A Vingança da Assassina
A Vingança da Assassina
Por: F
Prólogo 1

03 JAN 2023 - RÚSSIA

Dor! Às vezes penso que vai ser o único sentimento que vou conseguir nutrir além do ódio que tenho por aqueles que de alguma forma estão envolvidos no assassinato dos meus pais.

Afasto os pensamentos para concentrar-me no perímetro à minha volta, tenho poucas alternativas e uma delas é hoje: entrar na mansão principal de Sergey Ottis. Meu tio!

Caminho lentamente e bem atenta porque mesmo sem a presença do Boss[1]. Uma moradia como esta nunca pode ficar sem proteção, ainda bem que sou a única que conhece das passagens secretas além de Sergey e do segurança pessoal. Numa escuridão absoluta após desprender os parafusos do duto do ar condicionado passo meu corpo pela passagem estreita sem fazer barulho.

Infelizmente, preciso caminhar pela casa sem uma lanterna por causa das vigilâncias que os seguranças mais antigos fazem pelo interior, nem todos possuem permissão para estarem no interior, mas os que têm são extremamente treinados e sádicos.

— Raios! — Resmungo ao escutar passos vindos do corredor em minha frente cada vez mais perto de onde estou parada— Idiota! — Observo o homem de terno preto passar sem verificar o alto do armário de quatro portas castanho.

Salto o mais silenciosamente possível, por sorte as minhas botas com plataforma em policarbonato auxiliam nesse fator, consigo abrir a porta do escritório em menos de dois minutos com a ajuda do meu mais novo kit de ferramentas.

Observo as paredes que no dia em que me trouxeram para esta casa pela primeira vez fiquei mais amedrontada com o que ia acontecer comigo.

Naquela altura com 14 anos acabados de completar e após presenciar meus pais serem mortos, as paredes em preto juntamente com a presença intimidadora de Sergey Ottis a quem nunca tinha sido apresentada pelo meu pai, que descobri naquele momento o seu parentesco me deixou ainda mais angustiada e apavorada.

Sem conseguir abrir o cofre, pois é necessária a impressão digital de Ottis, com sorte um dia possuirei tempo para dedicar à beleza que é este cofre, desde o aço duplo aos fios revestidos com um movimento errado e bum! Todo o lugar fica rodeado de seguranças e dos melhores assassinos treinados pela máfia Odinokiy[2]. Volto a atenção para o que é importante, consigo encontrar alguns papéis da mesa de madeira envernizada, não o que desejo, pois, acabo com mais perguntas do que respostas.

— Quem é este garotinho? — Questiono observando a fotografia um pouco gasta por estar abandonada dentro da gaveta. — Nikolai? — Investigo mais alguns papéis que estão na minha língua materna, russo. — Outra vez! — Resmungo ao escutar novamente um barulho do lado de fora, por sorte ninguém tem permissão para entrar no escritório quando Sergey não esteja presente.

Alguns minutos aguardando volto a mover-me pelo escritório, arrumo tudo da mesma maneira que encontrei no interior da gaveta.

Com sorte as escutas que situo em alguns móveis vão dar-me informações lucrativas num futuro próximo, necessito descobrir o motivo pelo qual o nome do meu tio continua a surgir sempre que encontro alguém envolvido na morte dos meus pais.

Ao sair do escritório caminho em direção da mesma passagem que usei para entrar sem ser notada, só que no mesmo instante sinto uma vontade colossal de verificar os quartos de hóspedes, sei que a ala é utilizada por homens estranhos que negociam com Ottis.

Com o pensamento nos quartos caminho em direção das escadas em formato redondo, decido usar as duas escutas que restaram e as depositar em dois quartos, posso descobrir alguma informação importante, ao mover-me pelo corredor que ainda contém os quadros horrendos, resolvo abrir o terceiro quarto, estranho por estar trancado e assim o entreabro rapidamente antes que voltem para realizar a passagem de verificação das 04:00 da manhã.

— Não nos faça mal, por favor! — Pede uma mulher muito jovem com uma menina nos braços mal abro a porta. — Per favore![3]

— Stai tutto bene[4]. — Respondo em italiano após atentar a mulher de cabelos castanhos-escuros suplicar ao me observar trancar a porta de novo. — Quem és? — Questiono em inglês mesmo que saiba falar italiano, é melhor para qualquer pessoa que passe pelo corredor não estranhe as vozes, já que consigo disfarçar-me melhor na língua inglesa.

— Camilla, per favore. — Apresenta-se em paralelo que implora por algo que ainda não compreendi ao sentar na cadeira à sua frente.

— Explica-me o porquê de estarem trancadas?

— Pelo meu marido, o homem que sequestrou a mim e à minha filha quer algo do meu marido! — Grita chorando deixando-me incomodada pelo alarido, se alguém escutar vai entrar e aí vai ficar ainda mais assustada quando me observar matar mais um idiota destes seguranças.

— Sergey Ottis não pega ninguém se não for valioso. — Comento investigado a fisionomia da jovem, alguns anos a menos do que eu e já é mãe de uma menina que parece ter um sono bem pesado por ainda não ter despertado com os gritos da sua progenitora.

— O homem pensou que sim, mas para o meu marido só tinha valor se conseguisse ter filhos homens, como vê não foi isso que aconteceu. — Fala com dor tanto no olhar como no tom de voz. — Meu marido não vai aceitar nada em troca de mim ou de Ângela.

— O que vai acontecer com vocês? — Questiono, mas imediatamente me vem à cabeça o que acontecerá com as duas. — Tráfico humano. — Penso olhando para as duas, entendo que é esse o próximo passo de Ottis vender e separá-las para o resto das suas vidas.

— Sabe o que vai acontecer connosco? — Pergunta quando me vê pegar no telemóvel para verificar se as câmaras se mantêm em looping[5]. — Para onde está a ir? Vai nos deixar aqui?

— Não, vocês vão deixar esta casa para nunca mais voltarem. — Declaro ao levantar ao mesmo tempo que faço sinal para fazer idêntico. — Ela não pode fazer barulho nenhum. — Aviso ao perfurar uma agulha no bracinho da menina que ainda não abriu os olhos desde que entrei no quarto.

— Isso vai fazer algum mal a ela? — Questiona com medo, apertando ainda mais o pequeno embrulho em seus braços.

— Não, só um sedativo. — Respondo destrancando a porta devagar. — Vamos! — Falo baixo para não dar oportunidade de alguém escutar. — Espera.

— Quem és tu? — Questiona quando agarro no antebraço dela puxando as duas para o lado esquerdo onde sei que tem um armário com uma passagem secreta que vai ter no exterior da mansão, fora do círculo da segurança mais fechada.

— Ninguém! — Falo empurrando a porta do armário, impulsiono Camilla para dentro e logo entro ao escutar passos. — Fica em silêncio. — Peço ao distinguir os passos se abeirando cada vez mais impedindo-me de impulsionar a porta falsa que há do outro lado dos casacos pendurados nos cabides que ocultam o acesso.

— Vamos ser apanhadas. — Declara em pânico ao contrário de mim que mantenho a calma em simultâneo que puxo a minha arma SIG Sauer P226 instalando o silenciador, movo-me lentamente para não chamar atenção, o segurança está praticamente encostado no armário digitando algo no telemóvel.

— Shh! — Faço sinal com a mão para que a jovem de cabelos castanhos se mantenha calada, ou terei que neutralizar o segurança só que Ottis vai acabar por descobrir que alguém entrou na sua residência. — Vamos! — Ordeno ao escutar que o segurança que bem o conheço, Ikeni Vlokv, muito mais alto do que eu e de olhos verdes, não se enganem o rosto bonito adornado pelos cabelos loiros e barba rala escondem o monstro que é o homem.

— Onde isto vai nos levar? — Questiona observando-me fechar a porta de madeira, marco o código rapidamente para manipular a data para três anos atrás assim se Ottis ou o seu cão de guarda desconfiarem nenhum deles se vai lembrar de uma data tão longínqua e acabará por passar despercebida.

— Vamos parar a três quadras da entrada do portão da mansão, os homens que estão de prontidão nos carros na mesma rua irão pensar que somos moradores do prédio onde este túnel termina. — Explico tentando apressar a jovem a caminhar mais rápido, sei que Ottis está em New York, mas jamais posso baixar a guarda com ele e seus lacaios. — Dá a menina. — Peço esticando os braços, Camilla cogita negar, mas acaba por aceitar passar o pequeno embrulho para meus braços.

— Cuidado com ela, per favore. — Pede misturando o inglês com o italiano, a jovem parece que não come muito a algum tempo porque acaba se encostando na parede fria.

— Aqui. — Falo indicando a mochila na minhas costas. — No bolso do meio tem umas barras de proteína, tira as duas junto da garrafa de água pequena. — Digo esperando que abra o fecho e puxe o único alimento que sempre mantenho comigo para algum problema ou tempo de vigilância. — Devagar. — Peço notando a jovem morder duas vezes e acabar num ápice com uma das barras.

— Grazie[6]. — Agradece, falando novamente em italiano.

— Vamos, já perdemos tempo. — Digo, num tom de irritação ao notar que são quase 05:50 da manhã, quando a segurança troca por todo o perímetro acabando numa concentração de seguranças desnecessária para nós.

— Sabe conduzir? — Questiona amedrontada quando passo a menina adormecida de novo para os braços da mãe.

— Sim. — Respondo abrindo a porta do Hyundai Creta preto, as coloco na parte de trás onde os vidros são escuros. — Não sabes conduzir? — Questiono ao colocar o carro em movimento.

— Não, não… acho que esta é a primeira vez que saio de casa depois de tanto tempo.

— E vieste logo parar na Rússia? — Interrogo saindo calmamente do parque subterrâneo do prédio, uns cinco minutos na estrada deserta enxergo o carro preto blindado parado na lateral da via, os dois seguranças nem se dão ao trabalho de questionar o motivo da saída de um automóvel a esta hora da madrugada.

— Não sei como conseguiram, numa noite entrei no quarto da menina para a fazer parar de chorar e quando acordei já estava ali naquele quarto de onde me retiraste. — Fala misturando novamente os dois idiomas. — Para onde estamos a ir?

— Para o aeroporto restrito em São Petersburgo, vamos demorar algum tempo então aproveita para descansar. — Falo pisando no acelerador no mesmo instante em que entro na autoestrada.

No silêncio do carro começo a cogitar por qual o motivo de Sergey manteve a jovem com a criança por tanto tempo cativas, possivelmente o que deseja é algo muito valioso para ele senão já teria vendido ou até assassinado a jovem, ou a obrigado a se prostituir.

— Acorda, Camilla. — Desperto a jovem depois de a ter deixado trancada com a menina no carro enquanto foi a um supermercado comprar algumas coisas básicas para continuarmos a viagem o mais rápido possível, pois são quase 11 horas e Ottis chega hoje da viagem.

— O que foi? — Questiona sonolenta, mantendo a menina agora acordada nos braços.

— Aqui, algumas coisas para vocês comerem. — Digo passando as sacolas com várias coisas, desde água a pacotes de leite que consegui encontrar no supermercado sem desperdiçar muito tempo.

— Podes segurar na menina? — Questiona reticente quando sai do carro, estamos estacionados na parte mais escura por ter quebrado a lâmpada do poste antes de ter entrado na loja.

— Está bem, mas rápida que não tenho jeito nenhum com crianças. — Resmungo tirando o meu casaco para proteger a menina do frio e da chuva que ainda prossegue a cair sem dar uma trégua.

— Quantas horas faltam? — Questiona quando entro no banco do condutor, depois das duas comerem e restabelecer forças, pelo menos o suficiente para não caírem no chão porque é percetível que Sergey ordenava entregar o mínimo de comida para as duas.

— Umas oito horas se não apanharmos nenhum trânsito pelas autoestradas. — Falo antes de efetuar o pagamento pelo parque de estacionamento.

— Está bem. — Concorda já com os olhos se fechando cansada pelo tempo em cativeiro e possivelmente pela comida ingerida que causou aconchego em seu estômago.

— Acorda! — Chamo três vezes seguidas, até a bebé já abriu os olhos, mas Camilla desperta lentamente, algo que não temos tempo porque acabo de descobrir que Sergey pousa com seu jato pessoal no aeródromo da mansão neste exato momento. — Acorda! — Falo alto a acordando de forma assustadora, mas a única forma rápida.

— O que foi? Ângela! — Grita assustada, ainda bem que só aqueles que trabalham para mim estão ao nosso redor no aeroporto privativo.

— Aqui, nos meus braços. — Digo ajudando a jovem sair do carro para que um dos homens que trabalha para mim o leve para desmantelar e colocar outro na mesma garagem em que este estava. — Apuki, quando acabares notifica e segue para Letónia ter com Marek na casa segura.

— Sim, chefe. — Certifica antes de sair com o carro em alta velocidade.

— Vamos, temos que decolar, imediatamente. — Aviso puxando Camilla e a menina ainda em meus braços para o interior do meu jato pessoal.

— Está a acontecer alguma coisa? — Questiona assim que prendo a menina na cadeira que mandei Rayra arranjar para dar proteção à menina, assim como fraldas e leite em pó, já que notei que a bebé se mantém com a mesma fralda e roupinha.

— Sergey, o homem que manteve vocês duas cativas, acabou de pousar na Rússia, quando perceber que escaparam vai mandar fechar o país.

— Vamos ser apanhadas! — Diz temerosa tanto que começa mesmo a chorar com o medo de regressar para a mansão em Kosovo.

— Não, aperta o cinto. — Falo, contudo, sou obrigada a auxiliar porque não consegue nem como fazer uma coisa tão simples.

— Há quanto tempo não vives em sociedade? — Questiona Rayra, Camilla olha em volta encontrando agora três daqueles que trabalham para mim sentarem-se ao mesmo tempo em que o jato levanta da pista.

— Podes falar em frente deles, são Victor. — Aceno para o jovem de 20 anos de cabelos pretos e olhos azuis-claros. — Rayra. — Indico a jovem de cabelos vermelhos e olhos verdes. — E Wagner. — Falo apontando para o homem mais velho dos três, de cabelos castanhos e olhos verdes.

— Antes dos 14 anos sai acho que só duas vezes com o meu irmão, escondidos, depois oferecida em casamento e nunca mais os vi.

— Com 14 anos? — Questiona Rayra estupefacta com o que acaba de descobrir assim como os outros dois homens, nós quatro tivemos uma infância de merda, no entanto nada se equipara ser entregue em casamento quando ainda nem se sabe o que é certo ou errado.

— Meu pai, não lembro muito, sei que minha mãe e o meu irmão protegiam-me dele, só que meu irmão se feriu e nossa mãe cuidava dele naquele dia e acabei por encontrar-me com o meu pai enquanto brincava na sala de estar.

— Estás a dizer que não vês o teu irmão ou a tua mãe desde os 14 anos? — Questiona Wagner, desviando a sua atenção por alguns segundos do portátil onde apaga os vestígios de Apuki.

— Quantos anos tens? — Questiona Victor ao lado do irmão, atento a todas as informações oferecidas pela jovem.

— 18 anos. — Diz baixinho remexendo as mãos uma na outra. — Só lembro dos olhos vermelhos do meu irmão quando apanhava do nosso pai, no lugar de mim ou de mamãe. — Diz chorando ao lembrar do passado. — Para onde estamos a ir?

— Bélgica. Lá vão ter o tratamento médico que necessitam. — Digo fechando os olhos sabendo que estamos seguras com Rayra, Victor e Wagner presentes, além que o piloto e copiloto são dois soldados.

— A minha bebé não tem vacinas nenhumas, isso não vai ficar muito caro? — Questiona temerosa olhando diretamente para mim.

— Não tens que preocupar-te com nada disso, tudo vai ser resolvido.

— Quem és tu?

— Alguém que se importa, mas podes chamar-me de Ava. — Digo antes de deixar-me cair na sonolência.

[1] Boss = Chefe de uma família mafiosa, aquele que toma as decisões finais

[2] Máfia russa, puramente fictícia. Comandada por Sergey Ottis, envolvida em vários tipos de tráfico, entre eles – Armas e Humano.

[3] Por favor, em italiano

[4] Está tudo bem, em italiano

[5] É o mesmo que uma “repetição infinita”, praticamente o hacker utiliza imagens de dias atrás ou de horas e as coloca para rodar como se fosse o que está a surgir em frente da câmara.

[6] Obrigado, em italiano

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