Aurora não podia negar que a situação estava ficando cada vez mais surreal. A proposta de Enrico Mancini era insana, mas ele não estava ali para brincar. Ele a havia encurralado, e a única maneira de salvar seu pai era jogar o jogo dele. Mas isso não significava que ela fosse deixar de ser astuta.
Ela encarou o homem à sua frente, sem perder a postura, enquanto o contrato ainda estava sobre a mesa, com a tinta fresca de sua assinatura. O estômago de Aurora revirava com a ideia de se submeter àqueles termos, mas havia uma coisa que ela sabia melhor do que ninguém: nem tudo era o que parecia. E, ao que parecia, Enrico Mancini não era apenas um lunático. Ele era astuto, mas ela também sabia jogar o jogo.
— Senhorita Vidal.. - Enrico começou com um olhar astuto, mas arrogante.— O contrato está assinado. Agora, temos um acordo.
Aurora levantou o olhar devagar, observando-o com uma expressão que misturava desafio e uma leve frustração. Ele podia ter o poder agora, mas ela não se entregaria tão facilmente.
—Sim, - ela respondeu, com a voz calma, mas decidida. —O acordo está assinado. Mas você sabe, eu não sou exatamente do tipo que se deixa dominar assim tão facilmente.
Enrico arqueou uma sobrancelha, uma expressão que mesclava curiosidade e diversão.
— Eu acho que isso é o que veremos, não é mesmo, senhorita?
Ela levantou-se e caminhou até a janela, observando o movimento lá fora. A casa em que estavam era uma propriedade de luxo, mas isolada o suficiente para tornar o ambiente mais opressor. Ela precisava de espaço para pensar, respirar. Sentia-se como uma leoa encurralada, e Enrico parecia ser o caçador que a observava com prazer.
— Ouça…-Aurora disse, voltando-se para ele com um olhar calculista. —Eu sei que você tem suas exigências, mas precisamos fazer algumas adições a este contrato. Afinal, o senhor é um homem de negócios, não é? Vai entender que todo acordo precisa de um equilíbrio justo.
Enrico riu, o som ressoando pela sala, quase como se fosse uma gargalhada de quem se sentia no controle. Era totalmente desprovida de humor verdeiro.
— Eu não vejo como isso possa ser uma negociação, senhorita Vidal. Você já assinou.
— Eu sei. -respondeu Aurora —Mas veja bem, há algo que você não levou em conta. Eu não sou só uma mulher disposta a… servir a seus desejos. Eu também sou enfermeira, tenho uma profissão e serei obrigada a desistir de um bom emprego que inclusive faz pouco que consegui. E, sendo bem sincera, meu pai precisa de mais recursos para o seu tratamento. Então, qual é o valor que você está disposto a oferecer por minha… disponibilidade?
Enrico parou, o sorriso vacilando por um momento. A mulher à sua frente era mais louca do que ele imaginava. Ele não havia previsto que ela viria com uma contra-oferta, ainda mais com esse tipo de lógica.
— Você está pedindo mais dinheiro para que seu pai receba tratamento médico? Isso é... inesperado. -ele disse, com a voz mais baixa, como se estivesse ponderando a oferta.
— Exatamente - Aurora respondeu, cruzando os braços com confiança. — Você quer ter controle sobre mim? Então, mostre que está disposto a investir de verdade. Se seu objetivo é destruir o que resta do meu pai ok, talvez eu esteja de mãos atadas quanto a isso. Senhor, seu contrato já deixa claro o que você espera, mas vamos ser realistas: sinceramente, eu não estou disposta a ser uma peça em um jogo sem retorno.
Enrico ficou em silêncio por um momento, avaliando as palavras dela, e por um breve instante, Aurora percebeu que ele estava impressionado. Ela sabia que tinha tocado um ponto sensível: ele queria poder, mas precisava dela para que tudo funcionasse.
— Você realmente pensa que pode negociar comigo?- Enrico disse finalmente, seu tom agora mais frio, mas com uma leve admiração no fundo. —Você está sendo mais audaciosa do que deveria nessa situação.
— Eu não estou pedindo demais, senhor Mancini - Aurora respondeu, a confiança em sua voz crescendo. — Estou pedindo apenas o que é justo. Me deixe cuidar do meu pai enquanto ainda há tempo, e me faça um favor: não faça da nossa situação um pesadelo pior do que ja esta sendo, porque aí, sim, talvez as coisas ficarão difíceis para você.
Ele a observou por um momento, a expressão indecifrável. Aurora sabia que ela estava caminhando numa linha tênue entre ser excessivamente ousada ou simplesmente inteligente demais para ele. Mas sua postura não vacilou.
—Está bem - Enrico disse finalmente, com um meio sorriso que transparecia uma mistura de satisfação e desafio. — Vamos adicionar as cláusulas que você pediu. A quantia para o tratamento do seu pai será incluída. Não é algo que faço de bom grado, mas você conseguiu me convencer. No entanto - ele continuou, inclinando-se para frente - não se esqueça de quem está no comando aqui. Este contrato é claro: você estará disponível para mim a qualquer hora, em qualquer lugar, por um mês.
Aurora assentiu, mantendo o olhar fixo nele. Não havia dúvida em sua mente: ela não seria passiva. Ela só tinha que jogar o jogo dele com mais inteligência e paciência.
— Perfeito - ela disse, sem conseguir esconder o tom de alívio.— Mas saiba que talvez eu torne as coisas um pouco difíceis para você!
Enrico percebeu seu vacilo, mas a faísca de desafio em seus olhos não passou despercebida. Aurora sabia que o jogo estava apenas começando.
— Eu vou adorar vê-la tentar- ele respondeu, com um sorriso enigmático. — Mas lembre-se, senhorita Vidal, quem tem as cartas, sou eu.
Focada em seu objetivo, ela havia ido encontrá-lo no aeroporto, vestida totalmente a caráter. Deu um pouco de trabalho procurar, mas ela encontrou em uma loja de fantasias um vestido que era formado por um cropped branco e uma micro saia azul, ligados apenas por uma argola na frente. Ela também comprou botas de couro pretas que passavam bastante na altura dos joelhos, um sobretudo bege que ia quase até os pés e uma peruca loira com corte Chanel. Para completar o look, ela fez uma tatuagem de Henna, na parte que ficava amostra na barriga, com um enorme e visível, “Enrico” escrito. Aquela brincadeira não havia saído barata, mas ela fez questão de gastar o dinheiro que ele havia dado para que ela se preparasse para a viagem. Enquanto ela caminhava no saguão do aeroporto, indo de encontro a ele, devidamente trajada como um cosplay da Julia Roberts em uma linda mulher, Aurora não tinha certeza pela expressão de choque no rosto de Enrico, se ele a mataria ali mesmo ou sairia correndo em al
A casa de praia de Enrico não era nada menos que maravilhosa. Uma verdadeira mansão na praia Cala de São Vicente. Aurora deveria saber que ele não frequentaria nada menos que as praias de Ibiza. A casa era em estilo americano, porém bastante opulenta. Tinha cerca de vinte cômodos ao todo. Uma enorme sala de jogos, duas piscinas, uma na parte externa e uma aquecida em uma área interna. Os dois únicos cômodos da casa que ela ainda não havia entrado eram o quarto e o escritório de Enrico. Esses eram zona de risco, e por mais que ela fizesse de tudo para provocá-lo, inclusive ficar chamando-o de Dom Corleone,fazendo alusão ao famoso mafioso do cinema, invadir assim o espaço dele era demais até mesmo para ela.O seu lugar favorito na casa era a piscina, graças a ela já havia pegado um certo bronzeado, Enrico não gostava muito de frequentar praias populosas, e do jeito que ficava trancado naquele escritório, passava muito tempo imerso no trabalho. Aquilo nem poderia ser chamado de ferias na
Nos dias seguintes fizeram diversos roteiros turísticos que a cidade oferecia. Conheceram várias praias e prédios históricos. Em um dos dias ele a levou para um passeio de barco pela praia rochosa, o barco obviamente fora alugado apenas para eles, e a paisagem era incrível. Aurora chegou à conclusão que quando Enrico não estava com aquele papo de que ela pertencia a ele e blá, blá, blá, até que ele não era de todo um pé no saco. Parecia inclusive, que às vezes ele vestia aquele personagem de mafioso malvado, que comprava mulheres para abusar delas. Era muito bonito, ela precisava admitir a cada dia que se levantava da cama e o encontrava esperando por ela, para a próxima grande aventura. Um moreno de corpo bastante definido e muito alto. Um homem que devia ter um tipo bem específico de mulher, um tipo que certamente não era o dela, e isso só a deixava ainda mais confusa sobre o acordo que ele propôs. — Realmente, esse roteiro vale cada centavo. Eu nunca havia visto as praias dessa
Na manhã seguinte, Enrico mandou a empregada a chamar para tomar café da manhã com ele no jardim.— No próximo final de semana eu vou receber alguns amigos. Tentei evitar que eles viessem, mas são pessoas bastante próximas e quando souberam que estou aqui, eles se convidaram para passar um final de semana. Vão chegar na sexta e ir embora no domingo. Eu quero que você vá arrumar um pouco o cabelo, as unhas, enfim, dar um jeito nisso tudo. Ah, e também deve comprar umas roupas. Como seríamos só nós dois, eu não havia me preocupado com esses detalhes, mas agora teremos mais pessoas interagindo conosco, não é aceitável você se apresentar desta maneira. As pessoas esperam um certo padrão das minhas mulheres, você entende?Quando ele terminou de falar para calmamente mastigar um pedaço da torta que ela mesmo já havia provado e estava maravilhosa, Aurora o encarava estupefata com o que havia ouvido da boca dele. Foram comentários, que apesar de velados, deixaram claro o que ele pensava sobre
Enquanto Aurora estava na cidade, Enrico aproveitava para finalizar alguns e-mails importantes em seu escritório. O ambiente era iluminado, com uma grande janela que oferecia uma vista deslumbrante de sua praia particular, mas ele raramente levantava os olhos do computador. Sua mente estava focada em cumprir seu objetivo e a inquietação crescente de Aurora era um indício de que seu plano estava funcionando. Ele sabia que a jovem estava tensa, esperando a qualquer momento que ele invadisse seu quarto ou a forçasse a cumprir o suposto acordo. Mal sabia ela que ele não tinha a menor intenção de fazer nada disso.Na verdade, Enrico se divertia com a situação. Enviar fotos dos dois juntos na praia e em diversos passeios, sempre com uma legenda carregada de insinuações, era uma estratégia meticulosa para atormentar o pai dela. Ele queria que o homem acreditasse que sua filha estava presa em uma armadilha degradante, e o simples pensamento disso deveria ser insuportável para ele. Era quase i
Embora as palavras de Enrico ainda ecoassem de forma incômoda em sua mente, ela sabia que não podia permitir que o julgamento de alguém moldasse a maneira como via a si mesma. Aurora sabia que era muito mais do que o olhar crítico de terceiros.Decidiu que o primeiro passo seria passar em um salão. Um mimo que nunca havia se permitido. Entrou no ambiente iluminado e cheio de espelhos, onde o cheiro de produtos capilares se misturava ao perfume suave de esmaltes e cremes. Uma manicure, Joana, a recebeu com um sorriso caloroso. — O que vamos fazer hoje?Aurora se acomodou em uma poltrona confortável e, enquanto Joana começava a cuidar das unhas, explicou: — Quero algo especial. Algo que me faça sentir poderosa.Optou por um esmalte vermelho-vivo, que refletia sua determinação. Enquanto Joana terminava o trabalho impecável, Aurora foi levada para a área de cabelos, onde Marcos, o cabeleireiro, a esperava. Ele analisou os volumosos fios castanhos com olhar profissional e sugeriu: — Qu
A sexta-feira chegou ensolarada, mas Aurora não sentia o mesmo calor interno. Ela estava no jardim, o livro em mãos como uma desculpa para evitar conversas com Enrico. Desde a conversa ao telefone, em que ele a mencionara de forma tão ultrajante, ela sentia-se estranhamente desconfortável com ele. Mas, mesmo assim, não recusou o convite – ou melhor, a insistência – para participar da reunião com os amigos dele.Os convidados chegaram pouco depois do meio-dia, suas risadas enchendo o ar enquanto cruzavam a entrada. Da sala, Aurora ouviu o burburinho alegre e a voz familiar de Enrico liderando os cumprimentos. Ela hesitou, perguntando-se se deveria permanecer onde estava, mas logo percebeu que seria pior se ele a chamasse ou, pior, viesse buscá-la.Quando entrou na sala, Aurora foi recebida por um coro de cumprimentos calorosos. Havia dois casais e três homens solteiros, todos bem vestidos e muito educados. Enrico fazia as honras da casa com sorrisos e piadas, mas Aurora não deixou de n
O sábado amanheceu com o sol forte iluminando a casa e um céu sem nuvens. Aurora acordou cedo, ainda sentindo os resquícios das risadas e conversas da noite anterior. A casa estava animada com os convidados de Enrico, e o clima de descontração continuava.Depois de um café da manhã preguiçoso, todos foram para a área da piscina. Era impossível ignorar o cenário idílico: o azul cristalino da água contrastando com o verde exuberante do jardim. Aurora chegou alguns minutos depois, com um maiô preto de alças finas que acentuava suas curvas de forma elegante.Ela tentou se manter discreta, mas sua presença não passou despercebida. Enquanto as mulheres riam e conversavam, os homens frequentemente lançavam olhares em sua direção, especialmente Ricardo, que não escondia o fascínio. Aurora, no entanto, fingiu não notar, mergulhando na piscina e se juntando aos outros na brincadeira.Enrico estava sentado sob a sombra de um guarda-sol, aparentemente desinteressado, mas seus olhos a seguiam enqu