Nos dias seguintes fizeram diversos roteiros turísticos que a cidade oferecia. Conheceram várias praias e prédios históricos. Em um dos dias ele a levou para um passeio de barco pela praia rochosa, o barco obviamente fora alugado apenas para eles, e a paisagem era incrível.
Aurora chegou à conclusão que quando Enrico não estava com aquele papo de que ela pertencia a ele e blá, blá, blá, até que ele não era de todo um pé no saco. Parecia inclusive, que às vezes ele vestia aquele personagem de mafioso malvado, que comprava mulheres para abusar delas. Era muito bonito, ela precisava admitir a cada dia que se levantava da cama e o encontrava esperando por ela, para a próxima grande aventura. Um moreno de corpo bastante definido e muito alto. Um homem que devia ter um tipo bem específico de mulher, um tipo que certamente não era o dela, e isso só a deixava ainda mais confusa sobre o acordo que ele propôs.
— Realmente, esse roteiro vale cada centavo. Eu nunca havia visto as praias dessa perspectiva.
Aurora o olhou incrédula.
— É sério que você tem uma casa aqui e nunca havia feito esse passeio de barco?
Ele deu de ombros ao responder.
— Eu só, nunca achei necessário…comprei essa casa com o argumento de que queria um lugar para relaxar, mas isso nunca aconteceu. Não estive aqui tantas vezes assim, e na maioria delas tinha algum objetivo muito claro em mente.
Enrico percebeu que havia sido sincero demais, mas já era tarde, Aurora havia compreendido claramente o que ele havia querido dizer.
— Eu sei, não precisa dizer mais nada. Com certeza esteve aqui em alguma viagem rápida, tentando impressionar alguma supermodelo com quem estava saindo na ocasião. Não faz ideia do quanto isso é…previsível, para um cara como você!
— E o que seria exatamente ser “um cara como eu”?
— Ué, desse estilo assim...- Aurora gesticulou apontando para ele como se fosse algo obvio.- Tipo, dono da porra toda, que trabalha muito, tem muito sucesso e só pega mulheres maravilhosas para desestressar.
Enrico teve que conter novamente um sorriso, ela fazia cada comentário estapafúrdio e sincero ao mesmo tempo.
— Definitivamente, essa é uma forma de definir a situação, eu sou obrigado a lhe dar crédito dessa vez.
— Você é obrigado a me dar crédito em diversas situações, porque se tem uma coisa que eu quase sempre tenho é razão. Razão e humildade, esses com certeza são os meus pontos fortes. -Aurora comentou, soando descontraída.— Mas é bom saber que você está finalmente aproveitando os benefícios de ter uma propriedade aqui, ao invés de ficar apenas trancado em um quarto com algumas dessas modelos que estampam as capas de revista. E vejam só que loucura, precisou de toda essa história absurda de contrato inspirado nos Cinquenta Tons, para eu, uma humilde enfermeira vir jogar na sua cara que se não mudasse seu comportamento de homem tão obcecado pelo trabalho, ia acabar tendo um AVC ou infarto. E devido a minha experiência profissional tenho que dizer que qualquer um dos dois pode ser fatal na sua idade.
Enrico colocou as duas mãos em seu próprio rosto como se estivesse chocado, sem disfarçar a perplexidade.
— É simplesmente absurda a quantidade de informações que sai por minuto da sua boca. A impressão que tenho é que você em algum momento engoliu uma enciclopédia.
— Enciclopédia? Cara, não achei que você fosse tão velho assim! Que tipo de pessoa ainda cita essas coisas nos dias de hoje, quer dizer, com o G****e e tudo mais?
— Um homem de trinta e quatro anos, que foi alfabetizado muito cedo, e tem o hábito de ler desde então.
Aurora saiu de perto dele e foi se servir de mais um copo de limonada, na luxuosa mesa de bufê que havia sido montada para ambos. Quando voltou, ele ainda estava sentado no mesmo lugar, no confortável sofá que dividiam durante o passeio.
— Gostar de ler é um ponto a seu favor!
Ele a olhou como se estivesse confuso sobre aquele comentário.
— Um ponto a favor de que exatamente?
— Sei lá, de não ter uma personalidade totalmente robótica!
Ela respondeu dando de ombros, bebendo tranquilamente mais um pouco da sua limonada.
— Eu não diria que tenho uma personalidade robótica, mas certamente não tenho a personalidade que você ou qualquer um esperaria de mim. Eu vivo em um mundo onde se você demonstra fraqueza, os seus inimigos te comem vivo. Então eu não me preocupo em ser agradável, simpático e carismático. A não ser, é claro, que eu precise ser em prol de algum objetivo. Eu procuro me manter inacessível, pois isso afasta incômodos e pessoas desnecessárias. Quando se tem dinheiro e poder as pessoas vêm atrás de você como abutres, é preciso estar sempre vigilante. Se eu tenho um objetivo, eu vou atrás dele, custe o que custar e por último, eu não costumo sentir nenhuma piedade ou culpa, pois duvido que alguém demonstrasse isso por mim.
Ele lhe respondeu, encarando-a bastante sério. Aurora desviou o olhar para o mar ao redor deles, visivelmente desconfortável com a sinceridade de suas palavras. Ao que parecia Enrico Mansini havia encontrado uma ou duas pessoas interesseiras em sua vida, mas também, como todo aquele dinheiro aquilo não era nenhuma surpresa.
— Está aí uma coisa em que eu não posso contradizê-lo senhor Mansini, o mundo não é um lugar que trata bem pessoas fracas. E alguns aprendem isso das piores maneiras.
Quando terminaram o passeio já era quase noite, comeram algo e se recolheram cedo, Enrico alegou estar cansado de tanto turismo. Aquela foi uma tarde interessante, ponderou Aurora, não esperava que ele fosse se abrir tanto. O que será que ela podia esperar dos próximos dias?
Na manhã seguinte, Enrico mandou a empregada a chamar para tomar café da manhã com ele no jardim.— No próximo final de semana eu vou receber alguns amigos. Tentei evitar que eles viessem, mas são pessoas bastante próximas e quando souberam que estou aqui, eles se convidaram para passar um final de semana. Vão chegar na sexta e ir embora no domingo. Eu quero que você vá arrumar um pouco o cabelo, as unhas, enfim, dar um jeito nisso tudo. Ah, e também deve comprar umas roupas. Como seríamos só nós dois, eu não havia me preocupado com esses detalhes, mas agora teremos mais pessoas interagindo conosco, não é aceitável você se apresentar desta maneira. As pessoas esperam um certo padrão das minhas mulheres, você entende?Quando ele terminou de falar para calmamente mastigar um pedaço da torta que ela mesmo já havia provado e estava maravilhosa, Aurora o encarava estupefata com o que havia ouvido da boca dele. Foram comentários, que apesar de velados, deixaram claro o que ele pensava sobre
Enquanto Aurora estava na cidade, Enrico aproveitava para finalizar alguns e-mails importantes em seu escritório. O ambiente era iluminado, com uma grande janela que oferecia uma vista deslumbrante de sua praia particular, mas ele raramente levantava os olhos do computador. Sua mente estava focada em cumprir seu objetivo e a inquietação crescente de Aurora era um indício de que seu plano estava funcionando. Ele sabia que a jovem estava tensa, esperando a qualquer momento que ele invadisse seu quarto ou a forçasse a cumprir o suposto acordo. Mal sabia ela que ele não tinha a menor intenção de fazer nada disso.Na verdade, Enrico se divertia com a situação. Enviar fotos dos dois juntos na praia e em diversos passeios, sempre com uma legenda carregada de insinuações, era uma estratégia meticulosa para atormentar o pai dela. Ele queria que o homem acreditasse que sua filha estava presa em uma armadilha degradante, e o simples pensamento disso deveria ser insuportável para ele. Era quase i
Embora as palavras de Enrico ainda ecoassem de forma incômoda em sua mente, ela sabia que não podia permitir que o julgamento de alguém moldasse a maneira como via a si mesma. Aurora sabia que era muito mais do que o olhar crítico de terceiros.Decidiu que o primeiro passo seria passar em um salão. Um mimo que nunca havia se permitido. Entrou no ambiente iluminado e cheio de espelhos, onde o cheiro de produtos capilares se misturava ao perfume suave de esmaltes e cremes. Uma manicure, Joana, a recebeu com um sorriso caloroso. — O que vamos fazer hoje?Aurora se acomodou em uma poltrona confortável e, enquanto Joana começava a cuidar das unhas, explicou: — Quero algo especial. Algo que me faça sentir poderosa.Optou por um esmalte vermelho-vivo, que refletia sua determinação. Enquanto Joana terminava o trabalho impecável, Aurora foi levada para a área de cabelos, onde Marcos, o cabeleireiro, a esperava. Ele analisou os volumosos fios castanhos com olhar profissional e sugeriu: — Qu
A sexta-feira chegou ensolarada, mas Aurora não sentia o mesmo calor interno. Ela estava no jardim, o livro em mãos como uma desculpa para evitar conversas com Enrico. Desde a conversa ao telefone, em que ele a mencionara de forma tão ultrajante, ela sentia-se estranhamente desconfortável com ele. Mas, mesmo assim, não recusou o convite – ou melhor, a insistência – para participar da reunião com os amigos dele.Os convidados chegaram pouco depois do meio-dia, suas risadas enchendo o ar enquanto cruzavam a entrada. Da sala, Aurora ouviu o burburinho alegre e a voz familiar de Enrico liderando os cumprimentos. Ela hesitou, perguntando-se se deveria permanecer onde estava, mas logo percebeu que seria pior se ele a chamasse ou, pior, viesse buscá-la.Quando entrou na sala, Aurora foi recebida por um coro de cumprimentos calorosos. Havia dois casais e três homens solteiros, todos bem vestidos e muito educados. Enrico fazia as honras da casa com sorrisos e piadas, mas Aurora não deixou de n
O sábado amanheceu com o sol forte iluminando a casa e um céu sem nuvens. Aurora acordou cedo, ainda sentindo os resquícios das risadas e conversas da noite anterior. A casa estava animada com os convidados de Enrico, e o clima de descontração continuava.Depois de um café da manhã preguiçoso, todos foram para a área da piscina. Era impossível ignorar o cenário idílico: o azul cristalino da água contrastando com o verde exuberante do jardim. Aurora chegou alguns minutos depois, com um maiô preto de alças finas que acentuava suas curvas de forma elegante.Ela tentou se manter discreta, mas sua presença não passou despercebida. Enquanto as mulheres riam e conversavam, os homens frequentemente lançavam olhares em sua direção, especialmente Ricardo, que não escondia o fascínio. Aurora, no entanto, fingiu não notar, mergulhando na piscina e se juntando aos outros na brincadeira.Enrico estava sentado sob a sombra de um guarda-sol, aparentemente desinteressado, mas seus olhos a seguiam enqu
Aurora só podia estar testando a paciência dele, Enrico pensava, lutando para manter a expressão neutra enquanto observava a cena à distância. O vestido vermelho, com microbrilhos que refletiam a luz suave do salão, era algo que ele não esperava naquela ocasião. Não porque ela não tivesse direito de se vestir como quisesse – claro que tinha –, mas por ser impossível ignorá-la.Ela pode comprovar o seu ponto, não era preciso ser uma beldade para atrair olhares, e agora ela entendia isso melhor do que ninguém. Seu decote insinuava seios fartos de forma quase inocente, enquanto as pernas grossas e bem torneadas eram enfatizadas pelo corte do vestido e pelos saltos que a faziam parecer ainda mais confiante. Do outro lado da sala, Enrico segurava um copo de vinho que não tinha intenção de terminar. Ele observava Aurora rir e gesticular com facilidade, completamente à vontade entre os amigos dele – talvez até demais. Um dos homens do grupo, Ricardo, estava claramente se esforçando para cha
Havia algo na voz de Enrico que não deixava espaço para discussão. Aurora bufou, mas, mesmo contrafeita, seguiu com ele. Sua risada despreocupada de antes havia desaparecido, substituída por um olhar irritado enquanto ele a conduzia pelo corredor em direção ao escritório.Assim que chegaram e ele fechou a porta, ela se virou para ele com a expressão desafiadora que ele já conhecia bem. Em seguida ela caminhou até a mesa dele, largou a taça de vinho e se virou, escorando-se na mesa.— O que você precisa de tão urgente seu estraga prazeres?Enrico deu três passos largos em direção a ela, segurou sua cabeça e a beijou inesperadamente. Foi um beijo quente desde o início, possessivo. Sua l&iac
Aurora passou por ele bastante rígida, perplexa e muito chocada com o que havia acabado de acontecer. Nem em sonho ela voltaria para a sala e encararia os convidados dele como se nada tivesse acontecido.Foi direto para o seu quarto, se despiu e foi imediatamente tomar um banho. Aquilo havia sido inacreditável, como ela pode se entregar passivamente daquele jeito, e o que deu na cabeça dele para agir daquela forma.Ele havia deixado claro que aquele contrato não passaria de uma jogada para fazer o pai dela sofrer, que de forma alguma a achava atraente e que ela não tinha nada a ver com as mulheres com que ele costumava se envolver. Então porque ele havia feito aquilo? Como ela conseguiria encarar ele no dia seguinte, depois de terem compartilhado algo tão íntimo?