Capítulo 8

Na manhã seguinte, Enrico mandou a empregada a chamar para tomar café da manhã com ele no jardim.

— No próximo final de semana eu vou receber alguns amigos. Tentei evitar que eles viessem, mas são pessoas bastante próximas e quando souberam que estou aqui, eles se convidaram para passar um final de semana. Vão chegar na sexta e ir embora no domingo. Eu quero que você vá arrumar um pouco o cabelo, as unhas, enfim, dar um jeito nisso tudo. Ah, e também deve comprar umas roupas. Como seríamos só nós dois, eu não havia me preocupado com esses detalhes, mas agora teremos mais pessoas interagindo conosco, não é aceitável você se apresentar desta maneira. As pessoas esperam um certo padrão das minhas mulheres, você entende?

Quando ele terminou de falar para calmamente mastigar um pedaço da torta que ela mesmo já havia provado e estava maravilhosa, Aurora o encarava estupefata com o que havia ouvido da boca dele. Foram comentários, que apesar de velados, deixaram claro o que ele pensava sobre a aparência dela. Aquilo bateu fundo em seu interior, não é como se ela nunca tivesse se olhado no espelho, na verdade estava bem consciente da sua falta de gosto e tempo para vaidades. Contudo aquele relativo desleixo, fora o que muitas vezes a salvará, evitando que chamasse atenção dos clientes do bordel. 

Aquela era uma parte da sua armadura, que a deixava mais confiante para enfrentar o mundo. Ele tinha a dele, como havia confessado no dia anterior, e ela tinha a dela. Mas aquela não era uma revelação que ela lhe faria, ele não era digno de sua confiança para isso e também obviamente não estava nem minimamente interessado. Então ela engoliu o orgulho ferido e resolveu apenas seguir enfrentando-o no próprio jogo dele.

— Tudo bem, eu posso arrumar as unhas e o cabelo, mas aqueles quatro quilos a mais vai ser impossível perder até sexta! É melhor você pensar bem antes de levar esse contrato adiante.

— Não seja ridícula, eu não preciso dar satisfação a ninguém sobre com quem me relaciono. Mas eu não vou ser visto ao lado de uma mulher que não se preocupa nem um pouco com a própria imagem.

Enrico começava a dar sinais de que estava perdendo a paciência com aquela discussão.

— Então não seja! Me deixe ir embora e nunca terá que ser visto ao meu lado ou relacionado a mim de qualquer forma.

Ele respirou fundo e a encarou seriamente antes de responder de forma dura e incisiva.

—  Boa tentativa! O motorista estará te aguardando assim que terminar seu café. Leve o tempo que precisar e gaste o que for necessário, roupas, sapatos, o que quiser. Mas eu juro, que se você aparecer aqui com o cabelo verde, ou com alguma outra fantasia ridícula, eu vou perder o resto de paciência que estou tentando dedicar a você.

Aurora se levantou bruscamente e jogou o guardanapo sobre a mesa.

—  Sabe qual o seu principal erro, senhor Mancini? As suas idéias talvez sejam melhores que as minhas, me aguarde para ver se eu não apareço de cabelo verde, talvez até fantasiada de Grinch que roubou o natal na frente dos seus amigos.

Ele se jogou para trás na cadeira e semicerrou os olhos ao encará-la.

— Você não ousaria…

— E você não faz ideia do quanto eu posso ser criativa.

— Aurora, eu preciso lembrá-la que você assinou aquele contrato, inclusive o melhorou bastante a seu favor. Se continuar me testando e eu vier a perder de vez a paciência, seu querido pai vai passar os últimos meses de vida na cadeia, com dores, sem um tratamento humanizado. É realmente isso que você quer? Se for, então eu não entendo porque você veio até aqui.

O homem que proferia aquelas palavras com um olhar gelado, era o Enrico que havia se apresentado a ela naquele dia em seu escritório, quando havia lhe proposto o acordo. Naquele momento, não existia a sombra do homem com quem ela havia passeado de barco no dia anterior. Aurora resolveu se dar por vencida naquele momento e sair sem criar mais caso.

— Tudo bem, eu vou me arrumar e sair em vinte minutos.

Em seu quarto, não levou dez para se arrepender de ter desistido tão facilmente da discussão e resolver ir atrás dele novamente. O procurou no jardim e pela casa, encontrou-o em seu escritório, falando ao telefone. Achou melhor não interromper, mas antes que pudesse dar meia volta, se deu conta de que ele falava com alguém sobre ela.

— Não Lucius, você não entende, eu não aguento mais essa maluca! O que era para ser uma tortura para ela e aquele rato do pai dela, se transformou em uma tortura para mim. Não! Não ouse dizer que me avisou. Você sabia desde o início que eu não tinha a mínima intenção de encostar um dedo nela, que seria tudo baseado em pressão psicológica.

Houve uma pausa longa que fez ela ponderar que a outra pessoa estava falando do outro lado da linha, mas logo em seguida a voz de Enrico voltou a ser ouvida.

— É óbvio que não encostei um dedo nela, a garota é um caos e em nada faz o meu tipo. Além de não ser atraente, é visivelmente perturbada. É inconveniente, geniosa, simplória e maltrapilha! Agora tem mais essa, o Rafael e seus amiguinhos descobriram que estou aqui e vão vir para o final de semana. 

Houve mais um momento de silêncio em que Enrico parecia escutar o outro lado da linha.

 — Acredite, se eu tivesse como recusar que eles viessem eu o faria. Mas esse negócio que estou fechando com a família dele é importante demais, serei obrigado a recebê-los. A mandei na cidade para ver se consegue melhorar um pouco aquela aparência. Pode ser que se trocar aqueles trapos que ela chama de roupa ela se torne um pouco mais aceitável.

Aurora começou a andar pelo corredor sem conseguir ouvir mais, precisava sair dali antes que fosse apanhada escutando atrás da porta por alguém. Maluca, simplória, maltrapilha. Esses foram apenas alguns dos adjetivos nada lisonjeiros que ele havia usado para se referir a ela. A situação toda era muito constrangedora e ela não sabia se sentia raiva ou alívio ao descobrir que tudo não passava de uma armação, e que ele nunca havia planejado levá-la para a cama. 

— Aurora, Aurora, você foi muito amadora! 

Acreditar que um homem desses estaria realmente interessado em um caso tórrido com uma mulher comum como ela soava ridículo, e ela havia caído como um patinho. Decidiu ir de uma vez encontrar o motorista e fazer o que Enrico havia sugerido. Agora talvez estivesse mesmo precisando de um UP no visual, qualquer coisa que a fizesse se sentir um pouco melhor e menos ridícula.

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