Capítulo 6

A casa de praia de Enrico não era nada menos que maravilhosa. Uma verdadeira mansão na praia Cala de São Vicente. Aurora deveria saber que ele não frequentaria nada menos que as praias de Ibiza. A casa era em estilo americano, porém bastante opulenta. Tinha cerca de vinte cômodos ao todo. Uma enorme sala de jogos, duas piscinas, uma na parte externa e uma aquecida em uma área interna. Os dois únicos cômodos da casa que ela ainda não havia entrado eram o quarto e o escritório de Enrico. Esses eram zona de risco, e por mais que ela fizesse de tudo para provocá-lo, inclusive ficar chamando-o de Dom Corleone,fazendo alusão ao famoso mafioso do cinema, invadir assim o espaço dele era demais até mesmo para ela.

O seu lugar favorito na casa era a piscina, graças a ela já havia pegado um certo bronzeado, Enrico não gostava muito de frequentar praias populosas, e do jeito que ficava trancado naquele escritório, passava muito tempo imerso no trabalho. Aquilo nem poderia ser chamado de ferias na realidade. 

Já havia se passado uma semana e Enrico não tinha requisitado que ela cumprisse sua parte no acordo, o que de muitas formas era um alívio, mas também a tensão e a expectativa a estavam matando. Todo tempo ele fazia insinuações de que o momento estava chegando, de que aquela seria a noite, e nada acontecia.

 Aurora não conseguia dormir muito bem, com um certo receio de que ele entrasse no quarto. Sua mente começava a se questionar a qualquer barulho que escutasse durante a noite, e ela começava a se sentir paranoica. Contudo, estava ciente de que a qualquer momento Enrico poderia invadir seu espaço pessoal, forçando-a a cumprir o acordo de forma literal e humilhante.

Os empregados eram muito gentis e praticamente invisíveis. A casa estava sempre impecável, mas raramente Aurora via alguém fazendo qualquer trabalho. A comida vinha sempre de fora, de algum restaurante. Enrico havia comentado no primeiro dia que como passava pouco tempo ali, não valia a pena manter um cozinheiro. Na maioria das vezes ele pedia comida para os dois e eles faziam juntos as refeições, mas às vezes ele a avisava que estaria ocupado e era para ela pedir o que quisesse.

Acabou descobrindo que o motorista e as duas empregadas, dormiam na casa que ficava anexa à propriedade, o que significava que ela e Enrico eram as duas únicas pessoas na casa durante a noite.

Depois de dias evitando a presença de Enrico, Aurora o flagrou sozinho no jardim da casa, sentado em um banco de pedra, com um copo de whisky na mão e o olhar perdido no horizonte. O desgraçado era realmente bonito, mas não apenas bonito, era incrivelmente gostoso, como diriam as meninas da casa onde havia crescido. Se um tipo desses aparecesse por lá, as meninas seriam capazes de entrar em combate físico para ver quem iria ficar com ele. 

O cabelo era bastante preto e não muito curto, e ele usava sempre bem penteado para trás, com algum tipo de produto que o deixava extremamente alinhado, algo como um mousse ou gel. A pele era clara, o que destoava de sua ascendência italiana, e o porte era de alguém que praticava exercícios regularmente, mas não musculoso demais. Possuíam um corpo atlético e bem definido e era bastante alto. Usava sempre terno ou uma camisa e calça muito formais, até mesmo quando estava em casa. Apesar da aura de poderoso chefão, ele até que tinha um comportamento bem robótico, apenas trabalhando e fazendo de tudo para assustá-la. A única coisa que destoava dessa personalidade meio “olhos gelados e coração de pedra” era o pequeno brinco de diamante que ele usava na orelha esquerda. Aquele era um detalhe curioso, que Aurora não achava que combinava muito com toda aquela aparência austera.

Mas naquele momento, algo estava diferente na expressão dele, parecia diferente, mais... humano. Por impulso, ela se aproximou.

— Está tudo bem com você? — perguntou, surpreendendo a si mesma pela gentileza no tom.

Enrico ergueu os olhos, surpreso, mas logo lhe dirigiu um olhar cansado.

— Não esperava que você se preocupasse comigo.

Aurora deu de ombros, tentando parecer indiferente.

— Você está terrível, parece alguém que carrega o peso do mundo nas costas. Tem algo ruim acontecendo ou é só impressão minha?

Ele sorriu melancolicamente, mas não respondeu de imediato. Quando falou, sua voz parecia distante.

—Talvez isso seja um choque para você, mas nem sempre as coisas dão certo para mim. Todos os dias tem algo ruim acontecendo! Às vezes os problemas parece que vão me consumir por inteiro. São muitas empresas, muitos negócios, uma quantidade absurda de responsabilidades, e eu sou apenas um homem.

A sinceridade o deixou mais acessível, quase vulnerável. Aurora quase sucumbiu à culpa por ter pintado Enrico como um vilão unidimensional em sua mente, mas daí lembrou do porque estava alí, e recuperou algum vestígio de sanidade. 

— Para com isso, você não é “apenas um homem.” É o próprio Dom Corleone!

Enrico não pode evitar um sorriso quando ela o chamou outra vez por aquele apelido ridículo. Aquela mulher estava disposta a enlouquecê-lo.

— É sério, eu acho que você é o cara mais “manda-chuva” que eu já conheci. Deixa de chorar e vai aproveitar a vida, e todos esses milhões que deve ter na conta. Eu nunca vi um mafioso..

Aurora seguia sua divagação espontânea quando ele a interrompeu bruscamente.

—Bilhões!

— O que?

— Você disse que tenho milhões em minha conta, mas na verdade são bilhões, e em diversas contas diferentes!

Enrico declarou como se aquilo fosse algo óbvio. Aurora revirou os olhos, em uma expressão de pouco caso e deu de ombros.

— Tanto faz, mas talvez o que você precise é aproveitar as coisas simples, ou, pelo menos fingir que não é um homem que passa a vida inteira trancado no escritório.

Ele a olhou fixamente por um momento, como se visse algo nela que nunca havia notado antes. Então, colocou o copo ao lado e se levantou.

— Você está certa senhorita Vidal. Acho que está na hora de mudar isso. — Ele deu um passo na direção dela, inclinando-se o suficiente para que Aurora sentisse a intensidade do olhar dele. — Está bem Aurora, você conseguiu. A partir de agora, vou passar mais tempo com você, espero que esteja pronta para o que pediu.

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