pertencimento

Andrew abriu a porta do carro para Nora com um gesto suave, mas calculado. Seus olhos cruzaram por um breve segundo, e ele fez questão de manter a compostura, ainda que algo dentro dele estivesse em constante alerta desde o momento em que haviam começado a trabalhar juntos.

"Obrigada pela gentileza", Nora disse, sorrindo enquanto entrava no carro com a mesma elegância discreta que ele havia notado desde o início.

Andrew deu um leve aceno de cabeça, fechando a porta atrás dela antes de dar a volta e entrar no lado oposto. O motorista já os aguardava, e assim que ambos se acomodaram, o carro começou a seguir em direção ao restaurante. Durante o trajeto, o silêncio se instalou entre eles, mas não era um silêncio desconfortável, pelo menos não para Andrew.

Enquanto o carro deslizava pelas ruas de Paris, ele não conseguia evitar o olhar que lançava de forma sutil para Nora. A postura ereta dela, a maneira como os cabelos caíam suavemente sobre os ombros, a delicadeza de suas expressões. Havia algo fascinante na força que ela emanava, mesmo nos momentos de calmaria. Nora era uma mulher de presença, alguém que conseguia cativar uma sala inteira sem esforço, e Andrew, apesar de seu autocontrole usual, se pegava pensando em como ela conseguia equilibrar essa força com uma suavidade quase hipnotizante.

Ele deixou os olhos se demorarem um pouco nas curvas do corpo dela, em como o vestido elegante que usava acentuava sutilmente sua figura, sem ser vulgar. Havia uma elegância natural em cada movimento que ela fazia, e isso o atraía de uma maneira que ele tentava evitar.

Ela é linda, ele pensou, o olhar fixo na janela, fingindo observar a cidade ao redor. A verdade era que a presença dela o deixava inquieto, mas não pelo motivo que ele gostaria. Era o fato de saber que ela era noiva de outro homem que o fazia lutar para controlar os pensamentos que surgiam. Por mais que sentisse uma leve excitação crescendo em seu peito, Andrew sabia que havia uma linha clara entre eles — uma linha que ele, por mais que quisesse, não deveria cruzar.

Ela pertence a outro, lembrou-se, apertando levemente os punhos, escondidos no colo. Era frustrante, mas ele sabia que precisava manter o foco. Afinal, estavam ali por trabalho, por uma missão muito maior do que qualquer impulso momentâneo.

Quando o carro parou suavemente em frente ao restaurante chique, Andrew saiu rapidamente e, com a mesma elegância de antes, abriu a porta para Nora. Ela desceu do carro com um sorriso educado, mas assim que seus ohos captaram uma figura familiar saindo do restaurante, o sorriso sumiu de seu rosto.

O coração dela afundou no peito. Ali, diante dela, estava Victor, seu noivo, abraçado a outra mulher.

Por um segundo, Nora congelou, tentando processar a cena lamentavel que se desenrolava diante de seus olhos.

Victor ria, distraido, até que seus olhos se encontraram com os dela. O sorriso dele desapareceu instantaneamente, e a expressấo de choque tomou conta de seu rosto. Ele afastou-se da mulher ao seu lado, mas ja era tarde demais.

Nora, ainda atordoada, caminhou na direção dele, sua voz embargada pela dor e pela indignaçấo. "Victor, quem é essa? O que você está fazendo aqui?" Ela questionou.

A mulher ao lado dele, que ainda não havia percebido a gravidade da situaçấo, ohou de um lado para o outro, confusa. Victor, por sua vez, abriu a boca para falar, mas nada saiu por um segundo. Quando finalmente conseguiu, a voz dele saiu baixa e trêmula. "Nora, não é o que você esta pensando."

Ela soltou uma risada incrédula, seu olhar oscilando entre ele e a mulher ao lado. "Não é o que eu estou pensando? Ta na cara que você encontrou uma amante!" Ela deu um passo à frente, com os olhos marejados. "Você tem estado distante nos ultimos dias, e agora tudo faz sentido. Nos íamos almoçar hoje, você se lembra?"

Victor engoliu em seco, tentando manter a compostura. "Mas... você disse que não poderia mais almoçar. Eu so... eu só..."

"Eu te mandei uma mensagem ha ums quinze minutos atrás, Victor!" Nora respirou fundo, a voz dela quase quebrando. "Não teria dado tempo de você ter saído do seu trabalho, está na cara que você já estava aqui com ela."

Não havia mais como ele negar. O silêncio dele disse tudo. Victor baixou a cabeça por um momento antes de finalmente admitir, com uma voz quase inaudivel. "Eu me apaixonei por outra pessoa... Não tive coragem de te contar porque você parecia tão feliz, planejando o nosso casamento."

A confissão foi como um golpe no peito de Nora. Ela respirou fundo, lutando contra as lagrimas que ameaçavam cair. "Eu te perdou Victor, porém acabou, tudo. E quando você se arrepender não me procure, não tente me reconquistar e nunca mais olhe nos meus olhos!" Sua voz estava firme, mas o peso das palavras parecia esmagar seu coração.

Sem olhar para trás, ela se virou e começou a andar, suas pernas tremendo levemente sob a pressão da emoção.

Andrew, que havia observado a cena, não pôde se controlar. Algo dentro dele se acendeu, uma furia que ele não sabia que existia. Em um movimento rapido e decidido, ele caminhou até Victor e, antes que o homem pudesse se defender ou falar mais alguma coisa, Andrew acertou um soco direto no rosto dele.

Victor cambaleou para tras, a mão na mandibula, surpreso com o golpe. A mulher ao lado de Victor, atordoada, gritou: "Quem você pensa que é para fazer isso?"

Andrew, no entanto, não deu a menor atenção para ela. Sem dizer uma palavra, ele virou as costas e seguiu em direção a Nora, que ja estava distante, caminhando rapido e tentando segurar as lagrimas. Ela nao tinha ideia de que Andrew tinha presenciado tudo, muito menos que ele havia se envolvido. Ele acelerou os passos, sem saber exatamente o que diria quando a alcançasse, mas algo dentro dele sabia que não podia deixa-la sozinha naquele momento.

Nora, com o rosto molhado pelas lagrimas, andava sem rumo. A dor da traição ainda reverberava em cada parte de seu corpo. Foi quando ouviu passos rapidos atras dela e, antes que pudesse se virar, sentiu a presença de Andrew ao seu lado.

"Nora... você está bem?" Sua voz saiu baixa, mas cheia de preocupação.

Ela parou de andar, ainda respirando fundo para tentar controlar as emoções. Por um instante, olhou para ele, seus olhos ainda marejados. "Senhor Haart... você se importaria se deixássemos isso para outro dia? Não estou com cabeça para continuar hoje."

Andrew assentiu imediatamente, respeitando o pedido dela. "Claro que não, Nora. Tire o dia para pensar um pouco e distraír a mente. Não se preocupe com o trabalho, nós podemos retomar quando você estiver pronta."

Ela sorriu fracamente, em agradecimento. Então, sem dizer mais nada, Nora se afastou, caminhando lentamente pela calçada, tentando digerir o que havia acabado de acontecer.

Andrew ficou parado por um momento, observando-a desaparecer na distância. Ele sentiu um misto de alívio e uma pontada de satisfação ao saber que, a partir daquele momento, ela não estava mais comprometida. Não que ele desejasse a infelicidade de Nora, mas o fato de ela ser livre agora despertava algo dentro dele, algo que ele não podia ignorar. Andrew queria se aproximar dela, descobrir mais sobre aquela mulher fascinante que, em tão pouco tempo, tinha despertado sentimentos que ele achava estarem adormecidos.

Ele sabia que seu tempo era curto, mas queria aproveitar a vida enquanto ainda podia. E, de alguma forma, sentia que Nora seria parte disso.

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