Nunca pensei que ia encontrar em Lorenzo alguém a temer em perder, que o sentimento de impotência se tornasse tão grande que minhas mãos vacilam ainda mais do que na primeira vez que matei alguém, como agora acontece enquanto esforço-me para percorrer as ruas de Madrid com a maior calmaria possível para não chamar à atenção de ninguém, muito menos daqueles que tentaram e falharam o capturar no interior do hotel.
— Para onde estamos a ir? — Questiona sentando no banco do passageiro, mortinho de vontade de passar para o do condutor e controlar a situação por si mesmo. — Adira! — Fala num tom alto quando dou uma curva fechada entrando na autoestrada.
— Não grites, isso irrita-me desnecessariamente. — Aviso desacelerando para conseguir atender o telemóvel. — O que foi Natália? Não é uma boa altura… — Falo, sentindo os nervos à flor da pele ainda mais com o olhar desconfiado de Lorenzo sob mim.
— Chefe, descobrimos que…
— Desembucha de uma vez, garota. — Digo pela primeira vez sendo um pouco rude com alguém sob meu comando, ainda mais com uma menina de 18 anos.
— Sim chefe, só para avisar que é você que os homens procuravam. — Avisa-me quase que perco o controle do carro ao descobrir que por culpa do meu trabalho Enzo quase se magoou.
— Obrigado, apronta o jatinho no Cuatro Vientos. — Ordeno voltando o olhar para Enzo que mantém sua arma pousada no joelho direito. — Preciso de pessoal por lá para segurança.
— Porque não diz quem é de verdade a ele? — Questiona do outro lado do telemóvel gaguejando por ser ousada ao ponto de perguntar-me algo tão íntimo sobre mim.
— Ambos sabemos que o que faço não é fácil de aceitar, ainda mais com o que fiz há poucos anos. — Falo em alemão, desligando depois de escutá-la garantir que o pessoal está a caminho do aeroporto.
— O que está a acontecer, Adira? — Questiona ao passo que nos inserimos novamente nas ruas da cidade, só que no início não me incomodava ser chamada pelo nome falso, porém agora é necessário um esforço tremendo para não falar o meu nome verdadeiro.
— Precisas voltar para Capri, protegido.
— E tu? — Questiona tocando em meu rosto.
— Não te preocupes, o essencial é saíres de Espanha o mais rápido possível. — Falo entrando pelos portões privativos do aeroporto, só aqueles que têm um jato e muito dinheiro é que podem entrar por este lado particular.
— Adira, vamos nos voltar a ver? — Pergunta assim que saímos do carro. — Desculpa por nunca contar sobre minha vida. — Diz contra o meu pescoço, lamentando-se quando fico em silêncio.
— Vamos claro que vamos. — Prometo, sem muita convicção por ainda não saber quem me procura e por qual razão.
— Eu …
— Não agora, por favor… — Peço tocando em suas mãos segurando meu rosto, seus olhos de cores tão diferentes adoram-me com afeto refletido neles.
— Está bem… está bem. — Fala de olhos cerrados puxando-me para seus braços, nos despedimos em silêncio, palavras não são necessárias neste momento.
— Podes confiar em Wagner e Luke, vão acompanhar-te até Capri e regressarem. — Digo aproximando minhas mãos de seu rosto sentindo sua barba bem cuidada.
— Adira… — Geme quando me distancio dele retornando para o carro sem olhar para trás, mesmo que seja a coisa mais difícil a fazer neste momento.
— Chefe? Para onde estamos a ir? — Questiona Victor, Natália e Rayra ao meu lado
— Para a cabana.
— Podemos parar antes para comprar algumas coisas, fico no carro apagando as câmaras e bloqueando o sinal dos telemóveis. — Pede Natália, sei bem o motivo de não comer o que tem na cabana, só há enlatados.
— Está bem, vamos parar no Dia. — Falo virando à esquerda onde há a alguns quilómetros do mesmo lado um supermercado, quanto maior e mais pessoas com muita mais confusão nos dá tempo e oportunidade de escaparmos se algo ocorrer, além do mais tem vários pontos de saída o que facilita em vários momentos.
— Obrigado, Chefinha. — Agradece toda contente tenho certeza de que a lista que passou a Rayra é enorme e nada de muito saudável a se comer durante as refeições.
— Vamos, não saias do carro por nenhum motivo. — Falo saindo do carro junto de Victor e Rayra. — Victor, precisas de algo?
— Só de cerveja, chefe. — Diz sorrindo, já sabe o que vou pedir a ele ou pelo menos suspeita.
— Volta para o carro, por favor. — Peço escutando os sorrisos dos dois às minhas costas, Rayra dá uma corrida parando ao meu lado.
— Natalia, sabe defender-se chefe. — Anota sussurrando ao entrarmos na loja, não conseguimos deixar de verificar o redor da entrada do supermercado, assim como identificar as portas de saída e quantos seguranças estão ao nosso redor. — A treinaste muito bem, depois que a trouxeste connosco.
— Sei disso, mas ainda é muito nova para ter que decidir quem vive e quem morre. — Falo puxando um carrinho, entregando outro a ela. — Agora vamos.
— Achas que se não levar todas as marcas de chocolate que Natália pediu vai ficar muito chateada?
— O que achas? Porém, vamos ser rápidas. — Digo empurrando da prateleira vários pacotes de arroz, massa e puré de batata. — Salsinhas em lata ou embaladas?
— Embaladas em vácuo, por favor. — Pede com um sorriso me observando abrir o frigorífico.
— Coloca quatro garrafões de água, por favor. — Peço apontando para o corredor das bebidas. — Não te esqueças das cervejas.
— Era bem-feito levar sem álcool para Victor. — Diz sorrindo, se há algo que meus subordinados gostam é de provocar-se uns aos outros, mas Rayra tem a qualidade de tirar qualquer outra pessoa do sério, até mesmo o mais calmo como Victor.
— Deixa de coisas, não vais irritá-lo quando vamos ficar confinados durante alguns dias na cabana. — Falo direcionando-me para a caixa, o supermercado tem várias pessoas, mantenho a cabeça abaixada assim como Rayra.
— São 685,92€, senhora. — Indica a jovem do caixa após passar todas as compras, assim como o pagamento pelo depósito de combustível.
— Tens alguma desconfiança? — Questiona Rayra enquanto colocamos tudo no porta-bagagens do carro.
— A não ser Ottis ou o meu último trabalho, não sei. — Argumento batendo no vidro para Victor do banco do passageiro destrave a porta.
— Vamos descobrir. — Diz ao entrar no banco de trás, começando rapidamente a provocar Victor pelo tipo de cerveja que compramos.
— Calem-se! — Ordeno ao sair do supermercado depois de abastecer. — Começa a trabalhar Rayra quando chegarem na cabana descansam.
Em meia hora, Victor estranha o silêncio quando observamos as duas a dormir pesadamente. Não consigo parar de lembrar o rosto de Lorenzo quando informei que sabia quem ele é, assim como ao nos despedirmos, sei que Enzo deve estar cheio de questões, mas agora não consigo nem imaginar quantas mensagens tenho no telemóvel que desliguei assim que sai do aeroporto.
— Não achas que deves explicar tudo ao Don Rossi? — Questiona Victor arrancando-me dos pensamentos com Enzo
— Que assassino pelo maior preço ou que matei o pai dele? — Indago apertando o volante com força, só de pensar no rosto que Lorenzo ia ficar ao descobrir que sou a culpa pela morte do pai.
— O que aconteceu? — Indaga Fradique assim que regresso na mansão, depois de viajar durante a noite. — Lorenzo!— Nada! Nada. — Resmungo passando por ele, todos os outros que estão reunidos à mesa se surpreendem com a minha presença, sigo para o escritório sem dizer uma palavra.— Lorenzo? — Pergunta Fradique chamando-me para a realidade entrando no escritório atrás de mim.— Chama Leon e Lucca. — Ordeno arremessando a mochila para qualquer lado, ando para o bar e encho um copo de whisky despejando goela abaixo e voltando a encher de novo.— O que se passa? — Questiona mexendo no telemóvel, na certeza enviando as mensagens para os dois homens que solicitei presença.— Adira.— Claro que ia ser com ela. — Rebate com um sorriso. — O que aconteceu, desembucha de uma vez!— Sendo sincero foi tudo de uma vez… cheguei em Madrid e fui logo para o hotel. Estamos na cama quando voltei ao assunto dela vir comigo para conhecer minha família.— Deixa adivinhar-me, a mulher fugiu como se fugisse d
14 JAN 2024, 08:00 HORAS - ESPANHA— Tinhas mesmo que fazer aquilo naquela mansão? — Questiona Victor sentando ao meu lado, ainda estamos na cabana desde que viemos da Espanha só sai para resolver o pequeno problema na Calábria.— Tens algum dilema com isso? — Indago mantendo os olhos para a frente encarando a floresta onde a cabana está construída.— Nenhum, claro que não. — Fala hesitando, mesmo que seja um dos meus melhores soldados.— Arthur Esposito era uma víbora e criou uma serpente ainda pior. — Argumento esticando as pernas no banco.— Descobriste alguma coisa com o velho? — Questiona agarrando a caneca de café fumegante.— Não muito, só uma coisa ficou presa no meu cérebro.— O quê, Ava? — Indaga depois de vários minutos em silêncio sem que tenha falado nada a mais sobre as informações que retirei do morto andante.— Que quando descobrisse a verdade ia arrepender-me de querer a verdade. — Transmito apertando a caneca na mão, perdida com o olhar no horizonte.— Achas que pode
19 JAN 2024, ITÁLIA— Como é que conseguiram fazer aquele massacre naquela mansão cheia de seguranças? — Questiono assim que Fradique e Leon junto de Lucca entram no escritório da empresa de engenharia em Milão.— Não sei, o que sei é que as fotos que consegui são horripilantes. — Fala Fradique pousando uma pasta preta em cima da minha mesa.— O que é isto? — Indago observando as fotos, em algumas delas dá para notar algo pelo meio dos corpos esquartejados.— Rosas brancas, banhadas no sangue dos sórdidos da família Esposito. — Informa deixando-me ainda mais curioso.— Qual o motivo?— Para isso precisas encontrar os monstros que conseguiram fazer isso. — Fala Fradique sem notar o discreto sorriso em Matteo.— Alguém já assumiu? — Indago fechando os relatórios da empresa de engenharia, não consigo pensar neste momento com estas fotografias em minhas mãos.— Zver.— A fera? — Questiono, a primeira vez que escutei sobre ele não sabia o que a palavra em russo significava então foi pesqui
— Chefe temos um problema. — A voz apresada de Wagner faz-me suspirar, ainda ontem precisei ir acabar com um maldito que Luke não conseguiu por pouco não foi apanhada, infelizmente perdi não só o meu vestido como os meus lindos sapatos de salto de 15 centímetros.— Quando é que não temos? — Questiono sem o olhar, a visão à minha frente é muito mais interessante do que um homem tatuado de quase 1,80 cm, o que para ser sincera me deixa muito irritada, o seu tamanho deveria ser uma ofensa perante os meu 1,60 cm. — Fala de uma vez e me deixa sozinha para tomar o meu pequeno-almoço antes das crianças acordarem.— Chefe, com todo o respeito só beber café não pode ser considerado um pequeno-almoço. — Fala dando risada quando a almofada que antes estava ao meu lado vai contra ele. — Agora, o problema é a mais recente marcação.— Podes parar de enrolação?— A reunião é com o chefe da máfia Mortali. — Informa que o rompante quase me faz deixar cair a caneca de café quentinho das minhas mãos.—
Desde que os dois homens saem do escritório minha mãe entra junto de Camilla, ambas estão paradas em minha frente sem ainda uma palavra pronunciar, deixando-me impaciente.— Vocês duas vão explicar o motivo de estarem aqui em minha frente ou continuaram em silêncio? — Pergunto sem conseguir controlar-me, estou irritado porque no fundo cogitei que Zver ia aparecer na reunião e não mandar algum de seus homens.— Só saber o porquê daqueles homens virem até aqui? — Questiona Camilla, para ser sincero pensei que ia ser a minha mãe a perguntar e não minha irmã que nem olha para o meu rosto.— Porquê? — Questiono levantando-me ao mesmo tempo que cruzo os braços ao notar que minha irmã ainda continua a esconder algo de mim. — Conheces algum deles de algum lado?— Não, não. — Diz enquanto abana a cabeça em negação, ainda com o olhar fixo no chão do meu escritório.— Não acho que seja isso… — Pronuncio, mas sou interrompido por Matteo e Fradique que acompanharam os homens até o carro assim como
27 JAN 2024, ITÁLIA- CAPRI— Quem vai concluir o serviço, porque Rayra não pode ainda, Victor está de ressaca por ter seguido o homem esta noite. — Reclama Wagner deitando-se ao meu lado, infelizmente só consegui um quarto duplo de casal no curto espaço de tempo.— O que sei é que Rayra devia estar deitada ao meu lado e não tu. — Argumento fechando os olhos morta de cansaço.— Queres falar o motivo de tanta moleza? — Questiona tocando em meus cabelos como se eu fosse uma criança.— Deixa de ser chato. — Falo erguendo-me rápido demais pois minha visão fica turva tanto que Wagner segura-me sem que consiga até notá-lo se mover na cama. — Estou bem, estou bem.— Claro que está. — Diz afastando-se indo para o pequeno bar que há na sala onde Rayra dorme esparramada no sofá. — Aqui, algo para comer antes que caias em meus braços, era muito romântico, mas dispenso ficar sem a cabeça por pegar em ti no colo.— Não tenho nada, só não comi ontem à noite. Além do mais Rayra contou que mais murmúr
Desde o último encontro que não tenho mais nenhuma informação de Adira, ou qual seja o seu nome, a saudade que sinto nem me incomoda o fato de ter mentido sobre seu nome, sobre sua profissão desde que seus sentimentos sejam sinceros como os meus.Ainda não tivemos contato sobre a morte do maldito senador, nem mesmo dos meus soldados sobre o roubo do último carregamento de 100000 dólares, mesmo que para mim seja indiferente perder esse dinheiro ou tê-lo, só não acredito que a polícia tem apanhado as armas e as destruído, tenho quase absoluta certeza de que o senador Cassetti está envolvido em alguma trafulha para ter alcançado tão rápido o posto de bilionário em menos de cinco anos.— Pensando em que? — Questiona minha mãe assim que senta ao meu lado no sofá da sala de estar.— Alguns problemas. — Comento sendo grato por ainda ter a minha mãe aqui junto de mim.— Lorenzo, podemos conversar. — Pede Fradique acompanhado por Leon, Lucca e ainda Matteo todos com um semblante apreensivo.—
— Calma, por favor. — Peço empurrando o mais gentil que posso com as mãos nos ombros dela para deitá-la de novo na cama.— Desculpa, Lobinho. — Pede chorando virando o rosto na minha direção assim que sento ao seu lado. — Tinha medo de contar o que faço e não desejares nada mais comigo. — Diz esticando a mão para tocar-me, me aproximo da beirada da cama para a impedir tal movimento brusco.— Fica quieta, por favor. Não me importo que teu nome seja Adira ou Ava, desde que aquilo que vivemos durante este tempo tenha sido sentido verdadeiramente por nós dois. — Digo encostando-me na cabeceira da cama e puxando-a para perto de mim.— Desculpa.— Queres parar de repetir a mesma palavra, e explicar-me como chegaste até aqui ferida com duas crianças, duas mulher e dois homens?— As crianças… — Fala parando para recuperar fôlego. — São minhas. — Diz retornando o olhar para a parede sem encarar-me ao entregar um pouco da sua vida.— Teus? — Pergunto duas vezes para ter a certeza de que escutei