Capítulo 2

Nunca pensei que ia encontrar em Lorenzo alguém a temer em perder, que o sentimento de impotência se tornasse tão grande que minhas mãos vacilam ainda mais do que na primeira vez que matei alguém, como agora acontece enquanto esforço-me para percorrer as ruas de Madrid com a maior calmaria possível para não chamar à atenção de ninguém, muito menos daqueles que tentaram e falharam o capturar no interior do hotel.

— Para onde estamos a ir? — Questiona sentando no banco do passageiro, mortinho de vontade de passar para o do condutor e controlar a situação por si mesmo. — Adira! — Fala num tom alto quando dou uma curva fechada entrando na autoestrada.

— Não grites, isso irrita-me desnecessariamente. — Aviso desacelerando para conseguir atender o telemóvel. — O que foi Natália? Não é uma boa altura… — Falo, sentindo os nervos à flor da pele ainda mais com o olhar desconfiado de Lorenzo sob mim.

— Chefe, descobrimos que…

— Desembucha de uma vez, garota. — Digo pela primeira vez sendo um pouco rude com alguém sob meu comando, ainda mais com uma menina de 18 anos.

— Sim chefe, só para avisar que é você que os homens procuravam. — Avisa-me quase que perco o controle do carro ao descobrir que por culpa do meu trabalho Enzo quase se magoou.

— Obrigado, apronta o jatinho no Cuatro Vientos. — Ordeno voltando o olhar para Enzo que mantém sua arma pousada no joelho direito. — Preciso de pessoal por lá para segurança.

— Porque não diz quem é de verdade a ele? — Questiona do outro lado do telemóvel gaguejando por ser ousada ao ponto de perguntar-me algo tão íntimo sobre mim.

— Ambos sabemos que o que faço não é fácil de aceitar, ainda mais com o que fiz há poucos anos. — Falo em alemão, desligando depois de escutá-la garantir que o pessoal está a caminho do aeroporto.

— O que está a acontecer, Adira? — Questiona ao passo que nos inserimos novamente nas ruas da cidade, só que no início não me incomodava ser chamada pelo nome falso, porém agora é necessário um esforço tremendo para não falar o meu nome verdadeiro.

— Precisas voltar para Capri, protegido.

— E tu? — Questiona tocando em meu rosto.

— Não te preocupes, o essencial é saíres de Espanha o mais rápido possível. — Falo entrando pelos portões privativos do aeroporto, só aqueles que têm um jato e muito dinheiro é que podem entrar por este lado particular.

— Adira, vamos nos voltar a ver? — Pergunta assim que saímos do carro. — Desculpa por nunca contar sobre minha vida. — Diz contra o meu pescoço, lamentando-se quando fico em silêncio.

— Vamos claro que vamos. — Prometo, sem muita convicção por ainda não saber quem me procura e por qual razão.

— Eu …

— Não agora, por favor… — Peço tocando em suas mãos segurando meu rosto, seus olhos de cores tão diferentes adoram-me com afeto refletido neles.

— Está bem… está bem. — Fala de olhos cerrados puxando-me para seus braços, nos despedimos em silêncio, palavras não são necessárias neste momento.

— Podes confiar em Wagner e Luke, vão acompanhar-te até Capri e regressarem. — Digo aproximando minhas mãos de seu rosto sentindo sua barba bem cuidada.

— Adira… — Geme quando me distancio dele retornando para o carro sem olhar para trás, mesmo que seja a coisa mais difícil a fazer neste momento.

— Chefe? Para onde estamos a ir? — Questiona Victor, Natália e Rayra ao meu lado

— Para a cabana.

— Podemos parar antes para comprar algumas coisas, fico no carro apagando as câmaras e bloqueando o sinal dos telemóveis. — Pede Natália, sei bem o motivo de não comer o que tem na cabana, só há enlatados.

— Está bem, vamos parar no Dia. — Falo virando à esquerda onde há a alguns quilómetros do mesmo lado um supermercado, quanto maior e mais pessoas com muita mais confusão nos dá tempo e oportunidade de escaparmos se algo ocorrer, além do mais tem vários pontos de saída o que facilita em vários momentos.

— Obrigado, Chefinha. — Agradece toda contente tenho certeza de que a lista que passou a Rayra é enorme e nada de muito saudável a se comer durante as refeições.

— Vamos, não saias do carro por nenhum motivo. — Falo saindo do carro junto de Victor e Rayra. — Victor, precisas de algo?

— Só de cerveja, chefe. — Diz sorrindo, já sabe o que vou pedir a ele ou pelo menos suspeita.

— Volta para o carro, por favor. — Peço escutando os sorrisos dos dois às minhas costas, Rayra dá uma corrida parando ao meu lado.

— Natalia, sabe defender-se chefe. — Anota sussurrando ao entrarmos na loja, não conseguimos deixar de verificar o redor da entrada do supermercado, assim como identificar as portas de saída e quantos seguranças estão ao nosso redor. — A treinaste muito bem, depois que a trouxeste connosco.

— Sei disso, mas ainda é muito nova para ter que decidir quem vive e quem morre. — Falo puxando um carrinho, entregando outro a ela. — Agora vamos.

— Achas que se não levar todas as marcas de chocolate que Natália pediu vai ficar muito chateada?

— O que achas? Porém, vamos ser rápidas. — Digo empurrando da prateleira vários pacotes de arroz, massa e puré de batata. — Salsinhas em lata ou embaladas?

— Embaladas em vácuo, por favor. — Pede com um sorriso me observando abrir o frigorífico.

— Coloca quatro garrafões de água, por favor. — Peço apontando para o corredor das bebidas. — Não te esqueças das cervejas.

— Era bem-feito levar sem álcool para Victor. — Diz sorrindo, se há algo que meus subordinados gostam é de provocar-se uns aos outros, mas Rayra tem a qualidade de tirar qualquer outra pessoa do sério, até mesmo o mais calmo como Victor.

— Deixa de coisas, não vais irritá-lo quando vamos ficar confinados durante alguns dias na cabana. — Falo direcionando-me para a caixa, o supermercado tem várias pessoas, mantenho a cabeça abaixada assim como Rayra.

— São 685,92€, senhora. — Indica a jovem do caixa após passar todas as compras, assim como o pagamento pelo depósito de combustível.

— Tens alguma desconfiança? — Questiona Rayra enquanto colocamos tudo no porta-bagagens do carro.

— A não ser Ottis ou o meu último trabalho, não sei. — Argumento batendo no vidro para Victor do banco do passageiro destrave a porta.

— Vamos descobrir. — Diz ao entrar no banco de trás, começando rapidamente a provocar Victor pelo tipo de cerveja que compramos.

— Calem-se! — Ordeno ao sair do supermercado depois de abastecer. — Começa a trabalhar Rayra quando chegarem na cabana descansam.

Em meia hora, Victor estranha o silêncio quando observamos as duas a dormir pesadamente. Não consigo parar de lembrar o rosto de Lorenzo quando informei que sabia quem ele é, assim como ao nos despedirmos, sei que Enzo deve estar cheio de questões, mas agora não consigo nem imaginar quantas mensagens tenho no telemóvel que desliguei assim que sai do aeroporto.

— Não achas que deves explicar tudo ao Don Rossi? — Questiona Victor arrancando-me dos pensamentos com Enzo

— Que assassino pelo maior preço ou que matei o pai dele? — Indago apertando o volante com força, só de pensar no rosto que Lorenzo ia ficar ao descobrir que sou a culpa pela morte do pai.

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