Aurora chegou ao evento sozinha, como combinado. Enrico avisara que precisaria resolver algo antes e que a encontraria diretamente no salão. Ela se manteve firme ao entrar, ignorando o leve nervosismo que se instalara desde que saíra de seu quarto. O ambiente luxuoso era iluminado por um brilho dourado e preenchido pelo murmúrio de conversas refinadas. Sentia olhares sobre si, mas o único que realmente a interessava ainda não estava ali.
Quando finalmente o viu, parado perto do bar com um copo de uísque na mão, sentiu um estranho aperto no estômago. Mas nada comparado à expressão de Enrico ao avistá-la. Ele ficou imóvel por um instante, como se tivesse levado um golpe inesperado. Os olhos escuros percorreram seu corpo com um misto de fascinação e incredulidade. Aurora segurou o olhar dele, fingindo indiferen&cc
O calor da dança ainda pulsava no corpo de Aurora quando Enrico se afastou, inclinando-se para sussurrar em seu ouvido:— Preciso tratar de um assunto. Não demoro.Ela apenas assentiu, observando enquanto ele se afastava com passos firmes. Pegou outra taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava, mesmo sem intenção de beber. O simples ato de segurar a taça era uma distração para a inquietação que começava a se instalar em seu peito.Decidiu circular pelo salão, seus olhos analisando os convidados com indiferença, até que avistou uma escada discreta que levava ao mezanino. Subiu os degraus devagar, aproveitando a vista ampla que dali se tinha do evento. O brilho dourado dos lustres refletia nos cris
Enrico saiu do salão a passos largos, o coração martelando no peito. O que diabos havia acontecido com Aurora? O medo em seu rosto, a forma como fugira... algo estava terrivelmente errado.Ao virar a esquina da mansão, ele parou abruptamente. Seu olhar percorreu o jardim escuro até encontrar uma silhueta encolhida contra a parede de pedra. Seu peito apertou. Mesmo à distância, reconheceu o vestido azul-marinho.— Aurora? — chamou, sua voz carregada de urgência.Ela não respondeu.Ele avançou depressa, agachando-se ao lado dela. Seu corpo tremia, os braços apertados ao redor de si mesma. Lágrimas escorriam pelo rosto, e a respiração vinha em arquejos errático
O quarto do hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz fraca que vinha do corredor. Enrico estava sentado em uma poltrona ao lado da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas diante do rosto enquanto observava Aurora dormir.O calmante que lhe deram fizera efeito, e agora ela respirava de maneira ritmada, os traços relaxados depois da tempestade emocional que enfrentara horas antes. Mas Enrico não conseguia esquecer a imagem dela em estado de puro desespero, encolhida contra a parede escura, acreditando que estava morrendo.O que poderia tê-la levado àquele ponto?Ele a conhecia bem. Sabia que Aurora era intensa, explosiva, mas sempre tinha um controle absoluto sobre si mesma. Nunca a vira desmoronar daquele jeito. Algo muito grave acontecera na
Quando chegaram ao hotel, Aurora subiu rapidamente até seu quarto, ainda com o paletó de Enrico sobre os ombros. Nem se tocou em devolver a peça que ele havia emprestado ao saírem do hospital. Sua mente estava tomada por um único pensamento: precisava ir embora o quanto antes. Tomasso não demoraria a encontrá-la. Com o poder e a influência que ele possuía, logo estaria ali, no hotel, atrás dela. Não podia permitir isso.Abriu a porta do quarto com mãos trêmulas e entrou apressada, indo diretamente até a mala que havia deixado no canto do cômodo. Jogou o paletó sobre a cama e começou a recolher suas roupas de maneira frenética, sem sequer notar que Enrico a havia seguido. Ele entrou no quarto atrás dela, fechando a porta sem fazer barulho. Observou-a por alguns instantes, os olho
Aurora se recostou contra a cabeceira da cama, os olhos fixos no teto, sem saber se conseguiria dormir, mesmo exausta. O peso do medo ainda pressionava seu peito, um nó apertado em sua garganta. A ideia de que Tomasso poderia aparecer a qualquer momento a fazia sentir como se tivesse voltado aos dias de infância, quando ele a aterrorizava sem piedade. Cada sombra parecia maior, cada barulho mais ameaçador.— Eu não sei se vou conseguir dormir — confessou, a voz saindo baixa.Enrico, sentado na poltrona ao lado, observou-a atentamente.— Então eu fico com você — disse simplesmente.Aurora se virou para encará-lo, surpresa.— Não precisa, eu est
Após o filme terminar, Enrico se espreguiçou, alongando os braços acima da cabeça. Ele olhou para Aurora, que ainda estava recostada contra os travesseiros, distraída mexendo no controle remoto.— Preciso de um banho — anunciou ele, passando a mão pelos cabelos.Aurora deu de ombros, sem desviar os olhos da tela.— Então vai tomar um banho, não precisa anunciar.Ele ignorou o comentário e levantou-se, pegando o celular do criado-mudo.— Vou até meu quarto. Você vem comigo? — perguntou, lançando-lhe um olhar casual, mas claramente provocador.Ela arregalou os olhos, indi
Antes do filme terminar, Aurora já estava dormindo novamente. Enrico a observou por um instante, uma expressão preocupada tomando seu rosto. No dia seguinte, ele tinha uma pequena viagem programada para visitar uma possível aquisição. Como poderia ir e deixá-la sozinha? Além de ter prometido que não a abandonaria, estava genuinamente preocupado com sua segurança. Poderia deixar alguns de seus seguranças na porta do quarto dela, mas tinha certeza de que ela jamais aceitaria isso.De repente, uma ideia lhe ocorreu. Poderia pedir a seu irmão, Leonardo, para fazer-lhe companhia. Deixaria Matteo resolvendo as questões urgentes no escritório, enquanto Leonardo ficaria ao lado de Aurora. A ideia não lhe era totalmente agradável, mas a verdade era que Leonardo era a única pessoa em quem podia confiar par
Enrico se recostou na cadeira de couro escuro do escritório, iluminado apenas pela luz suave que vinha da janela, criando um ambiente sombrio, refletindo o clima da conversa. Seu olhar estava fixo nos papéis que Lucius havia colocado sobre a mesa, como se já estivesse antevendo a vingança se concretizando diante de seus olhos. Ele esfregou as mãos, uma sensação de prazer quase palpável nas pontas dos dedos.Lucius, por outro lado, parecia cada vez mais desconfortável, os óculos escorregando sobre o nariz enquanto ele tentava não demonstrar a crescente indignação. Sabia o quanto Enrico era capaz de fazer para atingir seus objetivos, mas aquilo ia além de qualquer coisa que ele já havia imaginado. O tom de voz de Enrico era calmo, mas havia um gelo nas palavras que deixava claro que a decisão estava tomada. No fundo, Lucius também sabia que seria tolo em tentar dissuadi-lo, mas o peso da ética ainda o incomodava.— Eu entendo que você esteja arrasado por tudo o que aconteceu, Enrico. Ma