O portão eletrônico se fechou atrás de mim com um ruído metálico, abafado pelo som do meu próprio coração. Eu respirei fundo antes de desligar o carro — o carro dele — e desci devagar, como se adiar cada passo pudesse atrasar também o que vinha pela frente.
Ainda era cedo, o céu tinha aquele tom azul frio de manhãs em que o sol não sabe se quer sair ou não. As árvores balançavam preguiçosas com o vento leve, e por um momento eu desejei ser uma delas. Lenta. Estável. Sem surpresas.
Mas minha vida, definitivamente, não era uma árvore.
Fechei a porta do carro e comecei a caminhar até a entrada da casa.
E foi aí que ouv
MaxO ar gelado da manhã cortava meu rosto como navalhas, mas não era suficiente pra acalmar o turbilhão dentro de mim.Cinco da manhã. Eu estava na rua correndo feito um louco com Daniel, que tinha acabado de voltar de viagem e já estava me enchendo o saco como se nunca tivesse ido.— Vai me dizer que você realmente não dormiu direito essa noite de novo? — ele perguntou, ofegante, mas com aquele tom sarcástico de sempre. — Max, você vai surtar desse jeito.— Ela sumiu ontem. No meio da madrugada. Com meu carro — falei entre dentes, os músculos da mandíbula tão tensos quanto os das pernas. — Não atendeu. Não mandou mensagem. Nada.
Subi as escadas em silêncio, os músculos ainda reclamando da corrida, mas a mente mais leve. Abri a porta do quarto devagar, já me preparando pra ver o caos, mas o que encontrei me desarmou completamente.Charlotte estava esparramada na cama, dormindo como se o mundo lá fora não existisse. Os cabelos espalhados pelo travesseiro, uma perna dobrada, a outra esticada, a camisola fina enroscada na cintura, deixando as curvas dela à mostra — especialmente aquela bunda que parecia feita pra me provocar.Suspirei, passando a mão pela nuca enquanto um sorriso lento nascia no canto da minha boca. Não era justo ela me ter desse jeito. Mas ela tinha. Completamente.Fui pro banheiro sem fazer barulho, tirei a camiseta suada, o moletom, entrei no chuveiro quente e deix
CharlotteA pilha de papéis nos meus braços era ridiculamente grande, quase um insulto pessoal. Maximilian Steele tinha feito isso de propósito, eu sabia. Ele sabia. Documentos do mês passado? Sério? Era só mais uma das formas dele de testar minha paciência. Como se não bastasse lidar com sua presença intimidadora e aquele olhar frio que me fazia sentir como uma funcionária dispensável, agora eu também tinha que carregar peso extra logo de manhã.Eu atravessava o lobby da Steele Medical Supplies, a empresa de vendas para hospitais onde eu trabalhava há anos, tentando equilibrar os documentos e o copo de café sem derramar nada. O som dos saltos ecoava pelo chão de mármore e, quando cheguei ao elevador, não precisei olhar para saber que alguns olhares estavam sobre mim. Todos conheciam Maximilian Steele. E todos sabiam que, de alguma forma, ele tinha um prazer sádico em me sobrecarregar.— Precisa de ajuda? — uma voz masculina perguntou.Olhei de lado e vi Daniel Reed, o melhor amigo de
Suspirei pesadamente e, antes que percebesse, já estava planejando formas sutis — e não tão sutis assim — de me vingar. Nada muito grave. Só o suficiente para que ele sentisse o peso do inferno que eu chamava de "meu humor ruim". Talvez trocar o açúcar do café dele por sal. Ou… quem sabe… adicionar algumas gotas de laxante?A ideia me fez sorrir. Imaginar Maximilian Steele, o todo-poderoso CEO, correndo para o banheiro no meio de uma reunião importante? Ah, isso era quase poético.— Charlotte Grant, você é um gênio.Mas, infelizmente, minha moral (e minha vontade de continuar empregada) ainda eram um obstáculo. Então, minha vingança teria que esperar.Pelo menos por enquanto.Com minha pequena vingança mental me dando um alívio temporário, finalmente cheguei ao restaurante. Escolhi uma mesa perto da janela e pedi um prato que não apenas me enchesse, mas também compensasse o estresse matinal.Enquanto esperava a comida, aproveitei para checar meu celular. Nenhuma mensagem importante, ex
A reunião começou de maneira tensa, como eu já imaginava. Richard Donovan entrou na sala com sua equipe, a postura arrogante de sempre, como se a qualquer momento ele fosse começar a dar ordens em vez de negociar. O homem exalava poder, mas também tinha algo de irritante que me fazia querer ignorá-lo a todo custo. Max estava no seu melhor comportamento corporativo, mas eu sabia que ele não gostava da forma como Donovan tratava as coisas, como se tudo fosse simples, como se ele estivesse no controle o tempo todo.Nos cumprimentamos, e a assistente de Donovan começou a falar sobre o plano de vendas. Eu estava prestando atenção, mas ao mesmo tempo me perguntava o que ele realmente queria, e o que Max achava que deveria ser feito para que isso fosse fechado da forma mais vantajosa possível. Claro, a resposta para isso eu já sabia. Maximilian não se contentava com qualquer coisa; ele precisava de detalhes, de uma análise minuciosa, de uma visão que fosse mais além do que só números e proje
Maximilian ficou em silêncio por um instante, os olhos fixos em mim como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer. A tensão no ar era palpável, e eu me senti estranha, como se algo tivesse mudado entre nós. Mas, ao invés de um gesto de agradecimento, ele se levantou abruptamente da cadeira, seus olhos agora mais intensos e carregados de raiva.— Você não tinha que ter feito isso, Charlotte! — A voz dele cortou o ar, fria e venenosa. — Não era da sua conta. Eu não precisei da sua ajuda. Você se meteu onde não devia e, pior, foi completamente desrespeitosa!Eu recuei um passo, surpresa com a ferocidade das palavras. Max avançou um passo em minha direção, e pude ver a raiva queimando em seu olhar. Ele estava visivelmente irritado, seus músculos tensos como se estivesse pronto para explodir a qualquer momento.— Você se acha no direito de intervir e falar por mim? Eu sou perfeitamente capaz de lidar com essa situação sozinho, Charlotte. Não precisava da sua interferência
MaxO despertador soou estridente ao lado da minha cabeça, mas eu já estava acordado. A noite tinha sido longa e inquieta, marcada por um turbilhão de pensamentos que se recusavam a me deixar em paz. Pisquei algumas vezes, tentando afastar a sensação incômoda no peito, mas ela continuava lá. Algo dentro de mim estava errado. Algo que eu não queria admitir.Passei a mão pelo rosto, soltando um suspiro pesado antes de finalmente me levantar. A luz matinal entrava timidamente pelas frestas das cortinas, projetando sombras suaves pelo quarto. Caminhei até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho. Eu parecia cansado, os traços tensos, como se a noite sem dormir tivesse cobrado seu preço. Mas não era apenas o cansaço. Era outra coisa. Algo que eu não queria nomear.Charlotte.As imagens da noite
O som firme dos saltos ecoou pelo escritório antes mesmo que eu levantasse o olhar.Charlotte entrou como uma tempestade, seu corpo rígido de tensão e os olhos faiscando determinação. Mas foi o pedaço de papel em sua mão que realmente fez meu estômago afundar.Seu aviso prévio.Senti Daniel se remexer na poltrona ao meu lado, claramente interessado no que aconteceria a seguir.— Daniel. — Minha voz saiu firme, um comando direto. — Nos deixe a sós.Ele ergueu as mãos em rendição, mas antes de sair, lançou um olhar divertido.— Boa sorte, chefe. Você vai pre