2.1 - O Aviso Prévio

O som firme dos saltos ecoou pelo escritório antes mesmo que eu levantasse o olhar.

Charlotte entrou como uma tempestade, seu corpo rígido de tensão e os olhos faiscando determinação. Mas foi o pedaço de papel em sua mão que realmente fez meu estômago afundar.

Seu aviso prévio.

Senti Daniel se remexer na poltrona ao meu lado, claramente interessado no que aconteceria a seguir.

— Daniel. — Minha voz saiu firme, um comando direto. — Nos deixe a sós.

Ele ergueu as mãos em rendição, mas antes de sair, lançou um olhar divertido.

— Boa sorte, chefe. Você vai precisar.

A porta se fechou, e o silêncio pesado caiu entre nós. Charlotte cruzou os braços, segurando o papel com força.

— Eu vim oficializar minha demissão.

As palavras saíram sem hesitação, diretas, como se ela já tivesse ensaiado tudo antes de entrar.

Apertei os punhos sob a mesa, mantendo a expressão impassível.

— Você teve a noite toda para pensar e ainda quer ir embora?

Ela soltou uma risada sarcástica.

— Achei que ficaria feliz. Afinal, não foi você quem me disse para ir embora se não conseguisse lidar com seu temperamento?

O gosto amargo do arrependimento voltou com força.

Mas eu não podia deixar isso acontecer.

— Você está agindo por impulso — falei, minha voz controlada, mas firme.

Charlotte arqueou uma sobrancelha.

— Impulso? — Ela jogou o papel sobre a mesa. — Isso não é impulso, Maximilian. É a consequência das suas palavras.

Meu olhar caiu sobre o papel. Bastava minha assinatura para torná-lo oficial. Bastava um único gesto, e Charlotte sairia da minha vida.

Algo dentro de mim rejeitou essa ideia com tanta força que me levantei no mesmo instante.

— Eu não vou aceitar.

Ela piscou, surpresa. — O quê?

Apoiei as mãos na mesa, inclinando-me ligeiramente em sua direção.

— Você não vai se demitir.

Seu queixo se ergueu em desafio. — Ah, não? E o que exatamente vai me impedir?

Minha mandíbula travou. Charlotte nunca foi do tipo que cedia facilmente.

— Se quiser ir embora, vá. Mas não me venha dizer que isso é porque eu não reconheço seu trabalho. Você sabe tão bem quanto eu que não há ninguém mais competente para esse cargo.

Ela estreitou os olhos.

— Então você precisa de mim?

Engoli em seco. Eu precisava. Mas não apenas no sentido profissional.

Só que admitir isso era outra história.

— Preciso de alguém que não aja como uma criança mimada e fuja no primeiro sinal de conflito.

Seu olhar se inflamou no mesmo instante.

— Você é inacreditável! — Ela bufou, passando a mão pelos cabelos. — Eu deveria saber que você nunca mudaria.

Minha paciência estava no limite.

— E você deveria saber que eu não sou do tipo que aceita ser abandonado.

O silêncio entre nós ficou carregado. Por um momento, Charlotte pareceu hesitar, como se não esperasse aquelas palavras.

Mas então, sua expressão endureceu novamente.

— Tarde demais, Maximilian.

Charlotte soltou uma risada amarga, cruzando os braços como se tentasse se segurar. Mas eu via em seus olhos – aquele brilho intenso, a frustração fervendo sob a superfície.

— Você quer saber por que estou indo embora? — Sua voz não tremeu, mas havia uma emoção crua ali, algo que me fez prender a respiração. — Porque eu estou cansada, Maximilian. Cansada de você.

Aquelas palavras me acertaram com força, mas ela não parou.

— Cansada de me esforçar ao máximo para ser impecável no trabalho e, no final do dia, receber nada além do seu desdém. Cansada de ouvir você falar como se eu fosse descartável, como se meu trabalho não valesse nada.

Ela deu um passo à frente, o olhar cravado em mim.

— Você me j**a ordens, me trata como se eu fosse apenas mais uma peça no seu escritório, mas adivinha? Eu sou mais do que isso. Eu sou uma mulher que tem valor, que tem limites. E você os ultrapassou tantas vezes que eu nem sei como aguentei até agora.

Eu apertei os punhos, sentindo cada palavra dela como um golpe.

— Charlotte…

— Não, você vai me ouvir agora. — Sua voz ficou mais firme. — Porque eu escutei você tantas vezes, absorvi suas críticas, engoli minha frustração. Mas quer saber? Chega! Eu não vou mais implorar por respeito. Não vou ficar onde não sou valorizada.

Minha mandíbula travou. O peso do que ela dizia caía sobre mim como uma verdade brutal.

Charlotte não era só uma secretária eficiente.

Ela era Charlotte.

E eu tinha passado tempo demais fingindo que sua presença ao meu lado não significava algo.

Ela respirou fundo e balançou a cabeça, como se tentasse se recompor.

— Não estou pedindo que você me segure, Max. Só aceite.

Ela virou-se para pegar o papel sobre a mesa, mas algo dentro de mim despertou com uma intensidade que eu não reconhecia.

Não.

Eu não ia deixar isso acontecer.

Não quando finalmente enxergava o que realmente estava acontecendo.

Eu não precisava apenas da profissional impecável que organizava minha vida e minha empresa.

Eu precisava dela.

E se eu tinha passado todo esse tempo a empurrando para longe, agora era a minha vez de lutar.

Ela queria que eu aceitasse sua decisão?

Então eu teria que fazê-la mudar de ideia.

Charlotte ainda não sabia, mas a partir de agora, eu ia conquistá-la.

E dessa vez, não como seu chefe.

Dei a volta na mesa em dois passos firmes, meu corpo movido por algo instintivo, intenso. Antes que ela percebesse, minhas mãos estavam em sua cintura, puxando-a para mim com firmeza.

Ela ofegou, os olhos arregalados encontrando os meus.

— Maximilian— murmurou, surpresa.

Meus dedos apertaram sua cintura, sentindo seu calor através do tecido da blusa. Eu a mantive ali, perto o suficiente para que ela entendesse que eu não ia recuar.

— Você não vai embora — declarei, minha voz baixa, carregada de algo que nem eu sabia nomear.

Ela abriu a boca para protestar, mas eu inclinei o rosto, aproximando nossos lábios apenas o suficiente para sentir sua respiração quente se misturar com a minha.

— Eu não deixo que levem o que é meu, Charlotte.

Seus olhos brilharam com raiva, desafio… e algo mais. Algo que fez meu sangue ferver.

Ela podia lutar o quanto quisesse.

Mas essa guerra, eu estava decidido a ganhar

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