desespero

Nora se sentou em um banco próximo à piscina, tentando se concentrar no trabalho, mas a presença de Andrew a deixava inquieta. Ele deu um mergulho, a água fazendo pequenos círculos na superfície antes de ele emergir, aproximando-se da borda. Seu abdômen estava exposto, molhado pelas gotas de água que escorriam lentamente por sua pele. Nora, sem querer, sentiu-se tensa. Havia algo hipnotizante em vê-lo tão à vontade, vulnerável, mas ainda assim, cheio de uma energia que ela não conseguia ignorar.

Andrew, percebendo a distração dela, que ainda estava com o notebook em mãos, falou casualmente: "Então, você pode escrever aí..." Ele deu uma pausa, deixando que ela se preparasse, e começou a contar mais de sua história. "Minha família me expulsou de casa assim que completei meus dezoito anos. Eu não tinha feito nada de errado... Mas eles não se importaram, queriam se livrar de mim." Sua voz ficou um pouco mais grave, como se relembrar aquilo ainda trouxesse dor. "Acabei morando na rua por um tempo. Um dia, entrei em um mercado para roubar uma garrafa de água. Estava morrendo de sede. Mas antes que eu pudesse, uma idosa me viu e... me aconselhou a não fazer isso. Ela me deu a garrafa e disse para eu beber, sem me condenar."

Ele fez uma pausa, os olhos perdidos no passado, revivendo aquele momento crucial. Nora o observava enquanto ele falava, os músculos de seu abdômen contraídos pela respiração, as gotas de água ainda brilhando em sua pele. Cada detalhe parecia intensificar a tensão que ela já sentia.

"Foi então, sentado na calçada com aquela garrafa de água, que tive a ideia de começar a vender água na rua." Andrew soltou um pequeno riso ao se lembrar. "Quem diria, não é?"

Nora percebeu que ele parou de falar por um momento, imerso nas lembranças, e, talvez para aliviar a tensão que sentia, ela fechou o computador e olhou para ele. " Senhor Andrew, posso te fazer uma pergunta?"

Ele ergueu o olhar e assentiu, curioso. "Claro."

"Depois que você ficou rico, sua família tentou te procurar?"

Um leve sorriso apareceu nos lábios de Andrew, mas não era de felicidade. Era um sorriso enigmático. "Você saberá a resposta na hora certa," ele disse, não querendo se aprofundar no assunto.

Nora ficou pensativa por um instante, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Andrew sorriu novamente e perguntou: "Você tem certeza de que não quer pular na piscina? A água está uma delícia."

Nora balançou a cabeça, rindo levemente. "Obrigada, mas acho que vou continuar seca por enquanto."

Andrew soltou uma risada divertida, mas, de repente, seus movimentos se tornaram erráticos. Nora o observou por um segundo, achando que ele estava brincando, até que ele afundou na água. Sua expressão mudou de descontraída para alarmada. Por um momento, ela hesitou, pensando que ele estava fazendo algum tipo de brincadeira. Mas quando viu que ele não emergia de imediato, o pânico tomou conta.

"Senhor Andrew!" ela gritou, correndo em direção à borda da piscina.

Nora sentiu o pânico tomar conta de seu corpo assim que viu Andrew afundar na água sem reação. Ela não pensou duas vezes e, desesperada, pulou na piscina. O corpo dele, embora pesado e inerte, fez com que ela tivesse que reunir todas as suas forças para puxá-lo à superfície. Com muita dificuldade, ela conseguiu arrastar Andrew até a beira da piscina e, finalmente, o colocou sobre o chão da área.

" Senhor Andrew! Andrew!" ela chamou, sem resposta. Tremendo, ela pegou o telefone para ligar para a emergência, mas então se lembrou do contrato que havia assinado — ninguém poderia saber da condição dele. Não tinha escolha. Desesperada, ela se ajoelhou ao lado de seu corpo e começou a fazer respiração boca a boca, seus lábios tocando os dele enquanto lutava para trazê-lo de volta.

"Vamos, por favor... Acorda!" ela implorava, repetindo o processo. Mesmo com o esforço, ele não reagiu. Nora, com o coração acelerado, começou a fazer compressões no abdômen dele, pressionando com força enquanto suava de nervosismo. Ela fez outra tentativa de respiração boca a boca, e finalmente, Andrew tossiu violentamente, expelindo a água que tinha engolido.

Ele se sentou lentamente, ainda atordoado, enquanto Nora, ajoelhada ao seu lado, respirava aliviada por ele ter acordado. Seu coração ainda batia acelerado.

"Você está bem?" ela perguntou, ainda sem acreditar que ele estava consciente.

"Estou... acho que sim," respondeu Andrew, recuperando o fôlego. Ele olhou para ela com uma mistura de gratidão e surpresa. "Você me salvou, Nora. Eu devo o resto dos meus dias a você. Se eu tivesse ficado sozinho, teria morrido afogado."

Nora, ainda nervosa, deu um leve tapa em seu ombro, tentando aliviar a tensão com um toque de humor. "Você quase me matou de susto! Não faça mais isso! Acho que seria melhor você ir ao hospital."

Andrew, ainda ofegante, deu um sorriso fraco. "Não se preocupe, vou ligar para o meu médico. Ele vai vir aqui. Se quiser, você pode ir para casa descansar."

Nora balançou a cabeça firmemente. "De jeito nenhum. Vou ficar aqui para garantir que você não desmaie novamente. Vou esperar pelo médico."

Andrew, com um olhar de admiração, assentiu. "Bom, já que é assim... Vamos lá para dentro. Vou procurar algo para você vestir," disse, enquanto se levantava devagar.

Nora e Andrew subiram as escadas em silêncio, a tensão do momento ainda pairando no ar. Quando chegaram à porta do quarto dele, Andrew parou, apoiando-se um pouco contra o batente.

"Nora, por favor, pode vasculhar meu closet. Deve ter alguma roupa minha que você possa usar até a sua secar. E também deve haver algumas toalhas por lá. Só vou ligar para o meu médico," ele disse, com um tom suave, mas ainda visivelmente abalado.

Ela assentiu enquanto ele pegava o telefone e, com passos cuidadosos, entrou no quarto luxuoso. O closet era espaçoso, repleto de ternos impecavelmente alinhados. Depois de procurar por alguns minutos, ela encontrou um confortável conjunto de moletom, simples, mas com o toque de elegância que combinava com Andrew. Enquanto se vestia, Nora foi tomada por uma lembrança de seu ex, Victor. Quantas vezes ela havia feito o mesmo com as roupas dele, vestindo-as após passarem a noite juntos? Ela suspirou, apertando os lábios e murmurando para si mesma, "Canalha."

Depois de se vestir, sentiu-se um pouco mais à vontade no confortável moletom de Andrew. Mas a lembrança ainda incomodava. Victor tinha sido uma parte importante da sua vida, mas agora, pensar nele só trazia dor e traição.

Do lado de fora do quarto, Andrew desligava o telefone após conversar com seu médico. Ele bateu suavemente na porta, sua voz firme, mas gentil. "Nora, posso entrar?"

Ela respirou fundo antes de responder. "Sim, já estou saindo."

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