Suspirei pesadamente e, antes que percebesse, já estava planejando formas sutis — e não tão sutis assim — de me vingar. Nada muito grave. Só o suficiente para que ele sentisse o peso do inferno que eu chamava de "meu humor ruim". Talvez trocar o açúcar do café dele por sal. Ou… quem sabe… adicionar algumas gotas de laxante?
A ideia me fez sorrir. Imaginar Maximilian Steele, o todo-poderoso CEO, correndo para o banheiro no meio de uma reunião importante? Ah, isso era quase poético.
— Charlotte Grant, você é um gênio.
Mas, infelizmente, minha moral (e minha vontade de continuar empregada) ainda eram um obstáculo. Então, minha vingança teria que esperar.
Pelo menos por enquanto.
Com minha pequena vingança mental me dando um alívio temporário, finalmente cheguei ao restaurante. Escolhi uma mesa perto da janela e pedi um prato que não apenas me enchesse, mas também compensasse o estresse matinal.
Enquanto esperava a comida, aproveitei para checar meu celular. Nenhuma mensagem importante, exceto uma da Clara, minha melhor amiga:
Clara: E aí, sobreviveu à primeira manhã? 😏
Revirei os olhos e respondi:
Eu: Sobrevivi… Mas acho que perdi uns anos de vida. Seu conselho de não socar o chefe ainda está de pé?
Ela respondeu quase imediatamente.
Clara: Infelizmente, sim. Mas estou disposta a reconsiderar se ele for um escroto completo.
Sorri, balançando a cabeça. O garçom chegou com meu pedido, e eu ataquei a comida como se fosse minha única salvação. Eu precisava recuperar as forças.
Por mais que eu quisesse acreditar que a pior parte do dia já tinha passado, uma parte de mim sabia que trabalhar para Maximilian Steele não seria nada tranquilo.
Depois de pagar a conta, tomei um café rápido—sem laxante, por enquanto—e voltei para a empresa.
Respirei fundo antes de entrar no prédio, preparando-me mentalmente para o que quer que viesse a seguir.
— Certo, Charlotte. Sobrevivemos à manhã. Vamos sobreviver à tarde.
E se ele tentasse me provocar de novo? Bem… eu ainda tinha algumas ideias de vingança na manga.
Com esse pensamento, segui para o elevador, pronta para encarar mais algumas horas ao lado do homem que já estava testando todos os meus limites.
Assim que entrei na empresa, fiz o caminho até minha mesa tentando ignorar a leve vontade de simplesmente fugir dali e nunca mais voltar. Mas meu senso de responsabilidade—ou minha conta bancária gritando por estabilidade—me fez seguir em frente.
Sentei-me, liguei o computador e puxei a agenda de Maximilian para verificar seus compromissos da tarde. Meus olhos correram pela tela até pararem em um nome que exigia atenção imediata.
Reunião com Richard Donovan – 14h00
Donovan era um dos principais investidores e parceiro estratégico no ramo de equipamentos médicos que a Steele Enterprises vinha negociando há meses. Um homem influente, meticuloso e, segundo os boatos, alguém que não gostava de perder tempo.
Olhei o relógio: 13h45.
— Ótimo — murmurei, pegando meu bloco de notas e levantando-me.
Com passos firmes, atravessei o escritório até a sala de Maximilian e bati antes de entrar. Ele estava, como sempre, impecavelmente vestido e recostado em sua cadeira de couro, analisando documentos com uma concentração irritante.
— Você tem uma reunião com Richard Donovan em quinze minutos — anunciei.
Maximilian sequer ergueu os olhos.
— Eu sei.
Cruzei os braços, levantando uma sobrancelha.
— Mesmo? Porque você não parece estar se preparando.
Ele finalmente me olhou, os olhos azuis brilhando com algo que beirava o tédio.
— Eu sempre estou preparado, Charlotte.
Meu Deus, como ele conseguia ser tão insuportável?
— Bom, nesse caso, suponho que não vai precisar do resumo que eu fiz sobre os principais pontos da negociação, nem das informações atualizadas sobre os números do último trimestre.
Silêncio.
Se eu não estivesse tão ocupada sustentando minha expressão profissional, teria sorrido ao ver o maxilar dele se contrair levemente.
Com um suspiro pesado, Maximilian estendeu a mão.
— Me entregue.
Entreguei a pasta com os documentos, fingindo um ar indiferente.
— Também deixei pronto um café para você na sala de reuniões. Sem laxante, prometo.
Ele estreitou os olhos, analisando-me por um segundo.
— Você acha que é engraçada, não é?
— Ah, eu sei que sou.
Antes que ele pudesse rebater, o telefone tocou, indicando que Donovan já estava a caminho.
Maximilian se levantou, ajeitou o paletó e me lançou um olhar carregado de algo que não consegui decifrar completamente.
— Vamos, Charlotte. Hora de trabalhar de verdade.
Respirei fundo e o segui, pronta para o que quer que aquela reunião trouxesse.
Voltei até minha mesa, meus passos rápidos e decididos, mas a mente cheia de pensamentos que pareciam saltar em todas as direções. Sentei-me novamente e peguei meu caderninho, aquele que eu usava para anotações rápidas e lembretes de última hora. Mesmo que fosse uma reunião de negócios, da qual eu já estava acostumada, não podia deixar de sentir uma pressão de não cometer nenhum erro — e, para Maximilian, qualquer deslize meu era motivo para ser jogada aos leões.
Abri o caderno e, antes de me concentrar nas informações, fechei os olhos por um segundo, como uma pequena oração silenciosa.
— Por favor, que tudo dê certo. Que a reunião corra bem, que eu não faça nada estúpido e que Maximilian… bem, que ele não me faça querer jogar essa caneta na cabeça dele. Amém.
Respirei fundo, tentando afastar a tensão do meu corpo. Tomei a caneta e comecei a revisar rapidamente os pontos principais, relembrando tudo o que eu precisava para a reunião. Mas, no fundo, a sensação de que algo ia dar errado ainda me incomodava.
Antes que eu pudesse terminar de revisar, ouvi uma voz irritada e firme, que veio direto de trás de mim.
— Charlotte! Vamos andar logo, ou você pretende ficar aqui o resto do dia?
Ergui os olhos para ver Maximilian parado na porta da sala, o rosto sério e impaciente. Eu realmente odiava quando ele me apressava assim.
Mas, sem outra opção, levantei-me rapidamente, arrumei meu blazer e peguei minha bolsa.
— Vou, vou… Não precisa gritar, Maximilian. Eu já estou indo.
Fui até a porta, lançando um último olhar para minha mesa, onde meu caderninho com as anotações de última hora ficaria para trás. Nada mais a fazer, além de seguir em frente.
Maximilian me olhou impacientemente.
— Vamos, Charlotte. Não tenho o dia todo.
Maximilian estava parado na porta, a expressão implacável e um toque de impaciência no olhar, mas algo dentro de mim simplesmente não deixou de me fazer hesitar. Talvez fosse o caderninho. Ou talvez fosse uma sensação estranha de que, se eu não tivesse esse pequeno objeto com as anotações, eu estaria mais vulnerável do que deveria.
Ele me chamava, mas antes de seguir para a reunião, dei um passo atrás e me virei, caminhando lentamente até minha mesa.
Maximilian, com seu olhar fixo em mim, claramente não estava gostando da demora. Mas eu não me importava. Tudo bem se ele me achasse mais uma vez desobediente ou desorganizada. Eu só precisava pegar o caderno, a segurança de ter tudo anotado ali na minha frente.
Quando cheguei na mesa, olhei o caderninho por um momento. As páginas estavam preenchidas com tudo o que eu sabia sobre a reunião e sobre Richard Donovan. Com um suspiro, passei as mãos nas folhas e o peguei, sentindo a familiaridade daquele simples objeto me trazer uma leve sensação de controle.
Mas, claro, meu tempo estava acabando. Maximilian me olhou com um misto de frustração e impaciência.
— Você é incrível, sabia? Como consegue atrasar tanto com um simples caderninho?
Meu olhar se encontrou com o dele.
— Eu sou meticulosa, Maximilian. Algo que você devia aprender.
Por um segundo, ele ficou em silêncio. Mas logo sua expressão endureceu novamente.
— Agora, vamos. Não tenho paciência para mais essa cena.
Fechei o caderno, guardei-o e me virei. Não havia mais tempo para hesitações.
Com um último olhar para ele, comecei a caminhar em direção à sala de reuniões.
A reunião começou de maneira tensa, como eu já imaginava. Richard Donovan entrou na sala com sua equipe, a postura arrogante de sempre, como se a qualquer momento ele fosse começar a dar ordens em vez de negociar. O homem exalava poder, mas também tinha algo de irritante que me fazia querer ignorá-lo a todo custo. Max estava no seu melhor comportamento corporativo, mas eu sabia que ele não gostava da forma como Donovan tratava as coisas, como se tudo fosse simples, como se ele estivesse no controle o tempo todo.Nos cumprimentamos, e a assistente de Donovan começou a falar sobre o plano de vendas. Eu estava prestando atenção, mas ao mesmo tempo me perguntava o que ele realmente queria, e o que Max achava que deveria ser feito para que isso fosse fechado da forma mais vantajosa possível. Claro, a resposta para isso eu já sabia. Maximilian não se contentava com qualquer coisa; ele precisava de detalhes, de uma análise minuciosa, de uma visão que fosse mais além do que só números e proje
Maximilian ficou em silêncio por um instante, os olhos fixos em mim como se estivesse tentando processar o que acabara de acontecer. A tensão no ar era palpável, e eu me senti estranha, como se algo tivesse mudado entre nós. Mas, ao invés de um gesto de agradecimento, ele se levantou abruptamente da cadeira, seus olhos agora mais intensos e carregados de raiva.— Você não tinha que ter feito isso, Charlotte! — A voz dele cortou o ar, fria e venenosa. — Não era da sua conta. Eu não precisei da sua ajuda. Você se meteu onde não devia e, pior, foi completamente desrespeitosa!Eu recuei um passo, surpresa com a ferocidade das palavras. Max avançou um passo em minha direção, e pude ver a raiva queimando em seu olhar. Ele estava visivelmente irritado, seus músculos tensos como se estivesse pronto para explodir a qualquer momento.— Você se acha no direito de intervir e falar por mim? Eu sou perfeitamente capaz de lidar com essa situação sozinho, Charlotte. Não precisava da sua interferência
MaxO despertador soou estridente ao lado da minha cabeça, mas eu já estava acordado. A noite tinha sido longa e inquieta, marcada por um turbilhão de pensamentos que se recusavam a me deixar em paz. Pisquei algumas vezes, tentando afastar a sensação incômoda no peito, mas ela continuava lá. Algo dentro de mim estava errado. Algo que eu não queria admitir.Passei a mão pelo rosto, soltando um suspiro pesado antes de finalmente me levantar. A luz matinal entrava timidamente pelas frestas das cortinas, projetando sombras suaves pelo quarto. Caminhei até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho. Eu parecia cansado, os traços tensos, como se a noite sem dormir tivesse cobrado seu preço. Mas não era apenas o cansaço. Era outra coisa. Algo que eu não queria nomear.Charlotte.As imagens da noite
O som firme dos saltos ecoou pelo escritório antes mesmo que eu levantasse o olhar.Charlotte entrou como uma tempestade, seu corpo rígido de tensão e os olhos faiscando determinação. Mas foi o pedaço de papel em sua mão que realmente fez meu estômago afundar.Seu aviso prévio.Senti Daniel se remexer na poltrona ao meu lado, claramente interessado no que aconteceria a seguir.— Daniel. — Minha voz saiu firme, um comando direto. — Nos deixe a sós.Ele ergueu as mãos em rendição, mas antes de sair, lançou um olhar divertido.— Boa sorte, chefe. Você vai pre
Charlotte se afastou de mim com um movimento brusco, sua respiração acelerada e os olhos faiscando.— Se eu for ficar, Maximilian, vai ter que ter mudanças.Cruzei os braços, analisando-a. Eu já esperava que ela não fosse simplesmente aceitar minha imposição, mas algo em sua postura me dizia que ela não estava apenas exigindo um pedido de desculpas.— Que tipo de mudanças? — questionei, mantendo minha voz calma.Ela ergueu o queixo, determinada.— Eu quero ser respeitada. Quero que meu trabalho seja reconhecido sem precisar provar mil vezes que sou competente. Quero que pare de me tratar como se eu fosse descartável.
Charlotte— Eu ainda não acredito que você vai me abandonar, Clara — dramatizei, levando a xícara de café aos lábios.Clara riu, revirando os olhos enquanto passava manteiga na torrada. — Você está falando como se eu estivesse me mudando para outro país. É literalmente a cinco quarteirões daqui.— E ainda assim, longe o suficiente para eu ter que lidar sozinha com minha própria vida. — Suspirei, fingindo desespero.— Talvez seja a hora, né? — Ela ergueu uma sobrancelha com um sorriso malicioso. — Além disso, quem sabe assim você finalmente leva um homem para casa sem medo de me traumatizar?Quase engasguei
CharlotteA pilha de papéis nos meus braços era ridiculamente grande, quase um insulto pessoal. Maximilian Steele tinha feito isso de propósito, eu sabia. Ele sabia. Documentos do mês passado? Sério? Era só mais uma das formas dele de testar minha paciência. Como se não bastasse lidar com sua presença intimidadora e aquele olhar frio que me fazia sentir como uma funcionária dispensável, agora eu também tinha que carregar peso extra logo de manhã.Eu atravessava o lobby da Steele Medical Supplies, a empresa de vendas para hospitais onde eu trabalhava há anos, tentando equilibrar os documentos e o copo de café sem derramar nada. O som dos saltos ecoava pelo chão de mármore e, quando cheguei ao elevador, não precisei olhar para saber que alguns olhares estavam sobre mim. Todos conheciam Maximilian Steele. E todos sabiam que, de alguma forma, ele tinha um prazer sádico em me sobrecarregar.— Precisa de ajuda? — uma voz masculina perguntou.Olhei de lado e vi Daniel Reed, o melhor amigo de