Capítulo 4

14 JAN 2024, 08:00 HORAS - ESPANHA

— Tinhas mesmo que fazer aquilo naquela mansão? — Questiona Victor sentando ao meu lado, ainda estamos na cabana desde que viemos da Espanha só sai para resolver o pequeno problema na Calábria.

— Tens algum dilema com isso? — Indago mantendo os olhos para a frente encarando a floresta onde a cabana está construída.

— Nenhum, claro que não. — Fala hesitando, mesmo que seja um dos meus melhores soldados.

— Arthur Esposito era uma víbora e criou uma serpente ainda pior. — Argumento esticando as pernas no banco.

— Descobriste alguma coisa com o velho? — Questiona agarrando a caneca de café fumegante.

— Não muito, só uma coisa ficou presa no meu cérebro.

— O quê, Ava? — Indaga depois de vários minutos em silêncio sem que tenha falado nada a mais sobre as informações que retirei do morto andante.

— Que quando descobrisse a verdade ia arrepender-me de querer a verdade. — Transmito apertando a caneca na mão, perdida com o olhar no horizonte.

— Achas que pode ser alguém que conheces? — Questiona antes de entrarmos na cabana após seremos chamados por Natalia e Rayra.

— O que foi? — Pergunto quando as duas permanecem a falar com o olhar.

— Chefe, Nikolai está em perigo. — Explica Rayra se abaixando no mesmo instante com o susto por ter atirado a caneca vazia que tinha em minha mão contra a parede.

— Como descobriram a localização dele? — Questiono indo pegar a minha mochila.

— Heitor, o segurança que cuidava da proteção dele, traiu-nos. — Informa em simultâneo que começa a arrumar todas as suas coisas.

— Quero ele morto antes mesmo de pousar em Portugal. — Ordeno batendo com a porta do condutor. — Despachem-se. — Falo escutando Rayra e Victor reclamando um com o outro porque simplesmente os dois querem sentar no banco da frente.

— Meu irmão já mandou preparar o jato, os pilotos estão prontos. — Avisa Victor no banco da frente enquanto acelero pela estrada de terra batida o mais rápido possível pois a cabana fica a mais de 2 horas de viagem até o aeroporto.

— Vai estar tudo bem. — Assegura Natalia tocando em meu ombro no meio da viagem.

— Vamos! — Grito chamando os soldados dos outros dois carros que chegam quase ao mesmo tempo do que o nosso. — Victor, prepara as armas depois do jato levantar voo.

— Feito. — Fala puxando as malas de um dos carros com o armamento que poderá ser necessário para num futuro próximo.

— Os demais descansam. — Digo ao sentar no último banco do jato, com Rayra e Natalia ao meu lado.

                                                                                                       14 JAN 2024,11:30 horas - PORTUGAL

— Ava, calma, não podemos entrar no prédio sem primeiro verificar as câmaras de segurança.

— É as minhas crianças. — Resmungo com a arma longa preparada em minhas mãos.

— Paciência, sempre foi isso que pediste de todos nós. — Incentiva Wagner segurando em meu braço, o único que consegue tal feito e não levar um soco na face.

— Vai chatear outro. — Resmungo baixo perto do ouvido dele para que os outros soldados não escutem, mas neste momento não estou para aturar ninguém me dando conselhos ainda mais quando Nikolai e Chaia podem estar em perigo.

— Senhora, não conseguimos contato com a cobertura onde está o menino e jovem. — Informa Luke parando ao meu lado e de Wagner sem nos olhar nos olhos diretamente.

— Victor? — Chamo o garoto que também é muito bom com facas. — Prepara-te vais entrar comigo pelas escadas, Wagner e Rayra pelas de serviço. Luke arranja um ponto de verificação pelas janelas. — Falo olhando para todos os homens, vinte ao total, todos com os seus defeitos e qualidades. — Natalia e Peter comecem a vasculhar a área, Teo busca tudo sobre o nosso mais recente traidor.

— Prontos? — Questiona Wagner dando um sorriso ao notar o irmão brincar com duas facas na mão.

— Se não conhecerem prendam aqueles que conseguirem. — Ordeno, sei bem que o prédio é todo meu, mesmo que esteja localizado no centro do Porto.

— Espero que tenha muitos para matar pelo caminho. — Fala Victor com um sorriso mortal no rosto.

Entramos pela porta principal, Wagner e Rayra correm para encontrarem as escadas de serviço do lado exterior que tem entrada na rua paralela depois de puxar a escada de ferro. Como não tem mais pessoas no prédio a não ser Chaia e Nikolai, porque o segurança está neste momento preso no barco atracado no cais sendo torturado para responder a todo o que Walter quer, assim como tudo nós, ainda mais eu por o homem ousar trair-me da pior forma possível.

— Calma! — Pede Victor respirando pesadamente pelo esforço de corrermos escadas acima. — Ava, espera um segundo. — Pede olhando para os degraus acima.

— Despacha-te. — Falo abrindo a fechadura da porta do andar da cobertura, sempre deixei avisado a Chaia e ao segurança que não podiam usar ela a não ser em casos especiais.

— Graças a deus! — Sussurra assim que encontramos Nikolai e Chaia amarrados no quarto do menino, ambos chorando.

— Está tudo bem, pequenino. — Digo tocando nos cabelos húmidos dele. — Devagar. — Peço puxando para meus braços enquanto o meu menino respira pesadamente.

— Sinto muito, não pensei que ele ia nos prender aqui. — Diz Chaia, uma jovem de 10 anos que conheci depois de ter saído do radar de Sergey.

Depois de cinco anos comecei a ganhar o meu próprio dinheiro trabalhando naquilo que me prepararam, num desses trabalhos encontrei na Bulgária um pequeno orfanato, até tudo bem, investiguei e comecei a passar um cheque a cada três meses para auxiliar as crianças que por lá passavam.

Três anos atrás descobri que as cuidadoras não eram tão amáveis como pensava, as cabras entregavam crianças a pedófilos ou a redes de prostituição infantil, quando cheguei no pequeno orfanato lá estava Chaia, de 7 anos, tremendo e completamente magra, esquelética sendo entregue em mãos a um homem duas vezes maior do que eu.

Sem pensar em mais nada, matei o maldito que tentou prender e destruir mais um inocente e as porcas das cuidadoras que se passavam por algo que não eram, em vez de proteger as crianças só se importavam com o dinheiro.

Quando acabei de matar todos agarrei em Chaia, contudo sei que a vida que suporto não é para uma criança por isso encaminhei-a para Portugal onde a pus num colégio interno muito conceituado aqui no Porto.

Em 2023 descobri sobre Nikolai, o menino tinha acabado de fazer um ano no primeiro dia do ano, o que nunca pensei era descobrir que Sergey era capaz de descer tão baixo ao manter uma criança com uma prostituta, não que tenha algo contra o que a mulher fazia da vida, mas sim nas condições em que deixava a criança para ir à festa e vender-se mais um bocado sem ter o mínimo cuidado com o menino no berço velho e caindo aos pedaços.

Pensando nisso comprei este apartamento que antes mal dava para ser habitado, o desenhei e paguei a sua reconstrução, para não chamar muito a atenção encontrei uma senhora que vinha uma vez por dia cuidar da alimentação das duas crianças, já que tirei Chaia da escola e consegui através de um bom cheque para o colégio a colocar estudando pelo computador.

— Não tens culpa. — Falo a puxado comigo ainda com Nikolai nos braços para a sala de estar, para sentarmos no sofá enquanto os outros soldados verificam o redor para uma saída do prédio segura. — Só que agora preciso que pegues nas tuas coisas mais importantes enquanto faço o mesmo por Nikolai.

— Está bem. — Diz ainda tremendo, Victor a segue com o olhar.

— Vai ajudá-la. — Proponho sorrindo ao erguer com o menino ainda agarrado ao meu pescoço. — Nikolai, vamos escolher algumas roupas?

— Mamãe, posso levar o pandinha? — Questiona errando em várias palavras, mas fala muito bem para um menino de dois anos, remexe as mãos uma na outra com um sorriso desdentado deixando o seu rosto ainda mais fofinho.

— Claro, meu amor. — Concordo tirando uma mochila do armário. — Pega no padinha da cama, meu amor. — Peço puxando alguns cabides com peças de roupa básica por alguns dias.

— Para onde vamos? — Pergunta com medo assim que pego nele ao colo para descer as escadas mais rápido, a mochila Victor a agarra logo que saímos do quarto do pequeno.

— Itália. — Digo protegendo o menino com meus braços para não bater com seu corpinho. — Vai ficar tudo bem.

— Eu sei que sim, mamãe. — Diz Chaia deixando-me feliz por confiar em mim, mesmo que fale só por telemóvel na maior parte do tempo.

Meu menino é lindo, com seus dois aninhos nem parece ser filho e ter o mesmo sangue podre daquele monstro do pai dele. Seus olhinhos azuis clarinhos, tão transparentes e puros como o seu coraçãozinho. Os cabelinhos antes castanhos-escuros estão se modificando para um preto brilhante, é uma criança extremamente carinhosa e amorosa.

Saber que um dos homens que jurou lealdade a mim teve a coragem estúpida de tentar algo contra as crianças para me atingir me faz desejar esquartejar Heitor com as minhas próprias mãos.

Chaia, por outro lado, é mais calada por questões da idade que está chegando, mas também pelo que já sofreu ainda tão novinha. Com seus cabelos castanhos longos, como a própria pediu mesmo que fosse contra o regulamento do colégio, nunca a obriguei a cortá-los, mesmo que isso me tivesse rendido várias horas em conversação com o diretor do mesmo. Os seus olhos pretos dão um charme a mais a seu rosto redondo e ainda mais agora as sardas que a própria não gosta, mas que para mim dão um ar de requinte à sua face

— Pequeno, preciso de conduzir. — Falo esperando que me solte para o pousar na cadeirinha.

— Conduzo, senta com eles lá atrás. — Propõem Wagner com um sorriso observando o menino não me largar.

— Nikolai, está tudo bem. — Garanto segurando no seu rostinho, notando-o molhado pelas lágrimas.

— Mas, estou com medo. — Diz gaguejando, sufocando com a rala respiração e com o medo.

— Nós vamos proteger-te, pequeno príncipe. — Assegura Rayra do banco da frente, Chaia ao meu lado mantém-se em silêncio, mas sorrindo, o que já não é mau depois de quatro dias fechados em cativeiro.

— Adormeceram. — Digo ao perceber que os adultos no carro tentam falar o mais baixo possível para o menino e Chaia não escutarem.

— Como vamos fazer com os trabalhos pendentes? — Questiona Rayra mostrando uma lista infinita de vários alvos.

— Os da Itália e Grécia cuido, os outros terei que verificar cada trabalho para distribuí-los por vocês. — Falo olhando para fora ao notar a estrada do aeroporto à nossa frente. — Conversamos depois de ter cuidado das minhas crianças.

— És uma boa mãe. — Elogia Wagner sentando ao meu lado logo que o pequeno avião levanta voo.

— Não sei se o sou, mas tento fazer tudo de bom por eles. — Falo observando Natalia brincar com o menino que assim que o tirei o mais cuidadosamente possível dentro do carro acordou, já Chaia sente que está segura definitivamente e nem acordou quando Wagner a pegou no colo.

— Pelo menos é uma criança saudável, ambos sabemos que não iria ser por muito tempo no poder de Sergey. — Diz tocando em meu ombro ao erguer para ir juntar-se aos outros homens nos bancos mais à frente. — E não te esqueças que deste uma vida a Chaia, uma na qual tenho certeza de que a menina nunca será tocada sem a vontade dela.

— Chefe, não sei se vai conseguir ter paz por muito tempo. — Sussurra Rayra sentando-se ao meu lado, desta vez a jovem sorridente e provocante, está com o olhar sério, o que percebo que vai haver mais traição, dor e sangue. — Alguém colocou sua cabeça a 500 mil dólares e 1.000.000$ pela captura.

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