– Está acontecendo alguma coisa aos arredores da floresta, mas não sei o que é, Karolina. – Maria Elena me encara enquanto continuamos a conversar no quarto. – O Alfa mandou aumentar a segurança ao redor da alcateia, os lobos pais quando saem para caçar não podem mais ficar sozinhos e nem se afastarem muito. E o que mais me deixou intrigada é o aumento de armas que os escravos devem fazer. – Analiso a informação que ela me diz. Perdi muita coisa nesses três dias de cativeiro.
– Pode ser a alcateia inimiga invadindo o território, há mais alguma coisa de estranho que você percebeu? – Pergunto com medo da resposta. Se for a outra matilha de lobos invadindo o território é mais que certeza de outra guerra. Mais uma guerra, mais mortes, lutas sem sentido, apenas pela busca de poder e mais territórios. Desnecessário... Triste...
– Sim! – Ela fala arregalando os olhos. Coisa boa não é.
– Algumas escravas que se afastaram demais e foram para além do riacho, sumiram. Não encontraram nada, além alguns trapos das roupas delas rasgados na mata, nem os utensílios que elas carregavam foram encontrados. – Maria Elena fala com uma tristeza nos olhos e eu entendo essa tristeza, pois também sou escrava, e como nós duas, essas outras escravas foram forçadas a servir os lobos, serem usadas como eles bem queriam, a maioria ainda teriam esperança de voltar para suas famílias, e sumirem assim, do jeito que foi dito é certeza que estão mortas ou pior.
A escravidão é algo comum no meu povo, também em outras espécies, principalmente a dos humanos, que tem escravos por causa da cor de pele, enquanto a nossa, os escravos são quem não faz parte da alcateia, quem não tem o sangue dela, alguém que foi capturado ou vendido. Normalmente os escravos dos lobisomens são humanos por serem mais fracos fisicamente e mais fáceis de controlar, principalmente as escravas que já nasceram assim, as negras, enquanto as brancas se sentem injustiçadas por serem brancas. Nunca consegui entender qual a diferença entre pele branca e pele negra, pele é pele, são carnes do mesmo jeito, dá pra fazer um churrasco com uma branca e uma negra e comer a noite inteira.
Huummm... Comida... Carne humana não é minha favorita, mas comeria duas escravinhas, uma branca e outra negra apenas para saber a diferença delas e encher a barriga! Huuum... Delíciaaa... Fiquei com a boca cheia d'água só de pensar...
– Karol?! – Levo um susto quando saio do meu churrasco imaginário e vejo a Elena agarrada na Kamila, em pé, no canto da cama, só então percebo a besteira que fiz. Durante esses três dias trancada só recebi duas refeições que eram pão com água, estou com tanta fome que não percebi no momento que meus olhos começaram a brilhar em um vermelho e quase perdi o controle podendo atacar qualquer humano na minha frente apenas para matar minha fome.
Baixei minha cabeça e fechei os olhos, não para me controlar e sim por vergonha do que houve, não quero deixar Kamilla e Elena com medo de mim.
– Perdoem-me... – Falo num suspiro, mostrando minha vergonha e tristeza.
– Há quanto tempo você não come? – A voz da Elena saiu um pouco apreensiva. Eu sentia o medo delas duas, medo de mim. Respirei fundo antes de abrir os olhos que já não estavam mais tão vermelhos, estavam quase ruivos da cor do cabelo da Kamila, meus olhos perdem a cor devido ao cansaço e má alimentação.
– Eu estou bem. – Dei um sorriso meio sem graça para aliviar a tensão. Elas se aproximaram com cautela, e Kamila já sem medo sentou do meu lado depositando as mãozinhas dela nas minhas.
– Mamãe, você está tlemendo. – Percebi a preocupação da minha filha. Era verdade que estava me tremendo, estava com fome, fraca e sentia dores pelo meu corpo, mas não demonstrava porque as duas precisam de mim para fugir.
– Karol, precisa se controlar nesses dias, vai ter várias provocações contra você dos outros para que o Alfa se zangue e te coloque de castigo novamente e você tem que se fortalecer, não pode haver nenhum outro castigo. Vou dividir minha comida contigo para que fique forte o suficiente daqui a três dias. – Quando ela falou isso, sorri para as duas. Eu só tinha que aguentar mais três dias... três dias.
Faltando quatro horas para amanhecer, me despedi delas e tive que voltar para a casinha afastada, não antes de entrar na cozinha com a mentira de que foram ordens do Alfa para que eu preparasse um lanchinho pra ele, tinha que ser um pouquinho de comida porque já levei a janta dele e os soldados iriam desconfiar. Enquanto preparava "um lanchinho para o Alfa" que ele nunca iria ver na vida, eu não parava de pensar na Maria Elena.
Há dois anos, quando ela foi trazida pra cá, não parecia com nenhuma dessas escravas brancas apesar da cor de pele ser igual, mas os olhos da Elena eram bem puxadinhos e pequenos, quando a questionei, ela disse que era porque o pai vinha de um lugar chamado... não lembro o nome... é... Coronéia? Coloreia? Caa... Cuu... Não, não... Começa com "Co" mesmo... Cornélia? Ahhhh desisto! Vinha de um lugar aí.
Ela não usava os trapos de escrava nem de uma pessoa da nobreza dos humanos, eram roupas simples, de uma camponesa e era realmente uma camponesa que vivia com os pais. Mas o que me intrigou (e até hoje tento entender) é o tratamento diferenciado da humana com os outros escravos. A mulher ficava entre os lobos sem ter medo de ser atacada porque eles não podiam, nenhum lobisomem dessa aldeia podia atacar, ameaçar ou tentar serviços sexuais, pois o Alfa não permitia. No começo pensei que fosse por interesse da humana e fiquei feliz, achava que com isso ele me deixaria em paz (não a conhecia então era melhor ela do que eu), mas ele nunca a tocou, nunca a beijou, nem tinha interesse dele nos olhos, tinha, na verdade, desprezo, mas ele falava com ela como qualquer outro lycan, com arrogância, dominância, ela não podia abusar da hospitalidade e proteção, porém era só isso.
No começo, fiquei até com inveja dela, pois sua integridade e virgindade estariam intactas, fora a comida e as faltas de castigo (nesse caso, eu era a que mais sofria e mais recebia castigos), além disso, eu ainda tinha que aguentar o Alfa exigindo meu corpo e a humilhação de toda alcateia como se eu que fosse a culpada disso. A que seduziu o Alfa... – Eles diziam.
Então, assim nos colocaram no mesmo quarto, as que não podiam ser tocadas, eu apenas de forma sexual, pois pertencia somente ao Lúcius, mas para me baterem... Aí é outra história.
E pensando nisso, enquanto estava terminado o lanche, eles vieram, três soldados, me seguraram e me arrastaram para o salão principal, dois me seguraram de cada lado e o terceiro batia no meu rosto e barriga. Quando estava quase para desmaiar, fui acordada por um balde de água gelada no rosto, foi quando eu a vi.
A Luna estava sentada no seu trono no salão principal, loira, cabelos cacheados soltos, olhos da cor dos cabelos e estavam brilhando, cheia de joias, vestido de pele perfeitamente trabalhado com bordados de ouro, exalava o poder, riqueza e beleza de uma verdadeira Luna, mulher do Alfa, mulher do Lúcius. Olhando para mim com um sorriso sarcástico, mas que era possível sentir seu ódio, ela fala:
– Como está, irmãzinha?
Há cinco anos... – Ela é completamente diferente de você e da Arlete. – Lúcius fala enquanto me analisa, ou analisa a mercadoria, a nova escrava dele. – Sim, de fato, porque a mãe dela não era a minha mulher, era uma puta que fodi bem gostoso em uma noite quando voltava para nossa aldeia. – Esse que responde é Carlos, meu pai de sangue, ou como costumo falar, meu doador de esperma. Então o Alfa chegou mais perto e me cheirou. – Realmente é sua filha, ela tem seu sangue e o da alcateia. – Os olhos dele brilharam pra mim em um dourado intenso e virando-se para Carlos, disse: – Gostei dela, talvez eu perdoe vocês. Ele olhou para mim com seus olhos ainda brilhando perguntou: – Qual seu nome? – Karolina... Em um suspiro de tristeza e com os olhos inchados, respondi. ....................................... – Karolina... Acorda... Levante-se... – Era a voz do meu tio? – ACORDA VAGABUNDA! – Senti um impacto nas costas e fiz uma careta de dor enquanto recuperava os sentidos e tentav
Arlete era uma menina mimada que nasceu na mais alta classe da nobreza dessa matilha, foi treinada a vida toda para ser uma Luna cheia de classe, inteligente e refinada, porque já sabia que seu futuro companheiro, aquele que a Deusa da Lua havia predestinado, era o grande Alfa, o Lúcius. Ele, no início, era muito gentil a sua futura Luna, mas algo aconteceu após se casarem e firmarem o companheirismo diante da Deusa, que deixou o macho com ódio e nojo de sua Luna, ele a desprezava e tratava mal. A fêmea, desesperada para reconquistar o marido, fez de tudo para ter um herdeiro, mas nunca foi abençoada e ainda havia boatos de que o macho só ia para a cama dela depois de muito insistir, o que deixava ele desconfortável e sem vontade de gozar, assim nunca tiveram filhos até agora. E quando ela pensava que não poderia ficar pior, a irmã apareceu e despertou todos os desejos que ela tanto queria despertar no marido, causando sua revolta e fúria. Hipócritas! É um bando de hipócritas! Pragu
Estava deitada na banheira com o corpo ferido submerso na água, às vezes perdia a consciência e sonhava com a cabana em que vivia, com o cheiro da grama e as flores que eu plantava. Era primavera, dia de Lua Cheia, finalmente eu poderia descansar meu corpo depois de passar o inverno todo aprendendo a lutar com meu tio, dia e noite, pois no inverno, os raios solares não eram tão fortes e o Dindo não perdia tempo para matar meu pobre corpinho de menina, músculos ainda atrofiados, com tanta porrada. Eu tinha certeza que ele descontava nesses treinamentos as vezes que corria atrás de mim com aquela vassoura de madeira. Saí da banheira e fui para meu quarto, coloquei um vestido florado que eu mesma fiz, olhei pela janela de madeira e vi o Dindo saindo da mata com um animal na mão, minha barriga logo roncou em resposta. Humm... Churrasco! Saí da cabana e ajudei meu tio com a caça, em pouco tempo acendemos uma fogueira e colocamos a carne para assar, enquanto eu estava cozinhando alguns le
Deitada na cama, sentindo as fortes emoções daquele homem, comecei a me sentir afetada também, e caramba! Maldição! Merda! Eu estava ficando cada vez mais excitada! O autocontrole que tenho sob minhas emoções está inútil, eu estava gostando daquilo e queria sentir mais, e mais, bem mais! Todos esses anos nas mãos do Lúcius, nunca me permiti sentir vontade ou prazer quando ele usava meu corpo por horas pois queria sempre me apegar as dores do corpo para NUNCA sentir uma única emoção boa por ele. Nada, além de ódio. Até agora... Ele foi o único homem que me tocou, me beijou e até os xingamentos pesados eu aprendi com ele. Lúcius brigava comigo por xingar os outros e as coisas, mas quem me ensinou foi ele mesmo. Maldito! Desgraçado! Porque foi me dar a porra desse sangue? Olhei pra ele e vi seus olhos brilhando, vi o pulso direito com um corte e sangue saindo de lá, lambi os lábios. – Quer mais? – Concordei com a cabeça. Ele colocou a ferida do seu pulso na minha boca e eu comecei a
Kamilla e Maria Elena estavam realmente encurraladas no canto da cama e o que levou o tapa da Elena já estava se abaixando para pegá-las, enquanto o outro lobo-soldado estava mais próximo da porta, essa foi a cena que vi quando entrei no quarto. Todos olharam pra mim, surpresos, os soldados se entreolharam e começaram a sorrir da ameaça que fiz segundos antes. – Olha quem está aqui querendo participar da brincadeira também. – O lobo perto das meninas, o mesmo que ameaçou minha filha e proferiu palavras obscenas para elas, o que eu estava com mais vontade de matar. Ele era magro, alto e cabelo preto curto, Július. – O Alfa sabe que você está fora do quartinho de vocês? – O outro lobo, que estava mais próximo da porta e, portanto de mim, foi quem disse. Esse era careca, mais forte e gordo, César. Eu estava com o rosto sério, sem expressão, porém com a mandíbula apertada, quase rangendo os dentes e minhas mãos, que já eram garras pretas com pelos avermelhados, estavam nas costas para q
Minha barriga estava sangrando muito devido aos cortes das garras do César, minha blusinha já estava toda rasgada, cobrindo apenas a parte dos meus seios, a dor que eu estava sentindo era muita, mas precisava continuar e esperar meu corpo se regenerar para poder escapar daqui com as meninas que estavam em choque na cama.As roupas da Maria Elena estavam todas rasgadas e provavelmente ela estava com as costas feridas devido à brutalidade de Július, a sorte é que cheguei a tempo antes dele conseguir abusá-la. Mesmo assim, a humana estava ainda com medo e depois de me ver, o meu estado, ficou mais nervosa ainda. Eu a entendo, pois nunca tinha visto uma briga entre lobisomens na sua frente, e a minha Kamillinha, era somente uma criancinha de 5 anos, não recebia nenhum treinamento de luta, portanto não entendia bem as coisas. – Levantem-se, depressa! – Disse enquanto as pegava pelos braços. Eu realmente não queria ser grossa, mas devido ao barulho que causamos, com certeza já estavam cheg
Arrastando minhas patas negras avermelhadas no chão, ofegante, com dores e cansada, me agachei. Senti o peso das minhas costas se esvaindo e, deitada na mata, pude sentir meu corpo virando humano novamente, estava nua, mas exausta, eu só queria dormir um pouco, quando fechei os olhos, mas não conseguia dormir, minha mente estava em alerta, reuni forças e me levantei. – Karol beba um pouco. – Elena me oferecia a água da garrafa de barro que peguei na cozinha. – Vista-se. – Ela me deu a muda de roupa das escravas, um vestido branco e uma calçola. Com a floresta quase totalmente escura, eu estava sentada no chão, encostada em uma árvore enorme, já vestida e com a garganta menos seca pude descansar enquanto Elena procurava uma maneira de fazer uma sopa com a comida que tínhamos. Kamilla estava nos meus braços e eu acariciava o cabelinho ruivo dela, mas havia algo de errado com a minha filha e eu podia sentir. Levantei sua cabecinha delicadamente com meus dedos em seu queixo e ela olhou p
Entre os livros de leitura que eu e meu tio costumávamos ler, havia um específico que falava sobre espécies, principalmente as dominantes, as espécies que evoluíram durante o tempo e tornaram-se fortes e inteligentes. A primeira espécie que evoluiu durante milhares de anos foram os lobos, não éramos nós que estávamos acima da cadeia alimentar, éramos presas de outros animais que foram extintos e consequentemente, sem nenhum predador para nos impedir, evoluímos, ficando no topo da cadeia por mais mil anos, até que outra espécie começou a evoluir também, os humanos. Eles eram, de fato, extremamente inteligentes e nos olharam como seus inimigos, pois nesse tempo também os caçávamos como presas fáceis. A primeira vantagem que tiveram foi o fogo, alguns relatos dizem que foi um dos Deuses que lhes deram, mas nada é certo. Em seguida, começaram as pinturas e escritas, por último e não menos importante veio a fala. Eles estavam se tornando a espécie mais temida e pondo em risco a dos lobos.