Quero te levar a um lugar bem bonito que eu conheço.— Por mim, tudo bem.Compraram os lanches e Marcelo dirigiu até um local íngreme, aonde não havia construções próximas. Depois que a ladeira findava havia uma área aberta, onde estacionaram o carro. Do plano mais alto era possível ver uma grande parte da cidade embaixo, com suas milhares de luzinhas brilhando. Acima deles descortinava-se um magnífico céu