capítulo 7

Nos dias seguintes fizeram diversos roteiros turísticos que a cidade oferecia. Conheceram várias praias e prédios históricos. Em um dos dias ele a levou para um passeio de barco pela praia rochosa,  o barco obviamente fora alugado apenas para eles, e a paisagem era incrível.

 Aurora chegou à conclusão que quando Enrico não estava com aquele papo de que ela pertencia a ele e blá, blá, blá, até que ele não era de todo um pé no saco. Parecia inclusive, que às vezes ele vestia aquele personagem de mafioso malvado, que comprava mulheres para abusar delas. Era muito bonito, ela precisava admitir a cada dia que se levantava da cama e o encontrava esperando por ela, para a próxima grande aventura. Um moreno de corpo bastante definido e muito alto. Um homem que devia ter um tipo bem específico de mulher, um tipo que certamente não era o dela, e isso só a deixava ainda mais confusa sobre o acordo que ele propôs. 

— Realmente, esse roteiro vale cada centavo. Eu nunca havia visto as praias dessa perspectiva.

Aurora o olhou incrédula.

— É sério que você tem uma casa aqui e nunca havia feito esse passeio de barco?

Ele deu de ombros ao responder.

— Eu só, nunca achei necessário…comprei essa casa com o argumento de que queria um lugar para relaxar, mas isso nunca aconteceu. Não estive aqui tantas vezes assim, e na maioria delas tinha algum objetivo muito claro em mente.

Enrico percebeu que havia sido sincero demais, mas já era tarde, Aurora havia compreendido claramente o que ele havia querido dizer.

— Eu sei, não precisa dizer mais nada. Com certeza esteve aqui em alguma viagem rápida, tentando impressionar alguma supermodelo com quem estava saindo na ocasião. Não faz ideia do quanto isso é…previsível, para um cara como você!

— E o que seria exatamente ser “um cara como eu”?

— Ué, desse estilo assim...- Aurora gesticulou apontando para ele como se fosse algo obvio.- Tipo, dono da porra toda, que trabalha muito, tem muito sucesso e só pega mulheres maravilhosas para desestressar. 

Enrico teve que conter novamente um sorriso, ela fazia cada comentário estapafúrdio e sincero ao mesmo tempo.

— Definitivamente, essa é uma forma de definir a situação, eu sou obrigado a lhe dar crédito dessa vez.

— Você é obrigado a me dar crédito em diversas situações, porque se tem uma coisa que eu quase sempre tenho é razão. Razão e humildade, esses com certeza são os meus pontos fortes. -Aurora comentou, soando descontraída.— Mas é bom saber que você está finalmente aproveitando os benefícios de ter uma propriedade aqui, ao invés de ficar apenas trancado em um quarto com algumas dessas modelos que estampam as capas de revista. E vejam só que loucura, precisou de toda essa história absurda de contrato inspirado nos Cinquenta Tons, para eu, uma humilde enfermeira vir jogar na sua cara que se não mudasse seu comportamento de homem tão obcecado pelo trabalho, ia acabar tendo um AVC ou infarto. E devido a minha experiência profissional tenho que dizer que qualquer um dos dois pode ser fatal na sua idade.

Enrico colocou as duas mãos em seu próprio rosto como se estivesse chocado, sem disfarçar a perplexidade.

— É simplesmente absurda a quantidade de informações que sai por minuto da sua boca. A impressão que tenho é que você em algum momento engoliu uma enciclopédia.

— Enciclopédia? Cara, não achei que você fosse tão velho assim! Que tipo de pessoa ainda cita essas coisas nos dias de hoje, quer dizer, com o G****e e tudo mais?

— Um homem de trinta e quatro anos, que foi alfabetizado muito cedo, e tem o hábito de ler desde então.

Aurora saiu de perto dele e foi se servir de mais um copo de limonada, na luxuosa mesa de bufê que havia sido montada para ambos. Quando voltou, ele ainda estava sentado no mesmo lugar, no confortável sofá que dividiam durante o passeio.

— Gostar de ler é um ponto a seu favor!

Ele a olhou como se estivesse confuso sobre aquele comentário.

— Um ponto a favor de que exatamente?

— Sei lá, de não ter uma personalidade totalmente robótica!

Ela respondeu dando de ombros, bebendo tranquilamente mais um pouco da sua limonada.

— Eu não diria que tenho uma personalidade robótica, mas certamente não tenho a personalidade que você ou qualquer um esperaria de mim. Eu vivo em um mundo onde se você demonstra fraqueza, os seus inimigos te comem vivo. Então eu não me preocupo em ser agradável, simpático e carismático. A não ser, é claro, que eu precise ser em prol de algum objetivo. Eu procuro me manter inacessível, pois isso afasta incômodos e pessoas desnecessárias. Quando se tem dinheiro e poder as pessoas vêm atrás de você como abutres, é preciso estar sempre vigilante. Se eu tenho um objetivo, eu vou atrás dele, custe o que custar e por último, eu não costumo sentir nenhuma piedade ou culpa, pois duvido que alguém demonstrasse isso por mim.

Ele lhe respondeu, encarando-a bastante sério. Aurora desviou o olhar para o mar ao redor deles, visivelmente desconfortável com a sinceridade de suas palavras. Ao que parecia Enrico Mansini havia encontrado uma ou duas pessoas interesseiras em sua vida, mas também, como todo aquele dinheiro aquilo não era nenhuma surpresa.

— Está aí uma coisa em que eu não posso contradizê-lo senhor Mansini, o mundo não é um lugar que trata bem pessoas fracas. E alguns aprendem isso das piores maneiras.

Quando terminaram o passeio já era quase noite, comeram algo e se recolheram cedo, Enrico alegou estar cansado de tanto turismo. Aquela foi uma tarde interessante, ponderou Aurora, não esperava que ele fosse se abrir tanto. O que será que ela podia esperar dos próximos dias?

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