Capitulo 3

Aurora Vidal é uma jovem enfermeira de espírito forte e um passado marcado por tragédias. Criada em um bordel pela mãe, que era prostituta, Aurora conheceu desde muito cedo o lado sombrio da vida. As dificuldades e a violência a moldaram, tornando-a uma mulher desconfiada, especialmente em relação aos homens e ao amor. No lugar onde cresceu, viu e ouviu muitas coisas, coisas essas que eram mais que traumatizantes para uma criança. 

Alguns clientes que esbarravam com ela nos corredores, acreditavam que ela também estava disponível, mesmo quando ainda era apenas uma menina, e não foram poucas as propostas que ela havia recebido. Alguns eram verdadeiramente insistentes, chegando até mesmo a se tornarem perigosos. Com todas essas dificuldades ,ela havia conseguido crescer sem maiores danos, mas verdadeiramente impactada com toda a tristeza e dor que via nas mulheres que trabalhavam com sua mãe. 

Quando a mãe faleceu, ela tinha quase dezoito anos, seguiu morando no bordel por algum tempo, até conseguir um emprego e ir morar em um pensionato. Ela começou uma faculdade e se afundou em dívidas estudantis, até que um pai que ela nem sabia que existia apareceu milagrosamente, quitando suas dívidas e comprando uma casa para os dois morarem.

A descoberta de seu pai, um homem que ela não sabia que existia, trouxe um misto de emoções. O pai, que aparece em sua vida tardiamente, se apresenta não como um herói, mas como um homem frágil, diante de um câncer. Aurora, que depois da morte precoce de sua mãe sempre teve que se virar sozinha, se vê agora em uma situação em que precisa ser a cuidadora, e o peso disso, somado à dor de ver o homem que poderia ter sido uma figura protetora em sua vida, debilitado e à beira da morte, é quase insuportável. 

A situação financeira do pai, agravada pela gravidade do câncer, leva a família à falência. Aurora, que sempre teve dificuldades financeiras, agora se vê sobrecarregada, não só com a doença do pai, mas também com as dívidas deixadas para trás. Isso a obrigava a buscar ainda mais força para lidar com suas próprias inseguranças e medos, enquanto tenta cumprir seu papel de filha.

Aurora estava sentada no pequeno e discreto restaurante, frente a frente com um lunático. Certamente ele havia fugido recentemente de algum hospício. Reuniu toda a paciência que tinha para responder a proposta que ele havia feito.

— Deixa eu ver se eu entendi. Você diz que meu pai te deve dinheiro, entre outras coisas, e que você tem provas do envolvimento dele com o crime organizado. E se eu não aceitar essa sua proposta, você vai entregá-lo para passar o tempo que resta a ele de vida na prisão?

— É basicamente isso.

Respondeu calmamente o maluco que havia se apresentado como Enrico.

— Bem senhor…

— Mancini, Enrico Mancine. 

Ele lembrou-a de seu nome.

— Sim, o que eu acho, é que o senhor é maluco, ou na melhor das hipóteses, está assistindo muitos filmes desses que estão deixando as mulheres alucinadas. Sabe, 50 tons, 365 dias. Mas acontece que chicote, algema, corda de alpinista não é muito a minha praia. Nem assinar contratos me dispondo a ser amante de um homem feito que gosta de bater em mulheres mascarado e vestindo roupa de couro.

— Senhorita, eu não sei se entendeu, que você não tem muitas opções aqui. Realmente quer ver seu pai passar seus últimos dias sozinho em uma prisão? 

Aurora folheou o contrato absurdo que havia acabado de ler outra vez. Aquilo não podia ser real, tinha que ser algum trote ou pegadinha. O mais seguro seria sair dali e ir diretamente na polícia, mas resolveu falar com quem poderia lhe dar respostas, seu pai.

— Senhor, eu vou conversar com meu pai, tenho o seu cartão, e se isso não fosse uma pegadinha e o senhor estivesse realmente propondo o que diz nesse papel, eu entraria em contato para acharmos uma saída menos, uma saída que não envolvesse eu amordaçada.

Quando ela chegou em casa e confrontou o pai, ele confirmou que tinha um passado criminoso, que havia fugido da organização quando descobriu que tinha uma filha, e que o dinheiro que roubou foi para financiar a faculdade dela. Aurora sentiu o chão sumir sobre seus pés, era bom demais para ser verdade, ter aparecido um pai que pagou as suas dívidas e financiou seus estudos.

— Mas minha filha, vamos fugir, podemos ir para longe, o Enrico não vai nos encontrar.

— Como pai, e o seu tratamento? Você está bastante debilitado, e nosso dinheiro já acabou. Se aquele cara é quem diz que é, eu suspeito que irá até o inferno atrás de nós.

— Eu não posso admitir que você passe por uma humilhação dessas por minha causa.

— Relaxa, eu vou falar com ele, tentar negociar.

Aurora ainda carregava alguma esperança de que aquilo tudo não passasse de uma piada de mal gosto daquele italiano todo engomado.

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