A casa de praia de Enrico não era nada menos que maravilhosa. Uma verdadeira mansão na praia Cala de São Vicente. Aurora deveria saber que ele não frequentaria nada menos que as praias de Ibiza. A casa era em estilo americano, porém bastante opulenta. Tinha cerca de vinte cômodos ao todo. Uma enorme sala de jogos, duas piscinas, uma na parte externa e uma aquecida em uma área interna. Os dois únicos cômodos da casa que ela ainda não havia entrado eram o quarto e o escritório de Enrico. Esses eram zona de risco, e por mais que ela fizesse de tudo para provocá-lo, inclusive ficar chamando-o de Dom Corleone,fazendo alusão ao famoso mafioso do cinema, invadir assim o espaço dele era demais até mesmo para ela.
O seu lugar favorito na casa era a piscina, graças a ela já havia pegado um certo bronzeado, Enrico não gostava muito de frequentar praias populosas, e do jeito que ficava trancado naquele escritório, passava muito tempo imerso no trabalho. Aquilo nem poderia ser chamado de ferias na realidade.
Já havia se passado uma semana e Enrico não tinha requisitado que ela cumprisse sua parte no acordo, o que de muitas formas era um alívio, mas também a tensão e a expectativa a estavam matando. Todo tempo ele fazia insinuações de que o momento estava chegando, de que aquela seria a noite, e nada acontecia.
Aurora não conseguia dormir muito bem, com um certo receio de que ele entrasse no quarto. Sua mente começava a se questionar a qualquer barulho que escutasse durante a noite, e ela começava a se sentir paranoica. Contudo, estava ciente de que a qualquer momento Enrico poderia invadir seu espaço pessoal, forçando-a a cumprir o acordo de forma literal e humilhante.
Os empregados eram muito gentis e praticamente invisíveis. A casa estava sempre impecável, mas raramente Aurora via alguém fazendo qualquer trabalho. A comida vinha sempre de fora, de algum restaurante. Enrico havia comentado no primeiro dia que como passava pouco tempo ali, não valia a pena manter um cozinheiro. Na maioria das vezes ele pedia comida para os dois e eles faziam juntos as refeições, mas às vezes ele a avisava que estaria ocupado e era para ela pedir o que quisesse.
Acabou descobrindo que o motorista e as duas empregadas, dormiam na casa que ficava anexa à propriedade, o que significava que ela e Enrico eram as duas únicas pessoas na casa durante a noite.
Depois de dias evitando a presença de Enrico, Aurora o flagrou sozinho no jardim da casa, sentado em um banco de pedra, com um copo de whisky na mão e o olhar perdido no horizonte. O desgraçado era realmente bonito, mas não apenas bonito, era incrivelmente gostoso, como diriam as meninas da casa onde havia crescido. Se um tipo desses aparecesse por lá, as meninas seriam capazes de entrar em combate físico para ver quem iria ficar com ele.
O cabelo era bastante preto e não muito curto, e ele usava sempre bem penteado para trás, com algum tipo de produto que o deixava extremamente alinhado, algo como um mousse ou gel. A pele era clara, o que destoava de sua ascendência italiana, e o porte era de alguém que praticava exercícios regularmente, mas não musculoso demais. Possuíam um corpo atlético e bem definido e era bastante alto. Usava sempre terno ou uma camisa e calça muito formais, até mesmo quando estava em casa. Apesar da aura de poderoso chefão, ele até que tinha um comportamento bem robótico, apenas trabalhando e fazendo de tudo para assustá-la. A única coisa que destoava dessa personalidade meio “olhos gelados e coração de pedra” era o pequeno brinco de diamante que ele usava na orelha esquerda. Aquele era um detalhe curioso, que Aurora não achava que combinava muito com toda aquela aparência austera.
Mas naquele momento, algo estava diferente na expressão dele, parecia diferente, mais... humano. Por impulso, ela se aproximou.
— Está tudo bem com você? — perguntou, surpreendendo a si mesma pela gentileza no tom.Enrico ergueu os olhos, surpreso, mas logo lhe dirigiu um olhar cansado.— Não esperava que você se preocupasse comigo.Aurora deu de ombros, tentando parecer indiferente.
— Você está terrível, parece alguém que carrega o peso do mundo nas costas. Tem algo ruim acontecendo ou é só impressão minha?Ele sorriu melancolicamente, mas não respondeu de imediato. Quando falou, sua voz parecia distante.
—Talvez isso seja um choque para você, mas nem sempre as coisas dão certo para mim. Todos os dias tem algo ruim acontecendo! Às vezes os problemas parece que vão me consumir por inteiro. São muitas empresas, muitos negócios, uma quantidade absurda de responsabilidades, e eu sou apenas um homem.
A sinceridade o deixou mais acessível, quase vulnerável. Aurora quase sucumbiu à culpa por ter pintado Enrico como um vilão unidimensional em sua mente, mas daí lembrou do porque estava alí, e recuperou algum vestígio de sanidade.
— Para com isso, você não é “apenas um homem.” É o próprio Dom Corleone!
Enrico não pode evitar um sorriso quando ela o chamou outra vez por aquele apelido ridículo. Aquela mulher estava disposta a enlouquecê-lo.
— É sério, eu acho que você é o cara mais “manda-chuva” que eu já conheci. Deixa de chorar e vai aproveitar a vida, e todos esses milhões que deve ter na conta. Eu nunca vi um mafioso..
Aurora seguia sua divagação espontânea quando ele a interrompeu bruscamente.
—Bilhões!
— O que?
— Você disse que tenho milhões em minha conta, mas na verdade são bilhões, e em diversas contas diferentes!
Enrico declarou como se aquilo fosse algo óbvio. Aurora revirou os olhos, em uma expressão de pouco caso e deu de ombros.
— Tanto faz, mas talvez o que você precise é aproveitar as coisas simples, ou, pelo menos fingir que não é um homem que passa a vida inteira trancado no escritório.Ele a olhou fixamente por um momento, como se visse algo nela que nunca havia notado antes. Então, colocou o copo ao lado e se levantou.
— Você está certa senhorita Vidal. Acho que está na hora de mudar isso. — Ele deu um passo na direção dela, inclinando-se o suficiente para que Aurora sentisse a intensidade do olhar dele. — Está bem Aurora, você conseguiu. A partir de agora, vou passar mais tempo com você, espero que esteja pronta para o que pediu.Nos dias seguintes fizeram diversos roteiros turísticos que a cidade oferecia. Conheceram várias praias e prédios históricos. Em um dos dias ele a levou para um passeio de barco pela praia rochosa, o barco obviamente fora alugado apenas para eles, e a paisagem era incrível. Aurora chegou à conclusão que quando Enrico não estava com aquele papo de que ela pertencia a ele e blá, blá, blá, até que ele não era de todo um pé no saco. Parecia inclusive, que às vezes ele vestia aquele personagem de mafioso malvado, que comprava mulheres para abusar delas. Era muito bonito, ela precisava admitir a cada dia que se levantava da cama e o encontrava esperando por ela, para a próxima grande aventura. Um moreno de corpo bastante definido e muito alto. Um homem que devia ter um tipo bem específico de mulher, um tipo que certamente não era o dela, e isso só a deixava ainda mais confusa sobre o acordo que ele propôs. — Realmente, esse roteiro vale cada centavo. Eu nunca havia visto as praias dessa
Na manhã seguinte, Enrico mandou a empregada a chamar para tomar café da manhã com ele no jardim.— No próximo final de semana eu vou receber alguns amigos. Tentei evitar que eles viessem, mas são pessoas bastante próximas e quando souberam que estou aqui, eles se convidaram para passar um final de semana. Vão chegar na sexta e ir embora no domingo. Eu quero que você vá arrumar um pouco o cabelo, as unhas, enfim, dar um jeito nisso tudo. Ah, e também deve comprar umas roupas. Como seríamos só nós dois, eu não havia me preocupado com esses detalhes, mas agora teremos mais pessoas interagindo conosco, não é aceitável você se apresentar desta maneira. As pessoas esperam um certo padrão das minhas mulheres, você entende?Quando ele terminou de falar para calmamente mastigar um pedaço da torta que ela mesmo já havia provado e estava maravilhosa, Aurora o encarava estupefata com o que havia ouvido da boca dele. Foram comentários, que apesar de velados, deixaram claro o que ele pensava sobre
Enquanto Aurora estava na cidade, Enrico aproveitava para finalizar alguns e-mails importantes em seu escritório. O ambiente era iluminado, com uma grande janela que oferecia uma vista deslumbrante de sua praia particular, mas ele raramente levantava os olhos do computador. Sua mente estava focada em cumprir seu objetivo e a inquietação crescente de Aurora era um indício de que seu plano estava funcionando. Ele sabia que a jovem estava tensa, esperando a qualquer momento que ele invadisse seu quarto ou a forçasse a cumprir o suposto acordo. Mal sabia ela que ele não tinha a menor intenção de fazer nada disso.Na verdade, Enrico se divertia com a situação. Enviar fotos dos dois juntos na praia e em diversos passeios, sempre com uma legenda carregada de insinuações, era uma estratégia meticulosa para atormentar o pai dela. Ele queria que o homem acreditasse que sua filha estava presa em uma armadilha degradante, e o simples pensamento disso deveria ser insuportável para ele. Era quase i
Embora as palavras de Enrico ainda ecoassem de forma incômoda em sua mente, ela sabia que não podia permitir que o julgamento de alguém moldasse a maneira como via a si mesma. Aurora sabia que era muito mais do que o olhar crítico de terceiros.Decidiu que o primeiro passo seria passar em um salão. Um mimo que nunca havia se permitido. Entrou no ambiente iluminado e cheio de espelhos, onde o cheiro de produtos capilares se misturava ao perfume suave de esmaltes e cremes. Uma manicure, Joana, a recebeu com um sorriso caloroso. — O que vamos fazer hoje?Aurora se acomodou em uma poltrona confortável e, enquanto Joana começava a cuidar das unhas, explicou: — Quero algo especial. Algo que me faça sentir poderosa.Optou por um esmalte vermelho-vivo, que refletia sua determinação. Enquanto Joana terminava o trabalho impecável, Aurora foi levada para a área de cabelos, onde Marcos, o cabeleireiro, a esperava. Ele analisou os volumosos fios castanhos com olhar profissional e sugeriu: — Qu
A sexta-feira chegou ensolarada, mas Aurora não sentia o mesmo calor interno. Ela estava no jardim, o livro em mãos como uma desculpa para evitar conversas com Enrico. Desde a conversa ao telefone, em que ele a mencionara de forma tão ultrajante, ela sentia-se estranhamente desconfortável com ele. Mas, mesmo assim, não recusou o convite – ou melhor, a insistência – para participar da reunião com os amigos dele.Os convidados chegaram pouco depois do meio-dia, suas risadas enchendo o ar enquanto cruzavam a entrada. Da sala, Aurora ouviu o burburinho alegre e a voz familiar de Enrico liderando os cumprimentos. Ela hesitou, perguntando-se se deveria permanecer onde estava, mas logo percebeu que seria pior se ele a chamasse ou, pior, viesse buscá-la.Quando entrou na sala, Aurora foi recebida por um coro de cumprimentos calorosos. Havia dois casais e três homens solteiros, todos bem vestidos e muito educados. Enrico fazia as honras da casa com sorrisos e piadas, mas Aurora não deixou de n
O sábado amanheceu com o sol forte iluminando a casa e um céu sem nuvens. Aurora acordou cedo, ainda sentindo os resquícios das risadas e conversas da noite anterior. A casa estava animada com os convidados de Enrico, e o clima de descontração continuava.Depois de um café da manhã preguiçoso, todos foram para a área da piscina. Era impossível ignorar o cenário idílico: o azul cristalino da água contrastando com o verde exuberante do jardim. Aurora chegou alguns minutos depois, com um maiô preto de alças finas que acentuava suas curvas de forma elegante.Ela tentou se manter discreta, mas sua presença não passou despercebida. Enquanto as mulheres riam e conversavam, os homens frequentemente lançavam olhares em sua direção, especialmente Ricardo, que não escondia o fascínio. Aurora, no entanto, fingiu não notar, mergulhando na piscina e se juntando aos outros na brincadeira.Enrico estava sentado sob a sombra de um guarda-sol, aparentemente desinteressado, mas seus olhos a seguiam enqu
Aurora só podia estar testando a paciência dele, Enrico pensava, lutando para manter a expressão neutra enquanto observava a cena à distância. O vestido vermelho, com microbrilhos que refletiam a luz suave do salão, era algo que ele não esperava naquela ocasião. Não porque ela não tivesse direito de se vestir como quisesse – claro que tinha –, mas por ser impossível ignorá-la.Ela pode comprovar o seu ponto, não era preciso ser uma beldade para atrair olhares, e agora ela entendia isso melhor do que ninguém. Seu decote insinuava seios fartos de forma quase inocente, enquanto as pernas grossas e bem torneadas eram enfatizadas pelo corte do vestido e pelos saltos que a faziam parecer ainda mais confiante. Do outro lado da sala, Enrico segurava um copo de vinho que não tinha intenção de terminar. Ele observava Aurora rir e gesticular com facilidade, completamente à vontade entre os amigos dele – talvez até demais. Um dos homens do grupo, Ricardo, estava claramente se esforçando para cha
Havia algo na voz de Enrico que não deixava espaço para discussão. Aurora bufou, mas, mesmo contrafeita, seguiu com ele. Sua risada despreocupada de antes havia desaparecido, substituída por um olhar irritado enquanto ele a conduzia pelo corredor em direção ao escritório.Assim que chegaram e ele fechou a porta, ela se virou para ele com a expressão desafiadora que ele já conhecia bem. Em seguida ela caminhou até a mesa dele, largou a taça de vinho e se virou, escorando-se na mesa.— O que você precisa de tão urgente seu estraga prazeres?Enrico deu três passos largos em direção a ela, segurou sua cabeça e a beijou inesperadamente. Foi um beijo quente desde o início, possessivo. Sua l&iac