A água quente caía sobre o corpo de Andrew, escorrendo pelos músculos tensos, mas sua mente estava em outro lugar. As gotas quentes não conseguiam afastar os pensamentos insistentes que voltavam para Nora. Ele fechou os olhos e a imagem dela surgiu nítida em sua mente. Ele imaginou os dois ali, no banheiro, juntos, a água misturando-se com seus corpos entrelaçados, o calor aumentando. Sentiu o desejo pulsar, crescendo a cada detalhe que sua mente criava, e, por um instante, quase pôde tocá-la.
Mas de repente, uma forte tontura o tomou de assalto. Andrew segurou-se na parede do chuveiro, respirando fundo enquanto a visão se tornava embaçada. O coração acelerou, e ele soube que não era apenas cansaço. Com esforço, ele desligou a água e saiu do chuveiro, pegando a toalha às pressas. Ainda com a cabeça girando, vestiu-se rapidamente e pegou o celular. O médico precisava vir. --- "Dr. Ramos? Sou eu, Andrew. Eu preciso que venha me ver. Agora." Do outro lado da linha, o médico respondeu rapidamente, já acostumado com a urgência. "Estou a caminho, Andrew. Fique calmo e não faça nenhum esforço até eu chegar." Quando o médico chegou, Andrew já estava sentado, tentando manter a calma. "Andrew, eu já te disse antes. Você precisa desacelerar. Não pode continuar com esse ritmo. Seu corpo está te avisando que o tempo está se esgotando. Fique em casa, descanse, aproveite a vida. O trabalho pode esperar." Andrew ouviu, mas sua mente estava dividida. Ele sabia que o médico tinha razão. Por um momento, pensou no que o doutor dissera. Aproveitar a vida enquanto ainda podia. Uma ideia começou a se formar em sua cabeça, e logo ele já tinha o celular em mãos novamente. Ligou para Nora. A voz dela parecia forte, apesar do que havia acontecido no dia anterior. "Alô? Andrew?" a voz de Nora surgiu do outro lado, surpreendendo-o com sua firmeza. "Nora... eu só queria saber se você está bem. Depois de tudo o que aconteceu ontem... com o Victor." Ela fez uma pausa, e Andrew pôde imaginar sua expressão séria. "Eu estou bem. Não vou ficar sofrendo por alguém que não vale a pena. A vida continua. E o trabalho também. Eu estava pensando em te encontrar na empresa hoje." Andrew sorriu levemente, impressionado com a força dela. "Eu admiro sua força, Nora. Mas hoje não estou no escritório. O médico mandou eu repousar. Estou em casa." "Ah..." Ela pareceu surpresa, mas não desanimada. "Então, talvez outro dia." "Ou... talvez hoje. Meu motorista pode te buscar, se você não se importar. Que tal vir aqui e trabalharmos de casa mesmo ?" Houve uma breve hesitação. "Tudo bem, pode ser. Vou te passar o endereço e esperar pelo seu motorista." Andrew sorriu enquanto anotava. Ele desligou, sentindo-se estranho por estar ansioso. Mais do que o trabalho, ele queria a presença de Nora naquele momento, talvez pela primeira vez sem as pressões de um ambiente de escritório, mas também sem esquecer o fardo que carregava. O relógio dele estava correndo, e cada momento ao lado dela parecia mais precioso. Andrew estava inquieto. Do alto da escada, ele observava o carro de Nora se aproximando pela entrada de vidro. A leve tensão que sentia era nova para ele, algo que não acontecia com frequência. Quando o veículo finalmente parou, ele desceu as escadas com pressa e abriu a porta antes mesmo que o motorista pudesse se mover. Nora saiu do carro, sua expressão tranquila, mas com uma firmeza nos olhos que Andrew admirava. Ele sorriu e, enquanto trocavam um cumprimento rápido, notou a força que ela tentava manter. "Entre, Nora. Vamos conversar no sofá," Andrew disse, gesticulando para o espaçoso e acolhedor ambiente da sala. Ela entrou, e o ar entre os dois parecia mais leve. Sentaram-se no sofá, um de frente para o outro, como se a formalidade de outrora estivesse ficando para trás. Ele ofereceu algo para beber, mas ela recusou gentilmente. "Obrigada, mas estou bem." "Você trouxe o primeiro capítulo?" Andrew perguntou. Nora pegou da bolsa um pequeno maço de folhas impressas. "Aqui está. É o primeiro rascunho da sua biografia." Ele pegou as páginas e as folheou brevemente, impressionado. "Está excelente, Nora. Depois de tudo o que você passou ontem, ainda conseguiu trabalhar tanto assim?" Seus olhos se fixaram nos dela, com um respeito genuíno. Nora soltou um leve riso, mas sua voz era firme. "Eu não ia perder tempo sofrendo por um cara que não merece uma gota de lágrimas minhas. Tenho coisas mais importantes para focar." Andrew assentiu, respeitando ainda mais a força que ela exalava. "Eu sabia que você era determinada, mas isso... é admirável." O ambiente entre eles parecia se aquecer. A formalidade e a tensão deram lugar a uma conversa mais descontraída, quase íntima. Eles se conheciam há pouco tempo, mas a conexão entre os dois crescia de forma natural. Havia uma proximidade que não precisava de palavras, algo que ambos sentiam e, ao mesmo tempo, tentavam evitar admitir. O tempo parecia desacelerar enquanto conversavam sobre a vida, o trabalho e as dificuldades que enfrentaram. No meio da conversa, enquanto a atmosfera leve entre eles pairava no ar, Nora hesitou por um momento, olhando para Andrew com uma mistura de curiosidade e preocupação. Ela sabia que aquele era um assunto delicado, mas algo em sua mente a fazia questionar. " Senhor Haart," ela começou, a voz suave mas firme. "Posso te perguntar algo? Quanto tempo faz que você descobriu... o câncer?" Ele a olhou nos olhos, notando a sinceridade em sua pergunta. Não havia piedade ali, apenas um desejo genuíno de entender. Ele suspirou levemente, relaxando um pouco mais no sofá antes de responder. "Faz um ano que comecei a sentir dores de cabeça terríveis. Tão fortes que, às vezes, eu nem conseguia formular as palavras certas." Ele fez uma pausa, como se revivendo os momentos em que percebeu que algo estava seriamente errado. "Eu fiz uma série de exames e... foi quando descobriram o glioblastoma." Nora assentiu, absorvendo as palavras dele. "Mas... seus cabelos não caíram, e você não parece debilitado. Por isso fiquei surpresa." Andrew deu um leve sorriso, mas não havia humor ali. "Eu recusei os tratamentos." Ela franziu a testa, confusa. "Por que você faria isso?" Ele respirou fundo antes de responder, olhando para algum ponto distante, como se estivesse ponderando sobre o tempo. "Para ser sincero, Nora... quando o médico me deu o diagnóstico, ele disse que eu tinha seis meses de vida. Isso foi há dois meses. O que significa que agora eu tenho, teoricamente, quatro meses." Nora abriu a boca para dizer algo, mas ele continuou, sua voz firme, como se já tivesse se acostumado com a ideia. "Mesmo com tratamento, eu poderia viver de um a dois anos... talvez. Mas eu vou morrer de qualquer jeito, Nora. O tratamento não vai me salvar, só vai prolongar o inevitável. Eu prefiro viver esses meses com o máximo de dignidade possível, sem me submeter à quimioterapia, aos hospitais e ao desgaste." Ela ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Havia algo de profundamente triste, mas também admirável, na aceitação dele. "Então você decidiu... não lutar?" Andrew olhou para ela, seus olhos revelando mais do que ele dizia. "Eu decidi lutar do meu jeito. Vou aproveitar o tempo que me resta da forma que eu quero. Sem ser escravo de tratamentos que vão me roubar o pouco de vida que ainda tenho. E enquanto estiver aqui... eu vou ser o Andrew Haart. O homem, não o doente." Nora sentiu um aperto no peito ao ouvi-lo falar com tanta convicção. Ela sabia que ele estava certo em sua escolha, mas aquilo não tornava a situação menos dolorosa. Nora ficou um pouco tensa com tudo que Andrew havia acabado de compartilhar. Ela se levantou, lembrando que, dentro de poucos meses, ele provavelmente não estaria mais vivo. O pensamento a perturbou de uma forma inesperada. Por que ela estava pensando tanto no tempo de vida dele? E por que isso a afetava tão profundamente? Enquanto esses pensamentos a dominavam, Andrew se levantou e tocou levemente em seu ombro, fazendo-a sair do devaneio. "Você está bem?" ele perguntou, com uma expressão genuinamente preocupada. Ela respirou fundo e tentou disfarçar a inquietação que sentia. "Está muito quente aqui," ela disse, usando a temperatura do ambiente como uma desculpa. Andrew sorriu, assentindo com a cabeça. "Realmente está muito quente," ele concordou, e então, em um gesto inesperado, acrescentou: "Quer saber de uma coisa? O que você acha de tomarmos um banho de piscina para refrescar esse calor?" Nora ficou surpresa com o convite, não esperava que ele fosse sugerir algo tão informal. Ela hesitou por um momento, pensando no que responder, e então recusou educadamente. "Agradeço, mas acho que vou passar." Andrew a olhou por um instante, avaliando sua resposta, e então ela, tentando mudar o foco da conversa, sugeriu: "Eu posso continuar escrevendo a biografia enquanto você aproveita o mergulho. Parece uma boa ideia, não?" Ele soltou uma leve risada, percebendo o desconforto dela, mas sem insistir. "Você realmente é dedicada ao trabalho, Nora." Ele deu de ombros, aceitando a sugestão. "Está bem. Eu vou me refrescar um pouco, e você pode ficar à vontade."Nora se sentou em um banco próximo à piscina, tentando se concentrar no trabalho, mas a presença de Andrew a deixava inquieta. Ele deu um mergulho, a água fazendo pequenos círculos na superfície antes de ele emergir, aproximando-se da borda. Seu abdômen estava exposto, molhado pelas gotas de água que escorriam lentamente por sua pele. Nora, sem querer, sentiu-se tensa. Havia algo hipnotizante em vê-lo tão à vontade, vulnerável, mas ainda assim, cheio de uma energia que ela não conseguia ignorar. Andrew, percebendo a distração dela, que ainda estava com o notebook em mãos, falou casualmente: "Então, você pode escrever aí..." Ele deu uma pausa, deixando que ela se preparasse, e começou a contar mais de sua história. "Minha família me expulsou de casa assim que completei meus dezoito anos. Eu não tinha feito nada de errado... Mas eles não se importaram, queriam se livrar de mim." Sua voz ficou um pouco mais grave, como se relembrar aquilo ainda trouxesse dor. "Acabei morando na rua por
Momentos depois, o médico de Andrew estava prestea chegar, e Andrew, meio desconfortável, perguntou: "Você quer ficar comigo ver o que ele vai dizer?" Sem pensar, Nora respondeu rapidamente: "Acho melhor não... estou sem nada por baixo dessa roupa, me sinto um pouco desconfortável." Assim que as palavras saíram, ela corou imediatamente, percebendo o que havia acabado de dizer. Andrew, por sua vez, imaginou Nora por baixo do conjunto de moletom, sua mente traindo-o com imagens que ele tentou controlar, mas que o deixaram um pouco excitado. Antes que a situação pudesse se prolongar, a campainha tocou. "Vou subir," Nora disse rapidamente, fugindo da tensão. Andrew foi até a porta, e, após o médico entrar, eles se sentaram para conversar. O médico não perdeu tempo e deu uma bronca em Andrew, preocupado com sua saúde precária. "Você precisa de alguém para cuidar de você, Andrew. Não pode continuar me chamando sempre que desmaiar. Isso é sério." Enquanto o médico estava com Andrew, No
A luz suave da manhã iluminava o quarto quando Nora acordou. O silêncio era tranquilo, e ela se virou lentamente, vendo Andrew ainda dormindo ao seu lado. Um sorriso involuntário apareceu em seus lábios ao observar os traços relaxados dele. Com cuidado, ela passou os dedos pelos cabelos dele, acariciando suavemente, e inclinou-se para dar um beijo carinhoso na sua cabeça. Andrew suspirou levemente, mas continuou dormindo. Levantando-se, Nora pegou uma das camisas de Andrew jogadas na cadeira e a vestiu, a camisa larga caindo até a metade das suas coxas. Ela saiu do quarto silenciosamente, descendo as escadas e indo direto para a cozinha. Lá, começou a preparar o café da manhã. Cortou algumas frutas frescas e fez um ovo mexido. O aroma do café recém-passado logo se espalhou pela casa, criando uma atmosfera acolhedora. Andrew, ainda no quarto, despertou lentamente, puxado pelo cheiro do café. Ele abriu os olhos, percebendo a ausência de Nora ao seu lado, e estendeu a mão automatic
O motorista de Andrew, estacionou o carro em frente à casa de Nora, sentindo o peso da tensão em seus ombros. Andrew saiu ao seu lado. Ela caminhou em direção à porta, respirando fundo antes de destrancá-la. Assim que abriu, gesticulou para Andrew entrar. “Pode entrar,” disse ela, com a voz um pouco hesitante, mas mantendo a postura firme. Ao dar os primeiros passos para dentro da sala, Nora foi imediatamente confrontada com uma cena que jamais imaginaria ver. No sofá da sala, seu ex, Victor, estava aos beijos e carícias com uma mulher, ambos seminus, completamente alheios ao fato de que não estavam sozinhos. Nora parou, o choque estampado em seu rosto. Seu estômago revirou, e sua voz saiu gelada e cheia de incredulidade. “Victor, o que você pensa que está fazendo?” Sua voz cortou o ar, seca e firme, enquanto o silêncio tomou conta da sala. Victor e a amante congelaram, o rosto dele imediatamente ficando pálido ao ver Nora na porta. Andrew, percebendo a situação, virou o rosto
Nora ficou em silêncio por alguns instantes, apoiada no ombro de Andrew, enquanto seus pensamentos a levavam de volta ao passado. Ela fechou os olhos, tentando segurar as lágrimas que teimavam em cair de novo. Victor havia sido seu primeiro amor, e isso era algo que não se apagava facilmente. Os últimos anos de relacionamento tinham sido cada vez mais complicados, com o trabalho afastando-os e a rotina drenando o que antes era paixão e cumplicidade. O tempo e a distância tinham esgotado seus sentimentos aos poucos, mas mesmo assim, ela jamais imaginou que ele seria capaz de trai-la. A dor não vinha apenas da traição física; era o golpe emocional de saber que o homem que ela havia amado tanto, com quem sonhou construir uma vida, havia rompido a confiança de maneira tão cruel. Ela sempre acreditou que, mesmo com as dificuldades, eles ainda tinham algo para salvar. Mas ver Victor com outra mulher em seu próprio sofá foi como um tapa que a trouxe de volta à realidade. Andrew, sentindo
Alguns dias haviam se passado desde que Nora decidiu se mudar para a casa de Andrew. Ela estava determinada a deixar o passado para trás, especialmente as memórias dolorosas com Victor. Viver com Andrew parecia uma chance de começar de novo, e ela precisava disso mais do que nunca. Naquela manhã, eles chegaram juntos à empresa de Andrew, mas desta vez seria diferente. Ele queria mostrar mais do que os corredores e os escritórios. Andrew queria que Nora conhecesse cada detalhe da corporação que ele havia construído. Não era apenas um passeio pelo império dele, era uma introdução aos bastidores de sua vida, algo que seria crucial para a biografia que ela escreveria sobre ele. “Eu sei que você já esteve aqui, mas hoje eu vou te mostrar o que faz tudo isso funcionar de verdade,” disse Andrew, com um sorriso de confiança enquanto eles atravessavam o lobby luxuoso. Nora o seguiu, sentindo a familiaridade daquele ambiente, mas ao mesmo tempo curiosa sobre o que ele tinha preparado para a
Nora olhava para Andrew enquanto ele tomava o remédio, perdida em seus próprios pensamentos. Será que ele realmente prefere viver assim? A preocupação a consumia. Se ao menos eu pudesse convencê-lo a se tratar de forma adequada... Mas, antes que sua mente fosse longe demais, ela interrompeu os próprios pensamentos. "Andrew, você está melhor?" perguntou, com a voz suave, mas cheia de cuidado. Ele sorriu para ela, sua expressão relaxando. "Estou sim. Acho que é melhor a gente continuar com a biografia antes que eu morra e não dê tempo de terminarmos." Nora, surpresa pela leveza com que ele falava da própria condição, deu um leve tapa no ombro dele. "Não seja bobo! Pare de falar o tempo todo que vai morrer." Andrew soltou uma risada sincera, seus olhos brilhando com aquele humor característico que sempre trazia um alívio inesperado. "Eu não falei nenhuma mentira," ele disse, ainda sorrindo. Nora suspirou, sabendo que por trás daquela atitude despreocupada havia uma realidade di
Nora se sentou, mantendo uma expressão neutra, e falou com uma calma controlada: "Andrew, você não me deve satisfações sobre seus relacionamentos. E, sinceramente, não quero ser envolvida neles. Acho melhor a gente manter tudo estritamente profissional daqui para frente." Andrew ficou tenso, percebendo que a situação havia se complicado mais do que ele imaginava. Mesmo assim, ele sentiu a necessidade de se explicar. "Nora, a Michelle... foi só uma noite. Uma única vez. Depois disso, ela ficou obcecada, começou a aparecer sem aviso e a criar essas... cenas. Eu juro, não há mais nada entre nós." Embora Nora acreditasse nas palavras de Andrew, ela não deixou transparecer. Preferiu manter uma postura fria e distante, protegendo-se emocionalmente. "Eu entendo, Andrew. Mas não muda o fato de que essa situação é complicada, e eu não quero me envolver. Vamos focar no trabalho, por favor." Andrew suspirou, sentindo o distanciamento dela como um golpe. Ele sabia que tinha que lidar com Mi