A reunião começou de maneira tensa, como eu já imaginava. Richard Donovan entrou na sala com sua equipe, a postura arrogante de sempre, como se a qualquer momento ele fosse começar a dar ordens em vez de negociar. O homem exalava poder, mas também tinha algo de irritante que me fazia querer ignorá-lo a todo custo. Max estava no seu melhor comportamento corporativo, mas eu sabia que ele não gostava da forma como Donovan tratava as coisas, como se tudo fosse simples, como se ele estivesse no controle o tempo todo.
Nos cumprimentamos, e a assistente de Donovan começou a falar sobre o plano de vendas. Eu estava prestando atenção, mas ao mesmo tempo me perguntava o que ele realmente queria, e o que Max achava que deveria ser feito para que isso fosse fechado da forma mais vantajosa possível. Claro, a resposta para isso eu já sabia. Maximilian não se contentava com qualquer coisa; ele precisava de detalhes, de uma análise minuciosa, de uma visão que fosse mais além do que só números e projeções rápidas. Isso já era o suficiente para irritar Donovan, mas quando ele começou a falar, ficou claro que ele não estava disposto a esperar.
— Como já discutido, nossa proposta visa uma expansão rápida... — A assistente de Donovan prosseguiu com sua fala mecânica, até que eu entrei na conversa, tentando equilibrar as coisas.
— O desejo de Maximilian, no entanto, é que a análise seja mais profunda. Ele quer ver projeções mais detalhadas, uma visão a longo prazo sobre o impacto dessa expansão. Não estamos apenas analisando números de curto prazo. — Minha voz estava firme, tentando ser a intermediária em um conflito que eu sabia que estava prestes a explodir.
A tensão começou a se instalar no ar. Donovan não parecia gostar da minha intervenção.
— Isso é mais complicado do que o que foi acordado, Charlotte. Não estamos aqui para criar mais problemas, estamos aqui para fechar o contrato. Não venha me atrasar!
— Atrasar? Você acha que vou fechar esse negócio sem garantir que todos os detalhes estejam no lugar? Se você está tão impaciente, talvez a gente devesse repensar tudo. Eu não sou um amador, Donovan. — Max respondeu, com a calma que só ele tinha, mas a hostilidade na voz era inegável.
— Você está dificultando tudo, Steele. Não temos tempo para essas análises intermináveis. Estamos aqui para fechar um contrato, e se você continuar com esse jogo, vou embora agora.
Maximilian estava prestes a responder, e eu podia ver que ele estava no limite da paciência, pronto para rebater com algo ainda mais ácido. Mas, antes que ele pudesse dizer mais uma palavra, eu o interrompo.
— Richard, entendo que você está frustrado, mas precisamos manter a calma. Max tem um processo, e ele não vai fazer concessões para apressar as coisas. Nenhuma grande negociação é feita com pressa. — A minha voz saiu firme.
Ele bufou de irritação, mas não disse mais nada. Max parecia, por um momento, mais calmo, mas ainda em alerta. Ele deu um leve sorriso, algo pequeno, mas carregado de um desafio silencioso.
— Agora, vamos continuar. Charlotte, por favor, prossiga com as informações. — Ele disse, sua voz agora mais controlada, mas ainda carregada de uma tensão que não se dissipava.
Não podia deixar as coisas escaparem. As palavras de Maximilian estavam ecoando na minha mente: detalhes, análise, a longo prazo. Ele não faria concessões. E eu, como sua assistente, sabia exatamente o que fazer para manter tudo nos trilhos, ainda que isso significasse esticar a negociação.
Eu ajustei minha postura e comecei a falar, mais focada do que nunca.
— Considerando as projeções e a necessidade de um planejamento eficaz, acredito que um prazo mínimo de oito meses seja necessário para uma análise completa. Não estamos falando de um simples ajuste de mercado, mas de uma expansão com impacto estratégico. — Eu disse, mantendo a calma, mas com firmeza.
A assistente de Donovan, uma mulher com um sorriso forçado e olhos um pouco mais penetrantes do que eu gostaria, reagiu imediatamente.
— O que está sendo proposto aqui não exige oito meses, Charlotte. A equipe de Donovan já fez ajustes para acelerar os processos. Estamos prontos para dar início à expansão imediatamente, e esse tipo de atraso vai prejudicar todos os envolvidos. — Sua voz estava cheia de pressa, tentando pressionar, mas eu não podia ceder.
Eu respirei fundo, sem perder o foco, e olhei diretamente para ela.
— Entendo sua posição, mas não podemos acelerar algo dessa magnitude sem garantir que todos os dados estão alinhados. O tempo de oito meses é inegociável. Maximilian não abrirá mão dessa análise detalhada.
O ambiente parecia ter esfriado ainda mais, mas eu sabia que tinha feito a coisa certa. Maximilian não aceitava nada menos do que a perfeição, e a proposta que ele estava buscando precisava de mais tempo, mais atenção aos detalhes. Nenhum de nós poderia arriscar uma falha no meio do processo.
Donovan, no entanto, não parecia disposto a se conformar tão facilmente. Ele se inclinou para a frente, os olhos estreitos de raiva.
— Isso é inaceitável, Charlotte! O que você está sugerindo é um atraso sem sentido. Se não fecharmos esse contrato agora, todo o trabalho até aqui será em vão. Você está colocando tudo em risco! — A voz dele estava carregada de frustração, e a pressão na sala só aumentava.
Maximilian estava em silêncio, mas podia sentir que ele estava absorvendo cada palavra. Ele olhou para Donovan com uma calma glacial.
— Se esse prazo não for cumprido, Donovan, então você pode ir embora. Eu não estou aqui para brincar de negócios. Tudo tem que ser feito corretamente. — A resposta de Max foi direta e incisiva, mais uma vez colocando o ponto final na conversa.
Eu senti uma ponta de alívio, mas a tensão ainda estava presente. Donovan não parecia pronto para recuar, mas não tinha escolha a não ser aceitar as condições.
Ele se afastou da mesa, com o rosto vermelho de frustração, e soltou um longo suspiro.
Donovan se levantou da mesa, a cadeira rangendo quando ele empurrou para trás, e sua raiva ficou evidente. O rosto dele estava agora completamente vermelho, e eu podia ver a raiva se acumulando em seus olhos, um olhar que eu nunca tinha visto antes. Ele estava no limite, prestes a explodir.
— Isso é impossível! — Ele vociferou, a voz cortando o silêncio da sala. — Maximilian, você é impossível de se trabalhar! Nunca vi ninguém tão inflexível, tão obcecado por detalhes que não importam!
Maximilian não se mexeu, mas sua voz era uma lâmina afiada quando respondeu:
— Eu sou difícil porque é assim que os negócios de sucesso são feitos, Donovan. Não estou aqui para agradar ninguém. Se você não entende isso, talvez seja melhor reavaliar com quem está lidando. Eu não sou um homem de concessões fáceis, nunca fui. E nunca serei.
Donovan parecia perder a paciência a cada palavra de Max. Ele deu mais um passo para frente, o corpo tenso, os punhos cerrados.
— E eu? Eu sou quem está tentando resolver isso. Só que você torna tudo um inferno, cada vez mais difícil! Eu não sei como você consegue, Maximilian. Trabalhar com você é uma tortura, e eu já estou farto disso! — Ele gritou, a voz áspera, cheia de frustração.
Donovan se levantou com um movimento brusco, a cadeira rangendo com força, e eu vi a raiva queimando nos olhos dele. Ele estava prestes a explodir, e eu sabia que não seria bonito.
— Isso é uma merda! — ele gritou, a voz cortando o silêncio da sala. — Maximilian, você é impossível! Cada vez que tento lidar com você, é um inferno. Você se acha o dono do mundo, mas é insuportável! Esse contrato já deveria ter sido fechado, e você está nos atrasando por pura teimosia! Eu não aguento mais esse jogo de "quem manda" que você gosta de jogar!
Maximilian, com aquele olhar frio de sempre, não se moveu.
— Eu não estou aqui para agradar ninguém, Donovan.
Donovan avançou mais um passo, o corpo tenso e os punhos cerrados, como se estivesse a ponto de explodir de novo.
— Ah, e você acha que está no topo, né? O que você não percebe é que todo mundo está farto de você. Sua irmã não aguenta mais te aturar, o velho te cortou da família... Porque você é um filho da puta difícil de se lidar, Maximilian! Ninguém quer saber de você, e nem eu! Trabalhar com você é um pesadelo! Eu não sei como você consegue ser tão... insuportável!
Eu senti a raiva tomando conta de mim. As palavras de Donovan atingiram um lugar onde ninguém tinha o direito de ir, e eu sabia que, pela primeira vez, Maximilian estava abalado. Seu olhar vacilou, e eu vi algo ali. Era como se, por um segundo, ele estivesse em um lugar onde a dor era real.
Eu não podia deixar isso passar.
— Cala a boca, Donovan! — Eu gritei, a voz rasgando o ar. — Você não tem o direito de falar dessa forma! Não tem direito de atacar ninguém! Maximilian pode ser um filho da puta, mas ele tem mais coragem e mais caráter do que você jamais vai ter na vida!
Donovan olhou surpreso para mim, mas eu não dei chance para ele reagir. Continuei, com cada palavra saindo como uma lâmina afiada.
— Ele não precisa de você! Ele nunca precisou! Você acha que pode chegar aqui e atacar a família dele, sem nem ao menos saber o que está dizendo? Ele construiu o império dele sozinho, sem precisar de ninguém, e você está aqui, reclamando porque ele não se dobra às suas expectativas de merda!
Donovan, com a cara vermelha de raiva, virou-se e foi em direção à porta, sem nem ao menos lançar mais um olhar para a gente. Mas antes de sair, ele cuspiu:
— Você vai se arrepender disso, Charlotte. — Ele disse, a voz carregada de desprezo.
Eu, sem hesitar, respondi de volta, com os dentes cerrados:
— E você vai se arrepender de achar que pode chegar aqui e fazer o que quiser.
O silêncio na sala era ensurdecedor. Maximilian não disse nada, mas seus olhos estavam em mim, e eu sabia que ele estava absorvendo o que acabara de acontecer. Pela primeira vez, ele parecia... mais humano. Não era mais só o empresário frio e calculista. Ele estava vendo quem eu realmente era.
Eu respirei fundo, tentando retomar o controle, mas não me arrependo de nada do que fiz.
Maximilian me observou por um longo momento, como se estivesse medindo minhas palavras.
Então…
Maximilian ficou em silêncio por um instante, os olhos fixos em mim como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer. A tensão no ar era palpável, e eu me senti estranha, como se algo tivesse mudado entre nós. Mas, ao invés de um gesto de agradecimento, ele se levantou abruptamente da cadeira, seus olhos agora mais intensos e carregados de raiva.— Você não tinha que ter feito isso, Charlotte! — A voz dele cortou o ar, fria e venenosa. — Não era da sua conta. Eu não precisei da sua ajuda. Você se meteu onde não devia e, pior, foi completamente desrespeitosa!Eu recuei um passo, surpresa com a ferocidade das palavras. Max avançou um passo em minha direção, e pude ver a raiva queimando em seu olhar. Ele estava visivelmente irritado, seus músculos tensos como se estivesse pronto para explodir a qualquer momento.— Você se acha no direito de intervir e falar por mim? Eu sou perfeitamente capaz de lidar com essa situação sozinho, Charlotte. Não precisava da sua interferência
MaxO despertador soou estridente ao lado da minha cabeça, mas eu já estava acordado. A noite tinha sido longa e inquieta, marcada por um turbilhão de pensamentos que se recusavam a me deixar em paz. Pisquei algumas vezes, tentando afastar a sensação incômoda no peito, mas ela continuava lá. Algo dentro de mim estava errado. Algo que eu não queria admitir.Passei a mão pelo rosto, soltando um suspiro pesado antes de finalmente me levantar. A luz matinal entrava timidamente pelas frestas das cortinas, projetando sombras suaves pelo quarto. Caminhei até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho. Eu parecia cansado, os traços tensos, como se a noite sem dormir tivesse cobrado seu preço. Mas não era apenas o cansaço. Era outra coisa. Algo que eu não queria nomear.Charlotte.As imagens da noite
O som firme dos saltos ecoou pelo escritório antes mesmo que eu levantasse o olhar.Charlotte entrou como uma tempestade, seu corpo rígido de tensão e os olhos faiscando determinação. Mas foi o pedaço de papel em sua mão que realmente fez meu estômago afundar.Seu aviso prévio.Senti Daniel se remexer na poltrona ao meu lado, claramente interessado no que aconteceria a seguir.— Daniel. — Minha voz saiu firme, um comando direto. — Nos deixe a sós.Ele ergueu as mãos em rendição, mas antes de sair, lançou um olhar divertido.— Boa sorte, chefe. Você vai pre
Charlotte se afastou de mim com um movimento brusco, sua respiração acelerada e os olhos faiscando.— Se eu for ficar, Maximilian, vai ter que ter mudanças.Cruzei os braços, analisando-a. Eu já esperava que ela não fosse simplesmente aceitar minha imposição, mas algo em sua postura me dizia que ela não estava apenas exigindo um pedido de desculpas.— Que tipo de mudanças? — questionei, mantendo minha voz calma.Ela ergueu o queixo, determinada.— Eu quero ser respeitada. Quero que meu trabalho seja reconhecido sem precisar provar mil vezes que sou competente. Quero que pare de me tratar como se eu fosse descartável.
Charlotte— Eu ainda não acredito que você vai me abandonar, Clara — dramatizei, levando a xícara de café aos lábios.Clara riu, revirando os olhos enquanto passava manteiga na torrada. — Você está falando como se eu estivesse me mudando para outro país. É literalmente a cinco quarteirões daqui.— E ainda assim, longe o suficiente para eu ter que lidar sozinha com minha própria vida. — Suspirei, fingindo desespero.— Talvez seja a hora, né? — Ela ergueu uma sobrancelha com um sorriso malicioso. — Além disso, quem sabe assim você finalmente leva um homem para casa sem medo de me traumatizar?Quase engasguei
CharlotteA pilha de papéis nos meus braços era ridiculamente grande, quase um insulto pessoal. Maximilian Steele tinha feito isso de propósito, eu sabia. Ele sabia. Documentos do mês passado? Sério? Era só mais uma das formas dele de testar minha paciência. Como se não bastasse lidar com sua presença intimidadora e aquele olhar frio que me fazia sentir como uma funcionária dispensável, agora eu também tinha que carregar peso extra logo de manhã.Eu atravessava o lobby da Steele Medical Supplies, a empresa de vendas para hospitais onde eu trabalhava há anos, tentando equilibrar os documentos e o copo de café sem derramar nada. O som dos saltos ecoava pelo chão de mármore e, quando cheguei ao elevador, não precisei olhar para saber que alguns olhares estavam sobre mim. Todos conheciam Maximilian Steele. E todos sabiam que, de alguma forma, ele tinha um prazer sádico em me sobrecarregar.— Precisa de ajuda? — uma voz masculina perguntou.Olhei de lado e vi Daniel Reed, o melhor amigo de
Suspirei pesadamente e, antes que percebesse, já estava planejando formas sutis — e não tão sutis assim — de me vingar. Nada muito grave. Só o suficiente para que ele sentisse o peso do inferno que eu chamava de "meu humor ruim". Talvez trocar o açúcar do café dele por sal. Ou… quem sabe… adicionar algumas gotas de laxante?A ideia me fez sorrir. Imaginar Maximilian Steele, o todo-poderoso CEO, correndo para o banheiro no meio de uma reunião importante? Ah, isso era quase poético.— Charlotte Grant, você é um gênio.Mas, infelizmente, minha moral (e minha vontade de continuar empregada) ainda eram um obstáculo. Então, minha vingança teria que esperar.Pelo menos por enquanto.Com minha pequena vingança mental me dando um alívio temporário, finalmente cheguei ao restaurante. Escolhi uma mesa perto da janela e pedi um prato que não apenas me enchesse, mas também compensasse o estresse matinal.Enquanto esperava a comida, aproveitei para checar meu celular. Nenhuma mensagem importante, e