Focada em seu objetivo, ela havia ido encontrá-lo no aeroporto, vestida totalmente a caráter. Deu um pouco de trabalho procurar, mas ela encontrou em uma loja de fantasias um vestido que era formado por um cropped branco e uma micro saia azul, ligados apenas por uma argola na frente. Ela também comprou botas de couro pretas que passavam bastante na altura dos joelhos, um sobretudo bege que ia quase até os pés e uma peruca loira com corte Chanel. Para completar o look, ela fez uma tatuagem de Henna, na parte que ficava amostra na barriga, com um enorme e visível, “Enrico” escrito.
Aquela brincadeira não havia saído barata, mas ela fez questão de gastar o dinheiro que ele havia dado para que ela se preparasse para a viagem. Enquanto ela caminhava no saguão do aeroporto, indo de encontro a ele, devidamente trajada como um cosplay da Julia Roberts em uma linda mulher, Aurora não tinha certeza pela expressão de choque no rosto de Enrico, se ele a mataria ali mesmo ou sairia correndo em alguma direção, fingindo que não a conhecia.
Ela não sabia de onde havia reunido coragem para uma atitude daquelas, sempre fora uma pessoa discreta, que buscou chamar o mínimo de atenção possível para si mesma, mas aquele idiota a havia tirado do sério. Ele precisava ser punido de alguma forma, nem que fosse passando algum constrangimento.
Apertou o passo em direção a ele, antes que perdesse a coragem, ou ele tivesse a oportunidade de fugir, ela envolveu os braços ao redor do pescoço de um Enrico ainda paralisado, em estado de choque. Eles obviamente eram o objeto de interesse e olhares especulativos de todo o saguão do aeroporto.
— Eu ja cheguei docinho, estou pronta para fazer valer toda a grana que você pagou.
Ela disse, segurando a mão dele, o arrastando em direção ao portão de embarque, mas não sem antes dar um notório e barulhento tapa na bunda dele, o que o pegou de surpresa e o deixou ainda mais chocado.
Ele se recuperou rapidamente, a puxou para um canto mais discreto,que ficava perto dos banheiros.
— Qual o seu problema, você por acaso é maluca? O que tem na cabeça para aparecer aqui vestida assim?
Ela fingiu uma expressão inocente.
— Ué, eu achei que você ia gostar, devido a natureza do nosso acordo. Eu achei que seria legal entrar no clima. Pena que eu não consegui uma caixa de som, a ideia era entrar com ela tocando Pretty Woman, em um volume bem alto. Isso sim, ia ser muito legal. Mas eu achei que a tatuagem que eu fiz em sua homenagem deu uma compensada, você não concorda?
Ela disse, apontando para o nome dele, que tinha escrito na barriga.
Ele soltou a mão dela bruscamente, com os olhos cheios de fúria.
— Sua ridícula! Essa sua brincadeirinha não teve graça nenhuma. Além disso, você nem tem uma barriga que possa andar amostra assim. Está ridícula com essa roupa, deveria ter perdido uns quatro quilos antes de sequer pensar em usá-lá.
Aurora não se deixou abalar com a grosseria dele, afinal teria que ter um psicológico muito forte para aguentar aquele período.
— Bem, não ouvi você reclamar desses quatro quilos a mais quando me fez assinar os papéis. Estou vendo que não poderei usar aquela máxima que diz, "Quem tá comendo não está reclamando", pois pelo visto, você não está totalmente contente com o produto que conseguiu. Olha, você é um homem fino, não precisa passar por isso, ainda dá tempo de desistir.
Ela o provocou sem muita esperança, mas em seu interior, desejava que ele mudasse de ideia.
Enrico a observou por um momento em silêncio, a deixando na expectativa.
— Não sonha o lunática, agora vamos logo ou perderemos o avião.
— Sim, vamos querido, é tudo muito emocionante. Estou me sentindo como uma protagonista de um livro, e o título bem que poderia ser "Comprada por ele"! É bem original, gostei. Talvez um dia eu escreva a nossa história, e então vou chamá-la assim.
Ele saiu a arrastando até o portão de embarque, com vários pares de olhos curiosos direcionados a eles.
A viagem fora tranquila e silenciosa, mas o clima era pesado. Enrico seguia visivelmente irritado e sequer olhava em sua direção.
Quando chegaram na casa dele na praia, ele avisou que manteriam quartos separados, pois ele gostava de privacidade. Uma das empregadas lhe mostrou o quarto que lhe estava destinado, enquanto o motorista a ajudou com a bagagem.
A casa de praia de Enrico não era nada menos que maravilhosa. Uma verdadeira mansão na praia Cala de São Vicente. Aurora deveria saber que ele não frequentaria nada menos que as praias de Ibiza. A casa era em estilo americano, porém bastante opulenta. Tinha cerca de vinte cômodos ao todo. Uma enorme sala de jogos, duas piscinas, uma na parte externa e uma aquecida em uma área interna. Os dois únicos cômodos da casa que ela ainda não havia entrado eram o quarto e o escritório de Enrico. Esses eram zona de risco, e por mais que ela fizesse de tudo para provocá-lo, inclusive ficar chamando-o de Dom Corleone,fazendo alusão ao famoso mafioso do cinema, invadir assim o espaço dele era demais até mesmo para ela.O seu lugar favorito na casa era a piscina, graças a ela já havia pegado um certo bronzeado, Enrico não gostava muito de frequentar praias populosas, e do jeito que ficava trancado naquele escritório, passava muito tempo imerso no trabalho. Aquilo nem poderia ser chamado de ferias na
Nos dias seguintes fizeram diversos roteiros turísticos que a cidade oferecia. Conheceram várias praias e prédios históricos. Em um dos dias ele a levou para um passeio de barco pela praia rochosa, o barco obviamente fora alugado apenas para eles, e a paisagem era incrível. Aurora chegou à conclusão que quando Enrico não estava com aquele papo de que ela pertencia a ele e blá, blá, blá, até que ele não era de todo um pé no saco. Parecia inclusive, que às vezes ele vestia aquele personagem de mafioso malvado, que comprava mulheres para abusar delas. Era muito bonito, ela precisava admitir a cada dia que se levantava da cama e o encontrava esperando por ela, para a próxima grande aventura. Um moreno de corpo bastante definido e muito alto. Um homem que devia ter um tipo bem específico de mulher, um tipo que certamente não era o dela, e isso só a deixava ainda mais confusa sobre o acordo que ele propôs. — Realmente, esse roteiro vale cada centavo. Eu nunca havia visto as praias dessa
Na manhã seguinte, Enrico mandou a empregada a chamar para tomar café da manhã com ele no jardim.— No próximo final de semana eu vou receber alguns amigos. Tentei evitar que eles viessem, mas são pessoas bastante próximas e quando souberam que estou aqui, eles se convidaram para passar um final de semana. Vão chegar na sexta e ir embora no domingo. Eu quero que você vá arrumar um pouco o cabelo, as unhas, enfim, dar um jeito nisso tudo. Ah, e também deve comprar umas roupas. Como seríamos só nós dois, eu não havia me preocupado com esses detalhes, mas agora teremos mais pessoas interagindo conosco, não é aceitável você se apresentar desta maneira. As pessoas esperam um certo padrão das minhas mulheres, você entende?Quando ele terminou de falar para calmamente mastigar um pedaço da torta que ela mesmo já havia provado e estava maravilhosa, Aurora o encarava estupefata com o que havia ouvido da boca dele. Foram comentários, que apesar de velados, deixaram claro o que ele pensava sobre
Enquanto Aurora estava na cidade, Enrico aproveitava para finalizar alguns e-mails importantes em seu escritório. O ambiente era iluminado, com uma grande janela que oferecia uma vista deslumbrante de sua praia particular, mas ele raramente levantava os olhos do computador. Sua mente estava focada em cumprir seu objetivo e a inquietação crescente de Aurora era um indício de que seu plano estava funcionando. Ele sabia que a jovem estava tensa, esperando a qualquer momento que ele invadisse seu quarto ou a forçasse a cumprir o suposto acordo. Mal sabia ela que ele não tinha a menor intenção de fazer nada disso.Na verdade, Enrico se divertia com a situação. Enviar fotos dos dois juntos na praia e em diversos passeios, sempre com uma legenda carregada de insinuações, era uma estratégia meticulosa para atormentar o pai dela. Ele queria que o homem acreditasse que sua filha estava presa em uma armadilha degradante, e o simples pensamento disso deveria ser insuportável para ele. Era quase i
Embora as palavras de Enrico ainda ecoassem de forma incômoda em sua mente, ela sabia que não podia permitir que o julgamento de alguém moldasse a maneira como via a si mesma. Aurora sabia que era muito mais do que o olhar crítico de terceiros.Decidiu que o primeiro passo seria passar em um salão. Um mimo que nunca havia se permitido. Entrou no ambiente iluminado e cheio de espelhos, onde o cheiro de produtos capilares se misturava ao perfume suave de esmaltes e cremes. Uma manicure, Joana, a recebeu com um sorriso caloroso. — O que vamos fazer hoje?Aurora se acomodou em uma poltrona confortável e, enquanto Joana começava a cuidar das unhas, explicou: — Quero algo especial. Algo que me faça sentir poderosa.Optou por um esmalte vermelho-vivo, que refletia sua determinação. Enquanto Joana terminava o trabalho impecável, Aurora foi levada para a área de cabelos, onde Marcos, o cabeleireiro, a esperava. Ele analisou os volumosos fios castanhos com olhar profissional e sugeriu: — Qu
A sexta-feira chegou ensolarada, mas Aurora não sentia o mesmo calor interno. Ela estava no jardim, o livro em mãos como uma desculpa para evitar conversas com Enrico. Desde a conversa ao telefone, em que ele a mencionara de forma tão ultrajante, ela sentia-se estranhamente desconfortável com ele. Mas, mesmo assim, não recusou o convite – ou melhor, a insistência – para participar da reunião com os amigos dele.Os convidados chegaram pouco depois do meio-dia, suas risadas enchendo o ar enquanto cruzavam a entrada. Da sala, Aurora ouviu o burburinho alegre e a voz familiar de Enrico liderando os cumprimentos. Ela hesitou, perguntando-se se deveria permanecer onde estava, mas logo percebeu que seria pior se ele a chamasse ou, pior, viesse buscá-la.Quando entrou na sala, Aurora foi recebida por um coro de cumprimentos calorosos. Havia dois casais e três homens solteiros, todos bem vestidos e muito educados. Enrico fazia as honras da casa com sorrisos e piadas, mas Aurora não deixou de n
O sábado amanheceu com o sol forte iluminando a casa e um céu sem nuvens. Aurora acordou cedo, ainda sentindo os resquícios das risadas e conversas da noite anterior. A casa estava animada com os convidados de Enrico, e o clima de descontração continuava.Depois de um café da manhã preguiçoso, todos foram para a área da piscina. Era impossível ignorar o cenário idílico: o azul cristalino da água contrastando com o verde exuberante do jardim. Aurora chegou alguns minutos depois, com um maiô preto de alças finas que acentuava suas curvas de forma elegante.Ela tentou se manter discreta, mas sua presença não passou despercebida. Enquanto as mulheres riam e conversavam, os homens frequentemente lançavam olhares em sua direção, especialmente Ricardo, que não escondia o fascínio. Aurora, no entanto, fingiu não notar, mergulhando na piscina e se juntando aos outros na brincadeira.Enrico estava sentado sob a sombra de um guarda-sol, aparentemente desinteressado, mas seus olhos a seguiam enqu
Aurora só podia estar testando a paciência dele, Enrico pensava, lutando para manter a expressão neutra enquanto observava a cena à distância. O vestido vermelho, com microbrilhos que refletiam a luz suave do salão, era algo que ele não esperava naquela ocasião. Não porque ela não tivesse direito de se vestir como quisesse – claro que tinha –, mas por ser impossível ignorá-la.Ela pode comprovar o seu ponto, não era preciso ser uma beldade para atrair olhares, e agora ela entendia isso melhor do que ninguém. Seu decote insinuava seios fartos de forma quase inocente, enquanto as pernas grossas e bem torneadas eram enfatizadas pelo corte do vestido e pelos saltos que a faziam parecer ainda mais confiante. Do outro lado da sala, Enrico segurava um copo de vinho que não tinha intenção de terminar. Ele observava Aurora rir e gesticular com facilidade, completamente à vontade entre os amigos dele – talvez até demais. Um dos homens do grupo, Ricardo, estava claramente se esforçando para cha